Duo Reality escrita por Warfighter


Capítulo 13
Capítulo 12- Tortura


Notas iniciais do capítulo

Olááá, tudo bom com vocês pessoal? Está aí o 12! Boa leitura para vocês e até a próxima! :3



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Capítulo 12

Tortura


Tentei desejar ir para outro lugar, mas não adiantou. Era ali que o meu subconsciente queria estar.

Eu deveria ter pensado nisso no chalé. Deveria ter pensado que eles haviam percebido que o meu ponto fraco era Sarah.

Eu havia fracassado.

Millie iria me matar. Isto é, se o governo não o fizesse primeiro.

Um combatente veio rapidamente para cima de mim, tentando me imobilizar. Dei uma forte cotovelada em seu queixo, porém um outro, maior e mais forte, com um brilho assustador nos olhos puxou minhas mãos para trás e as prendeu com uma algema flamejante.

Senti meus pulsos serem queimados e marcados, mas resisti dar um grito. A brincadeira só havia se iniciado.

Eles começaram a me empurrar. Sem os braços para me dar equilíbrio, eu caía no chão como uma jaca. A cada gemido que eu soltava, mais risadas vinham atrás. Eles me socavam, socavam forte em todos os lugares. A essa hora, já havia me acostumado com a dor. Apenas queria que minha morte fosse rápida porque aquilo era torturante.

E iria ficar pior, eu sabia.

Os homens começaram a me arranhar. Eu estava no chão, enquanto aquelas mãos nojentas percorriam meu corpo e feriam, faziam buracos com as unhas.

Estava indefeso, dentro de um jogo.

O maior combatente de todos, vestindo aquele estúpido uniforme cromado – já manchado com respingos do meu sangue – interferiu:

– Acabou a diversão pessoal – ele apontou a enorme metralhadora a laser para mim – para sempre.

Iria acabar, finalmente! Meu corpo não aguentava mais; queria berrar: “Atire!”, mas não tinha fôlego para isso.

Mas então notei seus lábios formando um sorriso de escárnio, pronunciando as palavras: “Como eu fiz com sua mãe.” e aqueles olhos peculiarmente vermelhos.

Ele havia matado minha mãe.

De alguma forma, aquele homem trouxe a adrenalina de volta ao meu sangue e, com um impulso, consegui me levantar. Encostei minhas algemas naquela boca ridícula, que ficou vermelha escuro alguns segundos depois. Chutei forte no meio de sua virilha, fazendo-o produzir um som estranho, mas que certamente significava dor.

Por fim, soltei uma enorme quantidade de saliva em seu rosto. Eu havia me vingado. Pelo menos, um pouquinho.

Ele me fuzilou com o olhar, e se preparava para me fuzilar de verdade. Seu rosto estava tomado pela raiva e pela humilhação, e parecia que fumaça iria sair por suas narinas.

E eu sorri. Um grande e largo sorriso.

Aquele homem deveria ser um voluntário. Na divisão sul, não haviam muitos, mas na norte sim. Divisão da tecnologia, eletrônicos e armas. Devia ser um voluntário, porque combatentes forçados não tinham tantas emoções, como ele estava demonstrando. Foi só um fator que me fez odiá-lo ainda mais: ele tinha consciência do que fazia, e o pior: gostava.

Ele encostou o cano da metralhadora em meu crânio machucado, e podia senti-la esquentar. Então ouvi algo:

– Jackson! - a voz gritava em repreensão – Não pode matá-lo! Sabe quem ele é?

– Não senhor. - Jackson respondeu envergonhado.

Consegui virar um pouco a cabeça e vi: era um homem relativamente alto, que vestia roupas sociais e certamente caras.

– Jackson. Esse garoto é o Dessman.

Grande coisa. Ele sabia o meu sobrenome. Mas, de alguma forma, eles me queriam vivo, por que, logo após ouvirem, os outros combatentes ficaram boquiabertos.

Aquilo definitivamente não era bom.

– Mil perdões, Senhor. - Jackson gaguejava nervosamente.

O homem alto apenas abanou a cabeça.

– Ele está vivo não está? É isso que importa. - ele bufou. - Agora, solte o menino.

