Narrado por Hanna

 Acordei no dia seguinte e notei que Pedro não estava do meu lado, onde ele teria se metido? Me levantei meio dolorida porque dormir no chão sem nada e vi que a camisa de Pedro não estava ali, eu sempre a colocava, só que dessa vez seria diferente, coloquei meu vestido e sai da cabana, o sol não brilhava tão forte indicando que já era começo de tarde, avistei Pedro sentado em baixo de uma árvore fitando o vazio, sorri e sentei ao lado, ele me ignorou. Sua expressão era séria, confusa e triste, tudo ao mesmo tempo, porque ele estava agindo daquele jeito? Será que eu fiz alguma coisa? Perguntas e mais perguntas ecoavam sobre minha cabeça quando finalmente decidi quebrar aquele silêncio constrangedor.

-Aconteceu alguma coisa Pê ? – Ele continuou olhando fixamente pra frente e novamente me ignorou. – Pedro, eu to falando com você!

-Eu menti.—Ele falou rapidamente, mas continuou olhando pra frente, não estava fazendo questão de conversar olhando nos olhos como sempre fazia, e aquilo estava me deixando com medo.

-Mentiu? Mentiu sobre o que?—Perguntei com receio da resposta que ele me daria.

-Sobre tudo Hanna.

-Eu não estou entendendo.

- Será que você é burra ou que? Eu não te amo Hanna! Eu só... precisava me distrair por um tempo aqui.—Senti meu coração esfarelar e as lágrimas insistentes se formando em meus olhos.

- Como chegou a essa conclusão?—Perguntei tentando parecer mais fria possível.

- Não sei, eu só não posso ter nenhum tipo de relacionamento com uma pessoa que mora do outro lado do oceano, isso seria incerto, teria que haver uma confiança maior do que o normal, a saudade seria insuportável, então pronto, e eu não cheguei em conclusão nenhuma, eu apenas não te amo.—Comecei a chorar por causas das palavras frias, insensíveis e arrogantes de Pedro Gabriel, ele sequer olhou para meu rosto enquanto as cuspia na minha cara, nunca me senti tão mal na vida, nunca havia escutado aqui, nunca pensei que passaria por isso, pois é, a vida nos prega peças, nem tudo é como queremos.

-M-Mas... Você disse que nosso amor quebrava todo tipo de barreia, e a primeira delas era a distância, disse que não importava eu morar do outro lado do mundo, você daria um jeito de me encontrar, que me amava muito, eu não entendo por que você disse tudo isso se não era verdade Pedro! Eu tenho sentimentos sabia? E eles não são nenhum carrinho hot weels pra menininho brincar não ok?—Falei em meio a lágrimas e tentando ser tão arrogante quanto ele foi comigo, mas eu não consegui, ele ainda não olhava pra mim, estava em silêncio, não demonstrava nada enquanto eu desabava em sua frente, ele sequer me deu atenção, eu não entendo o motivo dele fazer isso, a poucas horas ele me amava.. e agora eu sou apenas, apenas a garota que ele “conheceu” num navio de merda e que veio parar numa ilha deserta com ela, tudo pelo simples acaso não é? Destino não existe, ironias a parte. Ele novamente me ignorou, dessa vez eu achava que ia ser pra valer, seu rosto permanecia virado pra frente, olhando em uma única direção, segui seu olhar e me deparei com um barco, grande o suficiente, mas não tanto, nele saiam dois botes que corriam em direção a praia onde estávamos, acabou? Eu voltaria pra casa? Pedro se levantou e foi andando até a beira da Praia.

- Olha Hanna, custa você esquecer tudo o que aconteceu aqui?—O olhei indignada, ele definitivamente estava quebrando todas as promessas que me fizera ao longo daquelas semanas, estava jogando tudo por ar e gritando dane-se, ele estava me deixando.

-Custa Pedro, custa meu coração. E suas promessas? A nossa árvore, suas indiretas pra mim, a música, as brincadeira, as brigas. Tudo foi em vão pra você, apenas mais uma página da sua vida? Apenas mais um brinquedo que você fez bom proveito e cansou de brincar?

-Hanna, pelo amor de Deus, ME ESQUECE! – Ele berrou as ultimas palavras fazendo-me chorar mais.

-Tarde demais para esquecer, Pedro Gabriel.—Depois de longos minutos ignorando meu rosto, ele finalmente olhou nos meus olhos. Eu vi tristeza, vi arrependimento, vi tudo, menos o motivo de ele estar me deixando, aquele só o coração dele saberia, por um momento achei que o vi derramar uma lágrima, engano meu. Os botes finalmente pararam na areia e um grupo de bombeiros ou policiais nos rodearam nos arrastando para botes distintos, olhei em sua direção e vi que ele também me olhava, eu não sabia se aguentaria viver com aquilo dentro de mim, eu o amava com todas as minhas forças, e agora ele estava indo embora. Continuei a olha-lo enquanto me arrastavam pra aquele troço, eu apenas via nós dois ali, sorri para ele que por um momento sorriu involuntariamente, mas aquele sorriso rapidamente foi desmanchado por um simples “adeus” mau murmurado, meu sorriso se desfez, então sentei no bote e chorei. Eu deveria estar feliz por saber que estou indo de volta pra casa, mas não. Tudo o que eu queria era ficar naquela ilha pra sempre, apenas para tê-lo um pouco mais comigo, apenas pra não ter essa dor incomparável da despedida, isso era o que mais me doía, viver sem ele, e por mais que ele quisesse que eu esqueça tudo o que aconteceu, já é tarde demais.