NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 3
Não é possível! Grover tem um traseiro peludo?


Notas iniciais do capítulo

Vocês têm que admitir que essa atualização foi rápida. E sem falar que vocês não precisam se preocupar. Não vou abandonar a história. Ela agora é o meu xodó, lembram?



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TERCEIRA
PESSOA

Vocês devem estar pensando que Naruto e Percy seguiram sua promessa: eles foram com ele até a casa de Percy, e tudo se acertou, certo?

Errado.

Na verdade, eles o largaram logo que chegaram ao terminal rodoviário.

Eles sabiam que foi errado, e Naruto realmente odiou quebrar uma promessa. Aquilo era contra seu lema de vida: nunca voltar atrás com sua palavra. Mas Grover estava os deixando pirados, olhando-os como se eles fossem homens mortos, murmurando: "Por que sempre tem de ser no sétimo ano?"

Eles agradeciam ao problema de bexiga de Grover. Quando ele ficava nervoso, ela gritava com ele e mandando ele a esvaziar, portanto os meninos não ficaram surpresos quando, assim que eles saíram do ônibus, ele os fez prometer que o esperariam e foi direto para o banheiro. Em vez de esperarem, Percy pegou sua mala e Naruto sua bolsa-carteiro de couro e saíram discretamente.

Percy, parado na calçada, notou Naruto fazendo o símbolo da cruz que ele sabia que era sinal para o kage bunshin no jutsu, confundindo-o.

– O que está fazendo? – Perguntou, confuso.

– Vou deixar um clone meu aqui. Grover vai ficar desesperado se não nos encontrar, então vou deixar ele aqui para explicar.

– Muito generoso da sua parte. – Percy disse sorrindo de brincadeira.

– Nah, é que eu quero me mostrar e assustar ele. – Naruto explicou, devolvendo o sorriso e assim enviou seu clone até o lugar onde Percy e ele estavam.

Eles entraram no táxi.

– Cento e quatro Leste com Primeira Avenida. – Percy disse ao motorista. Ele virou-se para Naruto e disse: – Antes de conhecer minha mãe, Naruto, uma palavra sobre ela: ela é a melhor pessoa do mundo.

– Isso é ótimo. – Naruto disse, lançando seu sorriso cheio de dentes.

– E isso apenas prova minha teoria de que as melhores pessoas são as mais azaradas. - Percy adicionou, franzindo o nariz, pensando em seu padrasto.

– Isso não é tão ótimo. – Naruto disse, seu sorriso desaparecendo.

– Os pais dela morreram em um desastre de avião quando ela estava com cinco anos, e então foi criada por um padrasto que não lhe dava muita bola. – Percy contou a história de sua mãe, com certa tristeza.

– Coitada. – Naruto franziu a testa. Ele odiava ver pessoas amadas por seus amigos em uma situação tão ruim.

– Continuando, ela queria ser escritora, assim passou o curso de ensino médio trabalhando e economizando dinheiro para pagar uma faculdade com um bom programa de oficinas literárias.

– Parece uma boa pessoa. – Naruto sorriu levemente.

– Ela é. Enfim, no último ano dela, o tio teve câncer e ela precisou abandonar a escola para cuidar dele. Depois que ele morreu, ela ficou sem dinheiro nenhum, sem família e sem diploma.

Naruto ficou lá, estupefato, pensando sobre como uma pessoa tão bondosa como a mãe de seu melhor amigo pôde ter tido um passado tão terrível.

– Caramba, e eu aqui pensando que sua sorte era horrível. – Ele comentou, sorrindo um pouco, tentando aliviar a tensão dentro do táxi.

– A única coisa boa que lhe aconteceu foi conhecer meu pai. – Percy disse, franzindo a testa. – Não tenho nenhuma lembrança dele, apenas uma espécie de sensação calorosa, talvez o mais leve resquício de seu sorriso. Minha mãe não gosta de falar sobre ele porque ele a deixa triste. Ela não tem fotografias.

– Uma história muito emocionante. Daria para escrever um livro. – Naruto comentou, parecendo atordoado, mas logo notou uma coisa. – Mas espere aí, quer dizer que você também não conheceu seu pai?

– Não. Acontece que eles não eram casados. Ela me contou que ele era rico e influente, e o relacionamento deles era um segredo. Então um dia zarpou pelo Atlântico em alguma jornada importante, e nunca mais voltou. Perdido no mar, minha mãe me contou. Não morto. Perdido no mar.

– Caramba... Isso me faz lembrar uma coisa. – Naruto comentou, pensando. Ele se lembrava de algo que mencionava isso, talvez na internet, enquanto pesquisava sobre mitologia grega. Ele ignorou o pensamento. Talvez não fosse nada.

– Ela vivia de trabalhos esporádicos, estudava à noite para tirar o diploma de ensino médio e me criou sozinha. Nunca se queixou ou ficou zangada. Nem uma só vez. Mas eu sei que não sou uma criança fácil.

– Nem um pouco. – Naruto sorriu.

– Ela acabou se casando com Gabe Ugliano...

– Quem diabo tem o sobrenome "Ugliano"? – Naruto perguntou rindo como se sua vida dependesse disso.

– Gente idiota. Enfim, ela se casou com ele, que foi simpático nos primeiros trinta segundos em que o conhecemos e depois mostrou quem realmente era, um imbecil de marca maior. Quando eu era pequeno apelidei-o de Gabe Cheiroso. – Naruto abafou uma risada com a mão. – Bem, sinto muito, mas é a verdade. O cara fede a pizza de alho embolorada enrolada num calção de ginástica.

