Na hora que o Snow enfiou aquela faca na mesa eu fiquei apavorada. Eu não sabia quando poderíamos sair dali.

–Senhor, podemos leva-los embora? – disse um dos seguranças da casa junto com outros quatro atrás dele.

– Levem eles daqui, AGORA! – Snow estava tão nervoso que não esperamos ele dar a ordem pros seguranças para sairmos correndo dali.

– Menos o loiro alto e o pescador ali. – disse ele apontando para Finnick e Cato nos fazendo parar onde estávamos, de pé perto da porta. - E a engraçadinha ali, a Garota em Chamas. – ele apontou para mim.

Não tive tempo nem me virar e já me prenderam pelas mãos e pés junto com Cato e Finnick. Me debati de um lado pro outro tentando me soltar, mas foi inútil, eles eram fortes demais e um só deles já conseguia me prender.

– FINNICK!!! - gritou Annie. - Por favor, senhor, leve a mim, não a ele, por favor. – disse Annie correndo até Finnick, mas não conseguiu chegar até ele, outro segurança a pegou.

– PEETA! – gritei ainda me debatendo mesmo sabendo que não ia dar em nada.

– KATNISS! - gritou ele de volta. Ele tentou me dar a mão, mas um outro segurança que apareceu, o empurrou fazendo ele cair de costas nas escadas.

– Peeta, eu vou ficar bem. EU VOU FICAR BEM! - terminei de falar e amordaçaram minha boca enquanto um dos milhões de bruta montes que apareciam ali pegavam Peeta pelos braços, levantando-o da escada. Johanna tentava inutilmente libertar Cato, mas levou um empurrão que caiu em cima de Annie fazendo as duas cair no chão.

– Como são patéticas... - riu Snow da cara delas, uma gargalhada do mal. – Levem eles daqui! – ordenou Snow.

– NÃOOO! POR FAVOR! - gritou Cato também se debatendo contra três seguranças que o prendiam. Não demorou muito para colocarem um pano na boca dele, fazendo-o desmaiar.

– Annie eu juro que vou voltar pra você... EU JURO! – Finnick gritou enquanto estava sendo levado para algum lugar.

Não falei nada, nem precisei, meu olhar para Peeta já dizia tudo. Levei uma pancada na cabeça e apaguei na hora. Não sei quantas horas fiquei apagada, mas quando acordei estava em um lugar nojento, parecia um alçapão ou coisa do tipo. O lugar era cheio de goteiras, era escuro e fedia. Eu pude até sentir alguns ratos passando perto de meus pés. Eu estava sentada e tentei me mover, mas não podia, estava acorrentada na parede pelos braços e pelas pernas. Tentei me soltar, mas foi inútil, levantei minha cabeça que doía demais e acostumei o olhar no escuro.

– Será que agora aqui, valeu a pena jogar nossas armas e não lutar? - falou Cato rispidamente, ele estava com raiva, dava para perceber queria culpar alguém.

– Quem tá aqui comigo? – perguntei para reconhecer as vozes.

– Eu e o Finnick. – disse Cato.

– E a Annie, Peeta e Johanna? – eu já podia ver Cato que não estava muito longe.

– Eles foram pra Capital, foram levados pra lá, eu vi. – era bom escutar a voz de Finnick.

– Como você viu? – Cato perguntou ainda ríspido.

– Eu não reagi aquele pano que colocaram no seu rosto e consegui ficar bem acordado com a pancada que me deram na cabeça. – disse Finnick com a voz rouca, vi que tinha um corte na testa.

– Me arrependo de não ter lutado... – pude ver que Cato abaixou a cabeça.

– Se não fosse nossa rebeldia, Johanna estaria morta... MORTA! – aumentei o tom da minha voz.

Ninguém tinha culpa, o único culpado era o Presidente. Escutei alguém descendo as escadas molhadas que dava para o andar de cima da casa. Era um homem mal encarado que abriu o portão e veio até mim.

– Vamos lá, você vai ser a primeira. – disse ele me desacorrentando da parede e me pegando pelos braços com muita força.

– Pra onde você vai me levar? – comecei a ficar apavorada de novo.

– O Presidente Snow quer brincar com você. – ele falou com um sorriso no rosto.

Tentei fugir daquele homem, mas ele era forte demais. Ele me pegou pelos braços e eu me debati, chutei e soquei ele, mas de nada adiantou. Ele me colocou nos ombros com muita facilidade e começou a subir as escadas.

