Duo Reality escrita por Warfighter


Capítulo 17
Capítulo 16- Memórias esquecidas


Notas iniciais do capítulo

Olááá pessoal!! Tudo bom?
Desculpe a minha demora, mas eu tenho aulas e deveres --'
Então, esse é o capítulo que eu venho pensando desde que eu comecei a fic! Ele tem mais informações sobre o mundo em que eles vivem e sobre o psicológico e os sentimentos dos personagens :)
Espero que gostem! :3



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Capítulo 16

Memórias Esquecidas


Respire fundo, Daniel. - ouvi minha própria voz dizer.


Eu sabia que estava tentando enganar a mim mesmo. Como alguém conseguiria respirar em uma hora daquelas?

Não esperava aquela resposta. De jeito nenhum. Achei que Jared daria uma risadinha debochada e diria: “Já morei em uma civilização sabia?”

– É noite meninos. - falou ele. - melhor irem para um cômodo qualquer. Sintam-se à vontade, e fiquem tranquilos que amanhã ela provavelmente estará bem.

Provavelmente.

Contudo, sua voz estava tão branda, que me amenizou. Ele sabia o que estava fazendo.

Robert e Millie se levantaram em silêncio e passaram pela porta à passos largos. Segui os dois rapidamente, e fechei a porta de pesada madeira maciça atrás de mim, entregando Sarah a Jared – e a sua sapiência.

Entramos pelo primeiro acesso que vimos. A adrenalina já havia se esvaído de nossos corpos, então, nos jogamos ao mesmo tempo em um sofá grande e azul cobalto.

Percebi que estávamos em uma enorme biblioteca, que parecia ocupar mais da metade do chalé. Altas estantes percorriam toda a extensão da sala, com quantidades absurdas de livros à mostra. Nunca havia visto tantos em minha vida, principalmente, porque papel não era uma das coisas mais baratas do mundo. Depois da Grande Destruição, restou apenas uma floresta adequada para a extração, no Sul.

Um vento súbito adentrou pela pequena janela, e fechou a porta com um baque violento. Tudo o que ouvíamos eram os sons da noite, e o crepitar do fogo a nossa frente.

Millie caminhou até a ventana e a fechou com segurança.

– Não vamos querer nenhuma visitinha. – esclareceu.

Estava frio e escuro, a não ser pela chama da lareira. Millie arrancou os coturnos dos pés e se deitou no tapete cor de caramelo. Robert e eu demos de ombros e fizemos o mesmo.

Quando senti os pelos tocarem minha pele fria, estremeci.

– Isso é a pelagem daquele mostro? - perguntei sem me dirigir a ninguém.

– Parece que sim. - Robert respondeu curto, com os olhos vidrados no teto.

– Então, parece que Jared esconde algo de nós. - eu disse.

– Nós o conhecemos há pouquíssimo tempo. Eu não mostraria meus segredos para três adolescentes fugitivos. - defendeu-o Millie.

Robert e eu concordamos com a cabeça.

– Ei. - me virei de barriga para baixo. - Gosta dele. - impliquei com Millie, cutucando-a com o dedo indicador.

Ela soltou uma risada alta e carregada de sarcasmo.

– E você e Sarah? - trocou de assunto.

Robert se levantou repentinamente; e em seguida, deitou-se no sofá.

– Vou dormir. Boa Noite. - ele se cobriu com seus próprios braços, como se estivesse abraçando a si mesmo.

Ele falou no mesmo tom que alguém falaria “Vou me matar.” Era como se Sarah ativasse algum sensor de ódio em seu cérebro.

Voltei-me a Millicent e esta arqueou sua sobrancelhas, ainda esperando por uma resposta.

Dei um leve suspiro.

– Não sei... Tenho certeza de que a conheço de algum lugar.

– Vocês parecem ter uma conexão muito forte – Millie apoiou sua cabeça em uma das mãos.

Surpreendi-me um pouco. Talvez não estivesse tão louco como pensava.

–É verdade! Ela salvou sua vida, não é? E você salvou a dela...

– Tomara que sim. - eu disse apenas.

– Daniel, admita: você não se arrisca por uma pessoa que não ama. Não estou dizendo que se amam, mas... Há algo, sinto isso.

Voltei a olhar para o teto.

– Eu também. - ciciei – Mas... Voltando ao assunto: e Jared?

– Ele lembra o meu irmão... - admitiu meio distraída e desesperançosa

Travis. Havia quase me esquecido dele.

– Eu o vi. Travis. - lhe disse.

De repente, pareceu que a chama que alimentava sua esperança se acendeu novamente.

– Sério? O que ele estava fazendo? - inquiriu-me animada.

– Me torturando psicologicamente. Mas não fora culpa dele, eu sei. - não menti.

Millicent voltou ao seu estado normal.

