Meu Quase Melhor Amigo escrita por JéssicaSuhett


Capítulo 3
O3 x O1




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Milhares de coisas passavam em minha cabeça, lembrei-me de quando era pequena, e os alunos do St. Marta juntaram-se para me humilhar, as crianças, podem ser tão cruéis quanto adolescentes. Havia um garoto que me perseguiu durante anos, me chamando de barril e filhote de elefante. Carl James tornou meu secundário um inferno! Quando estávamos na nona série, ele pareceu me esquecer durante esse período. Foi quando as coisas começaram a melhorar para mim, não foi uma grande mudança.  Porém, as humilhações diárias tornaram-se semanal e depois era quase inexistente.

Ao assistir séries policiais, sempre ouvia algo do tipo: "Mate primeiro, pergunte depois." Ou no meu caso é "Bata primeiro, pergunte depois". E mesmo acreditando que tenha exagerado na auto defesa, não conseguia me sentir culpada. Quando vi um Carl James me olhando espantado, com os lábios sangrando e os olhos avermelhados. O olho direito provavelmente ficará roxo, não que eu esteja me importando muito.

Os alunos de repente, pareceram sumir, correndo desesperadamente para as aulas de aula. Carl havia soltado os meus braços, deixando-os fora de seu aperto. Respirei aliviada, e estava prestes a mandá-lo pastar quando uma voz falou atrás de mim:

— O que está acontecendo aqui? — Engoli seco, a diretora estava raivosa. Fiz minha melhor expressão: "Não fui eu".

— Ele me agarrou! — Apontei para Carl, que me olhou espantado — Eu só estava me defendendo.

— Eu não seria louco a esse ponto. — Ele defendeu-se.

— O que foi que disse? — Estávamos ignorando completamente a presença da Diretora Hopkins.

— O que você está pensando? Posso ter milhares de defeitos, mas tarado não. — Carl justificava-se. — Você é uma louca que agride as pessoas.

— Eu não precisaria te agredir se você não fosse um drogado. — Rebati, estávamos quase gritando ao meio do corredor, com a diretora apenas nos encarando.

— Para sua informação, eu não gosto de garotas gordas. — Carl James definitivamente iria morrer.

— Do que você me chamou? — Meu rosto estava simplesmente vermelho, eu podia sentir as mãos trêmulas e a necessidade de esmurrá-lo novamente.  — Repete. — Respirei fundo e esperei.

— Além de gorda é surda? — Ele riu sarcasticamente, as sobrancelhas juntas como se perguntasse o que eu faria. — “G – O – R – D – A”. — Ele repetiu vagarosamente. Eu já não enxergava nada em minha frente, apenas uma palavra piscava em vermelho em minha cabeça: “Mate Carl James”. E eu estava realmente disposta a ouvir minha consciência. Até que a diretora, cansada com nossa escandalosa briga em meio o corredor, resolveu se intrometer.

— Os dois, diretoria agora! — Ordenou, sua face estava sobrecarregada em fúria, meu corpo sofreu espasmos antecipadamente. Diretoria Hopkins era conhecida por ser uma pessoa rígida.

— Viu o que você fez? — Voltei a falar alto com Carl James. — Ela vai nos advertir. Eu nunca fui para a direção, você definitivamente manchou meu currículo escolar.

— Eu? Foi você que começou tudo! — Ele apontou para mim, nossas vozes estavam novamente elevadas. A diretora mal nos olhava. — Você bate em todas as pessoas que tentam se aproximar de você?

— Não, esse tratamento carinhoso reservo para os idiotas. — Respondi completamente sarcástica. — Você teve sorte, pois eu iria acabar com você!

— Talvez, eu preferisse você me esmagando a ir para a sala da direção. — Ele resmungou de volta.

— Se você não tivesse me agarrado... — Eu voltava a repetir quando a diretora parou e virou-se para nós, analisou-nos e então disse:

— Chega! Calados. Mais uma palavra e aplicarei uma advertência em vocês. — “Puxa, ela está mesmo zangada” pensei. Eu jamais havia visto esse lado da diretora, meu comportamento sempre foi exemplar. Bem, até hoje.

— Entre e me esperem calados. Se escutar a voz de vocês... — Ela saiu nos deixando a sós.

Encarei James e ele estava com os olhos esbugalhados, enquanto olhava um ponto imaginário a cima da mesa da diretora. Seus lábios estavam começando a inchar, e envolta dos olhos um leve tom avermelhado tornava-se visível.

Eu roia as unhas, enquanto Carl, que se encontrava sentando ao meu lado fiscalizava a sala com os olhos, ele abriu a boca talvez ele fosse falar algo, e então como se um clique tivesse brotado em sua mente, ele voltou a fechá-la.

Estávamos ansiosos, aquela briga em meio aos corredores poderia nos causar danos irreversíveis. Talvez mais para Carl, do que definitivamente para mim. Ele havia acabado de reingressar ao St. Marta, sua ficha não estava realmente limpa.

