Você poderia me perdoar? escrita por Nightshadow, EnilaVK


Capítulo 6
Verdade


Notas iniciais do capítulo

Por incrível q pareça, ainda estou viva kkkkkkkkkkk
Tô repostando essa fic no Spirit pq me pediram pra terminar ela, então agr q cheguei nos caps novos vim postar aqui tb pra caso alguém ainda se lembre da existência dessa conta 8)



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Um sorriso bobo passeava pelos lábios de Kouyou, ainda que estivesse cochilando. A felicidade parecia transbordar de seu ser naquela tranquila tarde de primavera. A brisa leve que batia em seu rosto trazia uma sensação agradável, que era um dos motivos pelos quais aquela era sua estação preferida, e o parque que tanto amava estava lindo, coberto pelas flores de cerejeira, como gostava.

Era sem dúvida um dia perfeito, mas tal perfeição não vinha somente do clima e ambiente agradáveis. A verdadeira razão para tamanha felicidade do loiro era estar nos braços de seu moreno depois de tanto tempo. Mal podia acreditar que Yuu estava ali consigo, embora sentisse seu perfume e os braços fortes em volta de seu corpo. Ainda assim temia abrir os olhos e descobrir que era mentira, por isso continuava adormecido aproveitando ao máximo a sensação de estar ali, com Yuu ao seu lado.

O moreno, por sua vez, sorria ao observar o rosto adormecido de Kouyou. Ainda não sabia como o loiro havia se tornado tão importante em sua vida, mas já não se importava muito com isso. Estar com ele o fazia feliz. Era tudo em que tinha que pensar.

Fechou os olhos por um tempo sentindo o vento em seu rosto e então voltou a abri-los observando o lugar. Lembrava-se vagamente daquele parque, mas em suas lembranças ele estava coberto de neve. Kouyou dissera que eles costumavam ir sempre naquele lugar, mas por alguma razão Yuu só se lembrava de ter passado ali em um dia de inverno.

Suas memórias estavam ainda embaralhadas e não se lembrava de muita coisa. Às vezes reconhecia algum lugar, mas não se lembrava de quando ou por que havia estado ali e ainda que tivesse tido alguns “flashs” de memória, lembrava-se muito pouco de Kouyou e Akira. Não que isso fosse realmente importante. Ambos já tinham reconquistado seus lugares em sua vida e Yuu agradecia a Deus todos os dias por ter colocado pessoas tão maravilhosas em seu caminho. Pessoas que realmente se importavam com ele e que estiveram ao seu lado mesmo quando ele estava incapaz de fazer qualquer coisa por eles e mesmo quando ele já não se lembrava de ter os conhecido.

É verdade que sentia falta de seus pais. Do colo acolhedor de sua mãe e dos conselhos de seu pai; de seu quarto sempre bagunçado, mas sempre com um gostinho de lar; da lareira que o esquentara nas noites frias enquanto seu pai contava histórias e sua mãe, com um sorriso doce, lhe entregava chocolate quente; do pequeno quintal onde fora protagonista de diversas histórias de piratas, soldados, super heróis e até príncipes, que sempre salvavam a mocinha. Sentia falta da casa onde passara sua infância... De todas as lembranças boas que vivera naquele lugar.

Mas já não importava. O passado devia ficar no passado, foi o que decidiu. Rezaria todas as noites pra que seus pais ficassem bem, mas não voltaria atrás em suas escolhas. Viveria sua vida ao lado de seus amigos e especialmente de Kouyou a quem tanto amava. Era só isso que importava:

— Por favor, se eu ainda estiver sonhando não me deixe acordar.

Yuu sorriu largamente com o comentário do loiro, que também sorria de leve, ainda com os olhos fechados, e o apertou mais entre seus braços:

— Se isso for um sonho com certeza não vou te deixar acordar. Você está proibido de sair de perto de mim.

