Você poderia me perdoar? escrita por Nightshadow, EnilaVK


Capítulo 2
Distante


Notas iniciais do capítulo

Yo minna (^3^)/
Cá estou adiantando o cap por dois motivos:
1º: A Dani e a Limão me encheram o saco no twitter até me convencerem a postar hoje a noite xD
2º: Eu estou tão feliz com os 17 reviews maravilhosos que acabei postando mais cedo ainda (Detalhe: estou fazendo isso do pc do trabalho x'D **apanha da chefe**)
Então, espero q gostem do cap ♥



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Akira estacionou sua moto de qualquer jeito na rua do hospital assim que encontrou uma vaga e saiu correndo para o interior do mesmo. As olheiras entregavam a noite mal dormida. Não que fosse muito cedo, mas já passava das cinco da manhã quando fora dormir e depois acordara com a mensagem de Kouyou pedindo que fosse até ali. Estava assustado. O amigo não costumava pedir aquilo e Akira temia que algo tivesse acontecido com Yuu. Se fosse esse o caso Kouyou devia estar desesperado.

Passou direto pela recepção e subiu pelas escadas até o andar onde sabia ficar o quarto do moreno. Akira não estava com Kouyou quando a notícia do coma chegou e ainda se martirizava por isso. Não deixaria de estar ao seu lado mais uma vez, afinal o maior é seu melhor amigo desde que se entende por gente, portanto era sua obrigação estar ali.

Assim que pisou no corredor viu o amigo sentado no chão do mesmo e correu pra perto dele:

— Kou, o que aconteceu?

O maior ergueu a cabeça revelando as diversas lágrimas que marcavam o rosto vermelho e abatido. Os olhos de Akira se encheram de lágrimas também, imaginando o pior, mas ele não as deixou cair. Teria que ser forte por seu amigo:

— O Yuu... Ele...?

— Ele acordou, Akira.

O menor demorou a processar a informação. Ele tinha mesmo ouvido bem? Yuu havia acordado? Um sorriso surgiu instantaneamente em seu rosto. Sentia-se eufórico. Depois de tanto tempo já não imaginava que um dia essa noticia chegaria aos seus ouvidos:

— Kou, isso é ótimo!

Não se conteve em abraçar o maior com força:

— Isso é maravilhoso. Por que está chorando?

Afastou-se para encarar o maior nos olhos e passou o dedão pelo rosto do mesmo para enxugar as lágrimas:

— Ele...

O maior soluçou voltando a chorar e deixando Akira completamente confuso:

— O que foi, Kouyou?

Akira não sabia o que pensar. Será que Yuu estava sofrendo? Ele sentia dor? Estava inválido? O que? Eles sabiam que algo assim poderia acontecer, mas depois de três anos em coma nada disso parecia suficiente pra deixar o amigo tão mal depois de receber a notícia que Yuu havia finalmente acordado:

— Ele não se lembra de mim, Akira. - Kouyou finalmente cuspiu as palavras. - Ele não lembra...

Ainda não podia acreditar naquilo. Sempre tivera medo que Yuu o mandasse embora quando acordasse, mas nunca imaginou que o moreno se esqueceria de si. É verdade que tinham brigado naquele dia, mas houve tantas memórias boas antes daquilo. Não era justo que todas elas fossem esquecidas por um único erro. Era isso que ele pretendia usar a seu favor quando Yuu acordasse, mas agora... Essas memórias já não existiam para o outro. Yuu sequer sabia quem ele era. Isso doía mais do que imaginar que seria expulso do quarto e que o moreno não o perdoaria.

Akira abraçou o amigo e passou a fazer cafuné no mesmo tentando acalmá-lo:

— Kou, ele acabou de acordar depois de três anos. Deve estar confuso...

— Não, Akira. Ele me olhou como se nunca tivesse me visto na vida. Perguntou quem eu era.

— O que o Matsumoto-san disse?

— Ele está examinando o Yuu. Eu não falei com ele ainda.

— Calma, Kou. - pediu apertando mais o amigo em seus braços. - Vai ficar tudo bem. O importante é que ele acordou. No resto agora dá-se um jeito, sim? Você já enfrentou tanta coisa por ele. Isso é o de menos.

