Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Não pode ser. Não pode ser.Não é possível, eu estou mesmo pensando que meu pai é um assassino?

Olhei para Kyle, que estava quase dormindo. Ele olhou para mim.

- O que foi meu anjo? – perguntou ele.

- Você vai me achar louca depois que eu te disser isso, mas... eu acho que o meu pai matou minha mãe.

- O quê?  Isso é loucura Klo, seu pai amava sua mãe, eu tenho certeza, por que ele faria isso? – Kyle se mostrou surpreso.

- Pode ter sido assim: minha mãe descobriu que ele traía ela e foi tirar satisfação, foi aí que ele a matou. Não sei se você sabe, mas meu pai já teve problemas de bebida, ele bebia demais e ficava agressivo.

- Pode até fazer sentido, mas por outro lado... é impossível acreditar. Seu pai sempre foi tão...

- Bom? Se ele fosse bom de verdade ele não trairia duas mulheres que mereciam ser amadas de forma correta. – Falei, cheia de raiva. - Acho que deveríamos contar pra Meredith.

- Não agora, vamos esperar um pouco. Tenta descobrir mais alguma coisa, se você conseguir a gente conta. – disse ele.

- Tá. – eu assenti. – Perdi o sono.

- Eu também. – disse ele, me dando um beijo demorado e me fazendo esquecer tudo o que havia me preocupado. Como uma pessoa pode fazer tão bem a outra?

Ficamos lá deitados, ás vezes nos beijávamos, ás vezes só observávamos a chuva cair, que ia aumentando cada vez mais.  Agradeci mentalmente por Kyle ter entrado na minha vida, faz pouco tempo que o conheci mas já estava viciada em seus beijos, em seus abraços, em tudo que dizia respeito a ele. Não sei se iria conseguir passar por isso sem ele. Eu nunca pensei que iria me sentir assim, não sabia a sensação maravilhosa que era ficar apaixonada.

Depois de algum tempo refletindo, beijando e olhando a chuva Meredith chegou com o almoço. Não acredito que a julguei tão mal no começo. Ela é muito legal.

- Então, O que vocês ficaram fazendo de manhã? – ela perguntou.

- Nada, só assistimos TV e depois voltamos a dormir. – expliquei.

- Ah, sei. Não pensem que eu não notei como vocês se olharam quando se conheceram, e como se olham agora. Vocês sabem que não são parentes “oficiais”, então podem namorar. – ela dá um pequeno sorriso e volta a falar. - Eu só não me preocupo de vocês dois sozinhos e dormindo no mesmo quarto porque eu conheço bem o Kyle e sei que ele é responsável, e mesmo que eu tenha acabado de te conhecer eu penso o mesmo de você mocinha. – Meredith deu uma piscadela para mim. Uou. Ela entende os adolescentes. Ás vezes, até demais. E isso me preocupa um pouco.

Nós dois rimos e começamos a nossa refeição.

Meredith foi embora, então Kyle pegou seu violão e fomos para a sala. Eu não sabia que ele tocava, na verdade eu nem tinha visto que ele tinha um violão.

- Desde a noite em que cheguei aqui eu tava ensaiando a letra de uma música, posso cantar ela para você? – disse ele. Eu não tenho certeza, mas acho que ele estava um pouco inseguro ao me falar isso.

- Claro. – disse, com um sorriso no rosto.

Ele começou a tocar e cantar Just the way you are do Bruno Mars, enquanto sorria e me fitava com aqueles olhos verdes perfeitos. Eu quase tive um ataque cardíaco, mas tive que me controlar e me conter só com um sorriso do tamanho da minha cara.

Ele terminou de cantar e eu o beijei como da primeira vez que nos beijamos, um beijo apaixonado. Ele cantou outras músicas, mas depois que ele cantou aquela eu não prestava atenção em mais nada. Quando fomos ver já eram 18 horas e Meredith estava entrando em casa novamente. Ela nos deu notícias:

- Crianças, tudo bem se vocês passarem essa noite aqui sozinhos?

- Tudo mãe, mas por quê? – essa deve ter sido a primeira vez que escuto Kyle chamando a Meredith de mãe.

- É porque o pai de vocês precisa de mim lá na cidade em que ele está para resolver uns assuntos. – essa história estava muito mal explicada. Porque ele precisaria dela lá, se ele estava com uma biscate outra mulher?

- Por quê? – perguntei, e Kyle me olhou de um jeito como se eu tivesse tirado as palavras de sua boca. Aquela boca. Ela me tirou dos meus pensamentos intensos e respondeu:

- Pelo trabalho. E-eu... vou fazer uma entrevista de emprego para trabalhar lá na empresa também. Mas seu pai não sabe disso, na verdade estou indo e ele não sabe. – é claro. Se ele soubesse ele já teria voltado, com medo da Meredith encontrar com aquela outra sua “amiguinha”.

- Ah, tá. Desculpa a curiosidade, mas é que eu estranhei meu pai... quer dizer, ele disse que ele iria voltar em três dias. – me expliquei.

- Não, tudo bem Klo. Eu vou subir e fazer as malas. Têm certeza que vocês ficam bem aqui sozinhos? Eu to confiando em vocês hein, pelo amor de Deus não me desapontem – disse Meredith.

- Tá mãe. A gente fica bem aqui. – disse ele.  – E juízo é meu nome do meio – disse agora em um tom brincalhão.

- Hum, sei. Bom, vou lá pra cima.

Meredith subiu e começamos a cochichar.

- Eu não tava mesmo acreditando que seu pai soube que ela ia.

- É lógico que ele não sabia. – eu disse. – Se ele soubesse, cuidaria pra amiga dele ficar bem longe. E duvido que ela sabe que ele tá namorando, quase casado. Eu tenho nojo deles dois. Nunca vi ela, mas já a odeio. – Fiz uma cara de nojo. Kyle riu da minha careta, deixando o clima mais leve.

- Mas se ela ver os dois juntos, ela vai voltar correndo, e ele também – disse ele, agora em um tom sério.  – E aí, o que a gente faz? E se eles terminarem e eu nunca mais te ver? Eu acho que é melhor a gente contar pra ela mesmo, pra ver se ela ajuda a gente. Acredita em mim, ela entende os adolescentes como ninguém.

- É, eu percebi isso no almoço – disse. – É melhor a gente ir logo, essa conversa pode demorar.

- Tá, mas promete pra mim que não importa o que aconteça com eles, a gente não vai mudar né? – ele disse.

- Claro amor, eu prometo. – disse. – E vamos combinar que a gente não vai se separar, se eles se separarem eu vou com vocês, não vou me separar de você.

- Combinado. – disse ele, com certeza em seu tom de voz.

Ele me deu um beijo rápido e subimos a escada.