No dia seguinte...

- Uma mulher? – Liam perguntava a Zayn. O Chefe de Segurança entrou no quarto do príncipe e despejou toda a história que havia presenciado na noite anterior. Liam acordara mais cedo, queria esperar os alistados para a Guarda Real já no campo de treinamento.

- É o que eu estou te dizendo! É uma mulher! Uma... Uma mulher muito bonita por sinal... – Zayn falava mais para si mesmo do que para o próprio Liam.

- É melhor não contar este detalhe a papai. Ele não ficaria muito feliz em saber que o maior delinquente dos últimos tempos é uma mulher...

- Ah, sim... Claro. Mas o que vou fazer agora? Não posso machucar uma mulher!

- O melhor seria prendê-la sem machucá-la. Acho que é capaz de pensar em algo Zayn... A não ser que essa mulher seja diferente para você... – Liam levantou uma sobrancelha.

- É claro que ela é diferente! ELA É O LADRÃO NEGRO!

Liam sorriu com o desespero do amigo. Terminou de amarrar a cinto que levava uma espada e uma faca e disse:

- É mais um motivo para a sua consciência não ficar tão pesada. Agora, com sua licença, eu preciso receber um grupo de 60 alistados. – Liam passou sorrindo pelo amigo e o deixou sozinho no quarto.

{ ... }

O campo de treinamento estava lotado de homens fortes e armados até os dentes. Kate chegou ao lugar, já como Kaio, e foi notando aos poucos todos os homens que estavam ali. Havia de todos os tipos e tamanhos; grandes, gordos, magros, pequenos, velozes, mas todos eram definitivamente fortes. Já mostravam suas habilidades, atirando flechas, disputando com as espadas ou só com os punhos mesmo. Kate chegou perto de um grupo que parecia somente conversar, não queria parecer um homem antissocial.

- Olá! – Disse com a voz de Kaio.

- Olá. – Responderam em uma única voz.

- Qual é o seu nome? – Perguntou o mais baixinho deles. Parecia ser o mais marrento também.

- Eu sou Kaio. – Kate mostrou a mão como cumprimento. Quase gritou com a força do aperto de mão do baixinho.

- Sou Wildom, mas todos me chamam de Will. Esses são Thomas e Josh.  – Ele apontou o gordo e o magro, respectivamente.

Kate apertou a mão dos outros dois e logo em seguida ouviram-se as trombetas anunciando a chegada do príncipe. Kate tentou ver quem chegava mais não conseguia, era mais baixa do que a grande maioria dos homens. E então se ouviu uma voz grave e forte:

- Em fila. Ombro a ombro.

Instantaneamente os 60 homens se ajeitaram em uma fila. Kate foi a última a assumir posição, porque não conseguia entrar no espaço entre dois homens. Assumiu o último lugar, no final da fila. 

Só então quando assumiu seu lugar, conseguiu levar o olhar para ver o comandante da Guarda Real.

Sentiu seu coração disparar mais rápido do que jamais havia sentido. Nunca vira um homem tão lindo assim tão de perto. Liam era alto e tinha todos os músculos desenhados milimetricamente. O rosto era forte por debaixo do capacete da guarda, todo o uniforme parecia moldado ao seu corpo. Era uma visão que Kate jamais esqueceria.

Quando Kate voltou a ouvir algo que não fosse o próprio coração, Liam estava dizendo:

- O treinamento será forte e contínuo. Procuramos soldados dispostos a qualquer sacrifício para manter a ordem e a autoridade do Rei. Quero homens fortes que entendam o poder da disciplina e da persistência. Fui claro?

- Sim senhor. – Os alistados responderam em coro.

- Quero nomes, cidades e habilidades.

Liam se dirigiu ao primeiro da fila, e o homem forte e negro logo disse:

- Lewis, Midlands, força e precisão.

Kate pensou no que dizer. Diria “Kaio de Wessex, disfarce”? E além do mais, era provável que a única palavra que viesse a sua mente com Liam tão próximo fosse “Lindo” ou algo do tipo... Liam ia chegando mais perto a cada segundo. 