– Adoro suas comparações. Elas são tão divertidas. – Naruto agora não podia mais controlar o riso, e por fim se rendeu e ria como se não houvesse amanhã.

Notando o olhar profundo e furioso de Percy, ele calou a boca, assobiando inocentemente.

* * *

Grover saía do banheiro, assobiando feliz, até notar que apenas Naruto estava no lugar em que ele e os dois meninos pararam.

Ele se aproximou do loiro e disse:

– Ei, Naruto, onde está Percy?

– No táxi para a casa da mãe dele, comigo junto. – Respondeu o ninja simplesmente, dando de ombros.

O queixo de Grover caiu.

– O-o quê?

– Até mais, Grover. – E o loiro desapareceu em uma cortina de fumaça, que ninguém no terminal notou.

Grover não pôde fazer nada, a não ser murmurar:

– Como eu odeio ele ser ninja.

* * *

Naruto e Percy estavam em frente à porta do apartamento em que a família de Percy morava e vivia. Naruto, de lá, sentiu cheiro de cerveja choca e batatas fritas velhas e mofadas. Ele franziu o nariz em desgosto. Ele, naquele momento, odiava ter os sentidos muito mais apurados do que os de um ser humano normal. Seu olfato era muito apurado para seu gosto.

– Tem certeza de que quer fazer isso? – Percy perguntou, ansioso. – Quero dizer, Gabe Cheiroso é um idiota com todos. Sem exceção.

– Tudo bem. Já passei por coisas piores. – Naruto deu de ombros, enquanto Percy abria a porta de seu apartamento e eles entraram no pequeno apartamento.

Percy esperava que sua mãe já tivesse voltado do trabalho. Em vez disso, Gabe estava na sala de estar, jogando pôquer com seus cupinchas. Na televisão, o canal de esportes estava no volume máximo. Havia batatinhas e latas de cerveja espalhadas pelo tapete.

Naruto franziu ainda mais o nariz. O cheiro era ainda pior por dentro.

Mal erguendo os olhos, Gabe disse com o cigarro na boca:

– Então você está em casa. Quem é seu amigo tampinha com cara de idiota aí?

– Seu nome é Naruto. Onde está minha mãe?

– Trabalhando. – Ele disse. – Você tem alguma grana?

– Qual é? Nada de Bem-vindo ao lar. Bom ver você. O que fez nos últimos seis meses? Ele é seu enteado. Cadê o amor? – Naruto dizia sorrindo em um modo de zombaria.

Gabe virou seu olhar para o loiro.

– Pelo visto é um piadista. Não me admira que o geninho tenha você como amigo. É tão idiota quanto ele.

Naruto franziu a testa, enquanto seus olhos, inconscientemente, tomavam um perigoso tom vermelho-sangue.

Percy percebeu que Gabe tinha engordado. Parecia uma morsa sem tromba com roupas de brechó. Tinha uns três fios de cabelo na cabeça, todos penteados por cima da careca, como se isso o deixasse bonito ou coisa assim.

Naruto ouviu de Percy que Gabe era gerente do Hipermercado de Eletrônica, no Queens, mas passava a maior parte do tempo em casa. Naruto não sabia por que ainda não tinha sido demitido. O cara era um idiota. Percy também contou a ele o seguinte: "Ele só fica recebendo o pagamento, gastando o dinheiro em charutos que me dão náuseas e em cerveja, é claro. Sempre cerveja. Toda vez que eu estou em casa ele espera que eu lhe forneça fundos para jogar. Chama isso de nosso "segredo de homem". Isto é, se eu conto para minha mãe, ele me quebra a cara."

– Não tenho grana nenhuma. – Falou Percy, sombrio.

Gabe ergueu uma sobrancelha oleosa.

Naruto ouviu de Percy que Gabe era capaz de farejar dinheiro como um cão de caça, o que era surpreendente, já que seu próprio cheiro deveria encobrir qualquer outro.

– Você pegou um táxi no terminal de ônibus. – Disse ele. – Provavelmente pagou com uma nota de vinte. Recebeu seis ou sete dólares de troco.

– Incrível. Você sabe matemática. – Naruto comentou em um tom genuinamente surpreso e chocado.

Grrr... Enfim, alguém que espera viver embaixo deste teto devia ser capaz de se sustentar. Estou certo, Eddie?

Eddie, o síndico do prédio, olhou para Percy com uma pontinha de solidariedade.

– Vamos, Gabe. – Disse ele. – O garoto acabou de chegar.

Pelo menos alguém é um pouco compreensivo. – Naruto revirou os olhos vermelhos, emitindo um som semelhante ao de um rosnado.

– Estou certo? – Repetiu Gabe.

Eddie fez uma careta para sua tigela de pretzels. Os outros dois caras soltaram juntos seus gases.

Naruto tapou o nariz. Graças ao seu olfato apurado, ele poderia sentir o cheiro dos gases mesmo de fora do apartamento. Agora ele sabia como Kiba se sentia com seu olfato, quando ele disse que aquela era a única coisa ruim em se ter um ótimo olfato.

– Tudo bem. – Disse Percy. Ele tirou um maço de dólares do boloso e jogou o dinheiro em cima da mesa. – Tomara que você perca.

– Seu boletim chegou, geninho! – Gritou Gabe às costas do moreno. – Eu não ficaria tão metido!