Embora Kouyou quisesse acreditar nas palavras do amigo aquilo não era tão fácil assim de aceitar. Quantas vezes havia sonhado com aquele dia? Quantas vezes chorara com medo de que ele não chegasse? Ele devia estar feliz, mas como poderia? Tinha tanta coisa a dizer pra Yuu... Precisava tanto pedir desculpas. Seria aquilo um castigo? Talvez Deus, depois de tanto tempo, tivesse finalmente resolvido escutá-lo. Talvez fosse sua vez de sofrer e deixar que Yuu vivesse sua vida em paz. Se fosse isso ele sequer poderia dizer que não merecia.

 

FLASH BACK

 

Estava deitado em seu sofá e encarando o teto. Pensava em seu relacionamento de forma geral, mas uma cena em especial rondava sua mente. Yuu estava nervoso ao sair do apartamento alguns minutos antes. Sabia que o moreno estava com raiva, mas ele não fizera nenhum escândalo. Nunca fora de discutir. Apenas saiu atordoado dali com a mágoa visível em seus olhos.

Pegou-se pensando em qual seria o próximo passo do namorado. E se ele desistisse de tentar fazer aquilo dar certo? Se fosse esperto faria isso. Será que ele teria coragem? Mas afinal, por que estava se preocupando com aquilo? Riu de si mesmo. Se Yuu não quisesse mais um namoro não seria Kouyou a querer, afinal só concordara com aquilo depois de o moreno praticamente implorar que ficasse com ele.

Não que não gostasse de Yuu. É claro que o menor era alguém extremamente importante para si, caso contrário jamais teria lhe dado uma chance, mas não se importaria em ser apenas um grande amigo. Se terminassem o namoro as coisas voltariam a ser como eram antes. Não era um problema pra ele.

.~...~...~...~...~.

 

Kouyou não imaginara em momento algum que Yuu não estava em condições de dirigir. Também não pensou em ir atrás dele e tentar fazer as pazes. A verdade é que nunca fizera nada por Yuu. O moreno se esforçava tanto, fazia de tudo para agradá-lo e o que foi que Kouyou fez para retribuir?

Nunca mereceu o amor de Yuu. Sabia bem disso, mas queria reparar seu erro. Esteve ao seu lado todo aquele tempo tentando consertar a merda que havia feito, mas era tarde. Ele já havia machucado demais o moreno e como castigo Yuu simplesmente se esqueceu dele. Se esqueceu do quanto o amava:

— Foi minha culpa. – disse mais para si mesmo do que para Akira.

— Do que está falando, Kou?

— O acidente... Foi minha culpa.

Não conseguia cessar aquelas insistentes lágrimas nem se livrar da dor que consumia seu peito. Akira não sabia o que fazer para conter o pranto do amigo:

— Kouyou, foi um acidente. Ninguém teve culpa. – constatou com uma voz doce tentando consolar o maior.

— Eu tinha brigado com ele. – continuou. Não aguentava mais guardar aquilo para si. – Ele saiu nervoso de casa. Não estava em condições de dirigir. Eu não devia ter deixado ele ir.

Akira não sabia o que pensar sobre aquilo. Nunca imaginara ver os dois brigando. Sabia que Kouyou nunca ligou muito pro namoro em si, mas ele se importava com Yuu o suficiente pra não fazer nada que fosse magoá-lo e o moreno por sua vez aceitava tudo que o outro quisesse. Não poderia imaginar Yuu erguendo a voz para o loiro ou reclamando de algo. Era realmente difícil pensar em uma briga vinda daquele casal:

— Continua não sendo sua culpa. – insistiu. – Você não tinha como saber que isso aconteceria. Foi só um infeliz acidente.

Kouyou não concordaria com aquilo. Jamais deixaria de se culpar, mas sabia também que Akira não aceitaria colocar a culpa em si, então se calou. Não faria diferença discutir mesmo. Culpa sua ou não, o acidente aconteceu, roubou três anos de suas vidas, e agora Yuu não se lembrava mais dele. Não poderia mais se desculpar. Não poderia voltar atrás e tentar consertar as coisas. Era tarde demais.

Avistou o Dr. Matsumoto vindo de longe e se desvencilhou do amigo rapidamente para ir até o médico:

— Como ele está?

O menor o encarou pesaroso e depois olhou para Akira atrás dele. Suspirou por fim, agradecendo mentalmente por dessa vez o maior não estar sozinho:

— Você falou com ele antes de eu chegar?

