Estávamos totalmente ferrados.

  No momento em que Eric mostrou as presas uns dez caras de preto surgiram de trás da casa e andaram em nossa direção. As pessoas pereciam nem notar neles andando em grupo com cara de gângsteres, estavam ocupadas demais dançando e lambendo uns aos outros.

  Eu tinha uma sensação ruim. Meu estômago revirando, minha visão ficando turva e estava suando frio. Eram onze – ou pelo menos os que eu via – vampiros tentando nos matar, contra um único vampiro de mais de mil anos e uma garota magrela.

  Que beleza, assim estaríamos mortos em menos de alguns minutos. Disso eu não tinha duvidas.

  Eu queria ver Patch. Mesmo se não houvesse luta, mesmo se fossemos massacrados com um só golpe, eu queria olhar nos olhos de Patch e dizer que sentia muito por tudo o que fiz com ele, dizer o quanto o amo ou simplesmente só olhar para seu rosto.

  - Vai mesmo se mostrar para esse monte de humanos? – A voz de Eric soou grave e rouca e me tirou de meu momento de auto-acusação.

   Olhei em volta e as pessoas começavam a notar aquele pequeno grupo se formando na calçada, outros continuavam dançando e Vee, bem, ela continuava com a cabeça baixa como se nada tivesse acontecendo. Uma mão tocou seu ombro e ajudou minha amiga a se levantar.

   Sookie. Ela estava com o cabelo loiro preso num rabo de cavalo alto, um vestido curto e florido e umas sandálias de salto. Vee aceitou a ajuda e levantou-se para entrar na casa junto com Sookie, a mesma me lançou um sorrisinho perverso por cima do ombro, deixando á mostra seus dentes grandes e separados.

   Num surto de adrenalina, passei pelo braço estendido de Eric e já estava correndo em direção á casa quando uma mão fria me pegou pelo pescoço parando-me na hora. Bill apertou minhas bochechas e depois pegou num cacho de meu cabelo. Houve barulhos e ruídos de luta atrás de mim, mas não consegui virar o rosto para ver qual era a situação de Eric.

   - Tsk, tsk. Tão fiel aos amigos...  – Bill fez cara de decepção. – Está disposta á morrer por eles?

   Não consegui responder porque as mãos dele apertavam tanto meu rosto que eu mal abria a boca direito, mas vontade não me faltou de xingar aquele infeliz.

   Comecei a estapear seus braços, seu peito e chutar tudo o que estava ao meu alcance.

   - Humanos... Tão frágeis. – Bill deu os ombros e me soltou. Cai no chão e comecei a massagear minhas bochechas. Virei-me para trás e antes que pudesse raciocinar o que estava acontecendo, uma explosão de sangue tomou conta de minha visão. Carne e sangue voaram para todo o lado e eu protegi o rosto com o antebraço.

   Quando olhei para ver o que realmente aconteceu, vi um Patch todo encharcado de sangue e tripas e com uma estaca de madeira na mão direita. Ao me ver, ele só deu um firme aceno de cabeça antes de, num movimento rápido, perfurar as costas de outro vampiro com a mesma estaca.

    Entendi aquele gesto como um “pode pegar Vee e tirá-la daqui”, então sai em disparada para a casa, enquanto Patch, Eric e os outros vampiros sumiam para dentro da floresta ao lado da casa deixando um rastro de sangue por onde passavam.

    Eu quase parei para apreciar o interior da casa quando dei um passo para dentro. Uma das paredes era pintada de vermelho sangue e vários quadros com moldura dourada estavam pendurados perfeitamente alinhados. Vários pilares brancos se erguiam pelo salão e sofás de couro preto estavam espalhados. Apesar da casa ser bem formal, a música frenética tocava alta enquanto todo o tipo de gente dançava como se dependessem daquilo para viver.

    Concentrei-me para ver se via uma cabeça loura perambulando por ai. No alto da escada, Sookie estava parada, sorrindo alegremente para mim. Vee não estava ao lado dela e minha nuca se arrepiou.

    Corri para a escada, enquanto a loura desaparecia no corredor do primeiro andar. Segui-a, entrando por algumas portas e aprofundando mais e mais na casa. Cada cômodo era mais impressionante que o outro, qual era a necessidade disso? Eles estavam apenas hospedados na cidade, realmente precisavam de tudo aquilo?

    Sookie andava como uma criança brincando de esconde-esconde, ela quase pulava a cada passo e mantinha os braços ao lado do corpo, como se quisesse passar a impressão de que estava voando. Eu tinha um nojo eterno da cara dela, aquele nariz empinado, as feições de uma criança, porém, era aquele tipo de pessoa que se acha superior aos outros e realmente joga isso na cara de todos.

    Eu poderia passar por cima dela com um carro e dar ré para conferir se tinha feito o trabalho direito.

    Finalmente paramos num quarto. Parecia uma sala, a TV de plasma num canto, sofás de couro no outro e uma luminária. Ela estava com uma das mãos nas costas e parecia esconder alguma coisa, com a outra ela arrumava a barra do vestido. Sookie me olhava fixamente e aquele olhar perverso era tão penetrante que me vi dando alguns passos para trás, mantendo-me perto da porta.

    - Onde está Vee?

