Me sinti a pior pessoa do mundo. Tratei Peeta tão mal sem saber o motivo. A minha primeira e única reação foi abraça-lo forte e não soltá-lo mais.

– Sinto muito Peeta, sinto muito mesmo. – enterrei o rosto em seu ombro.

– Não precisa se desculpar Katniss, eu que preciso. – ele passou a mão em meus cabelos.

– Por que você faz isso? – tirei o rosto de seu ombro, mas não o soltei.

– Isso o quê? – ele olhou em meus olhos.

– Por que você é tão bom comigo? Mesmo eu estando errada você assume a culpa e eu sou uma idiota!

– Não é não. Você não sabia e eu te dou toda a razão, eu te tratei mal ontem.

– Eu me sinto a pior pessoa do mundo. – coloquei o rosto em seu ombro de novo. – Desculpa mesmo Peeta, eu só quero meu melhor amigo de volta.

– Você já tem. – suas mãos percorreram minha cintura e eu senti as peninhas voltarem a fazer cócegas no meu estômago de novo. Haymitch bateu na porta.

– Queridinha, vai demorar muito? Você vai ser a primeira. – disse Haymitch batendo na porta.

– Estou indo Haymitch. – me soltei de Peeta e fui para a porta.

– Vocês podem namorar quando voltarem. - Haymitch olhou para Peeta que deu risada.

– Obrigado Katniss. – disse Peeta piscando para mim.

– É pra isso que servem os melhores amigos. – pisquei de volta para ele e sai do quarto.

Cheguei no meu quarto e fui direto para o closet. Peguei minha roupa de treinamento na prateleira, me vesti, coloquei as botas e fiz uma trança em meu cabelo. Antes de sair, peguei o broxe do tordo dentro da jaqueta de meu pai e prendi no meu uniforme. Sai e todos já estavam prontos me esperando. Seguimos para o andar de treinamento individual e sentamos no grande sofá cheio de tributos. Percorri os olhos no sofá e vi Cato, Clove, Glimmer e Marvel cochichando e rindo e Finnick com os tributos de seu Distrito. Começamos pelo Distrito 12.

– Katniss Everdeen – uma mulher me chamou e dois Pacificadores me guiaram até a sala.

Entrei e me deparei com uma estante de armas, uma bancada de camuflagem e todas as outras coisas que tinha no centro de treinamento em grupo. Pensei rápido no que iria fazer. Peguei o arco e as flechas para atirar. Logo de primeira acertei, mas não satisfeitos, os Idealizadores me olharam com cara de desgosto.

– Você acertou bem no alvo, o que isso tem de impressionante? – uma voz grossa e rouca. Snow apareceu em meio aos Idealizadores. Todos deram risada da sua “piada”, Snow começou a conversar com Seneca Crane e todos se distrairam.

– O que isso tem de impressionante? – resmunguei pegando algumas facas na bancada.

Me posicionei de frente para os Idealizadores e mirei bem no encosto da cadeira de Snow enquanto ninguém prestava atenção em mim. Respirei fundo, centralizei toda a minha raiva em Snow. Atirei a faca. Certeira na cadeira. Snow olhou para o lado vendo a faca que por pouco não acertou sua cabeça e para meu rosto com cara de raiva. Pude ver a fúria em seus olhos por mais distantes que estavam. Fui mais para perto dos Idealizadores, subi as escadas de onde eles estavam, parei na frente de Snow e tirei a faca de sua cadeira.

– O que isso tem de impressionante? – perguntei com um sorriso de deboche no rosto. Desci, e não satisfeita, ataquei a mesma faca no coração do boneco que estava como alvo. – Obrigada. – sai da sala e fui para onde os outros tributos estavam.

Me sentei ao lado de Gale.

– O que você fez lá? – perguntou ele.

– Surpreendi Snow com toda certeza. – disse lembrando da cena e dando risada.

– Foi tão boa assim? – Gale deu risada junto comigo.