O selar de lábios que se seguiu podia ser considerado até de mal gosto para alguns que passavam pelo local, mas para os dois era a mais singela e bela demonstração de seu amor. Para eles aquele simples beijo representava a felicidade e nenhum dos dois se importava com qualquer um que pudesse estar os assistindo. Não se importavam de serem vistos daquela forma. Pelo contrário, queriam mais era gritar pro mundo todo que pertenciam um ao outro, pois um sentimento tão belo como aquele não devia ficar as escondidas, assim como sua intensidade já não permitia que tal amor coubesse dentro de seus corpos. Era sufocante e ao mesmo tempo era para eles a melhor coisa do mundo e a única que realmente importava.

[...]

Yuu encontrava-se entediado em seu novo emprego, e com a chegada do verão o calor parecia fazê-lo desejar ainda mais sair dali. Ficar o dia inteiro sentado atrás do balcão recebendo pagamentos não era a coisa mais entusiasmante do mundo, mas era o que podia fazer. Seu corpo, embora bem melhor, ainda não estava totalmente recuperado e não poderia fazer muito exercício físico. Tudo que podia fazer era agradecer ao Yutaka por um emprego tão “perfeito” para suas condições no restaurante do moreno de covinhas.

Não era de tudo ruim. Ao menos estava ajudando o amigo, que finalmente arrumou um operador de caixa bom em matemática e de confiança, e Akira e Kouyou sempre chegavam pela tarde para lhe fazerem companhia. Não poderia reclamar. Era a vida que levaria até conseguir entrar na faculdade de novo. Até poderia aproveitar as matérias se quisesse, mas não adiantaria muito já que não se lembrava delas. Achava melhor recomeçar do zero e fazer uma faculdade bem feita, afinal seu futuro sairia dali:

— Dia parado? – Yutaka perguntou sentando-se do lado de seu amigo. – Você parece bem entediado.

— Bom, não está sendo o dia mais movimentado da casa. – sorriu sem graça.

— Desculpe, Yuu. Sei que podia fazer muito melhor que isso, mas era tudo que eu tinha.

— Não! – falou em tom quase desesperado, mas é que não queria que o outro pensasse daquela forma. – Eu agradeço muito por ter me arrumado um emprego, Yukkun. Não sei o que teria feito sem você.

O mais novo apenas sorriu exibindo suas covinhas. Sempre achara aquele jeitinho meigo de Yuu adorável:

— Fica tranquilo, logo o Kou chega e acaba com esse seu tédio. – comentou, rindo em seguida das bochechas coradas do outro moreno. – Tenho que ir fazer umas compras. Cuida do restaurante pra mim?

— Claro. – disse baixo, ainda envergonhado com o comentário de Yutaka, que logo saiu ainda rindo. Yuu era mesmo adorável...

[...]

Depois do expediente saíra na companhia de Kouyou. Estava cansado do dia de trabalho, mas de alguma forma o loiro o convencera a ir ao cinema. Ele sempre o convencia de tudo que queria... Yuu riu timidamente com tal pensamento. Entendia agora por que Yutaka havia o chamado de “bobo apaixonado” no hospital. Ele simplesmente não sabia dizer não ao loiro.

Observava a paisagem pela janela do carro enquanto Kouyou tagarelava sobre como as salas de cinema haviam melhorado. Sempre gostara de fazer aquilo, e agora perdia-se nessa tarefa mais do que nunca. Tanta coisa havia mudado na cidade e tudo parecia novidade. Prestava atenção em cada detalhe até que passaram por uma ponte. Uma sensação ruim tomou conta de Yuu e imaginava que aquilo fosse devido ao acidente, então desviou seu olhar da janela, passando a encarar o loiro. Não adiantou...

FLASH BACK

Acelerava o carro como se a dor fosse diminuir se ele fosse pra longe. As lágrimas eram tantas que já embaçavam sua visão, mas não pararia de correr. Precisava sair dali, precisava de distância, precisava... Já não sabia de quê. Seu peito doía tanto que mal podia suportar e já não tinha pra onde ir. Não tinha a quem recorrer, estava sozinho. Afinal, pra que estava ali? A verdade é que ninguém se importava. Se ele morresse, não faria realmente falta a ninguém, nem mesmo sua mãe lamentaria.