Jackson, meu novo inimigo, ficou estarrecido. E o homem tratou-se de explicar:

– Ele está fraco demais para fugir. E se você se sente mais seguro assim, pode escoltá-lo. - ele riu um pouco, debochadamente.

Os outros combatentes se aproximaram de mim, e tiraram a algema flamejante, com um pouco de má vontade e vergonha.

A visão dos meus pulsos foi estonteante. A carne estava queimada, em um tom de vermelho vivo. Eu iria ficar com cicatrizes para sempre. Ah, e doeu demais. Meus pulsos latejavam, pedindo por socorro.

Mas o sádico Alexander Jackson – vi escrito em seu uniforme – não se importava com esse fato. Me pegou exatamente pelo pulso esquerdo – o que mais doía.

O homem bem vestido arrumou seu paletó e pude ver uma plaquinha dourada, na qual estava escrito “L. Thomas.” Concluí que deveria ser uma pessoa de alto escalão, e ir me sequestrar pessoalmente era uma tarefa de grande importância. Percebi que eu deveria ser importante.

Thomas estalou os dedos e virou sua cabeça na direção do rádio relógio afixado a seu pulso.

Ele já está conosco. - sussurrou.

Uma voz masculina lhe respondeu algo inaudível.

– Só está um pouco ferido... - era a voz de Thomas em resposta.

Um pouco ferido? Eu estava praticamente morto! Decidi que também não gostava de L. Thomas, seja lá quem ele fosse.

Uma enorme nave prateada apareceu na frente de meus olhos, ostentando em bom tamanho, a insígnia do governo.

Olhei bem. E fiquei com medo.

Pela primeira vez, em todos aqueles dias, fiquei realmente com medo. Meu corpo e minha alma estavam nas mãos do governo.

E talvez eles encontrassem um destino bem pior do que a morte.

A porta se abriu, e Thomas fez sinal para que entrássemos.

Jackson me puxou pelo pulso e me empurrou para dentro da nave. Cambaleei, mas todos os meus pensamentos se esvaíram quando observei seu interior.

Os bancos eram de couro branco e exalavam cheiro de novos. Painéis cobriam todas as paredes e exibiam botões coloridos e números, que para mim eram aleatórios, mas deveriam esconder algum significado.

Os combatentes se sentaram nos bancos, uns de frente para os outros, e começaram a conversar animadamente, praticamente ignorando o que havia acontecido do lado de fora. Jackson me olhou de relance, e, logo em seguida, se juntou a eles.

Sem a permissão de ninguém, me sentei em um dos confortáveis assentos, bem perto de janela, e fiquei vendo o chão se desaproximar, e a paisagem passar.

Não havia quase vegetação no norte. O pouco que tinha era rasteira, e bem no início, onde eu fora sequestrado. Quanto mais nos aproximávamos da sede, mais poluição e prédios eu via. Não sei por que Seb e meu pai gostavam tanto de lá. Talvez, no chão, em terra firme, houvesse alguma coisa interessante.

Claro que essa viajem durava cinco minutos. Os transportes no norte eram muito mais velozes e modernos. Senti que a nave estava baixando e estava certo: vi o chão acimentado se aproximando rapidamente.

De repente, algo cutucou meu braço, e me virei para ver uma mulher baixinha segurando uma seringa dentro da minha pele. Foi só o que consegui enxergar. Senti um líquido entrando em minhas veias e minhas pálpebras se fechando pesadamente.

Cores... Pareciam fogos. Não me lembrava de estar em nenhuma comemoração. Elas se mexiam, me irritavam.

Abri os olhos.

Estava em uma espécie de enfermaria. Lençóis e cobertores felpudos aconchegantes me cobriam em cima daquela cama com armação de metal. Em sua borda, uma pequena etiqueta continha as palavras: “Daniel Dessman”.

O lugar era pequeno, só haviam mais duas camas. Era repleto de espelhos. Caminhei até um deles.

Todos os ferimentos haviam desaparecido, exceto o dos pulsos. Uma fina linha rosa claro os percorriam. E eu sabia que elas nunca sairiam.

Estranhamente, eu ainda estava com meus jeans rasgados, minha blusa branca e meus all-stars negros. Que eu soubesse, eles tiravam as roupas dos prisioneiros e colocavam trapos surrados em seus lugares.

Mas, pelo visto, eu era diferente.

Nem tanto. Eles confiscaram minha mochila.

