O continente asiático ainda continuava banhado pela radiação. Os três mísseis nucleares promoveram uma enorme devastação naquele lugar, tornando a Rússia e arredores praticamente inabitáveis. Juntamente com a radiação do cristal misterioso, havia o temor de que a contaminação se alastrasse, o que tornava isso um enorme problema.

Cientistas trabalhavam incessantemente, procurando uma solução. Testes foram feitos, teorias foram elaboradas, mas nada deu resultado. Contudo, em um certo dia, num congresso científico, a solução foi revelada: Ironicamente, o evento cataclísmico do ano de 2012 ofereceria uma “salvação” para a humanidade.

Londres, Reino Unido, 16 de julho de 2073. Meio dia. O Palácio de Buckingham era palco de uma reunião das maiores autoridades da ciência da época, a maioria deles era composta de especialistas em energia nuclear. O evento tinha por finalidade ser um dos muitos esforços para contornar o problema de radiação da Europa e da Ásia. O próprio rei do Reino Unido, George, havia feito questão que a ocasião importante ocorresse em seu palácio, algo que foi muito apreciado pelos entusiastas das boas relações internacionais e pelas Nações Unidas. O monarca acreditava que em tempos como esse, a cooperação entre os povos era importante acima de tudo.

George: Contanto que não mexam nos meus tesouros e nos meu guardas, podem ficar à vontade. Sei como é essencial o empenho de vocês, em busca de uma paz que as gerações futuras lutariam para ter.

A reunião seguia com discussões fervorosas, ao ponto de irritar o rei e fazê-lo se retirar. Um dos participantes do congresso concluiu que era o momento perfeito para a revelação de uma proposta ousada.

??????: Pessoal, gostaria de compartilhar uma hipótese em que minha equipe de cientistas tem trabalhado. E se por acaso nós não formos capazes de elaborar um sistema de purificação ou isolamento de radiação?

Organizador: Simples. Seria o fim. Não haveria por que continuar.

??????: Certo. Mas, em vez disso, poderíamos recorrer a um artifício mais, digamos, sobrenatural.

Os presentes no local começaram a murmurar uns para os outros sobre o que acabaram de ouvir. O cientista ouviu dos mais diversos comentários; alguns que questionavam sua sanidade, outros que o descreviam como um grande brincalhão. Mas isso não incomodou o tal cientista. Ele até contava com o questionamento generalizado, pois, com isso, pretendia se conduzir para o fim da explicação do seu plano.

Organizador: Muito bem então, nos explique. Que tipo de artifício seria esse?

??????: Uma superdotada que encontrei quando estava estudando em Zurique.

Organizador: Grande novidade. Com todo respeito, você só está nos fazendo perder tempo.

??????: Acalme-se. Permita-me continuar. Quando eu a conheci, vi que ela possuía a habilidade de absorver energia e mantê-la em seu corpo por períodos extensos de tempo. Ela tinha o hábito de realizar a proeza com energia térmica, e isso a possibilitava andar por ambientes congelantes sem sentir frio algum.

Organizador: Acha que ela pode fazer o mesmo com energia nuclear?

??????: Já saímos das suposições há tempos. Tudo está devidamente comprovado e documentado. Todos os relatórios e filmagens estão disponíveis. Convido-lhes a prestar atenção nesta filmagem a seguir.

Uma filmagem começou a ser exibida em telão para todos os presentes. A filmagem mostrava uma adolescente isolada em um cubículo. Ela parecia concentrada e estava de braços abertos. O cientista, que filmava o teste, registrava em tempo real o nível de radiação absorvida pela menina, assim como a atividade radioativa do cubículo.

Organizador: É isso mesmo? O cubículo está sendo purificado? O que ela está fazendo, absorvendo a radiação?

??????: Sim, mas receio que isso seja um grande risco para ela. Por isso, eu a trouxe aqui para vocês a verem com seus próprios olhos.

Alguns assistentes do cientista entraram, empurrando o que parecia ser um cubo gigante coberto por uma lona marrom e suspenso por uma plataforma com rodas; três mesas tiveram que ser deslocadas para dar espaço para o objeto passar. Todos os presentes se apertavam, concedendo passagem ao carregamento.

Organizador: É isso mesmo? Você a trouxe numa caixa?

??????: Ou isso ou seria um sarcófago de chumbo.

A lona marrom foi removida. Todos os presentes se amontoavam para ver o que estava escondido. Dentro de um cubo de material transparente, sentada em uma poltrona, estava uma menina careca, pálida, que vestia uma espécie de túnica branca.