Desviou o olhar da pista, imaginando se a correnteza do rio a frente poderia levar embora toda aquela dor. Foi questão de um segundo pra que percebesse a idiotice que estava fazendo e tentasse voltar atrás, mas estava correndo demais e perdera o controle do carro. Foi tudo tão rápido. Bateu a cabeça com força contra o airbag e já não tinha noção de espaço. Estava capotando? Tudo passava tão rápido que não podia processar a informação. Chegou a ver a água começar a adentrar o carro, mas sequer pôde se mover para tentar sair do mesmo. Sua consciência começava a lhe deixar. Ele morreria ali? Sozinho? Não queria que acabasse daquela forma. Não sentindo tanta dor dentro de si até o fim.

.~...~...~...~...~.

— Yuu?! – Kouyou berrou mais uma vez, conseguindo a atenção do moreno que parecia finalmente ter voltado a si, embora ainda com a respiração descompassada. – Você está bem? O que aconteceu?

Yuu só então percebeu que o loiro havia estacionado o carro de qualquer jeito na rua e tinha o olhar assustado. Ainda que suando frio, o moreno tentou acalmar sua respiração e virou-se para o namorado com o olhar sem graça:

— Eu estou bem. Desculpe te preocupar.

— Yuu, você não tava me ouvindo. Melhor a gente ir pro hospital.

— Não Kou, tá tudo bem. Eu estou bem, juro. Não vamos estragar nossa noite por isso, por favor.

O loiro ainda ponderou por um tempo, mas acabou por ceder e Yuu agradecia mentalmente por isso. Precisava de uma noite tranquila com Kouyou porque não queria pensar em como aquele acidente podia não ter acontecido se ele não tivesse desistido de si mesmo, ainda que por um segundo. Não queria pensar que todo o sofrimento do loiro durante aqueles três anos pudessem ter sido por culpa sua. Como pôde imaginar que ninguém sentiria sua falta tendo Kouyou ao seu lado? Era idiota por acaso? Realmente não conseguia entender a si mesmo naquele momento e nem queria. Preferia não ter tido aquela lembrança.

[...]

— Ainda acho que deveria ir ao hospital. - Kouyou resmungava na saída do cinema. Não que gostasse da ideia, mas gostava menos ainda de pensar que poderia haver algo de errado com a saúde do moreno.

— Não precisa, Kou. Eu estou bem. - respondera com certo descaso, pois já não aguentava mais repetir aquilo. Mal conseguira prestar atenção no filme de tantas vezes que o loiro perguntara como ele estava durante a sessão.

— Você não parece bem, Yuu. - o loiro reclamou numa voz chorosa. - Está pálido.

— Kouyou, já tem mais de duas horas que você tá falando isso. - o moreno revirava os olhos. Sabia que o loiro estava apenas preocupado, mas já não aguentava mais todo aquele exagero. - Se eu estivesse precisando ir ao hospital já teria era desmaiado aqui.

— Então vamos pelo menos falar com o Matsumoto-sensei, só pra ter certeza. - disse já pegando o celular e discando o número que já sabia de cor.

— Kou, não. - o moreno bufou tomando o celular do outro. - Olha a hora!

— Ele disse que a gente podia ligar.

— Em caso de emergência, Kouyou. Eu já disse que estou bem.

— Mas, Yuu…

— Kou-chan... - interrompeu colocando as mãos sobre as têmporas. A verdade é estava escondendo aquilo do namorado por não querer ele mesmo ficar pensando sobre o assunto, mas já não lhe restava escolha. - Eu… Só… Eu lembrei de uma coisa, tá? Foi só isso. Tem acontecido bastante e eu já falei com o Matsumoto-sensei sobre isso. Ele disse que é normal, então não se preocupe, ok?