– KATNISS! – gritou Finnick puxando as correntes da parede que esticavam até um pouco antes do portão enferrujado.

– FINNICK, ME AJUDA! – gritei socando as costas daquele homem.

– Katniss, aguenta aí! – Finnick segurou no portão.

Eu já não aguentava mais insistir nos socos porque não estava adiantando. Entramos em uma sala branca com dois homens dentro. Me colocaram lá e trancaram as portas.

– Como está se sentindo? – eu não podia desconhecer aquela voz. Era Snow. O som vinha de algum lugar quando vi que era de uma caixinha de som no alto da sala junto a uma câmera. Não respondi e me sentei no chão. Os dois homens me pegaram pelos braços e me sentaram numa cadeira no fundo da sala, me prendendo com alguns ferros nos pulsos e nos tornozelos.

– Vamos começar a brincadeira. – Snow gargalhou.

Um dos homens caminhou até uma extremidade da sala colocando a mão em um interruptor.

– O que é isso? – eu já sabia o que era, mas queria confirmar.

– EU NÃO PEDI PRA VOCÊ FALAR! – gritou Snow. – CHOQUE!

Não deu tempo de eu pensar, o homem apertou o botão e uma corrente muito forte de choque elétrico correu por todo meu corpo, me impossibilitando de fazer qualquer coisa.

– PARA! – Snow gritou e o homem desligou o choque.

– POR QUE VOCÊ TÁ FAZENDO ISSO? – gritei começando a chorar ofegante.

– Por quê? POR QUÊ? – Snow gargalhou mais uma vez. – Vocês me traíram!

– Ninguém traiu ninguém! A culpa disso é você mesmo! Você que inventou essa porcaria de Jogos! – desabafei e senti que não devia ter dito aquilo.

Silêncio se seguiu até que vi a porta da sala se abrir e Snow passar por ela batendo com força. Snow caminhou até onde eu estava sentada e apoiou as mãos nos meus braços, fazendo força. Mordi os lábios para conter um gemido de dor.

– Como é que é? – vi a fúria de Snow nos seus olhos castanhos. Não disse nada, estava com medo e isso o irritou mais ainda. – Não vai me responder? – ele perguntou mais perto de mim esperando uma resposta que eu não dei. – Ótimo. – ele se afastou um pouco e ficou na minha frente. – Solta ela daí. – ordenou Snow e os homens me soltaram da cadeira, me levantando pelos braços e me levando para algum outro lugar.

Me vendaram antes de eu saber pra onde estavam me levando. Não demorou muito tempo até eu sentir água nas minhas mãos. Água gelada.

– Pode deixar que eu mesmo faço isso. – a voz de Snow foi chegando perto dos meus ouvidos.

Senti as mãos de Snow no meu pescoço empurrando pra algum lugar. Senti a água bater em meu rosto e em questão de segundos, eu estava com a cabeça submersa. Por um momento, Peeta veio na minha cabeça. O primeiro beijo que demos, a primeira noite, os beijos na arena, o nosso encontro e todos os momentos em que ele esteve comigo. Então me dei conta que estava ficando sem ar e comecei a me debater. Minhas mãos estavam amarradas e os tornozelos presos um ao outro com uma corrente. Snow me tirou da água e eu tomei um fôlego que doeu meus pulmões.

– Tá gostando dessa brincadeira? – Snow me puxou pelos cabelos me fazendo olhar pra ele.

– Não... – disse ainda chorando.

– Ótimo! Você vai gostar mais ainda. – ele riu voltando a colocar minha cabeça na água.

Perdi as contas de quantas vezes ele voltou a colocar e tirar minha cabeça da água. Estava começando a ficar tonta por conta do ar que faltava no meu corpo. Eu via tudo embaçado e minha respiração estava muito fraca. Eu abri os olhos e vi que estava de joelhos e Snow ainda me segurava pelos cabelos.

– Para... Por favor... – disse suplicando com a voz fraca.

– Isso é só o começo! Vocês vão pagar por terem me feito de idiota! – Snow me levantou com um puxão nos cabelos, mas eu não conseguia ficar de pé. – Fica de pé! SEJA MULHER AGORA! – ele puxava meu cabelo com mais força me virando para olhar pra ele. Fiz um esforço enorme para ficar de pé e fiquei... Quase caindo. Olhei para Snow que estava com sangue nos olhos de raiva, ele estava com sede de vingança. Me deu um, dois, três, quatro tapas na cara. – Isso é pra você deixar de ser covarde e me enfrentar! – ele ainda me segurava, só que dessa vez pelos braços, com muita força.