??????: Eu adianto que o material deste cubo é um polímero especial, de superfície de estabilidade variável, apropriado para contenção de radiação, rigorosamente testado. Estamos efetivamente protegidos, portanto não há motivos para alardes.

Alana: Olá, todos... Eu ser Alana Brayan... Vou ajudar Rússia.

Organizador: Então é ela...

??????: Sim. Infelizmente, ela está com câncer; por isso, a drástica diferença de aparência em relação à sua aparição na filmagem...

Organizador: Então, você planeja salvar a Rússia violando direitos humanos? Você deveria ser preso!

O questionamento não surpreendeu o jovem cientista. Ele sabia que seria confrontado com tal acusação, porém Alana havia se oferecido para defendê-lo.

Alana: Violação não! Eu ser voluntária! Me oferecer para ajudar!

Organizador: Mesmo assim! Olhe pra você! Você é uma jovem, tinha uma vida inteira pela frente! E você quer deixar tudo de lado para ajudar num plano que nem temos certeza que vai dar...

Alana: Esse plano ser motivo para eu viver...

Todos os participantes da reunião se calaram de repente. Não esperavam tamanho pessimismo naquela ocasião. Alana continuou.

Alana: Eu não ter família. Mãe e irmãozinho morrer de doença. Eu doente também, mas vivi mais. Viver de aluguel, morar na rua, passar frio. Povo da faculdade de Zurique cuidar de mim. Todo dia, rezar pra Criador cuidar deles. Não ter mais vontade de viver, mas se morrer por boa causa, eu talvez ficar junto da minha família... Como Filho do Criador... Acho...

Organizador: Isso é loucura...

Alana: Quando nós morrer, acho, tem jeito de fazer o que nós quer, certo? Isso chamar de “último pedido”, acho.

Os outros presentes ficaram pensativos por um tempo. Alana os observava, aguardando uma resposta. O organizador, por fim, chegou a uma conclusão.

Organizador: Ah... Certo, vamos fazer do seu jeito. Seja o que Deus quiser.

Não houve comemoração por parte dos cientistas. Um plano como esse era arriscado, e a chance de sucesso era questionável. Mas, se isso era o último desejo de Alana, seria falta de consideração deles não acatar.

Rússia, três dias depois. Se aproximar da área afetada pela radiação era arriscado. Portanto, Alana seguiu sozinha, tomando cuidado com cada passo dado em meio aos escombros. Ela já sentia mal estar graças à radiação, mas não podia voltar atrás.

Alana: Estar bom aqui?

??????: Sim. Você está em um ponto com bastante intensidade. Comece por aí.

Alana: Certo... Eu tentar pegar área grande...

Ela se concentrou, abriu os braços e sentiu a influência da energia nuclear incidir sobre seu corpo. De um helicóptero, alguns cientistas observavam, incluindo o amigo de Alana e o organizador da reunião em Londres. Eles notaram que a área de um raio de um quilômetro ao redor de Alana havia sido purificada.

Organizador: Isso... Funcionou mesmo?

??????: Ao que parece, sim.

Organizador: Certo. Abaixem o transporte para Alana. Levem-na para a próxima área.

O trabalho se estendeu por cerca de três semanas. Alana quase não teve descanso, pois estava ansiosa para realizar a tarefa. Mas conforme prosseguia, ela ficava mais debilitada; a sensação que ela tinha era, segundo ela mesma, como “o toque gentil e acolhedor da morte”. Era estranho para os cientistas a maneira como ela lidava com a situação.

Quando enfim a última área foi finalmente purificada, Alana já não conseguia mais se manter em pé; estava a poucos momentos de dar seu último suspiro. Os cientistas inseriram seu corpo moribundo em um esquife de chumbo, feito para que a radiação por ela absorvida não escapasse. Depois que terminaram de selar o esquife, puseram-no dentro de um avião de carga, que logo decolou. Então, o cientista amigo de Alana tentou fazer seu último contato com ela.

??????: Alana... Consegue me ouvir?

Alana: Sim. Eu estar bem... Meu caixão caro ser confortável...

??????: Não acredito que você ainda consiga fazer piada... Você é mesmo valente...

Alana: Eu acabar tudo... Eu ir descansar agora...

??????: Claro. Você merece.

Alana estava de certa forma feliz. Por muito tempo, ela se considerara inútil depois de ter perdido a família, mas, graças ao seu poder especial, ela descobriu um propósito para viver. Por isso, ela partia sem arrependimentos. Com toda a tranquilidade, ela pôde dizer suas últimas palavras.

Alana: Obrigada... Senhor Kotaro Keihatsu...