– Ataquei uma faca na cadeira de Snow.

– VOCÊ O QUÊ?! – o sorriso se desfez de seu rosto, Gale falou alto e eu me levantei para tampar sua boca com as mãos.

– Fala baixo! Não quero que todos escutem... – Gale e eu sentamos de novo.

– Você está ficando maluca? – Gale colocou a mão na minha testa.

– Ele me irritou! Acertei a flecha no alvo e ele disse que não era impressionante. Não pensei em outra coisa a não ser atacar a faca. – abaixei a cabeça.

– Você sabe que agora você irritou ele. Ele poderia ter te matado Katniss, ele pode te matar ainda!

– Ele não pode me matar... – falei com um tom de dúvida.

– Você é realmente a garota quente. Você se irrita muito fácil! – disse Gale se levantando.

– O que você faria se fosse você lá no meu lugar?

– NADA!

– Como nada? – perguntei.

– N-A-D-A simplesmente nada! Ele é o presidente Snow, o que mais eu faria?

– É justamente por isso. Ele acaba com a felicidade de 11 famílias todo ano por causa desses Jogos Vorazes e ninguém faz nada. – disse irritada.

– Tudo bem Katniss, você que sabe.

– Gale Hawthorne – a mesma mulher chamou seu nome e os Pacificadores o levaram.

– Boa sorte. – disse pra ele enquanto ele se afastava.

– Obrigado Katniss. – Gale piscou pra mim.

Fiquei sentada com os outros tributos mais de uma hora esperando todos do meu distrito terminarem. Por último, Peeta saiu da sala e sentou ao meu lado.

– Como foi seu treino? – perguntei pegando em sua mão.

– Não sei, veremos as notas de tarde. – ele encarou o chão.

– Você está melhor? Com aquela coisa da sua... – parei de falar para não lembrar ele.

– Tudo bem Katniss, eu já estou melhor, já aceitei. – disse ele olhando para mim.

– Tem certeza?

– Sim. – ele deu um sorriso torto. Encostei a cabeça em seu ombro, Cato levantou e foi até a nossa frente.

– Que casal romântico! Vocês são o quê? Romeu e Julieta? – disse ele gargalhando.

Não tive tempo de impedir, quando vi, Peeta já havia voado em Cato com a mão fechada para lhe dar um soco.

– Me solta... – Cato lutou para sair, mas Peeta é mais forte.

– Romeu e Julieta? Você vai ver Romeu e Julieta quando eu fizer a dança dos punhos nessa sua cara! – Peeta estava fervendo em raiva.

Seu punho se chocou contra o nariz de Cato que começou a sangrar. Finnick e Gale apareceram para conter a raiva de Peeta o afastando de Cato.

– Me solta, eu vou acabar com esse idiota. – Peeta se debatia enquanto era levado por Gale e Finnick.

– Calminha ai queridinho. – Haymitch segurou Peeta pelo ombro. – Não vai querer deformar esse rostinho bonito e ir machucado pra arena, não é?

– Podem me soltar agora. – disse Peeta, mas eles não o soltam. – Me solta!

– Soltem. – Haymitch se sentou num sofá. Finnick e Gale soltaram Peeta que desabou em outro sofá. Fui até ele e me sentei.

– O que foi? – ele resmungou passando a mão no ombro e fazendo cara de dor.

– Você tem que estar em perfeito estado para a arena. Se for um pouquinho machucado sequer, você vai ficar mais fraco. – Haymitch o olhou com cara de raiva.

– Exatamente. Você pode ter batido nele, mas ele te bateu também! – eu disse passando a mão em seu ombro.

– Mais alguma coisa? – Peeta se levantou do sofá.

– Não. – Haymitch levantou e saiu mancando.

– Aonde você vai? – perguntei me levantando e andando atrás dele.

– Vou tomar banho e descansar. Meu corpo dói. – ele saiu e me deixou sozinha.