– Sinto falta dele. - sussurrou com uma voz sonolenta. - Falta... dele...

Suas pálpebras haviam se fechado. Millie era uma ótima amiga: merecia descansar.

Mas eu não estava nem um pouco cansado. E pelos horários do Sul, eu devia ser o mais fatigado de meus companheiros.

Conclusão: o medo vence o sono.

Decidi que seria um desperdício se não lesse nada ali. Iria folhear algo que me distraísse de tudo e que fizesse o tempo passar mais rápido.

Me infiltrei no enorme cânion formado pelas estantes e comecei a tocar os exemplares com as pontas dos dedos, tentando encontrar algo que chamasse a minha atenção.

Puxei um livro relativamente fino e soprei levemente a capa, fazendo uma grossa camada de poeira flutuar no ar, e então, se dissipar completamente.

A capa era uma brochura e aparentava ser antiga. Em uma caprichada caligrafia estava escrito: “O mundo após a Grande Destruição: uma breve história. Por Jared Senechal.”

Além de tudo, ele era escritor. Minha curiosidade falou alto, então, voltei ao tapete monstro, abri o livro calmamente, querendo absorver todo aquele conhecimento.

Qual fora o último livro que havia lido? Certamente, na escola, quando era apenas um garoto de dez anos que pouco sabia sobre tecnologia.

Separei algumas páginas amareladas que haviam se colado com o passar do tempo. Então, mergulhei na leitura.


O mundo depois da Grande Destruição


Capítulo 1 – Introdução


América. Era esse o nome que o lado ocidental recebia há centenas de anos. O continente era certamente enorme e cheio de biodiversidade. Era lindo.


Porém, ninguém ouvia quem precisava ser ouvido: os ambientalistas. Eles alertavam todos que se não fizessem nada, o mundo estaria correndo grave perigo. E o desastre começou.

Calotas polares derreteram, matas pegaram fogo, continentes inteiros foram tomados pela água. O planeta havia se tornado um caos.

De repente, tudo parou. E os poucos que sobreviveram tentaram se reerguer.

Um novo líder apareceu. Shia era seu nome. Ele propôs uma nova forma de governo, que o Ocidente não utilizava mas era eficiente. Também reuniu um conselho de pessoas, para o caso de ele “perder a cabeça”. O povo, em seu desespero, acatou-o calorosamente. A população do Oriente migrou para o Ocidente, tendo assim, um número suficiente de pessoas para começar uma nova sociedade.

Todos seriam iguais. Teriam casas e roupas parecidas e ganhariam os mesmos salários. Qualquer forma de preconceito seria punida com a morte.

A população foi crescendo. E Shia percebeu que estava perdendo o controle do lado Ocidental. Decidiu então partir o continente em três: Divisão Norte, Divisão Centro e Divisão Sul, cada uma com um governante escolhido pelo conselho e um marco de fronteira.

Entre o Sul e o Centro, havia uma enorme quantidade de água, causada pela inundação. E entre o Centro e o Norte havia uma floresta repleta de perigos e animais selvagens.

Com o passar do tempo, cada divisão foi percebendo que tinham certos “talentos” especiais. Então, cada uma delas ficou com algumas funções específicas: o Sul cuidava de tudo o que estava relacionado a agropecuária e matérias-primas. Coisas básicas como alimentos, transportes e roupas. O Centro tinha grandes médicos, remédios e equipamentos ligados a essa área. E o Norte possuía tudo ligado a tecnologia: armas e eletrônicos.

No fim, o Norte acabou sendo a grande potência, e a história de igualdade não deu muito certo - mas a lei continuou mesmo assim.

O novo governante do Norte foi escolhido pelo conselho. Porém, Lexi era dura e autoritária. Disse que para as nações avançarem, as crianças teriam de terminar seus estudos antes: iriam para a escola até os dez anos, escolheriam suas profissões, e estudariam intensamente durante alguns anos em salas especiais em suas casas. O Software.

O Continente realmente progrediu durante algum tempo. Os genéticos do Centro descobriram técnicas para escolher cor dos cabelos, pele e olhos; o Norte desenvolveu belos hologramas, e o Sul criou espécies de transportes flutuantes, além de manter todos vestidos e alimentados.

Contudo, no meio do progresso, algo deu muito errado. Um grupo considerável de pessoas – até hoje desconhecido - saiu do Norte e foi para o até então desocupado Oriente. E não foram sozinhos: levaram várias das armas com eles.

Depois de semanas com o perigo de uma iminente guerra, ambos os lados decidiram que o melhor era se separar totalmente. Encontraram uma ilha desabitada exatamente onde passava o Meridiano De Greenwich. Aquele lugar seria a Fronteira, e ninguém poderia passar para o outro lado.

Mas todos sabemos que opressão gera rebelião. E o Norte resolveu criar algo para conter os rebeldes: eles mesmos.