O Takashima simplesmente não saberia dizer se estava feliz ou triste com a notícia. A verdade é que quando Yuu acordou tudo que ele queria era que o moreno se lembrasse, mas agora… As coisas estavam tão bem entre os dois. Eles finalmente tinham um namoro de verdade, sério para ambas as partes, e estavam felizes. Talvez o passado já não tivesse tanta importância. Talvez fosse melhor que o moreno não se lembrasse de todas as lágrimas que derramara naqueles anos, fossem pelos seus pais ou pelo loiro. Mas ainda assim forçou um sorriso para seu moreno:

— Isso é ótimo, Yuu! Por que não me contou?

— É meio decepcionante. - confessou. - É como se eu visse um filme passando na minha cabeça, mas eu tivesse perdido o começo da história. Eu vejo coisas, sinto coisas, mas não sei como aconteceu. Não sei como fui parar naquele lugar, nem como aqueles sentimentos surgiram, então as vezes nem parece que sou ali. É bem frustrante.

Ainda com um sorriso fraco nos lábios Kouyou abraçou o moreno e o manteve ali em seus braços enquanto falava baixinho no ouvido do menor:

— Se quiser eu posso te ajudar com isso. Devo saber como você foi parar na maioria dos lugares.

O moreno apenas riu retribuindo o abraço:

— Obrigado, Kou. - sussurrou. - Por sempre cuidar de mim.

O loiro sorriu bobo, pois desde o acidente desejara tanto poder cuidar de Yuu da mesma forma que o moreno sempre cuidara dele. Às vezes nem acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo. Poder retribuir todo o amor, carinho e cuidado que o moreno dedicara a ele por tanto tempo… Era tão bom. Por incrível que pareça, fazer Yuu feliz era ainda melhor do que ser mimado por ele. Fora estúpido por não perceber isso antes. A verdade é que apenas perdera tempo tentando fugir de seus sentimentos e quase acabara por perder a pessoa mais importante de sua vida. Não cometeria esse erro de novo. Faria de tudo apenas pra ver Yuu sorrir.

[...]

Kouyou estava terminando de fazer o jantar enquanto Yuu arrumava a mesa. O loiro não era tão bom na cozinha quanto o namorado, mas tinha insistido em cozinhar naquela noite. Pretendia convidar o moreno pra ir morar com ele e queria agradá-lo de alguma forma, pois sabia que se fosse o contrário Yuu teria preparado algo especial. Um frio subia pela barriga do maior toda vez que pensava no que planejara para noite, pois temia que o outro não achasse uma boa ideia. Ainda que Kouyou sentisse como se estivesse namorando há uma eternidade, pro moreno só estavam juntos há alguns meses e talvez aquilo fosse um pouco precipitado pra ele:

— Não quer mesmo ajuda? - questionou se apoiando à bancada da cozinha após terminar de arrumar a mesa.

— Não. Pode pegar um refrigerante pra você na geladeira que eu já estou acabando aqui.

O moreno pegou dois copos no armário e buscou pelo refrigerante, porém ao torcer a tampa o líquido espirrou para todo lado. Yuu fechou a garrafa de volta rapidamente, mas sua camiseta já estava encharcada, o que o fez praguejar para o nada enquanto analisava a bagunça. O loiro não conseguiu conter o riso, jogando um pano de prato para que o namorado se enxugasse:

— Vai pegar uma camiseta minha no guarda-roupa e deixa que eu arrumo isso.

O moreno ainda pensou em contestar, mas Kouyou não estava o deixando ajudar com quase nada naquele dia. Acabou apenas largando o pano de prato sobre a pia após enxugar seus braços e se dirigiu ao quarto do mais alto. Jogou sua camiseta molhada no canto do banheiro da suíte e acabou decidindo por tomar uma ducha rápida, pois estava todo pregando.

Após sair do banho e vestir de volta sua roupa de baixo e calça, dirigiu-se até o guarda-roupa do loiro, buscando por uma camiseta mais larga que fosse lhe servir. Vestiu-se e pensou em aproveitar para procurar algo pra prender seus cabelos, já que estava quente no apartamento, ainda que o verão estivesse chegando ao seu fim. Foi até o criado mudo do loiro, abrindo a primeira gaveta, e se deparou com algo que lhe pareceu familiar.