Senti o gosto de sangue na minha boca. Os homens de Snow estavam me carregando até um quarto, parecia de hospital, mas não era. Passamos por Mags que me olhava com pena, ela não fez nada. Me deitaram numa maca de costas amarrando meus pulsos e tornozelos para eu não me mexer. Snow chamou alguém, mas não escutei, só vi quem era quando o mesmo apareceu na sala com um chicote nas mãos. Era Seneca Crane que me olhava com raiva também. Ele deu o chicote para Snow que se posicionou atrás de mim. Ascendeu uma luz no canto da sala e vi que tinha um vidro enorme que dava em outra sala. Do outro lado desse vidro estava Peeta com um pano na boca e dois grandes seguranças segurando ele e forçando-o a olhar pra onde eu estava.

– Espera! Espe... – não terminei de falar, Snow não esperou até me dar uma chicotada nas costas que doeu mais do que qualquer dor que eu já senti na minha vida. Ele não deu só uma, foram várias. Na quarta eu estava desnorteada de dor, olhei para o vidro onde estava Peeta se debatendo para não me olhar, mas ele não conseguia, seus olhos cheios de lágrimas assim como os meus me olhavam e senti que ele queria fazer algo para me ajudar e então apaguei.

POV Peeta

Snow estava uma fera e a Katniss não conseguia segurar a língua dela, o que deixava ele mais nervoso ainda. Eu estava com um medo, mas tentei me conter.

–Senhor, podemos leva-los embora? – uns cinco seguranças apareceram na porta.

– Levem eles daqui, AGORA! – Snow estava furioso e só Katniss causava aquele efeito nele, eu percebi isso pelo olhar que ele lançava pra ela. - Menos o loiro alto e o pescador ali. – disse ele apontando para Finnick e Cato nos fazendo parar onde estávamos. - E a engraçadinha ali, a Garota em Chamas. – ele apontou para Katniss.

Não tive tempo de pensar, quando vi, mais um monte de seguranças aparecerem, um maior que o outro.

– FINNICK!!! - gritou Annie desesperada. - Por favor, senhor, leve a mim, não a ele, por favor. – disse Annie correndo até Finnick, mas ela não conseguiu chegar até ele, outro segurança a pegou.

– PEETA! – Katniss gritou meu nome se debatendo nos três homens que a seguravam.

– KATNISS! – gritei de volta e avancei até ela, mas um dos seguranças me empurrou tão forte que eu cai batendo com as costas num dos degraus da escada.

– Peeta, eu vou ficar bem. EU VOU FICAR BEM! - gritou Katniss e quando terminou, amordaçaram a boca dela. Uns quatro homens vieram até mim me levantando da escada pelo braço. Johanna deu um impulso para ir até Cato, mas levou um empurrão que caiu em cima de Annie fazendo as duas cair no chão.

– Como são patéticas... – Snow gargalhou da cara delas. – Levem eles daqui, os três, para aquele lugar! – ordenou Snow.

– NÃOOO! POR FAVOR! - gritou Cato também se debatendo nos três seguranças que o prendiam. Olhei para Cato, Finnick e Katniss que se desesperavam por socorro e um dos homens colocou um pano na boca de Cato e ele desmaiou. Finnick reagiu a tudo, pude ver ele com os olhos pouco abertos.

– Annie... Eu juro que vou voltar pra você... EU JURO! – Finnick disse com a voz fraca olhando diretamente para Annie.

Olhei para Katniss e seus olhos estavam pedindo ajuda, de qualquer forma, ela não precisou dizer nada, vi uma lágrima escorrer por seu rosto até que um dos homens deu uma pancada na cabeça dela, fazendo-a desmaiar. Fechei meus olhos desejando aquilo ser um pesadelo, quando abri, olhei pela sala, vi umas gotas de sangue pelo chão, mas a sala estava vazia, só Snow e os outros seguranças segurando Annie e Johanna que estavam ainda acordadas. Estava um silêncio de arrepiar.

– O que vocês vão fazer com eles? – perguntou Johanna para Snow que virou as costas para a gente.

– O que? – Snow chegou bem perto de Johanna olhando-a nos olhos.