No minuto seguinte, vários homens vestidos exatamente como Thomas, adentraram a sala. Eles se trataram de me levar a outro lugar.

Andavam apressados pelos corredores, enquanto seguravam fortemente em meus ombros. Tentei captar o máximo de detalhes que conseguia, mas tudo passava rápido demais, mais do que dava para acompanhar.

Eles abriram a porta de uma sala mais ou menos grande, na qual havia apenas uma tábua de ferro no centro, com um finíssimo colchonete em cima.

Ah, não.

Antes que eu pudesse pensar, já estava completamente amarrado com tiras de couro pelos pulsos e pelos tornozelos na “cama”. Estava vulnerável.

– Agora, - um homem magrelo começou – deseje voltar para a realidade para não termos problemas.

Eu tentei. Só que simplesmente não conseguia. Devo ter feito caretas de esforço e dor, mas não adiantava nada. Havia um bloqueio. Provavelmente proposital.

O adulto suspirou.

– Vamos ter que fazer do jeito mais difícil, Dessman.

Acima de mim, um capacete grande e assustador começou a descer. Tentei me livrar das tiras de couro, mas estas eram resistentes demais. O capacete se encaixou em toda a superfície da minha cabeça tampando minha visão.

Senti um monstrinho percorrendo todo o meu cérebro, pegando e guardando consigo toda a informação ali existente. Tudo.

Maldito.

Um clarão. O capacete retirou-se.

Mundo real.

Eu estava na mesma sala, só que, na minha frente apenas havia Thomas, e um garoto com cabelos loiro escuro de frente para um painel holográfico, nas costas de seu uniforme, eu lia as letras T.B.G. Imagens passavam na tela, e o rapaz as retocava com o dedo.

O garoto se virou para Thomas com seus olhos cinzentos.

– Tudo pronto senhor. - sua voz soava fria como a de um combatente forçado.

Olhos cinzentos. Cabelo loiro. Combatente forçado.

Travis Bartolomew González.

Fiquei triste. Não por mim, não por ele. Por Millicent.

– Pode começar, González. - meu pensamento foi interrompido pela ordem.

Minha visão ficou negra como ébano, e depois, cenas começaram a aparecer.

Minha mãe gritava. Pedia socorro, agonizava. Implorava para eu dar todas as informações que tinha.

Era mentira. Minha mãe não estava mais viva.

As imagens que Travis retocava eram minhas memórias. Nada que estavam me mostrando era real.

Parecia. Mas não era.

Voltei à sala.

Thomas se aproximou de mim:

– Só me diga uma coisa... - ele começou – a localização do seu pai.

– Meu pai está morto. - cuspi as palavras.

Ele apontou para Travis em sinal de que poderia continuar.

Dessa vez era Millie quem sofria. Será que Travis não se lembrava dela? E se sim? Ele não poderia fazer nada. Estava preso.

O rosto de minha amiga estava desfigurado pela aflição, o terror e o medo. Ela chamava, aclamava por ajuda. Seus cabelos roxos estavam cortados - ou arrancados – curtos , e seus lábios estavam secos e rachados. “Dan” ela repetia, baixinho.

Suor pingava de minha testa. Eu tremia como nunca.

– Vou lhe perguntar mais uma vez – a voz nervosa de Thomas ecoou em minha cabeça latejante – Onde. Está. Seu. Pai?

– Ele está morto! - gritei, sem forças. Por que ele não se conformava? Ele morreu! Seria ótimo se estivesse vivo, mas não estava!

– Daniel, Daniel, Daniel. - ele abanava a cabeça em reprovação – Seu pai nasceu nessa divisão. Acha mesmo que o fato dele estar morto seria oculto? Raymond Dessman está vivo. E você sabe onde ele está.

Meu. Pai. Vivo? Felicidade, raiva e curiosidade se misturaram em minha mente fazendo um grande mix de emoções. Como assim?

Não. Não podia ser verdade.

– É mentira. - desafiei-o.

Ele iria pedir para Travis ligar o equipamento novamente, quando a porta se abriu com um estrondo.

Lá estava Sarah, com o uniforme prateado e a metralhadora a laser em mãos.

Ela atirou, e pela primeira vez, não foi em mim.



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Notas finais do capítulo

Ficou bom?