Desenvolveram uma tecnologia incrível, algo que se achava impossível até então. Um chip que monitorava pensamentos, produzia energia, localizava o combatente, armazenava memórias – as que o governo não considerava perigosas – e ainda controlava a aparência, deixando a pessoa com um rosto jovem até o fim da vida.- Seriam os conhecidos combatentes. Houveram vários voluntários, principalmente no Norte. Mas não fora o suficiente.

Mas quem seriam os escolhidos? Os melhores jovens de dez até vinte e cinco anos. Se fosse muito bom em algo – o que quer fosse útil para o governo – era capturado. E os rebeldes sempre eram muito bons em áreas específicas. Que combinação seria melhor do que se livrar de uma rebelião e ainda fazer a nação progredir?


Haviam muito mais páginas. Algumas falando sobre divisões específicas, outras sobre o mundo antes de tudo aquilo. Queria terminar o livro, porém, pareceu-me que as letras e as palavras foram se juntando, até minha visão ficar completamente negra.


Acordei com meu rosto enfiado no livro. A janela de vidro revelava um céu que estava clareando, e passarinhos que saíam de seus ninhos, prontos para um novo dia.

– Bom dia! - Robert me assustou com uma voz animada.

– Uau. Há quanto tempo está acordado? - lhe perguntei.

– Pouco tempo. Mas o suficiente para ver que estava tendo um sono agitado.

Enrubesci. A ideia de Robert me observar dormindo era, no mínimo, estranha.

– Quem teve um sono agitado?

Millie. Ainda bem.

Robert apontou para mim.

– Mas é claro! Com o cérebro de Sarah sendo revirado...

Meu estômago embrulhou. Será que Jared já havia terminado?

– Vamos vê-la. - disse eu.

Sem discussões, meus amigos concordaram: colocamos nossos sapatos, eu guardei o livro onde havia achado, e saímos.

Quando íamos bater à porta, esta foi aberta revelando um Jared cansado e cheio de olheiras.

– Pronto. - suspirou.

– Quanto tempo vai demorar para ela acordar? - a pergunta incrivelmente não foi feita por mim, e sim por Robert.

– Depende. Dois minutos. Dois dias. Dois meses.

– Dois meses? – Minha voz estava repleta de indignação.

– Talvez. Mas acho que não. Pelo que vi, ela acordará daqui a pouco.

– Então eu vou esperar. - disse eu com determinação.

– Ficaremos com você. - era Millie.

Jared abriu a porta novamente e entrou conosco.

Lá estava Sarah, estirada na cama, do mesmo jeito que eu a deixei. Porém desta vez, seu rosto estava com uma expressão que u nunca vira antes: era suave e serena.

E o melhor: sua barriga subia e descia devagar e em ritmo constante.

Estava viva.

De repente, aqueles enormes olhos se abriram. Ela se levantou, deu um soco no vidro da janela, e correu em direção a floresta, deixando nós três de queixo caído.

– É... Talvez deixar a superforça e a supervelocidade não tenha sido a melhor ideia do mundo... - ouvi a voz de Jared dizer.

Olhei de relance para Millie, que me lançou um sorriso de canto.

Com supervelocidade, ou não, eu iria atrás dela.

Saí correndo. A brisa fresca da manhã me confortava, enquanto o brilho alaranjado do alvorecer coloria a paisagem. As árvores faziam eu me sentir protegido e vulnerável ao mesmo tempo.

Contudo, nada era maior que o meu desejo de encontrar Sarah.

Vi uma silhueta de longe, perto do lago. Estava agachada e parecia olhar para seu próprio reflexo.

Me aproximei devagar e a chamei baixinho.

– Sarah?

Ela olhou diretamente para mim. Se levantou, e pude perceber que seus olhos estavam vermelhos e inchados. Lágrimas rolavam por suas bochechas.

– Daniel... Me desculpa! - disse em meio a soluços.

– Shh... Tudo vai ficar bem. - eu segurei seu rosto frágil com minhas mãos.

Estávamos tão perto um do outro que eu conseguia ver as sardas de seu rosto e o leve balançar de seus cílios úmidos enquanto fechava os olhos.

Meus lábios tocaram os seus, cálidos e macios. Senti uma explosão, uma sensação, a mesma que senti quando a vi pela primeira vez. Enlacei sua cintura enquanto as mãos dela acariciavam minha nuca. Nunca havia me sentido tão vivo.

Nossas bocas se separaram, mas continuamos juntos. Aquele fora um dos melhores momentos da minha vida, senão o melhor. Fez parecer tudo o que passamos havia valido a pena.

Então seus olhos incrivelmente verdes se fixaram nos meus. E me lembrei de onde eu a conhecia.













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Notas finais do capítulo

Gostaram?
No próximo capítulo começa a parte dois! Vou explicar melhor quando postar :)
Beijooos e até a próxima!



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