Quando se deu conta já estava com aquela caixinha preta em mãos, a analisando por todos os ângulos enquanto se sentava na cama. Por fim a abriu, deparando-se com um par de alianças. Ele se lembrava de ter comprado aquilo. Devia ser uma surpresa, mas… Não se lembrava de ter entregue o presente ao namorado. Não que fosse estranho ele não se lembrar, mas tinha um sentimento ruim ao olhar praquilo:

— Yuu, eu já servi o jantar.

Kouyou paralisou na porta ao ver o objeto nas mãos do moreno, engolindo em seco:

— Eu te dei isso?

— Não. - respondeu, quase prendendo a respiração. - Você comprou, mas não chegou a me dar.

Por que não me disse, Kou?

Essas palavras ecoavam na cabeça do moreno, mas ele não entendia o que elas significavam. Franziu o cenho sentindo seu peito se apertar. Algo não estava certo e ele não entendia o que:

— Eu não te dei… - o moreno parecia falar consigo mesmo, tentando assimilar a informação. - Porque a gente brigou. - disse por fim, se recordando de ter discutido com o maior. Só não sabia porquê.

Kouyou sentiu seus olhos arderem e uma lágrima escapou por seu rosto. Tinha medo que o moreno se lembrasse de tudo. Tinha medo que Yuu não o perdoasse. O menor tirou sua atenção das alianças ao perceber que o namorado chorava e foi rapidamente até ele, levando a mão ao rosto do mais alto para enxugá-lo:

— Não chora. - pediu aflito. Odiava a ideia de ver seu loiro sofrer.

— Yuu, me desculpa.

O moreno se afastou um passo. Ele tinha ouvido aquilo antes, não tinha?

Por que não me disse que não gostava de mim?

Quando foi que ele perguntou aquilo ao loiro? Por que ele perguntou aquilo?

Eu te adoro, Yuu.

Só não me ama.

Não.

— Kou… - o chamou com a voz trêmula. - Por que a gente brigou?

O loiro sentiu mais lágrimas desabarem por seu rosto, mas dessa vez o menor não tentou enxugá-las. Permanecia esperando por uma resposta que o mais alto não sabia como dar:

— Por favor, me perdoa.

— Por que a gente brigou, Kouyou?!

— Foi minha culpa, Yuu. Eu fui um idiota naquele dia, me desculpa.

O moreno ainda não entendia o que tinha acontecido e muito menos o motivo de Kouyou não explicar a razão do desentendimento deles. Sempre que ele começava a recordar de algo o loiro fazia questão de dar detalhes do que tinha acontecido pra ajudá-lo a se lembrar, mesmo que não fosse uma lembrança boa. Por que essa era diferente? Ele tentava se forçar a lembrar, mas apenas sentia uma enorme angústia em seu peito e acabou por sentar-se na cama, levando uma mão a cabeça que começava a doer:

— Yuu, você está bem?

O loiro tentou se aproximar , preocupado, mas o moreno levantou uma mão em sinal pra que ele não o fizesse:

— A gente brigou no dia do acidente, não foi? - perguntou por se recordar de ter sentido aquela mesma dor no peito no dia em que se lembrou do ocorrido naquela ponte. - É por isso que você não quer me contar?

Kouyou apenas acenou com a cabeça em afirmativa e deu alguns passos atrás antes de sentar-se no chão, escorado à parede. Levou as mãos ao rosto sentindo seus olhos arderem cada vez mais e a angústia tomar conta de seu peito. Não queria que Yuu se lembrasse daquilo porque ele mesmo queria esquecer:

— Eu não devia ter te deixado sair naquele dia. Eu devia ter ido atrás de você.

— O que aconteceu?

