Você poderia me perdoar? escrita por Nightshadow, EnilaVK


Capítulo 7
Afastados




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Yuu ainda estava sem chão depois da briga com Kouyou. Não conseguia acreditar em sua própria ingenuidade de ter se deixado levar pelo loiro daquela forma. O pior era sua incapacidade de sentir raiva do maior. Ainda que estivesse profundamente magoado, não conseguia deixar de amá-lo. Não conseguia deixar de se perguntar se ele estaria bem. Não conseguia parar de se preocupar com o Takashima.

Tentava se concentrar em seu trabalho para tirar toda aquela história de sua cabeça, mas não estava obtendo sucesso em tal tarefa. Uma coisa em especial rondava sua mente… Por mais que seu peito doesse pelas palavras do maior e por mais que se sentisse traído pela pessoa que mais amava, a ideia de querer desistir da própria vida sequer passou por sua cabeça. Porém, lembrava-se daquele sentimento no dia do acidente. Lembrava-se de ter ficado devastado a ponto de querer apenas que tudo acabasse. Será que havia acontecido algo mais que ele não se lembrava?

Havia contado tudo aquilo ao Yutaka no dia anterior, e o amigo lhe revelou algo que ele não conseguira mais tirar da cabeça. Algo que todos tinham achado melhor omitir até então. Yutaka lhe contou sobre sua depressão. Sobre como nos últimos dois anos antes do acidente Yuu sequer conseguia sair da cama sem seus remédios. Sobre como às vezes ele chorava por horas e ninguém conseguia fazê-lo parar. Sobre como em alguns dias ele ficava tão aéreo que parecia nem ver ninguém à sua volta. E Yuu não conseguia parar de se perguntar o que havia mudado tanto em sua vida:

— Só pode ser brincadeira.

A voz irritada de Yutaka o despertou de seus devaneios. Yuu seguiu o olhar do amigo e encontrou Kouyou atravessando a rua, junto de Akira:

— Yuu, vai lá pra cima.

Aquilo não pareceu um pedido, mas sim uma ordem. Shiroyama ainda pensou em contestar, afinal estava no meio do expediente e não se sentia confortável em se aproveitar da amizade com o patrão, mas o de covinhas não estava com uma cara boa e Yuu o conhecia bem o suficiente pra saber que era burrice tentar contrariar Yutaka quando ele estava daquele jeito. Além disso, não queria mesmo falar com Kouyou. Pelo menos não ainda. Precisava de um tempo pra pensar, estava confuso demais com tudo aquilo. Então ele acatou ao pedido do amigo e subiu pro quarto, esperando que Akira fosse capaz de acalmar o namorado.

Yutaka estava possesso de raiva desde que Yuu lhe contara o que havia acontecido. Afinal, fora ele quem disse ao amigo que devia dar uma chance ao Kouyou. Não podia acreditar que o loiro havia mentido tão descaradamente pra todos eles por todo esse tempo:

— Ele não quer falar com você.

O de covinhas informou assim que o Takashima colocou os pés no restaurante. O loiro o olhou com pesar e culpa em seus olhos. Sabia que Yutaka estava bravo consigo e não tirava a razão do moreno, mas precisava desesperadamente falar com Yuu. Precisava ao menos vê-lo. Precisava saber se ele estava bem:

— Yutaka, por favor, me deixa falar com ele.

— Me admira muito você ter a cara de pau de aparecer aqui. Se bem que claramente ser cara de pau é sua especialidade.

— Yutaka… - Akira o repreendeu, mas o moreno não tinha a menor intenção de retirar o que disse.

— Tudo bem, Aki. - Kouyou tentou amenizar a situação por não querer além de tudo ainda ser motivo pra um desentendimento entre aqueles dois. - Eu fui mesmo um babaca, eu mereço. Só quero me desculpar com ele.

— Você acha mesmo que suas desculpas vão servir de alguma coisa pra ele agora?

— Eu tenho que me explicar pra ele. O Yuu não sabe da história toda.

Aquilo foi o estopim para o moreno perder a paciência. Aproximou-se do mais alto e lhe desferiu um forte tapa no rosto, surpreendendo não só o maior como também Akira, que correu para segurá-lo:

— Você perdeu o juízo?!