Sentei-me corretamente, ao notar um clique na porta. Engoli em seco, ao perceber que algumas folhas estavam nas mãos da diretora. Seria um aviso oficial de que estaríamos expulsos? John realmente iria ficar desapontado. Encolhi os ombros, meus dedos mexiam nervosamente na barra da minha blusa. Eu pude notar que Carl estava tomando um tom esverdeado na pele. A diretora nos encarou e eu voltei a engolir seco.

— De fato, ofensas foram trocadas em meio ao corredor dessa instituição de ensino. Ambas as partes estão erradas. E eu não quero saber quem começou ou não. Os dois irão pagar de alguma forma. De Carl James eu poderia esperar tudo, ele nunca foi um aluno prestigioso, sempre trouxe dor de cabeça para a escola, agora você Lola, aluna aplicada e centrada, jamais esperei isso de você. Foi uma decepção. — Ela suspirou, seus olhos em mim, estavam lastimosos, e eu quis chorar. Eu havia decepcionado mais uma pessoa. — Eu tive que tomar uma decisão imediata, não me importa se vocês não concordaram.  Vocês dependem disso se quiserem continuar no St. Marta. — Ela encarou a nos dois. Carl suspirou aliviado, ele não iria ser expulso da escola novamente.

— Diretora, eu juro que não estava fazendo nada em má fé, apenas estava tentando fazer o que a senhora recomendou. Procurei a melhor aluna que essa escola tem, para me ajudar. Mas ela reagiu de uma maneira brusca e selvagem me pegando de surpresa. — Carl começou a falar, porém a diretora mandou-o calar-se com um aceno de mão. “Procurei a melhor aluna que essa escola tem”. Ele realmente acha que eu sou a melhor aluna da escola? Minha mente estava trabalhando em velocidade máxima, tentava compreender sobre o que eles estavam falando.

— Lola. — A diretora chamou meu nome me fazendo sair do meu estupor e olha-la. — Carl James, foi expulso dos Snakes definitivamente. O treinador acredita que ter um usuário/vendedor de drogas no time da escola, influenciará aos outros garotos. — Eu não conseguia entender onde ela estava querendo chegar. — Sem vaga no time, Carl James perde uma grande oportunidade de ingressar a uma faculdade. Você sabe que alunos que participam de atividades extras, ganham uma pontuação melhor. O único coringa de Carl era o futebol e ele perdeu. — Carl apenas mantinha-se calado, seu rosto estava corado. Vergonha? Talvez. — Eu o mandei lhe procurar, pedir sua ajuda. Porém, nós realmente não esperávamos toda essa agressividade.

— Diretora... — Comecei a falar, porém fui interrompida.

— Ainda não terminei Senhorita Collins. — Voltou a falar. — Esperávamos que você pudesse ser a monitora de Carl James, ajuda-lo a escolher novas atividades extracurriculares para o sistema de pontuação. Porém, após esse episódio, tomei a decisão de que vocês irão participar do jornal da escola.

— Mas diretora, eu treino xadrez para as competições trimestrais. — Lhe informei. — Não terei tempo para fazer parte do jornal.

— Senhorita Collins. Sinto em lhe informar, mas você está proibida de participar esse trimestre. Como punição por seu comportamento, você está expulsa da competição. — Meus lábios abriram-se em choque. Eu estava expulsa! Eu ouvi bem?

— Mas... Mas desse jeito o St. Marta ficará sem representante. — Argumentei.

— Já temos um novo representante Lola. — Ela disse calmamente. — Carl James joga xadrez perfeitamente bem, e como precisa de pontuação extra, resolvi que esse ano ele irá representar a escola. — Um zumbido instalou-se em meus ouvidos, e nada do que ela falava conseguia penetrar, apenas observava sua boca mexer-se, porém nenhum som podia ouvir. Ela estava brincando, certo?

— Mas é um absurdo! Eu venho representando o St. Marta dois anos seguidos, e somente perdi o jogo uma vez. Você está tirando minha pontuação e dando para ele! — Acusei.

— Você tem feito muitas atividades extracurriculares, não acredito que isso vá lhe afetar de fato. Sua participação no jornal da escola também lhe renderá pontos, porém você terá que ficar mais perto de Carl.

— Eu não posso aceitar. — Respondi entre dentes. Carl revirou-se em sua cadeira, seus olhos continuavam vidrados em algo imaginário.

— Se você não aceitar, a escola irá lhe expulsar, seu currículo escolar ficará manchado e nenhum instituto de educação particular irá lhe aceitar, você irá para uma escola publica e perderá todas as suas pontuações. — Eu não estava ouvindo aquilo, por causa daquele idiota eu estaria sendo enxotada da escola que estudei durante anos.

— Carl James foi expulso e está aqui hoje! — Apontei para ele, que sequer me olhou. — O que me diz sobre isso?

— Não há provas conducentes sobre a posse de drogas do Sr. James. — A diretora disse ríspida. — A escolha é toda sua, ou aceita ajuda-lo ou será expulsa. — Ela repediu, minha cabeça estava fazendo milhares de voltas, eu teria que tomar alguma escolha, porém não sabia qual era a melhor. Eu não estava satisfeita de ter que aturar o peso morto de Carl James, entretanto não queria ser expulsa.