Quando chegou a vez de Kate ele então disse o que de mais sincero poderia dizer:

- Kaio de Wessex, coragem.

Liam encarou o soldado com uma das sobrancelhas erguidas.

- Vamos ver se sua coragem resiste por muito tempo.

{ ... }

 Enquanto isso, os outros moradores do castelo se reuniam aos poucos para tomar o café. O Rei, a Rainha, Niall, Julie e Louis já estavam sentados.

- Conte-me mais sobre a sua pessoa, Julie. De onde é? – Disse o Rei partindo seu pão.

- Meus pais eram ciganos, viviam em acampamentos. Meu pai faleceu quando eu ainda era criança e minha mãe faleceu há pouco tempo... Então venho procurando um lugar onde posso me firmar... – Julie era uma excelente atriz.

- Entendo. Deve ser ruim não ter raízes... – O Rei se tornou compreensivo.

- Sim... Não quero que meus filhos tenham a mesma infelicidade...

- Pensei que Julie poderia ficar conosco por um tempo, meu pai. Até aprender um ofício que lhe garanta o sustento. – Niall disse.

- Não vejo problema algum. – Disse o Rei – Sabe fazer algo minha jovem?

- Pouco, meu Rei. Mas aprendo rápido. – Julie sorriu.

- Vou pedir que nossas empregadas comecem lhe ensinando coisas pequenas, como costurar e varrer, e então vamos ver como se sai. – Disse a Rainha, uma dama que aparentava ter quase 40 anos.Longos cabelos castanhos-avermelhados e olhos azuis, como os de Niall.

- Obrigada, minha Rainha.

Então Claire chegou a mesa, ocupando seu lugar ao lado de Louis.

- Bom dia! Desculpem o atraso, estava mesmo cansada da viagem. – Estava com seu disfarce.

“Não foi a viagem que a cansou”, pensou Louis.

- Estávamos sentindo sua falta princesa. Seus aposentos lhe agradam? – O Rei perguntou.

- Ah, sim. São ótimos. – Claire sorriu e Louis reparou que dessa vez seus dentes não pareciam tão sujos. Na verdade, seu sorriso mostrava um branco perfeito e todos os dentes ocupavam o lugar certo formando uma harmonia estonteante.

- Claire, querida. Precisamos ajeitar os últimos detalhes da festa de noivado que será daqui a poucos dias. – A Rainha começou dizendo.

- Claro, minha Rainha. Acho que preciso conversar com Louis antes, para saber o que é de agrado dele... – Claire olhou para Louis que ainda a encarava intrigado.

- Hm... Tudo bem. Termine seu café e podemos conversar.

{ ... }

Harry ainda estava deitado na cama. Era comum que não tomasse café com a família, porque sempre acordara tarde, mas essa era a primeira vez que perdera a refeição porque se perdia em pensamentos. Tinha as imagens de Lili tão fortes em sua cabeça, que era quase possível tocá-la. Os olhos, cabelos, todo o corpo dela o impressionava... Mas as suas palavras, as poucas que disse, ecoavam ainda mais pela sua mente. “Por que a dança era a única coisa que tinha?”. E aos poucos Harry se perguntava ainda mais sobre a garota, queria saber quem era, queria saber qual história ela tinha pra contar, e queria descobrir porque ela era tão diferente das outras.

{ ... }

- Não me interessa se foram dormir tarde e acordaram cedo. Não me interessa se passaram as últimas 40 noites em claro! – Liam passava caminhando lentamente por entre os alistados que repetiam a série de flexões. Já se passavam de 80 pelas contas de Kate – Eu preciso de homens que não precisem descansar! Força!

Kate estava cansada, os braços, magros por debaixo de todas aquelas blusas de lã, já tremiam.

Os alistados já haviam corrido por uma hora, arremessado discos – os arremessos de Kate provocaram risos -, nadado e agora faziam uma série de exercícios no chão.