Ótimo, tudo o que eu precisava. Peeta estava machucado por minha culpa. Gale falou que Snow poderia me matar a qualquer momento. Dia de treinamento legal... Descobrir que posso morrer.

– Por que eu tenho que ser tão idiota às vezes? – perguntei pra mim mesma.

Me reencontrei com os outros tributos e subimos para o nosso andar. Abri a porta do meu quarto e a primeira coisa que fiz foi tomar banho. Deixei a água cair em meu corpo e fiquei relaxada. Só aí percebi o quanto estou cansada. Sai do banho com a toalha enrolada no corpo e fui até o closet. Às vezes ficava perdida com a multidão de roupas. Coloquei um short e uma blusa. Me sentei na cama e peguei o tordo que Peeta me deu na noite do trem. Me lembro da noite que Peeta me abraçou e eu senti seus braços fortes em volta de mim. Sacudi a cabeça para me livrar dessa lembrança e fui para a sala. Todos me esperavam para assistir as notas que iam ao ar naquele momento. Me sentei no chão e ligaram a TV. Um homem de cabelos azuis e terno azul apareceu dando o maior sorriso que conseguia e começou anunciando as notas dos tributos.

– Do Distrito 2, Cato com a nota, 9. Marvel com a nota, 8. Clove com a nota, 9 e Glimmer com a nota, 7. O Distrito 2 nunca nos decepciona. – Caesar afirmou com outro sorriso.

Ele continuou com as notas de todos os tributos.

– Do Distrito 4, Finnick com a nota, 12. – Uau, Finnick era realmente muito bom. Caesar falou dos outros tributos do distrito de Finnick – Tresh com a nota, 11. Rue com a nota, 7. Primrose com a nota, 8.

As notas deles foram muito boas. Caesar continuou até chegar em nosso distrito.

– E por fim, mas não menos importante, do Distrito 12, Peeta Mellark – Peeta encarou a TV. – com a nota, 10. – todos tentaram abraça-lo, mas ele não deixou por estar com dor no corpo. – Gale Hawthorne com a nota, 10. A veterana, Annie Everdeen com a nota, 9. E por último, a garota que surpreendeu a todos com o apelido de Garota Quente, Katniss Everdeen com a nota, 12. – todos vibraram por nosso distrito ter as maiores notas.

– Não jantaremos hoje, quem quiser que faça um lanche, vocês precisam de descanso. – disse Haymitch, pela primeira vez com um sorriso no rosto. – E parabéns a todos.

Saímos da sala e fomos para nossos quartos. Me deitei e fiquei horas na cama sem dormir. Me revirei para um lado e para o outro. Fui para a sala que estava vazia e escura. Me joguei no sofá e escutei os barulhos da Capital. Alguém se levantou e passou por mim indo até a cozinha. Fui atrás. Era Peeta e estava sem camisa, com hematomas pelas costas, pela barriga e com o ombro enfaixado.

– O que aconteceu com seu ombro? – perguntei me distraindo em seu abdômen definido.

– Passei na enfermaria antes de subir e a enfermeira disse que eu desloquei a clavícula. – disse me oferecendo um copo de suco.

– Não obrigada. Quanto tempo pra ficar melhor?

– Duas semanas. – disse ele com cara de dor.

– Duas semanas? Duas semanas? Mas você vai estar na arena em duas semanas!

– Eu sei, e como Haymitch disse, eu vou estar mais fraco.

– E como você vai lutar? – uma ponta de preocupação cresceu dentro de mim.

– Não sei Katniss, vamos esperar e ver o que vai acontecer.

– E você não está com medo? Só por estar mais fraco que os outros? – cheguei mais perto dele e olhei em seus olhos.

– Na verdade estou, mas se eu tiver que morrer, quem sou eu pra impedir?

– O quê? Como você pode falar isso? – perguntei realmente indignada.

– Katniss, eu vou estar bem mais fraco que vocês, quase não tenho chances! – exclamou ele com a voz rouca.