— Eu ajudarei. — Respondi mal humorada.

— Tenho certeza que vocês irão se dar bem juntos. — Um sorriso encorajador brotou em seus lábios. — Apenas mantenha a calma, e procurem se conhecer.

— Tudo bem. — Eu disse derrotada,  meu inferno particular estava apenas começando.

— Ótimo! Agora você está dispensada Senhorita Collins.

— E ele? — Apontei com a cabeça, enquanto me levantava.

— Ainda temos assuntos a resolver. Tenha um ótimo dia. — Ela desejou, quando me viu abrir a porta.

Ótimo dia? Ela estava realmente falando sério? Ela apenas estava me forçando a conviver com a pessoa que mais me humilhou no St. Marta, e achava que nos daríamos bem. Só poderia ser um pesadelo ou uma pegadinha de primeiro de abril.

Minha cabeça estava estourando de dor, tudo que conseguia pensar era em várias maneiras de matar Carl James. Logicamente a culpa por estarmos nessa situação era somente e totalmente dele. Enquanto caminhava de volta à sala de aula, lembrei-me que teria prova de física, talvez nada daquilo pudesse ficar pior. Minha cota de azar deveria estar zerada nesse momento.

Porém ao virar-me no corredor, constatei que definitivamente deveria ter ficado em casa. Ter inventado qualquer doença ou febre apenas para evitar o dia de cão que estava tendo. A alguns passos de distância estava Cherry, a rainha das najas. O uniforme bem passado e limpo, os cabelos presos em um rabo de cavalo bem seguro. Os lábios brilhavam em um sorriso maldoso. Tentei dar meia volta, porém havia sido tarde demais, ela tinha me avistado e andava em minha direção.

— Veja Son sé non é a irrrmazinha de Georrrginá. — Ela encarou-me de cima a baixo. — Sabe adorrei aquelé videon de sue risade. Uma grrrracinha. — A encarei confusa. — Oh! Você non vio? — Ela fez uma cara de pena, e logo depois começou a rir escandalosamente.

Antes que a diretora Hopkins pudesse novamente fazer sua ronda pelos corredores e me ver, resolvi ignorar a presença de Cherry. Há muito tempo eu havia desistido de me importar com as piadinhas de dela. Eu ficava magoada e até mesmo chorava, no começo. Porém, depois de algum tempo eu comecei a levar na esportiva, para mim tornou-se uma brincadeira, só que “sem graça”. Aprendi que não me importava a opinião dos outros, mas sim o que eu sentia. Eu apenas não tolerava ser chamada de gorda no tom ofensivo. Isso fazia meu sangue subir à cabeça.

O sinal tocou e vários alunos fizeram à troca de salas, alguns grupinhos passavam por mim, e começavam a rir, alguns alunos agiam menos discretos e apontavam... Mas só foi ao ouvir um “ronc, ronc, ronc” que entendi o motivo das risadas, e o porquê de Cherry vir com aquela conversa estranha sobre vídeo. Georgina havia gravado a minha risada, e colocado para todos os alunos do St. Marta ouvir.

Novamente eu seria humilhada, e nada poderia fazer. Quando os auto falantes da escola voltaram a chiar, e uma risada conhecida espalhar-se por todo o corredor, todos voltaram a rir novamente. Eles estavam rindo de mim, e da minha risada idiota. Eu apenas apresei meu passo enquanto tentava chegar do lado de fora, não havia mais pique para assistir aula alguma. Eu queria ir para casa, deitar em minha cama, e apagar o dia da mente.

Eu estava simplesmente sendo massacrada, todos apontavam e riam forçando o “RONC” igualmente ao som que era reproduzido repetidamente nos autos falantes. Estava quase chegando à porta, quando alguém vestindo uma mascara de porco pulou em minha frente, me assustando. Todos voltaram a rir, enquanto faziam uma rodinha em minha volta. Era ridículo o modo infantil com que os alunos estavam usando para me ferir. Porém, eram pessoas demais para empurrar e conseguir sair de lá. Eu apenas me abaixei, tampando os ouvidos, eles iriam cansar alguma hora. Porém a cada instante chegava mais alunos, alguns me olhavam com olhos de pena, outros de deboche e os outros imitavam a minha risada.

Eu podia sentir meus olhos ficarem úmidos, e um desespero despertar em meu peito. Eu entendia que aquilo era bullying, e que era proibido, porém não conseguia encontrar a minha voz, parar dizer para eles pararem. Eu, que sempre fui tão dona de mim, estava sem voz, estava aceitando aquilo sem conseguir rebater, apenas me abracei em covardia.

— Vamos, pegue minha mão. — alguém disse, e então uma mão surgiu em minha frente. — Vamos sair daqui. — Sem conseguir ver quem me estendia a mão, apenas a segurei e me senti ser puxada para fora dali. E finalmente me permitir chorar, mesmo que na frente de um estranho. Eles haviam conseguido me fazer sentir como eu não me sentia há anos. Um nada. Eu estava de volta à estaca zero.

— Um agradecimento não cairia mal. — o dono da voz voltou a dizer depois de alguns minutos.


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