Crossroads - The Dark Hunters Chronicles escrita por Boneco de Neve, Guiga


Capítulo 27
EX - Advento da Última Ilha




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As Nações Unidas estavam em rebuliço. Aquele país, o primeiro a ser agraciado com a luz do Sol diariamente, aparentemente se manteve avulso aos acontecimentos da guerra. Mas agora se tornou pública a notícia que o governo daquele país havia iniciado uma empreitada que desafiava a lógica, a ciência e até mesmo o dom da criação. Tudo isso, possível com o poder dos superdotados.

Japão, 15 de Outubro de 2070. Oito horas e cinquenta e seis minutos da manhã. O tatame de palha trançada era palco de uma peleja. De um lado, um homem de cabelos longos penteados para trás, que possuía um bigode discreto e aparentava idade avançada; de outro, um rapaz que não parecia ter mais que dezesseis anos, estatura mediana e expressão hesitante e preocupada no rosto. Ambos trajavam roupas de combate do estilo dos antigos guerreiros que escreveram a história do país, com destaque o saiote longo que escondia os pés de ambos. Cada um portava uma espada longa e curva, de material rígido e reluzente.

O homem mais velho sabia perfeitamente o que passava na cabeça do mais jovem. Era época das provações finais, testes mandatórios da arte em que os alunos buscavam impressionar o professor. O jovem sentia a urgência de conquistar sua prova de maestria, a fim de ingressar na carreira militar. Havia também o problema de desempenhar um papel respeitável na frente do próprio pai, que estava entre os espectadores da batalha. Havia também um sentimento oculto de medo, um receio de que a segurança do país onde estavam poderia estar comprometida graças aos eventos recentes.

O adolescente realizou uma investida, desferindo rapidamente ataques de várias direções com sua espada. O mestre bloqueava os golpes calmamente, aguardando a chance de contra atacar. Mas sabia que o jovem não iria dar o braço a torcer. Desde muito cedo, o jovem era envolvido com a arte das espadas, o que o colocava numa condição de veterano.

Por fim, algo surpreendente aconteceu: O jovem saltou, girando o corpo num eixo vertical ao mesmo tempo em que atacava o mestre. Isso acabou fazendo o professor se atrapalhar, tornando possível que o jovem o rendesse.

Mestre: Teste encerrado.

Os dois trocaram reverências. Apesar do cambate ter terminado, a adrenalina do jovem não o permitia ficar calmo, mas ele procurava não deixar isso mais evidente do que já estava.

Mestre: Eu irei conversar com os outros mestres a respeito do seu teste. Por favor, retire-se da sala de aula e volte quando eu solicitar sua presença.

Aluno: Sim, senhor.

O jovem sorvia o último gole da água de sua garrafa térmica. Só foi perceber que seu pai estava ao seu lado quando o ouviu falar.

Pai: E então filho, como acha que foi?

Aluno: Oh, olá pai.

Ele esperou alguns minutos antes de falar. O nervosismo e a falta de fôlego certamente o impediria de falar adequadamente.

Aluno: Acho que o Mestre Hizashi vai querer me matar. Minha última manobra foi surpreendente até mesmo para ele.

Pai: Não se preocupe. Acho que ele gostou do seu teste.

Logo depois, um dos auxiliares do seu mestre chamou o jovem, e este se foi em direção à sala onde estava seu mestre. Foi uma caminhada tensa para o jovem Yuurando. Ele, tentando expressar o máximo possível de calma, se posicionou em frente ao mestre, que o fitava com uma expressão serena no rosto.

Hizashi: Primeiramente, você representou bem esta escola em todos esses anos que foi aluno dela.

O mestre fez uma pequena pausa, o que foi o suficiente para deixar Yuurando ainda mais apreensivo.

Hizashi: Apesar de ser um superdotado manipulador de eletricidade, você suprimiu seu poder durante o teste. Isso é digno de nota.

Yuurando: Obrigado, mestre...

Hizashi: Por outro lado, eu sempre chamei você à atenção a respeito da sua teimosia e ousadia. E hoje eu devo chamar você à atenção sobre o movimento que você utilizou ao final do nosso embate.

Yuurando suou frio, apesar de já ter imaginado que chegaria a esse ponto. O problema aqui é que não era do porte de um guerreiro espadachim do Japão sair do chão durante um combate, tal como ele fez contra seu mestre. Yuurando sabia muito bem que, quando se pratica uma arte marcial, é necessário respeitar os fundamentos e ensinamentos da arte, a ponto de não improvisar para facilitar o aprendizado. O que jovem espadachim executou uma ação atípica de um guerreiro espadachim. Para piorar, movimentos como aquele trazem à tona memórias incômodas dos guerreiros da China, inimiga histórica do Japão. Yuurando temia ser recriminado por isso.

Yuurando: Me perdoe, mestre; e-eu fiquei nervoso e...

Hizashi: Sem desculpas! Não disse que você está certo mas também não digo que está errado.

Yuurando: Ah... Não estou entendendo, mestre...

Hizashi: Meu jovem, lembre-se que você está treinando para se tornar um soldado do governo. Você lutará em guerras, passará por grandes perigos, por isso precisará de tudo que tem para sobreviver. Contudo, eu não estarei lá para te dizer o que fazer, portanto você poderá fazer o que bem entender.

Yurrando deu um suspiro discreto de alívio. Silenciosamente continuou a ouvir seu mestre.

Hizashi: Seu último movimento poderia ser facilmente encarado como uma afronta à honra da arte. Mas eu vou apenas considerar que este é um ponto negativo entre muitos pontos positivos.

