23 de novembro de 2013.

New Haven.

"Vai, Percy!" gritou Rachel Berry, fazendo com que várias cabeças se virassem em sua direção. Mas a garota não pareceu se importar. Ela estava entretida demais lendo "O Último Olimpiano" e torcendo para Percy Jackson matar o titã Cronos. Sua expressão se fechou quando Ethan Nakamura morreu, mas ela estava curiosa demais para ler o fim da história para analisar o que a morte daquele semi-deus significava.

"Senhorita? O trem parou" disse o senhor sentado ao lado de Rachel.

A morena levantou a cabeça e constatou que ele estava falando a verdade. Rachel sorriu. Porque sua chegada a New Haven era a única coisa que a faria largar seu livro na parte mais importante, e ir se encontrar com uma das pessoas que ela tinha o enorme prazer de chamar de amiga. Quinn Fabray. Rachel se mudara para Nova York logo depois de sua formatura, e estava morando há um ano em um dormitório da Universidade. Antes das aulas começarem, a morena ligava todos os dias para os seus melhores amigos, Kurt e Mercedes. Ela também falava muito com o Finn, e estava sempre trocando mensagens com Quinn Fabray. Entretanto, depois que as aulas em NYADA começaram, a única pessoa com que Rachel conseguiu continuar falando normalmente era a loira. E fora assim desde então. Rachel ainda tinha contato com seus antigos amigos, mas eles não se falavam com tanta frequência. A única que realmente permanecera em sua vida era a Quinn.

Ainda parecia surreal para Rachel que as duas fossem amigas, mas a cada dia elas pareciam ficar cada vez mais próximas, o que é uma grande irônia se você considerar a distância em que uma está da outra. Mas Quinn sempre liga para Rachel, e Rachel sempre retorna as ligações quando não podia as atender na mesma hora. Elas conversam por Skype no fim de semana, comentam nas atualizações uma da outra no Facebook, e se mandam replys no Twitter com piadas internas com uma frequência absurda. Às vezes, quando Quinn sentia saudades de casa, ela pedia para a morena cantar para ela pelo telefone. Às vezes, quando Rachel ficava com saudades de casa, ela comprava uma raspadinha e tirava uma foto sua tomando-a, e enviava prontamente para Quinn, que via a foto e soltava boas gargalhadas.

O casamento do senhor Schuester com a Pillsbury estava se aproximando, e seria dois dias depois do Ação de Graças. Rachel achou que poderia usar o passe de metrô que Quinn lhe dera, e as duas passariam o Ação de Graças juntas –– porque os pais de Rachel tinha enfim tirado férias e Quinn estava sozinha em New Haven –– e, juntas, elas voltariam para Lima e presenciariam o casamento do seu professor favorito com a melhor –– e única –– conselheira do McKinley. Rachel desceu do trem, pegou sua bagagem e entrou na estação. Seu coração começou a bater mais rápido, mas ela não viu nenhum sinal de Quinn.

Será que ela esqueceu?

Ela disse que estaria aqui.

Mas...

Pelo amor de Deus, Rachel, você mandou milhões de mensagens.

E ainda assim, ela pode ter esquecido.

Você é a amiga dela, Rachel. Ela não esqueceria.

Mas...

Ela só deve estar atrasada. Controle-se!

Sim... Sim, você tem razão.

Eu sempre tenho razão.

Convencida.

Eu sei.

"Com licença, senhorita?" perguntou alguém, tocando no ombro de Rachel e a tirando de seus devaneios. "É que eu deveria me encontrar com uma amiga, só que ela é muito baixinha. Eu realmente não a reconheço quando ela usa salto alto, então você pode me ajudar?"

Rachel sentiu seu coração bater com força contra seu peito e um enorme sorriso se abrir em seu rosto. Ela se virou na direção da voz, e ela estava parada na sua frente. Quinn Fabray. Rachel prendeu a respiração por alguns segundos. Como Quinn podia parecer ainda mais bonita? A morena não sabia, e honestamente não se importava. Quanto mais bonita ela ficasse, mais Rachel poderia admirá-la.

"Hum... Não, desculpe, eu realmente não vi nenhum anão passeando por aqui. Talvez você deva procurar na casa da Branca de Neve, ou pedir informação para o Frodo..." comentou Rachel, dando de ombros.

Quinn balançou a cabeça, caiu na risada e puxou Rachel para um longo abraço. A baixinha retribuiu empolgada, e notou o quanto se sentia bem ter os braços de Quinn ao redor de seu corpo.