Takashima encarou o chão balançando a cabeça em afirmativa:

— Ele perguntou quem eu era.

O médico suspirou mais uma vez. De certa forma ele tinha se apegado ao Takashima e não queria lhe dar mais notícias ruins, mas acreditava que seria mais fácil lidar com esse problema do que com o primeiro, e se o maior já sabia sobre a amnésia era mais fácil para si falar com ele:

— A última coisa que ele se lembra é de estar indo pra faculdade pra conhecer o filho de um amigo dos pais com quem iria dividir um apartamento. Ele pensa que sofreu um acidente no caminho pra lá.

Takanori prestava atenção nas reações do maior, assim como nas de Akira. Apesar de aflitos os dois pareciam bem e atentos às palavras do médico que logo continuou:

— Ainda não contamos a ele quanto tempo passou. Não sabemos como ele vai reagir à notícia, então é melhor termos certeza de que ele está estável primeiro. Também deveria haver pessoas próximas com ele, mas ele não se lembra de vocês. Não tem nenhum amigo mais antigo?

— O Yutaka. - foi Akira quem respondeu. - Os dois já eram amigos antes da faculdade.

— Ótimo. Por hoje vamos deixá-lo em observação, mas amanhã será que poderiam entrar em contato com o Yutaka-san para vir aqui?

— Claro. Vou fazer isso agora mesmo.

Akira se retirou para ligar pro moreno e deixou os outros dois às sós. Kouyou não esboçava nenhuma reação, mas ainda era visível o caminho que as lágrimas traçaram em seu rosto:

— Como você está? - Takanori questionou preocupado com o outro.

— O importante é que o Yuu fique bem. O meu estado não importa.

— Importa sim. Foi você quem esteve ao lado dele todo esse tempo. Ele vai precisar de apoio agora e quem tem dado esse apoio é você.

— Agora vai ser o Yutaka. - sorriu fraco. - Sei que ele quase não estava vindo, mas agora que o Yuu acordou ele com certeza vai ajudar. Os dois eram muito próximos.

— Takashima-san, ele não se lembra de nada agora, mas nunca se sabe quando as memórias dele podem voltar. Ele deve se lembrar aos poucos. Não é o fim. Você não deve desistir. Deve ajudá-lo a se lembrar. Ele precisa de você.

Kouyou apenas concordou com um aceno de cabeça. Ele realmente queria com todas as suas forças que Yuu se lembrasse, mas parte de si insistia em lhe dizer que era melhor assim. Yuu seria mais feliz se não se lembrasse dele. Afinal, seu subconsciente resolveu apagar sua memória exatamente naquele ponto. Seu pai era o amigo dos pais de Yuu. Era ele quem o moreno iria conhecer naquele dia. Yuu devia estar inconscientemente apenas se protegendo daquelas lembranças com o maior. Não precisava delas.

[...]

Yuu não aguentava mais a agonia de estar naquele quarto sem nenhum rosto conhecido pra dizer que tudo ficaria bem. Por que seus pais não estavam ali? Sempre que perguntava por eles o Dr. Matsumoto mudava de assunto e isso assustava o moreno. Não se lembrava bem de como tudo aquilo havia acontecido. Será que os pais estavam com ele no carro? Será que tinha acontecido algo com eles?

Fora uma noite mal dormida. Não conseguia pensar em outra coisa senão como havia ido parar naquela cama, mas não se lembrava. Havia perdido o controle do carro? Algum animal entrou na frente? Realmente não se lembrava. Além disso, quem era aquela pessoa que estava com ele quando acordou? Aquele homem sabia seu nome... Como? Ele não se lembrava de terem sido apresentados:

— Bom dia, Shiroyama-san. – uma enfermeira que vinha trazendo seu café da manhã o cumprimentou.

— Bom dia.

— Como se sente?

— Meus pais já chegaram?

Estava impaciente. Precisava que alguém lhe explicasse o que estava acontecendo:

— Você tem visitas sim, mas só vai poder recebê-los depois de comer.

— Não estou com fome – reclamou fazendo um bico.

— Mas precisa comer ou seu corpo não vai se recuperar. Se esforce um pouco, está bem?