Não conseguindo mais esconder a alegria, Yuurando deu um sorriso. Uma grande etapa de sua vida acaba de ser concluída com sucesso.

Hizashi: Meus parabéns, Yuurando. Você é um mestre samurai.

Dois dias se passaram após a graduação de Yuurando. O jovem embarcava em um helicóptero de transporte com destino um porta aviões do governo. Como tarefa, o recém-intitulado samurai apenas tinha que manter a ordem e a segurança num local onde, como explicaram a ele, seria estabelecida uma nova instalação. Ele a princípio achou um absurdo, pois o destino era em alto mar, mas depois passou a considerar que iria para alguma plataforma de petróleo. O navio, enfim, chegou ao destino: Um oceano de alta profundidade, ao sul da Índia. Eram uma hora e meia da tarde. Yuurando se dirigiu ao convés e notou que havia três outros navios dispostos em formação de triângulo.

Yuurando: (O que está acontecendo aqui?)

Atenção todos os tripulantes dos navios. Preparar para a Operação Ilha 6853. Repetindo: Preparar para a Operação Ilha 6853. Todos os integrantes se apresentem nos convés de seus respectivos navios.

A voz que ecoou dos três navios em triângulo atiçou a curiosidade de Yuurando, tanto que ele pegou emprestado um binóculo de um companheiro de tripulação.

Através das lentes ele viu nos navios uma movimentação estranha. Algumas pessoas se posicionavam na beirada dos navios, em direção ao centro do círculo. E pareciam se preparar para alguma coisa. Após isso, na beirada oposta, mais pessoas se posicionavam, também se preparando para algo. Uma coisa que chamou a atenção de Yuurando foi a vestimenta comum delas... Todas usavam sobretudo preto.

A dita operação foi colocada em prática. Os indivíduos das beiradas na direção do centro fizeram gestos, estendendo as mãos para a direção da água. Em seguida Yuurando escutou um ruído, as águas se agitaram e o navio começou a balançar. Por pouco, Yuurando não caiu no chão, mas o binóculo acabou caindo no mar.

Após se levantar e agarrar com firmeza o corrimão, ele notou que o navio já não balançava tanto como há alguns segundos atrás. Ele tentou enxergar os indivíduos de sobretudo preto e notou que os outros, da beirada oposta ao centro do círculo, também estendiam suas mãos para a água. Definitivamente, Yuurando não fazia ideia das intenções das autoridades que ordenaram aquela operação.

!!!!!!!: É impressionante, não? O poder dos superdotados...

A voz conhecida surpreendeu Yuurando. Era seu avô, e certamente não esperava encontra-lo ali.

Yuurando: Vovô Zanmato! O que está fazendo aqui?

Zanmato: Eu tinha que ver isso de perto. Não gostaria de perder essa por nada.

Desconsertado, Yuurando se lembrou de realizar a reverência para saudá-lo e assim o fez, sendo o gesto repetido pelo seu avô.

Yuurando: Mas vovô... Não acha que é perigoso para o senhor estar aqui? Não quero ser rude, mas o senhor já não tem mais idade pra idade pra ficar se arriscando...

Zanmato: Tolice. Eu estou velho, mas não inválido. E, além do mais, eu já disse que eu não perderia essa por nada.

Yuurando: E o que seria “essa” afinal? Me disseram que o governo vai construir algo aqui, mas... Só tem água aqui! Vão construir alguma plataforma aqui?

Zanmato: Não. Se fizessem isso, o nome da operação não faria sentido.

Yuurando: Ilha 6853... Quer dizer que...

Zanmato: Veja por você mesmo, meu neto.

Yuurando notou que no centro da formação triângulo se erguia uma grande massa de terra. Ele simplesmente não podia acreditar.

Yuurando: Mas isso... Isso é incrível!

Zanmato: Com toda a certeza!

Todos no navio onde Yuurando estava reagiram com euforia. Iniciaram-se as comemorações. Até ali, a operação estava sendo um sucesso. Yuurando, porém, continuou a  observar, mas quietamente. À medida que a massa de terra se erguia, os navios eram afastados com a força da água, mas não o suficiente para desequilibrar as embarcações. No fim, a massa parou de se elevar, formando uma verdadeira ilha.

Yuurando: Estou impressionado... Mas... Não seria melhor se criassem uma massa maior, tipo um pequeno continente? Quer dizer, se possível...

Zanmato: Quem dera... Eles não têm poder suficiente para isso. Vai ser mais uma ilha mesmo.

Yuurando: Bom, isso obviamente explica o nome... E eu presumo que ela fará parte do território japonês.

Zanmato: Sim, ela será anexada depois que completarmos os preparativos.

Yuurando: E quanto aos territórios próximos? Essa elevação súbita da terra pode causar um maremoto, não?

Zanmato: Colocamos superdotados controladores de água nas popas. Eles estão a mantendo o mar estável. Não há com o que se preocupar.

Yuurando: Entendo...

O jovem Yuurando mal havia iniciado seu serviço militar e já estava coberto de receios. No fundo, ele estava se considerando parte de um grande erro e julgava que as consequências não seriam nada brandas dali para frente. Ao se lembrar de sua mãe, ele começou a entender a sua reclusão, seu subsequente desligamento do programa de treinamento de superdotados e seu repúdio a Zanmato, seu pai. Ela não queria se envolver em loucuras. E agora, por não levar em consideração os conselhos de Hatsuki, Yuurando estava trilhando o caminho que a mãe outrora rejeitou.


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