The Boy With The Thorn In His Side escrita por KingTrick


Capítulo 4
Capítulo 4




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Acordei às três e quarenta e cinco, completamente alerta. Como eu já tinha tomado dois comprimidos, decidi continuar a escrever minha história. Eu tinha um homem rico, um vigarista e um herói e meu instinto assassino me dizia que um deles não chegaria a última página. Refleti durante uma hora e doze minutos e joguei o mocinho da janela de um prédio. O suspeito óbvio seria o vigarista, mas ninguém suspeitaria de Hayley, a pobre viúva. 

Às seis e meia, quando meu despertador começou a tocar Help!, eu já tinha 90% do clímax pronto. Isso era bom. Desliguei o computador e fui tomar banho para me preparar psicológicamente para o encontro com Butch. Todos os dias eu me condenava por ter me associado com aquele desgraçado. Mas era tudo culpa minha. E eu tinha arrastado Patrick comigo. 

- Imbecil - As palavras saíam menos pesadas com a água correndo pelo meu corpo. Meus ombros ardiam com a água quente, mas eu sentia que essa punição era merecida. Era tudo culpa minha. Minha e do meu vício idiota.

Saí do banho e parei em frente ao espelho. Eu tinha olheiras escuras abaixo dos olhos e precisava urgentemente cortar o cabelo. 

- Parece um hippie.

Meu coração veio na boca e eu perdi o ar. Patrick estava escorado na porta, me encarando. Senti minhas bochechas queimarem mas, pelo menos, eu estava de toalha. Recuperei-me do susto enquanto ele ria. A risada dele era uma das coisas que me mantia seguro ao seu redor. Ele vestia uma regata branca e uma bermuda com estampa de dinossauro. Uma das minhas maiores curiosidades sobre Patrick era onde ele comprava esse tipo de coisa.

- Que isso, Stump?

- É que seu despertador tocou a meia hora atrás e você não veio para o café. Vim ver se você tinha se matado.

- Obrigado pela preocupação. Agora, pode me dar licença, por favor?

- Toda.

Assim que ele fechou a porta, comecei a me vestir. O dia estava nublado, mas abafado, então peguei uma camisa social e um jeans escuro. Colocaria o sobretudo na hora de sair para o encontro. Olhei-me no espelho mais uma vez e tentei não parecer tão abalado. Fracassei.

Saí do banheiro e Patrick já não estava mais no meu quarto. Peguei minha carteira e contei o dinheiro: Cinquenta e sete dólares e quinze centavos. Dava para o táxi e o corte de cabelo. A gasolina tinha acabado. Fui para a cozinha, onde encontrei Boris tentando subir na bancada para pegar o prato com ovos que Patrick tinha feito para mim. Eu não estava mesmo com fome.

- Ryan, não faz isso - Eu mal coloquei o prato no chão e já ouvi sermão do Patrick. É isso que dá ser bom com as pessoas... E cachorros.

- Eu...

- Shh. O colesterol dele tá alto. Se não vai comer joga no lixo.

- Calma, Tricky. Deixa o cachorro em paz.

E de repente, ele estava lá. Pete Wentz. A nova sensação da música. O produtor do milênio. A salvação do pop punk e a prova vida de que você pode ganhar dinheiro com Garage Band. 

Já faziam quatro anos e sete meses desde Pete e Patrick começaram a namorar. Patrick era o ilustrador prodígio da DC, de chapéu, óculos e costeletas e Pete era apenas um scene-kid viciado em chapinha e deliniador que sonhava alto. Ninguém acreditaria que eles poderíam ficar juntos, mas, se você olhar bem, dá pra perceber que foram feitos um para o outro. 

- Oi-oi, Pete.

- Oi, Ryan. Como vai?

- Mais ou menos. E você? 

- Estou muito bem, obrigado. Terminou seu livro?

- Ainda não. Hm, olha eu vou sair, tá? - Olhei direto para Patrick - Eu volto daqui há uma hora. Contem.

Saí do apartamento e, consequentemente, do prédio. Peguei um táxi na esquina e parti em direção a uma barbearia conhecida e um barbeiro conhecido, Dan O'Connor. Dan tinha, no máximo, a mesma idade de Pete, 33 anos, mas a barba grossa que já fazia parte de sua personalidade o deixava com a aparência bem mais velha. Quase faternal, eu diria.

Cheguei à barbearia e fui logo procurando por Dan. Assim que ele me viu, fez questão de gritar para todo o estado. Esse era o jeito dele. Dan era uma pessoa muito extrovertida, como Pete, que não tinha medo das pessoas. Fazia de tudo para conquistá-las. 

- Ryan! Que bom vê-lo.

- É bom ver você também, Dan.

- Então, qual é a ocasião importante? 

- Vou encontrar um... Velho amigo. Hoje à noite.

- Ótimo.

- Dan, trouxe sua encomen- Oi, Ryan!