O moreno acabou por concordar mesmo que a contragosto. Faria qualquer coisa pra poder ver logo alguém. Enquanto isso na sala de espera o Dr. Matsumoto conversava com os amigos do moreno, dando algumas instruções sobre certos cuidados que deveriam tomar, aproveitando para alertar sobre as diversas vezes que o Shiroyama perguntou pelos pais:

— Alguém vai ter que dar a notícia pra ele. – o médico constatou.

— Er... Matsumoto-sensei... – o loiro mais alto o chamou sem graça. Havia mentido por três anos afinal. Já estava na hora de dizer a verdade. – Na verdade, os pais dele não morreram.

— O quê?! Mas... Takashima-san...

— Eu menti porque sabia que eles não se dariam ao trabalho de vir aqui. Apenas perderiam tempo entrando em contato com eles.

— Não devia ter mentido. Se a administração descobrir sobre isso...

— Eu não me importo de arcar com as consequências. Eu só precisava ter notícias do Yuu naquele dia e sabia que os pais dele não se importavam. – encarou o médico. – Já se passaram três anos, eles sequer ligaram pra saber se o Yuu estava vivo. Sequer foram atrás pra saber por que ele não se formou com o resto da turma.

O médico ficou boquiaberto. Como poderia haver pais tão displicentes? E se eles eram assim, então por que o moreno chamava tanto por eles?

— Difícil vai ser explicar pra ele o porquê disso tudo. – Yutaka comentou suspirando. – Já se passaram quase sete anos desde que ele entrou pra faculdade. É muita coisa pra explicar em um dia.

De fato, era muita informação de uma vez e Kouyou tinha medo disso. Era por sua culpa que os pais de Yuu não estavam ali. E se o moreno o odiasse por isso? Afinal, tudo o que o fez gostar do loiro tinha sido apagado de sua memória:

— Talvez seja melhor o Yutaka entrar sozinho.

Não era de fato o que Kouyou queria, mas era o que ele achava mais fácil. Sempre fora medroso e não queria ter de enfrentar aquilo. Se Yuu ficasse com raiva dele não saberia o que fazer:

— Nada disso, Kou. – o moreno falou sério. – Ele pode se lembrar só de mim, mas nós todos somos amigos. Vocês não vão me deixar sozinho nessa e nem o Yuu. Ele vai precisar de apoio quando descobrir.

Ele não tinha argumentos contra aquilo, mas a insegurança ainda parecia lhe cortar por dentro. Enquanto Matsumoto e Yutaka continuavam conversando Akira se aproximou do outro loiro e o abraçou:

— Tá tudo bem, Shima. Ele não vai te mandar embora. Sabe que o Yuu não é esse tipo de pessoa.

— Ele estava com raiva de mim quando tudo aconteceu.

— E ele não se lembra disso. E depois, raiva é uma coisa passageira. O Yuu nunca foi de guardar magoa. Por que ele faria isso justo com você? Mesmo que ele não se lembre, ele te ama Kou.

— Eu espero que você esteja certo.

— E quando foi que eu errei?

O menor sorriu sapeca arrancando um riso do amigo. Realmente, estava se preocupando a toa. Yuu sempre se preocupou em não magoar as pessoas e, além disso, seus amigos estariam consigo. Nada de ruim poderia acontecer.

[...]

Yuu sorriu aliviado ao ver Yutaka entrando em seu quarto, mas seu sorriso morreu ao encarar o loiro que vira quando acordou. Não sabia por que, mas aquela presença o incomodava. Sentia que deveria se lembrar dele, mas não conseguia fazê-lo:

— Yukkun... – chamou o amigo de infância que se apressou em sentar-se ao seu lado. – Quem são eles?

— Eles são nossos amigos, Yuu. – o amigo respondeu sorrindo docemente e deixando as covinhas a mostra.

Amigos? Isso era mesmo verdade? Então por que não se lembrava de nenhum deles? O que mais poderia ter esquecido? Não gostava daquilo:

— Yukkun, o que está acontecendo? – perguntou aflito tentando sentar-se, mas ainda não conseguia se mover bem. Seus músculos já estavam há muito tempo sem serem usados e fora avisado que precisaria de fisioterapia por causa do acidente.

— Se acalme. – Yutaka pediu o ajudando a se acomodar melhor na cama. – Sei que não se lembra, mas você chegou à faculdade naquele dia. – fez sinal para que o loiro maior se aproximasse. – Esse é o Kouyou. Takashima Kouyou, se lembra?

