Sara estava atordoada. O tempo lá fora contradizia os seus sentimentos: dia claro, com temperatura amena. Ela, por outro lado, estava furiosa e magoada. Colocava algumas roupas e pertences em uma mala sobre a cama, e lutava a todo custo para as lágrimas não caírem.

Quando terminou de fechar o zíper, escutou o barulho da maçaneta da sala, e logo depois passos quebraram o silêncio angustiante do lugar. Ela se sentou na cama, direcionando seu olhar para a entrada do quarto e esperou que ele viesse até ela.

--Bom dia. –Ele disse sério.

Ela não respondeu, e ele notou suas coisas arrumadas.

--Aonde vai? –Seu tom beirava o desespero.

--Para meu apartamento. –A voz dela estava embargada.

Grissom sentiu o chão sumir sob seus pés. Não podia acreditar!

--Por quê? Estamos bem! Olha, se alguém te falou algo...

--Se? É claro que falaram! Você é o assunto do momento no laboratório. –Ela rosnava. –Soube que teve um relacionamento com a sua amiga. Não sabia desse seu lado submisso, e adorei ouvi-lo da boca de Catherine: “sei que eles tiveram um relacionamento no passado, imagino quem usou o quê.”. –imitou a voz da amiga. –Mas o melhor, sem dúvidas, foi “Ela ganharia dele num jogo de xadrez mental. Nunca vi nenhuma mulher mexer assim com ele.”.

O entomologista a encarou entre preocupado e irritado.

--Não devia ouvir a Catherine! Heather está com problemas e precisa da minha ajuda.

--Por isso passou a noite na casa dela? --A voz de Sara era mortal. –Quer saber? Isso não é mais da minha conta.

--Eu não dormi com ela! –Gil disse esganiçado. –Ela tentou se suicidar! É uma amiga que precisa da minha ajuda. E somente amiga.

--Tão amiga que fez você passar a noite com ela e se esquecer do mundo. Custava ter dado um telefonema?

Sara ainda segurava as lágrimas, mas tremia violentamente. Seus olhos marejados e o tom magoado feriam Grissom como uma dor física. Ele, mais uma vez, se manteve calado diante da morena; encararam-se por longos minutos em silêncio.

--Eu vou embora.

--Não! –Ele disse súbito. –Sara, por favor. Eu errei em não ligar, mas não passou de uma reunião social entre amigos. Eu juro!

--Eu não estava lá para saber. Estava aqui preparando o seu jantar favorito para comemorarmos o nosso aniversário, mas você preferiu passar a data com ela. –As lágrimas começaram a cair. –Então passe as demais com ela também.

Com uma força desnecessária, Sara arrastou sua mala pelo quarto e não parou nem quando ele chamou por seu nome. Ela precisava de um tempo para se acalmar, e não conseguiria isso perto dele.