Naruto enviou a Gabe um olhar furioso e que dizia "vou te matar algum dia, seu paquiderme ridículo" – o que fez Gabe estremecer levemente, principalmente por causa dos olhos vermelhos –, e seguiu Percy.

Percy bateu a porta de seu quarto, que na verdade não era seu. Percy contou ao loiro que durante os meses de aula aquela era a "sala de estudos" de Gabe. Percy também havia dito que ele não "estudava" coisa nenhuma lá, exceto revistas de automóveis, mas adorava socar as coisas do moreno no armário, largar as botas enlameadas no peitoril da janela e fazer o possível para deixar o lugar com o cheiro de sua colônia detestável, charutos e cerveja choca. Naruto sentiu o cheiro daquele lugar da sala, mas como todo o lugar tinha aquele cheiro, ele não sabia qual cômodo era qual. Seu olfato apurado poderia ser uma maldição às vezes.

Percy largou a mala em cima da cama.

– Bem, lar doce lar.

Naruto franziu a testa, fitando o lugar com nojo. Como Percy poderia viver naquele lugar? Ele havia dito que seu padrasto era um imbecil desgraçado, mas ele não sabia que chegaria a esse ponto.

Para os meninos, o cheiro de Gabe era quase pior que os pesadelos com a Sra. Dodds ou o som da tesoura daquela velha enrugada cortando o fio de lã, que Naruto ainda temia ser uma das Parcas.

Mas assim que Percy pensou naquilo suas pernas bambearam. Lembrou-se da expressão de pânico de Grover – de como ele os fez prometer que não iria para casa sem ele. Um calafrio repentino percorreu o corpo de Percy. Era como se alguém – alguma coisa – estivesse procurando por Naruto e ele naquele momento, talvez subindo pesadamente a escada, com garras compridas e horrendas crescendo.

Então a voz de uma mulher foi ouvida pelos meninos.

– Percy?

Uma linda mulher abriu a porta do quarto, e os medos de Percy se foram.

Naruto arregalou os olhos na mulher. Seus olhos brilham e mudam de cor com a luz. O sorriso é quente como uma manta. Ela tem alguns poucos fios grisalhos misturados com os longos cabelos castanhos, mas ela não parecia nem um pouco velha. Naruto sabia que Percy havia dito que sua mãe era linda, mas ele não sabia que tanto assim. Ele viu uma foto de sua própria mãe que estava na bolsa-carteiro dele, e ele sempre a mantinha no bolso de seu jeans, para que sempre que ele precisasse de conforto, ele pudesse arranjar dela, mesmo que em uma fotografia. Ele viu a foto dela e ele poderia dizer que a mãe de Percy era tão linda quanto a sua.

– Ah, Percy. – Ela abraçou Percy apertado. – Eu não acredito. Você cresceu desde o Natal.

Ela vestia um uniforme vermelho, branco e azul que cheirava aos melhores cheiros que ele já sentiu. Ela tinha um saco grande com o que ele preveu ser doces. Percy havia dito que ela trazia "amostras grátis" da loja de doces em que trabalhava sempre que ia para casa.

E ela finalmente notou que Naruto também estava no quarto.

– Olá. Quem é você?

Naruto ruborizou levemente. Ele deu um sorriso nervoso, com os olhos azuis fechados e uma mão arrastando a parte de trás dos cabelos loiros espetados.

– Hê!, oi, Sra. Jackson. Eu sou um amigo do seu filho. Meu nome é Naruto Uzumaki. É um prazer. – Ele estendeu a mão na direção dela, mas ela lhe deu um enorme abraço.

– Então você é o famoso Naruto. Pelo jeito que meu filho escreveu sobre você em suas cartas, fico feliz de ele ter encontrado um amigo como você.

Naruto corou enquanto arregalava os olhos. Ele nunca havia recebido um abraço tão... Maternal. Tão cheio de carinho e doçura genuínas. Ele sentia-se bem.

Então essa é a sensação de um abraço de uma mãe. – Ele pensou com os olhos nebulosos e atordoados.

Percy fitava Naruto com pena. Ele sabia que Naruto nunca havia tido uma verdadeira mãe, e que receber um abraço assim era novo para ele. Ele sabia que Sally era ótima em dar abraços que encheriam de coragem até o homem mais covarde e sem esperança do mundo.

Naruto, sem saber o que fazer, ficou na mesma posição, sem devolver o abraço. Ele não sabia o que deveria fazer. Ninguém nunca lhe mostrou tal gesto de carinho e compaixão.

Sally tirou os braços em volta de Naruto e lhe deu um lindo sorriso, seus olhos brilhando com uma luz que Naruto nunca havia visto em ninguém antes. Ele sentia uma sensação que não sabia o que era. Era como se suas veias fossem injetadas com uma nova e desconhecida força, e não era como seu chakra normal ou o demoníaco. Era uma energia nova, que não tinha forma física. Talvez fosse o amor de um filho para sua mãe. Ele sentiu-se obrigado a dar um sorriso e por fim deu seu sorriso de marca registrada, com um tamanho gigante, e com os bigodes tornado seu sorriso mais semelhante ao de um felino. Perigoso, porém dócil.

– Gostaria de um doce? – Sally tirou do saco de doces uma barra de chocolate e estendeu para ele.