"Que cena mais linda" comentou uma voz carregada de sarcasmo. "Sabe onde ficaria ainda mais lindo? Em um quarto de motel"

Rachel virou a cabeça rapidamente e viu Santana Lopez parada ao lado de Quinn. A garota balançou a cabeça e riu, para logo em seguida dar um abraço rápido na latina, que por algum milagre, retrubuiu. A verdade é que Santana Lopez realmente gostava de Rachel Berry, e realmente sentira falta dos seus monólogos irritantes. As duas moravam em Nova York, mas a única vez que se viram foi quando se encontraram por coincidência em uma Starbucks. Quinn fuzilou Santana com os olhos pelo comentário inapropriado da amiga. Não que isso fosse uma surpresa, de qualquer forma. Santana Lopez dominava a arte da incoveniência.

"E pode parar com esse olhar de tigre, Fabray. Não tenho medo de você ou da sua namorada"

"Namorada?" pergunto Rachel, sentindo seu queixo cair e seus olhos se arregalarem. Como assim Quinn Fabray tinha uma namorada?

"Com ciúmes, Berry?" perguntou Santana, caindo na risada.

"Eu não tenho namorada!" exclamou Quinn irritada.

"Ih, Berry, parece que a Fabray acabou de te dispensar no meio da estação. Que merda, hum?"

"O que?" perguntou Rachel, completamente confusa. "Ela acabou de me dispensar? Como assim?"

"Ela quis dizer que você é a minha namorada, Rach" disse Quinn, revirando os olhos e tentando fazer pouco caso da piada, mas suas bochechas estavam levemente coradas.

"Oh..." disse Rachel, sentindo seu próprio rosto ficar vermelho.

A tensão passou assim que as três garotas escutaram gritos, não muito distante delas. Rachel franziu o cenho, Quinn olhou ao redor e Santana xingou quem quer que fosse em espanhol. Mas logo o motivo foi explicado: havia uma equipe de filmagem na estação, e quem estava gravando era ninguém mais, ninguém menos, que Ellen DeGeneres. A boca de Rachel escancarou.

"Admirando sua ídola, Berry?" perguntou Santana maliciosamente.

"Meus pais adoram essa mulher. Não perdem um programa, sério! Se eu conseguisse um autográfo, seria o melhor presente de todos!" exclamou Rachel empolgada. "Podemos ir até lá? Por favor?"

"Claro" disse Quinn, dando de ombros. Santana a encarou boquiaberta.

"Então a Ru Paul é a mulher da relação? Nossa, Fabray, não pensei que você fosse ser domesticada assim tão fácil" disse Santana sarcasticamente, fazendo Quinn revirar os olhos e Rachel corar novamente.

"Por que eu não seria a mulher da relação? Eu sou muito feminina" resmungou Rachel.

Santana caiu na gargalhada. Quinn deu um soco de leve em seu ombro, só que isso apenas fez que ela risse ainda mais. Rachel ficou emburrada e fez um bico enorme, que desapareceu de seu rosto assim que Quinn passou a mão pelos seus ombros e, ignorando uma Santana quase morrendo de tanto rir, foi andando em direção ao local em que o público estava.

"Eu só não entendo o que exatamente ela está fazendo aqui" disse Rachel baixinho.

"Algum quadro para o programa?" sugeriu Quinn.

"Não. Eu quis em New Haven"

"Agora você me pegou" disse Quinn. "Vamos nos aproximar o máximo que pudermos, talvez a gente descubra o que está acontecendo"

As duas se juntaram à multidão, e logo em seguida, Santana Lopez se juntou a elas. Santana não estava mais gargalhando, mas tinha um sorriso muito maligno estampado em seu rosto. Quinn e Rachel se entreolharam, e antes que qualquer uma das duas pudesse dizer alguma coisa, Santana se meteu no meio do povo e tentou se aproximar mais do lugar em que Ellen estava.

"Por que eu tenho uma péssima sensação sobre isso?" perguntou Rachel, soltando um pequeno gemido.

"Ela não vai fazer nada" disse Quinn, embora não estivesse muito segura. "Quero dizer, mesmo que ela quisesse, quais as chances de Ellen DeGeneres sequer ouvi-la com essa quantidade de gente?"

Essa resposta foi respondida dez minutos depois, quando a multidão se dividiu para dar passagem a uma Quinn muito irritada, e uma Rachel que não sabia onde esconder a cara. A câmera estava apontada diretamente para os seus rostos, e Santana estava parada ao lado de Ellen, o sorriso maligno ainda estampado no rosto, e seu dedo apontando na direção das garotas.

"Vamos Rach, Quinn, não sejam tímidas" disse Santana, contendo-se para não cair na risada.

Ela nos chamou de Rach!

Foda-se. Pelo amor de Deus, o que ela disse para Ellen?