   Uma daquelas risadas forçadas de Sookie ecoou pela sala.

    - Vee? Era o nome daquela adorável garota?

  - Era? O que fizeram com ela?! Se vocês encostaram um dedo em Vee, eu juro... – Parei de falar. Não podia fazer promessas que não tinha certeza que poderia cumprir. Fechei os olhos por um minuto e respirei fundo.

  - Tão leal... Ás vezes a lealdade pode cegar uma pessoa.

  - Ah. – Exclamei com certo sarcasmo. – É por isso que é uma traidora?

  Não a conhecia o suficiente para afirmar aquilo, mas se ela tinha ido até aquele ponto, dava para ver que ela não era nada leal. Entregara Eric, mesmo depois de ter tido um caso de verão – ou sei lá o que – com ele. E ainda estava do lado da seita do mal de vampiros, e isso não melhorava em nada o status dela.

  - Eu só quero pegar Vee e ir embora. – Coloquei as mãos á frente do corpo num gesto de paz e andei alguns passos.

  - Acha mesmo que vai deixar nossa festinha tão cedo assim? Acha mesmo que eu, ou os vampiros lá em baixo vão deixar você ir tão fácil? Nora Grey, vampiros guardam muito rancor, e você, definitivamente, os decepcionou.

  Eu não tinha feito nada para aquele bando de chupadores de sangue. Como de repente eu podia ter feito todos terem rancor de mim?!

  - Se importa de me dizer o que eu fiz? Porque nem eu estou sabendo.

  - Se tornou o saco de sangue de Eric Northman. Um dos vampiros mais loucos, traidores e procurados. Deu uma nova vida á ele, logo quando o mesmo estava quase desistindo dela. Estávamos quase conseguindo que ele servisse á autoridade, e então você aparece! – Sookie jogou o braço esquerdo para cima, mas o direito continuou em suas costas. – Uma menininha feliz completando seus 18 anos de idade. Francamente, não sei o que ele viu em você á ponto de ignorar nossas propostas e continuar nessa cidade.

  Fiquei com a boca aberta alguns segundos. Como ela sabia de tudo aquilo? E Eric ia realmente se unir á autoridade? A seita do mal de vampiros? Não vejo porque ele faria isso. Poder, talvez? Não, Eric não precisava daquilo para mostrar o quanto era poderoso. Só o jeito dele, o ar de misterioso, comprovavam aquilo sem mesmo o conhecer.

  - Como pode saber de tudo isso? – Foi a única coisa que saiu. Minha cabeça estava cheia de perguntas, e eu não tinha certeza se conseguiria fazer todas com o nó que se formara em minha garganta.

  - Li a mente dele. Eric realmente se encantou com você, deve estar indo á loucura com isso. – Sookie sorriu, mostrando todos os seus dentes. – Um Deus grego daqueles á sua disposição... Já experimentou o sexo? Sexo com vampiros é a melhor coisa que existe.

  Eu queria mostrar para ela, jogar na cara de Sookie que Eric não era mais um de seus seguidores bobões. Queria mostrar para ela que Eric agora não dava a mínima para ela, mas eu não sabia o que falar. Eu tinha feito sexo com Eric, sim, mas não me lembrava de nada, então era como se nunca tivéssemos nem nos beijado.

  - Não é da sua conta. – Gritei e me aproximei mais dela até ficarmos frente a frente.

 Sookie tirou a mão direita das costas e uma lâmina brilhou bem em frente de meu nariz. Eu recuei um passo e a loira apontou uma faca de churrasco na minha direção.

  - Não é aconselhável que grite com a mulher que carrega uma faca.  

  - O que? Vai me matar por que eu atrapalhei seus planos de dominar o mundo? – Sookie investiu em minha direção com a faca e eu desviei indo para o lado, fazendo sua faca cortar o ar.

   Ela tinha razão, não era muito aconselhável brincar com alguém que carrega uma faca.

  - Deixe-me dar uma olhadinha rápida em sua cabeça. – Do jeito que ela me olhava, não sabia se queria ver meus pensamentos ou realmente abrir minha cabeça para dar uma olhadinha em meu cérebro. Mas do mesmo jeito, andei até a janela e dei uma olhada para baixo. Era um andar. Eu poderia quebrar uma perna ou um braço, mas era bem melhor que ter a cabeça aberta pro uma loura psicótica.

  A piscina até que ficava bem perto da janela, se eu tomasse o impulso certo talvez conseguisse alcançá-la. Sookie seguiu meu olhar e deu uma risada fria.

   - Realmente vai fazer isso? Prefere morrer na mão de vampiros?

  Eu não preferia morrer de jeito nenhum. Mas eu não desistiria tão fácil assim de viver, eu pelo menos correria e lutaria. O que diabos ela queria que eu fizesse? Ajoelhasse na sua frente e implorasse para me matar ali e agora? Ela devia estar louca.

   Sookie deu mais um passo e eu passei uma perna para fora da janela. Ela estava me testando, vendo até aonde eu ia com aquela brincadeira perigosa. Mais um passo, outra perna para fora. Outro movimento repentino e eu estava do lado de fora da janela, ela pulou para frente e esticou os braços para me puxar.

   E então eu pulei.