Naruto fitou o doce com desconfiança. Em toda a sua miserável e curta vida, quando alguém lhe oferecia algo para comer, que eram tão poucas vezes, queria dizer que a coisa estava envenenada, ou pior. Ele sabia que aquela mulher nunca faria isso, mas ele aprendeu a não confiar em ninguém em sua antiga vida.

Mas ele tinha uma nova vida. Ninguém sabia sobre ele, ou sobre a Kyuubi. E o sorriso da Sra. Jackson... Seus instintos de sobrevivência lhe diziam "não", mas seu coração dizia "sim".

Ele apanhou o chocolate com hesitação e o fitou com um olhar curioso e temeroso. Ele cheirou o chocolate como um cachorro farejando sua ração. Ele agradecia muito naquele momento por seu olfato apurado que poderia detectar o veneno mais inodoro em alguma comida ou bebida. E ao ver que o chocolate estava livre de veneno, ele o mordiscou levemente, e ao sentir o gosto, seus olhos brilharam, enquanto grunhia de satisfação e começou a abocanhá-lo como se sua vida dependesse disso.

Sally riu em diversão de como Naruto comia o chocolate como se nunca tivesse experimentado.

– Ei, calma. Ainda tem mais.

Naruto olhou para ela com um sorriso envergonhado. Seus lábios estavam cheios de chocolate, assim como seu rosto.

– Me perdoe.

– Não há motivo para pedir desculpas. Aqui, deixe-me limpá-lo.

Ela tirou um lencinho do bolso e começou a limpar as manchas escuras no rosto do atordoado ninja loiro.

Naruto lançou um olhar surpreso a Percy que simplesmente sorriu na sua direção enquanto balbuciava algo que Naruto identificou como: Ela não é demais?

Naruto lhe lançou um sorrisinho, enquanto Sally se levantava, finalmente terminando o serviço de limpar o rosto do loiro.

Percy e Sally se sentaram juntos na beirada da cama. Naruto simplesmente continuou em pé no chão do quarto, sentindo-se envergonhado. Ele se sentia um instruso ali. Ele sentia que não deveria se meter em um momento entre mãe e filho. Então ele foi na direção da porta.

– Ei, Naruto, aonde você vai? – Percy lhe perguntou.

– Eu não quero me meter na conversa de vocês. – Naruto respondeu sem se virar, enquanto lançava sua mão na direção da maçaneta da porta, mas foi parado pela Sra. Jackson, que colocou sua mão em cima da dele.

– Você não precisa se preocupar. Você parece um bom menino, e quero que fique conosco.

Naruto a fitou com uma sobrancelha arqueada, mas deu de ombros e caminhou até perto da cama, e se sentou no chão, apoiando as costas na beirada da cama. Sua perna direita estava dobrada até chegar ao seu peito e sua perna esquerda estava deitada no chão.

– Então, Percy, me conte tudo o que você não escreveu nas cartas. – Naruto ficou surpreso sobre como Sally parecia não se importar sobre a expulsão de Percy. Percy havia lhe dito que ela nunca se importava sobre ele ser expulso. Como Naruto queria uma mãe assim.

– Mãe, você está me sufocando. Me dê um tempo, por favor. – Percy disse, mas, secretamente, estava muito feliz em vê-la.

Naruto lhe deu um tapa na cabeça.

– Ai!, o que foi isso? – Percy massageava a cabeça.

– Não trate sua mãe assim. – Naruto disse em um tom repreendedor. Como Percy podia dizer aquilo com sua própria mãe? Ele daria de tudo para ter uma mãe como ela.

– Hê!, tudo bem, Naruto. – Sally sorriu para ele.

Do outro cômodo, Gabe berrou:

– Ei, Sally! Que tal um pouco de pasta de feijão, hein?

Os meninos rangeram os dentes.

Naruto, que nem conhecia Sally, já sabia que ela é a mulher mais gentil do mundo. Ela merecia alguém muito melhor do que Gabe.

Percy, por sua mãe, tentou parecer otimista em relação aos seus últimos dias na Academia Yancy. Ele disse a ela que não estava muito chateado com a expulsão. Dessa vez, ele conseguira durar quase o ano inteiro. Havia feito novos amigos além de Naruto. Tinha se saído muito bem em latim. E, honestamente, as brigas não tinham sido tão ruins como dissera o diretor. Ele tinha gostado da Academia Yancy. De verdade. Ele enfeitou tanto os acontecimentos do ano que quase se convenceu. Ele começou a ficar com a voz embargada só de pensar em Grover e no Sr. Brunner. Até Nancy Bobofit de repente não pareceu assim tão má. Naruto simplesmente jogou seus dois centavos e adicionava coisas que Percy se esquecia, também enfeitando o ano que passou lá, que na verdade para ele foram apenas alguns muitos meses.

Até que eles chegaram à parte da excursão ao museu...

– O quê? – Perguntou Sally. Seus olhos puxaram pela consciência de Percy, tentando arrancar seus segredos. – Alguma coisa assustou você, meu filho?

– Não, Mamãe.

Naruto enviou um olhar a Percy, porém sabia que ele não queria mentir e que se sentia mal por isso, e que queria contar a ela sobre a velha Dodds e as Parcas com o fio de lã, mas, sinceramente, quem acreditaria na palavra de duas crianças de doze anos?

Ela apertou os lábios. Naruto imaginava que ela sabia que Percy estava escondendo alguma coisa, mas não quis pressioná-lo.

– Tenho uma supresa para você, Percy. – Disse ela. – Nós vamos à praia.