– Ótimo. Você pode querer isso, mas eu não vou deixar. – peguei sua mão. – Você vai tomar os remédios direitinho e vai descansar. Nada de brigas ou de esforço. O que você precisar, pode me chamar ou qualquer outra pessoa que estiver por aqui, porque somos cinco pra cuidar de você. Não quero perder meu melhor amigo

– Tudo bem Doutora Everdeen. Nada de esforço durante quanto tempo mesmo? – ele começou a gargalhar.

– Três dias. – dei um sorriso. – Agora vai descansar. – apontei para seu quarto.

– Tudo bem, Katniss, boa noite. – ele piscou pra mim.

– Boa noite Peeta.

Fui para meu quarto e dormi. Acordei de novo com uma luz forte do sol batendo em meu rosto, não sei por que sempre esquecia de fechar as cortinas. Me espreguicei e escutei Peeta chamando meu nome. Fui até seu quarto e ninguém estava lá.

– Aqui. – gritou ele. A voz vinha da sala.

– Por que você está aqui? – perguntei nervosa.

– Relaxa Doutora, Haymitch me trouxe. Eu estou com o braço machucado, não sem as pernas. – ele riu.

– HÁ HÁ, engraçadinho.

– Bom dia! – Effie apareceu com um vestido rosa e os maiores saltos do mundo.

– Bom dia. – respondemos juntos com desânimo.

– Amanhã vocês terão o Desfile dos tributos. – Effie bateu palmas e sorriu. – É a melhor parte!

– Por que será? – Haymitch brincou.

– Quieto. – Effie o encarou. – Esse desfile era pra ser no segundo dia de vocês aqui, mas teve um problema com os cavalos e tivemos que adiar para amanhã.

– E que desfile é esse? – Peeta perguntou.

– É um desfile que os tributos de cada distrito ficam em cima de uma carruagem, com roupas que represente de onde vieram e desfilam para toda a Capital. Para conhecerem a gente. – Annie explicava.

– Ótimo e quais são os preparativos? – perguntei prendendo meus cabelos.

– É aí que eu queria chegar! – exclamou Effie. – Vocês usarão roupas feitas por seus estilistas e vão ficar magníficos.

– Vocês terão folga hoje, para descansar e se preparar. Não vão fazer esforços. – Haymitch encarou Peeta. – E seus estilistas virão hoje também para começar a planejar as roupas.

– Teremos folga hoje?! Que ótimo, finalmente um dia de paz... – disse Gale com animação.

– Podem fazer o que quiser, só não se metam em mais brigas. – Effie olhou para mim e para Peeta.

Effie e Haymitch sairam da sala e nós ficamos lá. Annie deu a ideia de falarmos das pessoas que já gostamos e dos nossos primeiros beijos.

– Gale, você começa. Com quantos anos você deu seu primeiro beijo? – Annie perguntou chegando mais perto dele.

– Foi quando eu tinha 11 anos, com uma garota da escola. – ele sorriu.

– Qual o nome? – Peeta perguntou curioso.

– Madge.

– Madge? Você beijou a Madge? – eu comecei a rir.

– Qual o problema, eu era apaixonado por ela na época! – ele riu junto. – Apaixonado, boa, e você Peeta, tem alguma garota especial ou está apaixonado por alguém? – disse Gale mudando de assunto.

– Sim, na verdade. – disse ele.

– Sério? – perguntei para ignorar o ciúme que apareceu.

– Quem? Alguma sortuda do nosso distrito? Se for é fácil, é só você ganhar o Massacre que quando voltar, ela vai estar caidinha por você. – Annie piscou para ele.

– Isso não iria me ajuda, pra falar a verdade. – disse ele decepcionado.

– E por que não? – Annie perguntou. – Um menino bonito que nem você... Qualquer uma iria querer...

– Porque ela veio pra cá comigo. – disse ele olhando em meus olhos.