— Era a pessoa que eu ia conhecer... – o moreno comentou ao se recordar do nome.

— Você o conheceu, Yuu. Se tornaram muito amigos. E esse... – disse chamando o outro loiro. – É o Suzuki Akira. Ele é amigo do Kou e dividia o apartamento com vocês.

A forma como Yutaka tratava os dois com tanta intimidade assustava Yuu. Sabia que o amigo não conhecia o tal Takashima quando foi pra faculdade. E por que ele falava como se tudo aquilo fizesse muito tempo? Tinha medo da resposta:

— Depois você acabou me chamando pra morar com vocês também.

— Quanto tempo depois? – perguntou atônito.

Yutaka encarou o Matsumoto que permanecia apenas observando no canto do quarto. O médico balançou a cabeça em afirmativa encorajando o moreno de covinhas que voltou seu olhar para o amigo:

— Um ano.

Yuu assustou-se com a resposta, mas ainda não era tudo que precisava saber:

— Quanto tempo Yutaka? – não pôde evitar que as lágrimas desabassem de seus olhos, ferindo sem saber o coração do loiro mais alto com isso. – Faz quanto tempo que tudo isso aconteceu?

Yutaka suspirou desviando o olhar. Não queria ver Yuu chorar depois de tanto tempo. Quando ainda acreditava na melhora do amigo esperava que aquele fosse um momento feliz. Que poderiam se abraçar e comemorar a sua volta. Nunca pensou que ainda teriam mais uma prova daquelas em seu caminho:

— Você estava quase completando o quarto ano de faculdade quando se acidentou.

As lágrimas do moreno tornaram-se ainda mais pesadas e trouxeram lágrimas aos olhos dos amigos também, porém ainda não tinha escutado tudo. Para si já era demais. Ainda não tinha sequer aceitado aquilo e foi surpreendido pela voz de Yutaka continuando a dar sua resposta:

— Depois disso você ficou em coma.

— O quê?

Yuu não podia acreditar. Quanto tempo de sua vida havia se perdido para ele? Por que não conseguia se lembrar de nada? Aquilo não era justo. Era a sua vida e parecia ser o único ali a não conhecê-la:

— Por quanto tempo, Yutaka?

— Semana que vem iria completar três anos.

Aquilo foi demais para que o moreno aguentasse estando com o corpo tão fragilizado. O ar lhe faltou devido ao pranto e seus amigos foram obrigados a sair dali para que o médico pudesse socorrê-lo. Os rostos abatidos dos três rapazes no corredor eram marcados por lágrimas e nenhum deles tinha coragem ou ânimo para dizer algo. Apenas se mantinham quietos, cada um tentando combater sua própria dor.

[...]

Takanori conseguira estabilizar o moreno e tranquilizou os amigos dizendo que a pior parte havia passado e que ele só precisaria descansar um pouco. Os três se revezavam para velar o sono de Yuu, que dormiria por um bom tempo devido aos remédios. Isso não agradava Kouyou. Havia observado o moreno dormir por praticamente três anos, queria agora que ele acordasse e ficasse bem:

— Por que sempre que eu acordo é você quem está aqui?

Kouyou assustou-se com a voz do moreno, mas sorriu para ele logo em seguida:

— Acho que é porque eu me importo com você.

Yuu sorriu sem graça. Queria que fosse Yutaka ali. Não se sentia confortável na presença daquela pessoa, que mesmo parecendo tão gentil para si, por alguma razão o deixava aflito. Por que não podia se lembrar? Pelo jeito como o outro parecia se preocupar eles deviam ser bem próximos e mesmo assim... Não conseguia. Era como se nunca o tivesse visto e sentia-se envergonhado por isso:

— Por que meus pais não estão aqui?

O loiro suspirou e aproximou-se mais, se permitindo sentar-se na cama do moreno:

— Vocês brigaram. Eles não falam mais com você.

— O quê? Mas por quê? Meus pais... Por que eles fariam isso?

Yuu não entendia. Sempre fora um bom filho. Sempre manteve um bom relacionamento com os pais. Mais que isso, era o orgulho deles. Seus pais o amavam e sempre faziam questão de exibi-lo para todos. Eles não se afastariam assim:

— Isso foi por minha causa. – o loiro respondeu cabisbaixo. – Me desculpe.