Percy arregalou os olhos.

– Montauk?

– Três noites... No mesmo chalé.

– Quando?

Ela sorriu.

– Assim que eu me trocar.

– Naruto também pode ir?

– Mas é claro. Se ele quiser...

– Estou boiando aqui. – Naruto comentou, sorrindo um sorriso pateta e idiota.

Eles não pareceram ouvir. Percy e sua mãe não tinham ido a Montauk nos últimos dois verões porque Gabe dissera que não havia dinheiro suficiente.

Gabe apareceu no vão da porta e rosnou.

– Pasta de feijão, Sally. Você não ouviu?

Percy teve vontade de dar-lhe um soco, mas seus olhos encontraram os de sua mãe e entendeu que ela estava lhe oferecendo um acordo: ser gentil com Gabe só um pouquinho. Só até ela estar pronta para ir para Montauk. Então eles sairiam dali.

Mas Naruto não fez o acordo.

– Não fale com ela desse jeito.

Gabe lhe lançou um olhar com uma sobrancelha oleosa.

– O que foi que você disse, pivete?

– Não... Fale... Com... Ela... Desse... Jeito! – Agora os olhos do loiro estavam com uma tonalidade vermelho-carmesim enquanto suas pupilas tomavam a forma de fendas. Seus riscos nas bochechas se aprofundavam, fazendo com que se parecessem ainda mais com bigodes felinos. Seus caninos se apontavam e formavam pontas ameaçadoramente afiadas. Suas unhas cresciam para se transformarem em garras.

Gabe rosnou na direção do ninja, sendo respondido pelos próprios rosnados de Naruto, que pareciam semelhantes aos de um animal selvagem.

– Naruto, acalme-se. – Sally disse em um tom suave, que fez os olhos vermelhos de Naruto voltarem ao tom celeste de sempre. Ele virou a cabeça na sua direção, e apenas acenou com a cabeça, voltando ao lado dela e de Percy, sempre mandando a Gabe um olhar que daria medo ao próprio diabo. Sally, vendo que Naruto havia se acalmado, disse: – Eu já estava a caminho, meu bem. Estávamos só conversando sobre a viagem.

Os olhos de Gabe se apertaram.

– A viagem? Você quer dizer que estava falando disso a sério?

– Eu sabia. – Murmurou Percy. – Ele não vai nos deixar ir.

– É claro que vai. - Disse Sally calmamente. – Seu padrasto só está preocupado com o dinheiro. É tudo. Além disso – acrescentou –, Gabriel não terá de se contentar com pasta de feijão. Vou fazer para ele uma pasta de sete camadas suficiente para todo o fim de semana. Guacamole. Creme azedo. Serviço completo.

– Nossa, bonita, inteligente, gentil e sabe subornar. Você é incrível, Sra. Jackson. – Naruto disse, genuinamente supreso e sorridente, o que fez Sally sorrir na sua direção.

Gabe amaciou um pouco.

– Então esse dinheiro para a viagem... Vai sair do seu orçamento para roupas, certo?

– Sim, meu bem. – Disse Sally.

– E você não vai com meu carro para lugar nenhum, só vai usar na ida e na volta.

– Seremos muito cuidadosos.

Gabe coçou seu queixo duplo e feio.

– Talvez se você andar logo com essa pasta de sete camadas... E talvez se o garoto pedir desculpas por interromper meu jogo de pôquer.

Pedir desculpas? Ele pagou o seu jogo. – Naruto pensou, franzindo a testa e entalando um rosnado no fundo da garganta.

Talvez se eu chutar seu ponto sensível. – Percy pensou. – E fizer você cantar com voz de soprano por uma semana.

Mas os olhos de Sally advertiram o moreno para não deixá-lo zangado.

– E talvez... Se o loirinho pedisse desculpas por me desafiar agora à pouco.

– E que tal se eu socasse sua cara até ela poder ficar um pouco mais bonita? Ah, é mesmo, eu me esqueci, isso é impossível. – Naruto disse, sorrindo sinicamente na sua direção, fazendo Gabe rosnar.

– Naruto, por favor. – Implorou Sally.

Naruto olhou na sua direção, e viu seus olhos brilhando de uma maneria líquida, e então ele se tocou de que ela estava prestes a chorar. Ele não queria pedir desculpas a Gabe, mas se era por aquela bondosa mulher, ele se sacrificaria.

– Desculpe. – Percy murmurou. – Sinto muito ter interrompido seu importantíssimo jogo de pôquer. Por favor, volte a ele agora mesmo.

– Me perdoe, morsa sem presas com roupa de brechó. – Naruto disse, sorrindo.

Os olhos de Gabe se estreitaram. O cérebro minúsculo provavelmente estava tentando detectar o sarcasmo na frase de Percy e o insulto na de Naruto.

– Está bem, seja lá o que for. – Convenceu-se.

E voltou para o jogo.

– Obrigada, Percy, Naruto. – Disse Sally, sorrindo para os meninos. – Depois que chegarmos a Montauk, vamos conversar sobre... O que quer que vocês tenham se esquecido de me contar, certo?

Por um momento, ambos pensaram ter visto ansiedade nos olhos dela – o mesmo modo que viram em Grover na viagem de ônibus –, como se Sally também estivesse sentindo um estranho calafrio no ar.

Mas então o sorriso dela voltou e eles concluíram que deviam estar enganados. Ela despenteou o cabelo de Percy e acariciou o ombro de Naruto e foi fazer a pasta de sete camadas para Gabe.