As palavras do namorado não fizeram Yutaka recuar um milímetro sequer. Kouyou levou uma mão ao rosto vermelho e encarou o moreno com os olhos ainda arregalados, sentindo o olhar raivoso do de covinhas sobre si:

— Você não vai transformar isso em culpa dele! Não vai se justificar com o pedido de namoro do Yuu! Se você não queria então que não tivesse aceitado. Ninguém te obrigou, Kouyou! Não ouse tentar jogar a culpa pra cima do Yuu agora!

— Yutaka, calma. - Akira pediu, mas aquilo pareceu apenas irritar mais ainda seu namorado.

— Calma? Você tem noção do que seu amigo fez? O Yuu quase morreu por culpa dele!

— O acidente não foi culpa dele.

— Quando você vai parar de passar a mão na cabeça desse mimado, Akira?!

— Você está sendo injusto.

— Você sabia, não sabia?

Yutaka encarava o namorado com raiva a espera de uma resposta e Akira fechou os olhos sabendo que o moreno iria se irritar com ele, mas o que poderia fazer? Não espalharia algo que Kouyou o contou em segredo. O de covinhas sentiu seus olhos marejarem e empurrou o namorado pra que esse o soltasse, pois não queria que ele continuasse tão próximo de si:

— Há quanto tempo você sabia?

— Ele não sabia de nada, Yutaka. - Kouyou interveio. - Eu contei pra ele ontem, depois que vocês saíram.

— Akira?

— Eu não sabia da traição, mas eu sabia que eles tinham brigado. - contou, pois não mentiria pro Yutaka. Nunca o fez e não começaria ali. - O Kou me contou no dia que o Yuu acordou.

— E você não pensou em me contar isso quando eu tava dizendo pro Yuu que podia confiar no Kouyou?

— Não, Yutaka, eu não pensei. Foi uma briga, há quase quatro anos. Claramente o Kou mudou, o Yuu também mudou, porque eles tem que continuar se prendendo a isso? Eles estavam bem, não tem porque deixar isso atrapalhar agora.

— Eu disse pro Yuu que podia confiar no Kouyou e ele passou a noite inteira chorando por causa desse imbecil. E eu lembrei a droga de namorado que ele era e me perguntei por que eu fui fazer isso. Claramente eu fui um péssimo amigo. A culpa desse daí foi tanta se martirizando pela merda que fez que eu quase me esqueci do lixo que ele era com Yuu!

— O Kouyou nunca tratou o Yuu mal, Yutaka, e você sabe disso!

— Parem de brigar por minha causa. - o mais alto pediu sentindo as lágrimas desabarem de seus olhos. - Eu sei que era um namorado horrível e sei que eu não mereço o Yuu. Só tava tentando ser alguém melhor dessa vez, mas acho que eu fiz tudo errado de novo. Me desculpa.

— Kou, você sempre cuidou do Yuu. Quando ele tinha as crises de depressão, nem o Yutaka conseguia acalmar ele como você fazia. Todas as vezes que ele precisou você estava lá.

— Eu faria o mesmo por você ou por qualquer amigo meu. Como namorado o que eu fazia era esquecer nosso aniversário, esquecer do dia dos namorados, esquecer dos encontros e viver dando bolo nele. Eu o traí tantas vezes que perdi as contas, com caras que eu não sabia nem o nome. Você não tem que tentar me defender, Akira. Não existe defesa pro que eu fiz. Yutaka, só… Cuida dele, por favor. Diz pra ele que eu sinto muito e que eu não vou incomodar ele de novo.

Kouyou deu as costas pros dois, sentindo-se o pior ser humano da Terra. Devia ter se afastado de Yuu quando teve a chance. O moreno estaria melhor sem ele. A última coisa que queria era tê-lo feito sofrer de novo, mas aparentemente era só isso que sabia fazer. Então se afastou disposto a cumprir a promessa de não voltar a procurar pelo Shiroyama novamente, ainda que aquilo fosse doer, provavelmente pelo resto de sua vida:

— Você vai mesmo deixar ele ir embora assim?

Akira perguntou indignado. Sabia que Yutaka não era assim. Ele nunca foi do tipo indiferente com o sofrimento alheio, mas o de covinhas tinha tomado as dores de Yuu pra si e estava decepcionado demais com o mais alto:

— Só vai atrás do seu amigo, Akira, e não traz ele aqui de novo.

[...]

Uma semana havia se passado. Devia ser tempo suficiente para organizar os próprios pensamentos, mas Yuu se sentia mais confuso a cada dia. Fora muita informação ao mesmo tempo, e mesmo assim parecia não ser informação suficiente. Era horrível não conseguir se lembrar de tudo. A sensação de que faltava algo o deixava louco.