Eu não faço ideia, estava distraída demais com o braço de Quinn em meus ombros.

O toque dela faz nosso estômago revirar.

E esses olhos? Eu nunca reparei como eles são bonitos.

E é impressão minha, ou o sorriso dela parece mais... Mais radiante?

Ela é tão linda!

Ela sempre foi linda.

Mas agora é diferente.

Será que...

Não, você também não!

Ora, foi só um pensamento. Além do que, faz sentido.

Não faz sentido nenhum! Quinn Fabray é uma garota.

A garota com a qual você não consegue ficar um dia sem ter algum contato.

Mas... O que diabos você quer dizer com isso? Você está insinuando que estamos afim de Quinn Fabray? Enloqueceu?!

Pelo amor de Deus, você fica toda animada porque a Quinn Fabray quis ser sua amiga! E tudo que ela fazia sempre te deixava para baixo.

Isso não é verdade.

Claro que é. Ou você não lembra? Todas as vezes que a Santana nos insultou, todos os banhos de raspadinha... Nada disso se comparada a dor que sentíamos quando Quinn nos xingava no MySpace, ou quando ela nos desprezava, ou quando ela fazia aqueles malditos desenhos pornográficos e as caricaturas.

As caricaturas!

Sim, elas também magoavam.

Não, não foi o que eu quis dizer. Ela fazia corações ao redor da caricatura!

É verdade! Será que ela sente o mesmo por nós?

Como assim "Será que ela sente o mesmo por nós?", nós não sentimos nada por ela! Quinn é uma A-M-I-G-A, só isso!

Então porque ela é a única do clube do coral com quem mantemos contato? Porque deixamos de atender as ligações do Finn para atender às dela? Porque ligamos para ela quando nos sentimos só, ou porque pensamos nela quando sentimos saudades de casa? Como você explica ter ficado nervosa a semana inteira por causa da expectativa de vê-la novamente, ou sentir seu coração dilacerar dentro do peito quando você não a viu na estação te esperando...

Você está exagarando!

Ou quando ela sorri para você e você esquece seu nome, ou...

Ei, espere aí, eu não esqueço meu nome quando ela sorri para mim!

"Rachel, você está bem?" perguntou Quinn, abrindo um sorriso constrangido. "Sinto muito pela Santana"

Rachel? Quem é essa vadia que está atrás da minha Quinn?

É você, sua idiota!

Não, meu nome não é Rachel, meu nome é... Olhe, ela está sorrindo novamente!

Qual seu nome?

O que?

Qual o seu nome?

Barbra Streisand.

Não, você não é a Barbra Streisand. E ainda diz que não esquece seu nome quando ela sorri.

Ah, cala essa boca!

Seria um enorme prazer se Quinn a calasse por nós.

Eu estou falando sério!

E eu também.

"Rach?" chamou Quinn.

Responda, sua idiota!

"Ein... Ah, sim, essa sou eu" comentou Rachel abobalhadamente. Quinn mordeu o lábio inferior, tentando não rir. Rachel achou aquilo extremamente sexy.

"Vamos, garotas, venham para cá" chamou Santana.

"É, nós estamos doidos para ouvir sua história de amor" disse Ellen DeGeneres, abrindo um grande sorriso.

"Espera aí" disse Quinn, de olhos arregalados. "Você disse história de amor?"

"Ah, sim, sua amiga estava dizendo que vocês não tiveram coragem de sair do armário no colegial, mas que agora, longe da cidadezinha em que moravam, vocês enfim assumiram uma relação. Isso é tão bonito! Contem um pouco mais!"

"Não queremos atrapalhar seu programa" apressou-se a dizer Rachel, tentando ao máximo fugir daquela situação.

"Ah, mas esse é o novo quadro. Nós vamos até aeroporto, estações, paradas de ônibus... Qualquer lugar em que possamos encontrar uma linda história de amor. E a de vocês vai ser a dessa semana. Venham, contem-nos um pouco mais"

Santana saiu de perto da Ellen e veio puxar Quinn, que ainda estava com o braço ao redor do ombro de Rachel. A loira corou ao perceber que aquilo só reforçava a imagem que Santana estava tentando passar.

"Eu vou te matar, Santana" murmurou Quinn entredentes. "E se meus pais virem isso?"

"Ora, Q., você não acha que alguma vez já enganou alguém, certo? Aposto que até sua mãe já percebeu que você joga para o lado colorido da força"

"Mas eu não sou lésbica" disse Quinn indignada.

"Continue dizendo isso e talvez um dia você se convença. Agora ande logo e traga a hobbit com você. Temos uma linda história de amor para contar"