O moreno insistiu, mas Kouyou não o respondeu. Não conseguia. Um bolo parecia se formar em sua garganta e queria se bater só de lembrar do que tinha feito:

— Você disse que não me amava.

— Eu tava errado!

Yuu se levantou antes mesmo que o loiro terminasse a frase, encarando a cama com os olhos arregalados. Ele se lembrava. Kouyou estava com outro. Era aniversário deles e o loiro estava na cama com outro. Lembrava-se de sair do quarto totalmente sem reação. Lembrava-se de conversar algo com o Takashima. Lembrava-se de deixar a caixinha com as alianças cair no chão antes de sair do apartamento. O que eles tinham conversado? Ele precisava se lembrar.

Seus pais brigaram com você por minha causa. Eu não tive coragem de terminar.

Sentiu seu estômago revirar com a lembrança e as lágrimas desabarem por seu rosto. Encarou o mais alto com a decepção visível em seus olhos e saiu do quarto sem dizer nada. Só queria sair dali:

— Yuu!

O loiro o seguiu, mas ele não queria conversar, só queria ir embora. Fora impedido de continuar pelo mais alto, que segurou seu pulso:

— Yuu, por favor, fala comigo.

— Falar o que, Takashima?

Questionou virando-se para o outro, que deu um passo atrás ao ouvir seu sobrenome. Kouyou o soltou, sentindo suas mãos tremerem, mas o moreno não se afastou novamente. Estava com tanta raiva. Sempre fora do tipo que evitava brigas, sempre preferia se afastar a discutir, mas estava realmente curioso sobre o que o loiro poderia querer ouvir de si depois de tudo que ele fez:

— Você mentiu pra mim. De novo. O que diabos você quer que eu diga?!

Se sentia tão traído e ao mesmo tempo tão idiota. Ele sabia que não podia confiar em Kouyou, sentiu isso desde o primeiro dia, então por que não o afastou? Por que ignorou seus instintos e permitiu que o loiro se aproximasse? Como pôde ser estúpido a ponto de se apaixonar por ele de novo? Já o Takashima estava paralisado diante da acusação do mais baixo. Não conseguia raciocinar, apenas chorava se perguntando se Yuu sequer o ouviria se ele tentasse se desculpar outra vez:

— Por que você não foi embora? - perguntou, ainda que sentisse seu coração se apertar com a ideia. - Foi culpa? Primeiro você ficou comigo por pena e agora por culpa, é isso?

— Eu não estou aqui por culpa, Yuu. - tentou responder, ainda que sua voz soasse trêmula. - E-eu te amo.

— Desde quando? - riu soprado em completo descaso. - Você só ama a si mesmo.

Aquelas palavras machucaram o loiro, mas o Shiroyama estava magoado demais pra perceber. Deu às costas ao mais alto, dirigindo-se a porta, mas fora novamente segurado pelo pulso. Dessa vez puxou seu braço, impaciente, obrigando o outro a soltá-lo:

— Tira a mão de mim!

— Tá bem. Só…  Senta e toma uma água, por favor.

— Eu vou embora. - respondeu em impaciência.

— Yuu…

Kouyou o segurou novamente e dessa vez o moreno o empurrou:

— EU JÁ MANDEI TIRAR A MÃO DE MIM!

— Você não vai embora desse jeito!

— Eu não vou ficar aqui com você!

Yuu seguiu rumo a porta e Kouyou correu a sua frente, colocando a mão em seu ombro para impedi-lo de continuar. O moreno apenas o empurrou mais uma vez e o loiro voltou a segurar seu pulso. Já sem um pingo de paciência, Yuu o socou. Não ficaria ali por nada. Kouyou se surpreendeu pelo golpe, pois o mais baixo não costumava recorrer a violência. Queria chorar ainda mais por pensar no quanto o moreno devia odiá-lo pra chegar a isso, mas não tinha tempo. Precisava impedi-lo:

— Yuu, por favor, para.