Se lembrara de algumas coisas durante a semana, talvez por seu pensamento estar fixo em Kouyou. Em sua maioria, não eram lembranças boas… Lembrara-se de ficar horas sentado sozinho em um restaurante no dia dos namorados, esperando um loiro que nunca apareceu.

Desculpa, Yuu. Eu me esqueci.

Tudo bem.

Vamos sair hoje, ok? Eu vou te compensar.

Lembrara-se do aniversário de um ano de namoro, quando pediu que Yutaka e Akira saíssem do apartamento para poder ficar a sós com Kouyou. Yuu lembrava-se de ficar horas escolhendo o presente, de cozinhar o jantar e arrumar a mesa a luz de velas, de planejar com cuidado cada detalhe, apenas para ver Kouyou chegar em casa e perguntar qual era a ocasião para aquilo tudo. Lembrava-se da feição culpada do maior quando soube que era aniversário deles:

Por que você não me avisou antes? Eu não comprei nada.

Não tem problema, Kou.

Lembrava-se também de como o loiro disse que estava cansado, comeu apenas o suficiente pra não fazer desfeita e foi dormir. Não parecia o mesmo Kouyou com quem ele vinha saindo nos últimos meses. Se perguntava por que ficara tanto tempo com uma pessoa assim, que claramente não dava o mínimo valor ao relacionamento. Talvez insistisse por saber que perdeu seus pais por aquilo? Talvez fosse a depressão? Teria ela destruído seu amor próprio? Ou talvez fosse esse o motivo da depressão… Saber que havia perdido sua família por nada. A cada lembrança sentia-se mais idiota por gostar tanto do mais alto, mas então uma memória diferente o deixou mais confuso do que já estava.

FLASH BACK

Sentia um vazio em seu peito que parecia sugar todas as suas forças como um buraco negro. Um bolo em sua garganta o sufocava e ele não sabia dizer a razão pro desespero que tomava conta de seu ser. Só sabia que não conseguia cessar as insistentes lágrimas que escorriam de seu rosto, ou se levantar daquela cama pra qualquer coisa que fosse. Há quanto tempo estava ali daquele jeito? Uma hora? Duas? Talvez três? Não fazia ideia. Podia ouvir o alvoroço do lado de fora de seu quarto e sentia-se culpado por saber que Yutaka e Akira estavam preocupados com si, mas não tinha forças naquele dia pra fingir que estava bem como costumava fazer. Havia os mandado embora por não querer ser visto daquela forma, mas sabia que os dois permaneciam na porta de seu quarto se perguntando o que fazer:

— O que aconteceu?

Pôde ouvir a voz de Kouyou ecoar pelo apartamento e se encolheu mais na cama, envergonhado por estar chorando alto a ponto de o loiro tê-lo ouvido assim que chegou em casa. Não queria preocupar ninguém, especialmente seu namorado. Não queria dar motivos para que o mais alto quisesse desistir de si:

— Eu não sei. - Yutaka parecia angustiado. - Ele nos expulsou do quarto, disse que quer ficar sozinho.

— Yuu, eu estou entrando!

O loiro gritou da porta e adentrou o quarto sem esperar por uma resposta. Yuu virou-se de frente pra parede e pediu que Kouyou fosse embora, mas o mais alto não lhe deu ouvidos e deitou-se na cama do moreno, abraçando-o de conchinha:

— Por favor, Kou, me deixa sozinho.

— Não. Você não está sozinho. Pode chorar quanto tempo quiser, mas eu não vou sair daqui.

E ele chorou, descontroladamente. E Kouyou continuou abraçado a ele o tempo todo:

— Kou… Eu não aguento mais isso. Só queria que tudo acabasse.

— Não fala assim, por favor. Isso vai passar, tá bem? - beijou a tez do moreno e o apertou mais em seus braços. - Eu prometo que vai passar.

.~...~...~...~...~.

Não sabia o que fazer com a onda de sentimentos que o invadia. Apenas tinha vontade de chorar, como naquele dia. Por que Kouyou tinha que ser tão controverso? Por que tinha que gostar tanto dele? Não entendia o loiro… Suas lembranças pareciam mostrar duas pessoas diferentes e ele não via como ligar tudo aquilo, não entendia o que tinha acontecido e sequer sabia dizer a cronologia dos acontecimentos. Talvez algo tinha acontecido pro mais alto mudar consigo? Não conseguia se lembrar e isso estava o deixando louco:

— Yuu…

A voz de Akira o assustou, pois estava sozinho no apartamento até então e imaginava que o dono da casa ainda fosse demorar um pouco. Às vezes se esquecia de que o Suzuki também tinha uma chave:

— Entra.