– Você ficou surdo? O-que-você-vai-fazer-com-eles? – Johanna disse pausadamente.

– Não é da sua conta. – Snow olhou intensamente pra ela que cuspiu na cara dele. Snow se afastou de Johanna, tirou um paninho do bolso de seu paletó e limpou o rosto. Deu um suspiro profundo para conter a raiva e continuou fuzilando Johanna com os olhos. – Tirem eles daqui, levem eles pra Capital, AGORA! – Snow se irritou, Johanna tinha provocado ele.

Nos levaram para um carro bem grande e nos jogaram literalmente lá dentro. Sentamos e colocamos os cintos. O silêncio dentro do carro já dizia tudo.

– Você ficou maluca? – perguntei sussurrando para Johanna dando um cutucão com o cotovelo nela.

– O que? Ele me irritou! – ela tentou se explicar.

– Eu falo que o Snow é perigoso, mas falar isso pra você e pra Katniss é a mesma coisa que não falar... – Annie encostou a cabeça na parte de trás do branco do carro.

– Eu exagerei um pouquinho... – disse Johanna se rendendo.

– Um pouquinho? – perguntei.

– Tá, tá, mas isso não pode sair daqui, ok? – Annie propôs.

– Ok. – eu e Johanna concordamos.

Chegamos na Capital e fomos direto para nossos quartos para que ninguém nos visse. Entrei no meu, bati e porta e fui para o banheiro. Me olhei no espelho, vi meu cabelo bagunçado e estava com um corte na boca. Aproveitei para tomar banho. Sai do banheiro e me deitei. Já era tarde da noite e eu não consegui pregar o olho a noite inteira só pensando na Katniss e no que estariam fazendo com ela naquele momento. Imaginei mil coisas e quando me dei conta já era dia. Me levantei e desci para tomar café. Olhei o restaurante do prédio que ainda estava fechado e fui para a parte do jardim. Caminhei um tempo por lá até que senti uma pancada na cabeça e apaguei. Quando acordei, estava num dos carros que tinha me levado de volta para o prédio.

– Onde estão me levando? – perguntei para o motorista.

– Quietinho aí. – foi a única coisa que ele disse até chegarmos na casa do Snow de novo.

Uns caras vieram me buscar prendendo meus braços e colocando um pano na minha boca. Eu pude reconhecer o que levou Katniss no dia anterior. Eles me levaram para uma sala almofadada com um vidro enorme. A sala que tinha do outro lado estava escura até acenderem a luz. Katniss estava do outro lado, deitada numa maca, de costas, presa pelos pulsos e tornozelos, com os cabelos molhados e várias partes do rosto roxo e sangrando. Olhei nos olhos dela que pediam socorro com urgência, tentei avançar no vidro, mas três caras me prenderam forçando olhar para ela. Um cara entregou um chicote para Snow e eu não deixei de adivinhar o que ia acontecer só que eu não queria ver. Vi Katniss balbuciar algumas palavras, mas não entendi o que era. Seguraram minha cabeça virada para o vidro e vi Snow dando a primeira chicotada em Katniss. Ela fez uma cara de dor e meu impulso foi me debater, para me soltar dali e ajuda-la, eu não aguentava ver Katniss daquele jeito, ela estava sofrendo demais, mas eu não consegui, os homens eram mais fortes que eu. Não consegui conter as lágrimas que saiam de meus olhos. Snow deu mais umas cinco chicotadas nela que desmaiou. Mesmo com Katniss desmaiada, ele continuou batendo e aquilo parecia uma eternidade, vi o corpo de Katniss se contrair de dor mesmo desacordada até que a mulher dele, Mags, apareceu, impedindo ele de dar a trigésima chicotada. A tortura tinha acabado, a roupa que Katniss usava estava coberta de sangue, vi tirarem ela dali ainda desacordada e me tiraram do outro lado também.

– Você está bem? – Mags perguntou pegando na minha mão. Não respondi, apenas soltei minha mão da dela. – Sei que essa não é uma boa pergunta, mas...

– Não quero escutar. – interrompi Mags e fui andando até a porta de saída da casa com um segurança atrás de mim, para ter certeza de que eu não fugisse.

Coloquei meus pés para fora daquela casa com ódio, era a única coisa que eu sentia, ódio. Eu ia resgatar Katniss, Cato e Finnick, mas primeiro eu vou matar Snow do pior jeito possível, ele vai pagar por tudo. TUDO.