O moreno sequer se deu ao trabalho de olhar pra ele e já levava a mão a maçaneta. Kouyou não podia deixar. O abraçou por trás e o puxou com todas as forças, caindo no chão junto de Yuu:

— Mas que merda, Kouyou! Me solta!

— Não.

— ME SOLTA AGORA!

— EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ SAIR ASSIM! - as lágrimas do loiro aumentaram e ele se apertou mais ao moreno, afundando o rosto em suas costas. - Eu não posso… Por favor, Yuu. Você não pode sair assim de novo. Eu não posso ficar assistindo você ir embora assim outra vez.

Shiroyama engoliu em seco, totalmente sem reação. Sentia os braços do Takashima tremendo ao redor de seu corpo e seu peito se apertava ao pensar que o outro estava sofrendo. Mesmo depois de tudo, ainda não queria vê-lo sofrer. Por que tinha que gostar tanto de alguém como Kouyou? Ele não merecia e mesmo assim Yuu não conseguia deixar de se importar:

— Kou, o que ta acontecendo?

Era a voz de Akira na porta. Ele devia ter ouvido a gritaria do apartamento de baixo. O mais alto afrouxou o aperto de suas mãos ao ouvir o amigo e Yuu imediatamente se soltou dele e abriu a porta, ficando aliviado ao ver que Yutaka também estava ali. Era quem ele precisava ver:

— Yukkun, me leva embora.

— O que aconteceu?

— Só me leva embora, por favor.

Yutaka e Akira se entreolharam sem entender o que estava acontecendo, mas o moreno de covinhas não demorou a abraçar o amigo pela cintura e se afastar com ele. Já o Suzuki, adentrou o apartamento, fechando a porta atrás de si, e sentou-se no chão ao lado do Takashima:

— O que aconteceu, Kou?

— Acabou, Akira. Ele nunca mais vai querer olhar pra minha cara.

— Claro que vai. - respondeu o abraçando. - O Yuu é louco por você, tenho certeza que foi só um mal entendido.

— Ele se lembrou do dia do acidente… Da nossa briga.

— Isso já faz tanto tempo, Kou. Ele só tá chateado, mas vai te perdoar.

— Não vai, Aki. Eu fui tão burro. Eu… Eu traí o Yuu.

O loiro mais baixo arregalou os olhos por um momento, processando aquela informação, e então apertou mais o amigo em seus braços. Ainda que não concordasse, sabia porque Kouyou tinha feito aquilo. Aquele namoro o sufocava, não porque Yuu não fazia bem pra ele, mas sim porque o mais alto se sentia na obrigação de estar naquele relacionamento. Os dois fizeram tudo errado desde  início e Kouyou não soube reconhecer os próprios sentimentos depois de já estar envolvido naquilo pensando que era forçado a tal.

Também não poderia culpar Yuu por estar magoado. O moreno sempre fez tudo que pôde pelo Takashima e merecia ao menos que o mais alto fosse sincero com ele. Todos sabiam que se Kouyou quisesse terminar o relacionamento, Yuu entenderia e continuaria sendo amigo dele, mesmo que fosse ficar chateado. Ele jamais se afastaria por algo assim:

— Ele nunca vai me perdoar.

Akira apenas acariciou os cabelos do amigo, sem dizer uma palavra. Ele não tinha o que dizer. Sabia que talvez o mais alto estivesse certo, mas não diria aquilo em voz alta. Apenas desejava que de alguma forma os dois pudessem se acertar, pois sabia o quanto Kouyou amava o moreno. Fora ele quem estivera ao lado do loiro quando esse chorava, quando tinha pesadelos à noite com a morte do Shiroyama e acordava gritando, desesperado. Akira assistiu o amigo definhar com medo de perder Yuu. Não queria pensar em vê-lo realmente perder o moreno justo quando eles finalmente estavam bem.


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Notas finais do capítulo

Se é que alguém leu isso, espero q tenha gostado, e pfv deixe review kkkkkk
Eu sei q originalmente seriam 7 caps, mas acho q vão dar 8, então podem esperar mais dois caps (se td der certo sai um por semana)
Kisus