* * *

Uma hora depois os três estavam prontos para partir.

Gabe interrompeu o jogo de pôquer por tempo suficiente para observar seu enteado arrastando as malas de Sally para o carro. Ficou se queixando e se lamentando por ficar sem a comida dela – e mais importante, sem seu Camaro 78 – durante todo o fim de semana.

– Nem um arranhão nesse carro, geninho. – Ele advertiu quando Percy estava carregando a última mala. – Nem um arranhãozinho.

– E como diabo ele vai dirigir aos doze anos, idiota? – Naruto zombou, revirando os olhos ligeiramente avermelhados.

Gabe fuzilou-o com o olhar, mas Naruto o devolveu mil vezes mais forte. Vantagem de viver no Mundo Ninja.

Observando Gabe voltar em seu passo desajeitado para o prédio, Percy ficou tão zangado que fez uma coisa que ele não entendia. Quando Gabe chegou à porta, ele fez um gesto com a mão que tinha visto Grover fazer no ônibus, uma espécie de gesto para afastar o mal, a mão em garra sobre o coração e depois um movimento de empurrar na direção de Gabe. A porta de tela bateu tão forte que o acertou no traseiro e o mandou voando até a escada, como se estivesse sido disparado por um canhão.

Naruto arregalou os olhos enquanto verificava as coisas em sua bolsa-carteiro, ao sentir um chakra imenso, antigo e poderoso, que o fez estremecer. Ele se virou, e viu Percy lá, surpreso, a mão na forma de três garras, do mesmo jeito que Grover fez. Ele se perguntou se talvez aquele gesto fosse mais do que aparentava.

Talvez tenha sido apenas o vento, ou algum acidente maluco com as dobradiças, mas Percy não ficou lá tempo suficiente para descobrir.

Ele entrou no Camaro, com Naruto atrás, e disse para Sally pisar fundo.

* * *

Naruto ficava sentado no banco de trás, enquanto Sally e Percy ficavam na frente, sorrindo como se não houvesse amanhã. Ele não entendia por que.

Até que ele se lembrou de Percy mencionando uma vez sobre Montauk, e sobre como aquele fora o lugar em que Sally conheceu seu pai.

Naruto notou que à medida que eles se aproximavam de Montauk, ela parecia ir ficando mais jovem, os anos de preocupação e trabalho desaparecendo do rosto. Os olhos azuis ficavam cada vez mais brilhantes.

Eles chegaram lá ao pôr do sol, abriram todas as janelas do chalé e passaram por uma rotina de limpeza nova para Naruto. Eles caminharam pela praia – com Naruto se surpreendendo cada vez mais, sendo que ele nunca havia ido à uma praia antes em toda sua vida –, deram salgadinhos de milho às gaivotas e mascaram jujubas azuis, caramelos azuis e todas as outras amostras grátis que Sally levara do trabalho.

Naruto não se importou de perguntar por que a comida azul, pois ele já sabia o motivo.

Quando escureceu, os três acenderam uma fogueira. Eles assaram cachorro-quente e marshmallows. Sally contou histórias sobre quando ela era criança, antes de os pais morrerem no acidente de avião. Contou aos dois sobre os livros que queris escrever um dia, quando tivesse dinheiro suficiente para largar a doceria.

– Mãe, como era meu pai? – Percy perguntou de repente, finalmente reunindo coragem para perguntar sobre isso.

Os olhos de Sally de repente ficaram cheios d'água, enquanto Naruto olhava para baixo.

– Ele era gentil, Percy. – Disse ela. – Alto, bonito e forte. Mas gentil também. Você tem o cabelo preto dele, você sabe, e os olhos verdes.

Sally pescou uma jujuba azul do saco de doces.

– Gostaria que ele pudesse vê-lo, Percy. Ficaria muito orgulhoso.

– Com certeza. – Naruto sorriu na sua direção, enquanto piscava para ele.

Percy corou levemente.

– Que idade eu tinha? – Ele perguntou. – Quer dizer... Quando ele se foi?

Sally olhou para as chamas.

– Ele só ficou comigo por um verão, Percy. Bem aqui nesta praia. Neste chalé.

– Mas... Ele me conheceu quando eu era bebê.

– Não, meu bem. Ele sabia que eu estava esperando um bebê, mas nunca o viu. Teve de partir antes de você nascer. – Sally, com óbvio desconforto, olhou na direção de Naruto. – Então, Naruto, como são seus pais?

– Erm... Meus pais... Eles estão... Mortos... Morreram quando eu nasci... Nunca os conheci... – Naruto informou constrangido, enquanto arranhava a parte de trás da cabeça.

– Oh, pobrezinho. Eu sinto muito. – Sally disse, parecendo genuinamente culpada e preocupada. Naruto não sabia por que ela parecia estar tão preocupada, mas aí ele entendeu que ela também perdeu os pais quando era jovem. Ela o entendia. Ele poderia não tê-los perdido do mesmo jeito ou tempo que ela, mas eles ainda entendiam a dor um do outro.

– Tudo bem, Sra. Jackson. A senhora não sabia. – Naruto disse, sorrindo levemente para ela. Ele estava começando a realmente gostar daquela mulher. Era uma boa pessoa. Percy nem fazia ideia de como era sortudo. – Tudo o que eu tenho de algum deles é isso.