Akira abriu pouco a porta, apenas o suficiente para ver o moreno:

— Desculpa incomodar. Você viu o Yutaka?

— Ele foi fazer compras.

Informou, e o loiro praguejou escorando-se a parede do corredor. Não falara com o namorado desde que fora embora com Kouyou uma semana antes e isso o estava enlouquecendo. Não gostava de pensar que seu moreno estava chateado consigo, porém seu melhor amigo estava realmente mal e Akira não podia deixá-lo sozinho. Aproveitou-se que o mais alto provavelmente iria acordar tarde devido a bebedeira do dia anterior para ir até ali:

— Akira… - chamou inseguro, ainda sentado em sua cama, apenas encarando o loiro pela fresta da porta. Sentiu suas bochechas corarem, mas precisava saber. - Como o Kou está?

Suzuki ponderou por um minuto, se perguntando o que devia responder. Kouyou estava péssimo, havia pedido licença no trabalho e mal saía de seu quarto desde então. Se não fosse Akira insistindo diariamente para que o maior comesse algo, provavelmente já teria ido parar no hospital. Mas de que adiantaria falar aquilo pro moreno? Só iria fazê-lo se sentir mal e não é como se fosse realmente culpa dele:

— Ele está triste. Imagino que você também.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Un.

— Eu e o Kou… Aconteceu alguma coisa entre a gente? Porque eu tenho me lembrado de algumas coisas e parece até que existiam dois dele. Eu não sei o que aconteceu pras coisas mudarem entre a gente. Não sei se eu dei algum motivo pra ele fazer o que fez.

O loiro suspirou e esfregou as têmporas se perguntando como iria explicar aquilo. Com certeza Kouyou sabia complicar as coisas e embora o conhecesse melhor que ninguém, às vezes nem mesmo Akira sabia dizer o que se passava naquela cabecinha de vento:

— Desculpa jogar isso em você. - o moreno pediu, desviando o olhar. - Eu ia perguntar pro Yutaka, mas ele tá tão bravo com o Kou que acho que iria só fazer a caveira dele e não me contar o que realmente aconteceu.

— Tudo bem. Eu acho que o Kou sempre teve medo de compromisso, sabe? Era quase um mecanismo de autodefesa pra ele se desligar das coisas que o faziam se lembrar do namoro em si. Mas ele gostava mesmo de você, Yuu. Mesmo antes de vocês namorarem, ele sempre se importou muito contigo. Acho que por isso ele era atencioso em alguns momentos e desligado em outros.

— Então ele me traiu só pra fugir do compromisso.

— Yuu, você devia conversar isso com ele. Eu não sei no que ele tava pensando. Mas eu acho que ele se arrependeu de verdade, se isso conta de alguma coisa.

— Era nosso aniversário de namoro, na nossa casa… Ele queria ser pego. Queria que eu terminasse com ele.

— Yuu... - suspirou. - Não acho que isso realmente ajuda, mas eu duvido muito que ele lembrava que era aniversário de vocês. E eu não acho que ele queria que você descobrisse assim, sinceramente. Por mais que ele tenha errado contigo, não consigo imaginar o Kou planejando algo pra te machucar.

— Se ele não quisesse me machucar não teria levado outra pessoa pra nossa cama. - sorriu amargo.

Akira suspirou sem argumentos contra aquilo. Ainda que soubesse que Kouyou não tinha planejado magoar o Yuu daquele forma, seu amigo devia saber que aconteceria. Queria poder fazer algo para ajudar aqueles dois a se entenderem, mas não era certo ficar pressionando o moreno, então achou melhor dar o assunto por encerrado. Além disso, não queria deixar o Takashima muito tempo sozinho. Estava realmente preocupado com ele:

— É melhor eu ir. Você avisa o Yutaka que eu passei aqui, por favor?

— Claro.

Despediu-se de Yuu, encostando a porta do quarto do moreno, e dirigiu-se à saída, mas assim que a abriu deu de cara com o namorado. O moreno de covinhas pareceu surpreso em vê-lo, mas não demorou a fechar a cara:

— Lembrou que tem namorado ou veio me devolver minha chave?