Mesmo sem saber o motivo Yuu sentia que não devia deixar o outro se culpar por isso. Até porque não fazia o menor sentido, não é mesmo? Eram os seus pais, ele não tinha nada a ver com aquilo:

— Como meus pais podem ter brigado comigo por sua causa?

— Eu... – Kouyou começou sem saber ao certo como continuar e acabou corando no processo. – Quer dizer, nós...

Não podia acreditar em si mesmo. Estava com vergonha do Yuu? Justo dele que por tanto tempo fora seu confidente, antes mesmo de começarem o namoro? Não podia estar realmente com vergonha dele. É só que... Yuu não se lembrava. Era como se fosse outra pessoa ali diante de si.

Respirou fundo criando coragem. Não podia ser tão difícil assim. Ainda era o Yuu:

— Nós somos namorados. – disse com firmeza.

O moreno se assustou com a resposta. Aquilo devia ser algum engano:

— Namorados? Quer dizer... Nós...? Não, eu não... Quer dizer... Eu não sou...

Calou-se, pois não sabia como dizer aquilo sem ofender o loiro, mas esse não pareceu se importar, sorrindo docemente para si:

— Você gostava de mulheres, certo? Eu sei. Seus pais realmente me odeiam por isso.

Yuu sentiu-se corar e não sabia por que seu coração havia disparado. Não podia lidar com aquela situação. Ele não conseguia se imaginar gay:

— Onde está o Yutaka?

Kouyou sorriu. No fundo sabia que Yuu não aceitaria aquilo. Já não o conhecia afinal e não poderia de repente se assumir bissexual por sua causa. Já estava contente pelo moreno não tê-lo culpado por seus pais não estarem ali:

— Ele e Akira foram jantar. Não devem demorar muito.

Embora dissesse isso, Kouyou imaginava que eles demorariam sim, afinal os dois não costumavam ter muita pressa quando o assunto era curtir um ao outro. Takashima sempre achou que eles formassem um belo casal. Importavam-se de verdade um com o outro. Era algo que ele sonhara fazer com Yuu também durante os últimos três anos:

— Takashima-san... – o moreno chamou um tanto constrangido. Não sabia ao certo como devia chamar o loiro e não se sentiria confortável em usar o primeiro nome.

— Sim?

— Pode me contar o que aconteceu durante esses anos?

— Claro.

O loiro sorriu começando sua história. Contou sobre o dia em que se conheceram, sobre todas as bobagens que aprontaram juntos na faculdade, sobre quando Yutaka fora morar com eles, sobre o dia em que Yuu o pediu em namoro, sobre a briga com os pais do moreno, sobre Yutaka e Akira começarem a namorar também, sobre a faculdade e tudo que fizeram juntos até o momento do acidente, permitindo-se ocultar a parte da briga. Não queria pensar nisso e nem queria que Yuu pensasse.

O moreno por sua vez prestava atenção em cada detalhe e tentava memorizar tudo. Vasculhara sua mente tentando lembrar-se de algo, mas fora em vão. Nada daquilo parecia realmente fazer parte dele. Não parecia ser a sua vida, parecia só... Uma história de um estranho. Não podia negar que o maior o conhecia bem, afinal relatara todas as suas manias, mas mesmo assim... Por que se sentia tão relutante em aceitar aquilo? Por que tinha tanto medo? Algo ali não lhe parecia certo:

— Takashima-san... – chamara a atenção do loiro erguendo os orbes escuros para encará-lo. – Por que eu sinto que não devo confiar em você?

Kouyou sentiu o peito se apertar e o ar lhe escapar dos pulmões. Aquela pergunta acabou doendo muito mais do que poderia imaginar.


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Notas finais do capítulo

Espero q estejam gostando... Alguém mudou de opinião sobre o Kou? Me digam o q estão achando, mandem sugestões, me encham o saco pra escrever logo... xD (quem quiser me cobrar pelo twitter: @AlineVKei)
A previsão era o 3º cap sair na terça-feira, mas como estou adiantando esse vou tentar adiantar ele tb ^^ (e eu disse TENTAR, ok?)
Continuem mandando reviews lindos q eles me incentivam a escrever mais rápido *-*
Kisus e até o próximo minna (^3^)/