Ao lado de Kate, um brutamonte fazia aquilo tudo sorrindo. Ele havia gozado de Kate a manhã inteira e, por querer, moveu uma das pernas fazendo com que Kate se desequilibrasse.  Liam viu o que havia acontecido e se dirigiu até os dois:

- Mais uma dessas e você está fora. – Disse ao brutamonte.

- Obrigad... Obrigado. - Disse Kaio.

- Não estou aqui pra te defender. Se não é capaz de se firmar diante de 60 homens, como pretende sobreviver em uma guerra?

Liam se levantou.

- Atenção. – Disse a todos. Os homens se levantaram e assumiram posição de sentido. Inclusive Kate, que lutava para não deixar as lágrimas caírem – Os que foram capazes de continuar... – Ele olhou para Kate e voltou a dizer:

- Venham amanhã com trajes e pertences. Montarão acampamento aqui, para participarem de treinos diários a qualquer momento. Aqueles que forem capazes de deixarem o aconchego dos lares, para viver em um treinamento constante, serão recebidos.

 Liam disse isso e foi embora.  Kate não sabia se iria voltar.

{ ... }

- Onde podemos conversar? – Louis perguntou a Claire quando os dois saíram andando pelos corredores depois do café da manhã.

- Podemos sair um pouco daqui do castelo? Vocês tem uma linda floresta em volta...

Louis não se opôs. De fato a floresta que circulava o castelo era linda. Sempre ficava por lá quando mais jovem, mas desde que tivera de assumir os compromissos reais junto ao pai, não tinha mais tempo, e nem ânimo, para ir até lá. Mandou que preparassem dois cavalos.

Quando terminaram de descer as escadas da entrada do castelo, Louis se perguntou se teria de ajudar Claire a montar. Ela parecia tão desajeitada que tinha medo que montasse que um lado no animal e caísse do outro logo em seguida. Mas para sua surpresa, em um movimento nada desajeitado - estava mais para gracioso, ela montou e perguntou a ele:

- O que foi?

- Estava me perguntando se precisava de ajuda para montar, mas pelo visto monta há muito tempo... – Ele montou seu próprio cavalo e os dois começaram a andar.

Claire sorriu tímida.

- Posso ser desajeitada com formalidades e com todo o resto, mas quando se trata de animais e ar livre, sei me cuidar muito bem. – Claire parecia à vontade em cima do animal, fazia carinho em sua crina e dizia as palavras com leveza. Louis não havia reparado neste jeito dela.

- Também gosto muito da natureza. É uma pena não ter mais tempo pra vir aqui sempre.

- Entendo... Mas se eu fosse você, não ficaria esperando a hora certa pra vir aqui, até porque não existe hora certa pra se fazer o que gosta... Eu simplesmente viria.

Louis se perdeu revisando as palavras de Claire. Eram simples e faziam todo sentido. Ele sorriu dizendo:

- Você está certa... Bem, temos que pensar em algumas coisas sobre a festa...

- Verdade. Eu sinto muito, mas não sei absolutamente nada sobre festas assim... Tão nobres. Meu Pai sempre teve muitas empregadas dispostas a cuidar de tudo, eu só tinha que entrar no vestido novo... – Claire disse se divertindo. E acabou divertindo Louis também.

- Então posso dar carta branca para que minha mãe cuide de tudo? – Louis estava impressionado com o desprendimento de Claire. Ela era a primeira jovem nobre que conhecia que não vinha junto com sua lista de exigências.

 - Ah, me faça esse favor!

 Uma reunião para discutir detalhes do casamento virou um passeio com uma conversa leve e divertida. Era fácil para Louis se divertir com as coisas que Claire contava, hora ou outra ela descia do cavalo para pegar uma flor ou comer uma fruta do pé. Parecia uma criança se divertindo, se sujava sem medo, andava com os pés descalços e sorria como se estivesse acabando de descobrir um mundo inteiramente novo. Louis acabara de perceber que estava conhecendo uma Claire inteiramente nova.