— Não seja assim, Yutaka. - pediu manhoso e pegou as sacolas da mão do moreno. - Deixa que eu carrego isso pra você.

Akira levou as compras até a cozinha enquanto o namorado fechava a porta e o seguia. O loiro sorriu largamente ao ver o namorado se aproximar, e esse apenas fechou mais o semblante:

— Eu ainda estou bravo com você, Suzuki.

— E o que eu tenho que fazer pra você me perdoar?

Perguntou envolvendo a cintura do moreno em seus braços e depositou um beijo demorado em sua testa, fazendo Yutaka deixar a carranca desabar. Sabia que não conseguiria ficar realmente bravo com Akira, por mais que quisesse:

— Por que você sempre tem que ficar do lado dele? - perguntou repousando a cabeça no peito do loiro.

— Não estou do lado de ninguém, Yuta.

— Mesmo? Você sumiu uma semana porque não está do lado de ninguém?

— O Kouyou agiu errado, mas ele não é uma pessoa ruim... E ele não está bem. Meu amigo precisava de mim.

— E quanto a mim, Akira? - questionou, afastando-se minimamente para encará-lo. - Quando você desistiu de vir morar comigo pra ficar perto do Kouyou eu não reclamei. O Yuu tinha sofrido um acidente, o Kou tava péssimo, então eu te encorajei a ajudar ele, mas… Parece que ele não sabe mais se virar sem você. Toda merda que o Kouyou faz é você quem tem que arrumar, até quando a gente vai ficar nisso?

— Como se fizesse sentido eu me mudar pra cá com o Yuu morando aqui.

— Sério, você quer fazer de conta que o Yuu é o problema agora?

— Não. Yutaka… - suas mãos foram ao rosto do moreno e colou seus lábios aos dele, pois já não suportava a distância entre eles. Entrelaçou sua língua a do namorado, matando a saudade que sentia de seu gosto. Era praquilo que tinha ido até ali, não pra discutir. Aprofundou o beijo, entrelaçando seus dedos aos fios negros e só o soltou quando o ar começou a lhe faltar. - Eu não quero brigar com você, Yuta.

— Eu também não quero brigar com você.

— Vamos deixar que os dois se resolvam, tá bom? A gente não tem que ficar no meio.

— Tá, eu vou tentar.

Concordou, ainda que ambos soubessem que aquilo seria extremamente difícil. Yutaka era quem costumava botar um fim em todas as discussões entre os amigos e não seria nada fácil pra ele não se envolver:

— O que acha de um cinema mais tarde, só eu e você? - Akira sugeriu, beijando o pescoço de seu moreno. - A gente pode deixar as crianças se virarem por uma noite e ir pra um motel.

— Bem tentador.

O assunto foi interrompido pelo som do celular de Akira, que se afastou a contragosto para atendê-lo. Voltou poucos minutos depois, com a expressão totalmente diferente. Pelo olhar culpado que o loiro o lançou, Yutaka já sabia que seus planos seriam cancelados:

— Amor, desculpa, eu tenho ir.

— Aconteceu alguma coisa?

— É o Kou…

— Sério, Akira? - o interrompeu. - Não durou dez minutos.

— Yutak-

— Tudo bem, vai lá, eu sei que o Kouyou é a coisa mais importante da sua vida.

— Yuta…

— É sério, Akira, só vai.

— Yutaka! - gritou, apenas para fazê-lo parar com aquilo. - Era o Matsumoto-sensei. O Kou desmaiou na rua. Acharam o cartão do Matsumoto no bolso dele, então estão o levando pra lá agora.

O moreno arregalou os olhos, só então se dando conta do quão aflito o namorado parecia. Não podia deixá-lo sair de moto daquele jeito. Segurou a mão do loiro, tentando mostrar que estava ali pra ele:

— Eu te levo.

Avisou ao Yuu que sairia novamente, preferindo não explicar ao moreno o motivo. Já teria que cuidar do Suzuki, não queria ter que acalmar o Shiroyama também. Podia falar com ele depois que soubessem o que de fato estava acontecendo. Sentia-se como se tivesse dois filhos adolescentes pra cuidar e já começava a rezar para que Akira nunca resolvesse ter filhos, pois aquela amostra grátis era mais do que suficiente. Só torcia pra que Kouyou estivesse bem.


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