Ele tirou a foto de sua mãe e a mostrava para os Jackson. Era uma foto que mostrava apenas dos ombros para cima. Mostrava uma linda mulher em seus vinte e tantos anos, de cabelos ruivos brilhantes e olhos cor jade, que compartilhava as feições traquinas e marotas com Naruto. Percy já sabia de onde Naruto tirou sua personalidade brincalhona.

– Essa é sua mãe? Ela é linda. – Percy disse, sorrindo para Naruto.

– É. Ela era. – Naruto disse amargamente a última parte. Se tudo aquilo quando ele era um bebê não tivesse acontecido, ele nunca teria tido aquela vida maldita. – Meu pai também era um bom homem. Ele era um ótimo lutador. Mas por tudo que eu soube sobre minha mãe nas escrituras que me deram, era ela quem honrava as calças naquele relacionamento.

Percy deu uma risadinha contida, enquanto Sally sorriu. Naruto era uma boa pessoa que poderia fazer qualquer um rir.

– Naruto, com quem você está vivendo? – Sally perguntou, preocupada, notando que ele poderia viver em um orfanato.

– Antes meu avô cuidava de mim. – Naruto respondeu dando de ombros. – Mas então um dia ele morreu e tive que me virar sozinho.

– Pobrezinho. – Sally disse, enquanto colocava sua mão em cima do ombro de Naruto.

– Tudo bem. Com o tempo você vai se acostumando. – Naruto deu de ombros. – Ainda mais quando se tem um demônio dentro de você que te cura dos ferimentos que as pessoas fazem.

– Você vai me mandar embora de novo? – Percy perguntou a ela. – Para outro internato?

Ela puxou um marshmallow do fogo.

– Eu não sei, meu bem. – Sua voz soou muito séria. – Acho... Acho que teremos de fazer alguma coisa.

– Por que você não quer me ver por perto? – Naruto deu um tapa na própria testa, balançando a cabeça. Como seu amigo era burro.

Os olhos de Sally ficaram marejados. Ela pegou a mão do moreno e apertou com força.

– Ah, Percy, não. Eu... Eu preciso, meu bem. Para seu próprio bem. Eu tenho de mandar você para longe.

Naruto franziu a testa. Ela sabia alguma coisa que eles não sabiam, assim como o Sr. Brunner e Grover.

– Porque eu não sou normal? – Disse ele.

– Você diz isso como se fosse uma coisa ruim, Percy. Mas não se dá conta do quanto você é importante. Pensei que Yancy seria bastante longe. Pensei que você finalmente estaria em segurança.

– Em segurança por quê?

Sally fitou profundamente os olhos do filho.

– Percy, não ser normal não é tão ruim assim. – Naruto disse, sorrindo para seu amigo. – Quer dizer... Olhe para mim.

– Hein? – Sally tinha um semblante confuso.

Naruto deu um suspiro e virou-se para Percy.

– Posso mostrar a ela?

– Claro.

Naruto levantou o braço e na palma de sua mão apareceu uma esfera rodopiante de coloração azul-celeste, que irradiava uma energia muito poderosa, que fez Sally engasgar. Percy também parecia surpreendido.

Naruto, durante todos aqueles meses em Yancy, ficou nos bosques e treinou novos estilos de luta e novos jutsus que se encontravam nos pergaminhos sobre sua herança e sua família. Um dos jutsus foi o Rasengan, a Esfera Espiral de Chakra.

– Ei, por que você não mostrou esse jutsu para mim? Você só mostrou o kage bunshin no jutsu.

– O quê? – Sally questionou, confusa.

Naruto despejou tudo sobre sua vida. Sobre como ele antes tinha um demônio dentro de si, mas agora era parte demônio, sobre como ele era um ninja de outra dimensão, sobre tudo.

Sally engasgou.

– Não acredito. Você passou por todo aquele sofrimento em uma idade tão jovem?

– Aprendi a sobreviver. – Naruto deu de ombros, como se não fosse nada.

– Mas... Tão só desse jeito? – Sally indagou, chocada.

– Ei, isso lhe dá caráter. Faz você entender o valor do trabalho duro. – Naruto disse, enquanto flexionava os músculos atléticos que havia adquirido no seu treinamento.

– Realmente. – Sally sorriu para Naruto, que sorriu de volta. – Mas, Percy, tentei manter você tão perto de mim quanto pude. – Falou Sally. – Eles me disseram que isso era um erro. Mas só havia uma outra opção, Percy... O lugar para onde seu pai queria mandá-lo. E eu simplesmente não poderia aguentar ter de fazer isso.

– Meu pai queria que eu fosse para uma escola especial? – Percy arqueou uma de suas sobrancelhas.

– Não uma escola. – Disse ela suavemente. – Um acampamento de verão.

Percy ficou confuso. Seu pai nunca lhe havia visto, e ainda queria lhe levar a um acampamento de verão? E, se isso era tão importante, por que sua mãe nunca lhe havia dito sobre isso?

– Desculpe, Percy. – Continuou Sally ao ver a expressão nos olhos de seu filho. – Mas não posso falar sobre isso. Eu... Eu não podia mandar você para aquele lugar. Significaria dizer adeus a você para sempre.

– Para sempre? Mas se é apenas um acampamento de verão...

Ela se voltou para o fogo, e Percy percebeu pela sua expressão que, se fizesse mais perguntas, ela começaria a chorar.

* * *

Naquela noite Naruto dormiu e se viu em uma praia que estava sendo alvo de uma tempestade. Percy estava ao seu lado, parecendo tão atordoado quanto ele.