Nem precisava virar para saber que era Brendon. Uma vez que seus ouvidos decodificam o som daquela voz, é impossível não lembrar. Mesmo assim, virei-me na cadeira, encarando sua sorridente face e seu corpo esbelto. E que corpo...

Ele vestia apenas calça jeans preta e tênis e o suor que provinha do topo de sua cabeça escorria pelo peitoral até o final do abdôme. Sorri tímido tentando focar apenas seu rosto. Dan também sorriu ao saber que já nos conhecíamos, pegou o pacote que Brendon carregava dentro de uma mochila e começou a cortar meu cabelo. Brendon parecia que tinha outros assuntos para tratar com Dan, porque sentou na cadeira ao meu lado e ficou passando as folhas de uma revista até ele acabar.

O corte ficou ótimo. Paguei à Dan e comprimentei Brendon mais uma vez antes de sair. Meu táxi ainda esperava por mim, e eu ainda tinha treze minutos. Já estava dentro do carro quando ouvi uma batida na janela. Era Brendon. 

- Está indo pra casa? Posso hm, posso ir com você? - Ele tinha algumas notas na mão como se, só porque ele iria dividar a volta comigo, eu fosse deixá-lo entrar. O motorista me deu um olhar reprovador, mas eu abri a porta para que ele entrasse. Ele continuava sem camisa e suando, agora um pouco menos. 

- 'Brigado.

- Você podia ter me dito que queria carona.

- Desculpa. Hm, Patrick me ligou... 

- Pete está lá em casa, sim. Você vai gostar dele.

- Espero que sim. Nossa, é a primeira vez que eu assino contrato com uma grande gravadora, ainda mais a do Pete Wentz! - Os olhos dele brilhavam e eu conseguia sentir a energia que ele demonstrava. Ele era rápido com as palavras. Isso era um perigo - Nunca vou ter como agradecer.

- Você tem bastante tempo pra pensar.

Passamos o resto da viagem em silêncio. Eu sentia que ele estava me olhando, mas fiquei com medo de virar e ficar preso. Não sou muito bom com essas situações. Passei a mão pelo cabelo recém-cortado já sentindo falta dos longos cachos e o ouvi suspirar. Não aguentei e me virei para encará-lo. Encontrei seus lindos olhos castanhos e me arrependi: Eles brilhavam como duas estrelas cadentes, dois meteoros riscando o céu à noite. E eles sorriam, derretendo-me por completo. 

Finalmente chegamos ao meu prédio. Paguei o táxi enquanto ele vestia uma camiseta. Entramos no elevador lado a lado. 

- Patrick? Pete? Cheguei - Procurei pelos dois, mas tudo que eu encontrei foi Boris, assistindo ao noticiário. Quando viu Brendon, correu direto para o desconhecido e se esqueceu de mim.

- Ah, você é tão lindo! 

- Ingrato.

- Como?

- Nada. Quer café?

- Não, obrigado. 

- Vou ligar para Patrick - Peguei o celular e disquei o número dele. Um minuto depois, Beat It ecoou pela sala. Caminhei até onde o som era mais alto: O quarto. É incrível como eles não perdiam tempo. Desliguei o celular e bati na porta. Uma. Duas. Três. Quatro. Patrick.

- O quê?! - Patrick respirava com dificuldade. Tinha o cabelo desgrenhado e suado e a camisa do avesso. 

- Brendon está aqui - Foi tudo o que eu falei.

- Tá. Já estamos indo.

Voltei para a sala onde Brendon ainda brincava com Boris. Ele sorriu quando voltei e senti as bochechas arderem. Sentei no sofá e logo ele se juntou a mim, com Boris no colo.

- Qual é o nome dele?

- Boris. 

- Oi, Boris. Garoto lindo!

Patrick e Pete finalmente chegaram a sala, sorrisos envergonhados estampados em seus rostos. Brendon largou Boris no chão e correu para abraçar Patrick, como se já se conhecessem há anos. É o efeito-Stump.

Pete ficou claramente com ciúmes da cena, mas fingiu que não. Pete era assim: Superprotetor e desconfiado. Mas Brendon era contagioso, era impossível ficar com raiva dele por muito tempo.

- Então, garoto: Soube que você canta bem, é verdade?

- Bom... 

- Ele é ótimo, Pete. Você vai ver. 

Brendon e Pete ficaram conversando durante uma hora e quarenta e dois minutos sobre a carreira dele. Os olhos dele brilhavam igual ou até mais do que no táxi e era visível sua felicidade. Patrick também estava feliz. Até Boris estava feliz. E eu... Bom, eu me sentia bem melhor do que nos dias anteriores, confesso. Mas não chegava a ser felicidade pela realização de outra pessoa. Meu ego não permitiria. 

Brendon foi embora vinte e oito minutos depois. Patrick e eu o acompanhamos até a saída do prédio como bons anfitriãos que somos e ele sorriu para mim. Só para mim. Era um sorriso novo, não igual ao que ele dava à Patrick ao a outra pessoa. Aquele era o meu sorriso. 


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