Três belos animais, um cavalo branco, uma águia dourada e um corvo negro, estavam tentando matar um ao outro à beira-mar. O corvo nada fazia, apenas observava a batalha com interesse, obviamente procurando uma brecha para atacar. A águia mergulhou e estava prestes a arranhar o focinho do cavalo, mas o corvo a impediu e fez um talho ela mesma no focinho do cavalo. O cavalo empinou e escoiceou as asas do corvo e da águia. Enquanto eles lutavam, o chão retumbou e uma voz mostruosa riu em algum lugar embaixo da terra, incitando os animais a lutarem mais arduamente.

Os meninos correram até eles, sabendo que tinham de impedir que se matassem, mas havia um problemas: eles corriam em câmera lenta. Sabiam que iriam chegar tarde demais. Eles viram a águia mergulhar, o bico apontado para os grandes olhos do cavalo, com o corvo também mergulhando na direção do cavalo, mas aparentemente com a intenção de ajudá-lo, obviamente para que ele mesmo pudesse atacá-lo. Os meninos gritaram: Não!

Os meninos acordaram assustados e suando.

Do lado de fora, havia realmente uma tempestade, o tipo de tempestade que racha árvores e derruba casas. Não havia nenhum cavalo, nenhuma águia e nenhum corvo na praia, somente relâmpagos que criavam uma falsa luz do dia e ondas de seis metros golpeando as dunas como artilharia.

Com o trovão seguinte, Sally acordou sobressaltada. Ela sentou na cama, os olhos arregalados, e disse:

– Furacão.

Percy sabia que aquilo era loucura. Nunca houve furacões em Long Island tão cedo no verão. Mas o oceano parecia ter se esquecido disso. Por cima dos rugidos do vento, os meninos ouviram um bramido distante, um som furioso, torturado, que fez os cabelos deles se arrepiarem – bem, mais ainda, no caso de Naruto.

Depois um ruído muito mais próximo, como de malhos na areia. Uma voz desesperada – alguém gritando, esmurrando a porta do chalé.

Sally pulou da cama de camisola e abriu a porta de um safanão.

Grover estava lá, emoldurado no vão da porta contra um fundo de chuva torrencial. Mas ele não era... Ele não era exatamente o Grover.

– Procurei a noite toda. – Arquejou ele. – O que vocês estavam pensando?

Sally olhou para Percy aterrorizada – não com medo de Grover, mas da razão de sua chegada.

– Percy! Naruto! – Disse ela, gritando para se fazer ouvir mais alto que a chuva. – O que aconteceu na escola? O que vocês não me contaram?

– Ahn... Erm... Hê, hê!, veja bem, Sra. Jackson, essa é uma história até louca e engraçada, que vai te fazer rir muito, e...

Percy nada disse, pelo simples fato de estar paralisado olhando para Grover. Eles não conseguiam entender o que estavam vendo.

– O Zeu kai allou theoi! – Gritou Grover. – Está bem atrás de mim! Vocês não contaram a ela?

Os meninos estavam chocados demais para registrar que ele acabara de praguejar em grego antigo, e eles tinham entendido perfeitamente. Estavam chocados demais para pensar como Grover chegara ali sozinho no meio da noite. Porque Grover não estava usando calças – e onde deveriam estar as pernas dele... Onde deveriam estar as pernas dele...

Sally olhou para os meninos com expressão severa e falou em um tom que jamais usara antes:

Percy. Naruto. Contem-me agora!

Percy gaguejou algo sobre velhas senhoras na banca de frutas e a Sra. Dodds, e Sally ficou olhando para ele, o rosto mortalmente pálido aos clarões dos relâmpagos.

Ela agarrou sua bolsa, jogou para Percy a sua capa de chuva e disse:

– Vão para o carro. Vocês três. Vão!

Naruto, de repente, sentindo os instintos lhe dominarem, ficou com uma energia vermelha à sua volta, enquanto seus olhos se avermelhavam cada vez mais. Suas unhas se apontavam e se tornavam garras afiadas e ameaçadoras. Seus dentes caninos também ficavam mais nítidos, tornando-se presas.

Grrrr... O que diabo está acontecendo aqui? – Gritou, enquanto agarrava sua bolsa-carteiro de couro e corria na direção da porta, assim como Percy e Grover.

Grover correu para o Camaro – mas ele não estava exatamente correndo. Estava trotando, sacudindo o traseiro peludo, e de repente sua história sobre distúrbio muscular nas pernas fez sentido para os dois meninos. Eles agora entendiam como ele podia correr tão depressa e ainda assim mancar quando andava.

Porque onde deveriam estar seus pés não havia pés. Havia cascos fendidos.

– É, definitivamente estamos na Zona Crepúsculo! – Exclamou o loiro, enquanto olhava o horizonte, com sua nova visão propriamente feita para a noite. Não via nada de perigoso. Cheirou o ambiente, mas a chuva encobria o cheiro. Tentou ouvir os passos, mas os pingos de chuva eram muito altos para ele conseguir ouvir qualquer coisa além deles. – Pelo menos você pode nos dizer o que está atrás da gente, Grover? – Ele não respondeu, simplesmente entrou no banco de trás. – Claro, sempre ignorem o ninja de outra dimensão.

Mas também entrou no carro, tentando formular uma boa resposta para toda aquela charada que acontecia.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e se gostaram, me enviem Reviews.