No mesmo instante, o hollow atacou. Ichigo panicou por um segundo quando viu que o monstro estava indo pra cima de Rukia, mas ele não teve tempo de reagir.

Rukia parou o golpe do inimigo sem esforço. Pelo contrário, foi ela que, com um empurrão, o jogou longe. Ichigo decidiu que estava na hora de agir.

– Ichigo, você... – Rukia não teve tempo de terminar a frase, pois Ichigo logo pulou, desembainhando sua zanpakutô e gritando. – Ichigo!

Sem prestar atenção no grito de pânico da vice-capitã, ele abateu a espada sobre o hollow no momento em que ele jogou seu enorme braço em direção de Ichigo.

A espada de Ichigo arrancou as garras do monstro, que caiu, e Ichigo foi logo atrás.

Rukia estava realmente preocupada. Ichigo fora o primeiro a atacar o hollow, livre do menor sinal de cautela. Ela estava pronta para atacar, mas percebeu que na verdade, estava preocupada sem motivos.

Ichigo estava se saindo muito bem. Parecia que ele praticava kendô desde pequeno. Ele empunhava a espada muito bem, até mesmo melhor que ela, e conseguiu fazer com que seu adversário recuasse. Depois de um curto período de tempo, aproveitando-se de um momento de desequilíbrio do inimigo, Ichigo saltou e golpeou o hollow na cabeça, com todas as forças. Sua espada cortou facilmente a criatura em dois, que soltou um rugido que ecoou até mesmo depois de sua morte. Enquanto isso, dois outros hollows apareceram no parque.

– Hey, Rukia! – Gritou ele sem prestar atenção. – Você viu isso?! Admita, eu sou forte para um novato!

– Idiota! – A garota respondeu com uma voz que misturava raiva e ansiedade. – Não baixe a guarda!

Os hollows partiram para o ataque, e os dois desviaram com um salto.

– Vamos, admita! Você não matou seu primeiro hollow, logo depois de receber seus poderes, não é? – Ichigo se deixava levar pelo próprio poder. Ele precisava de uma lição.

– Pirralho. – Respondeu ela em um tom altivo. – Vou ensiná-lo a ficar em seu lugar.

A garota se afastou com um shunpô, para reaparecer cerca de três metros de distância, com a espada no sentido horizontal em sua frente.

– Mae…

Uma luz branca brilhante agora emanava de sua espada, enquanto sua reiatsu se intensificou, atraindo os hollows para si. A temperatura caiu vários graus, enquanto ela girava lentamente o punho, transformando sua arma após o movimento.

– ...Sode no Shirayuki.

Sua lâmina parou apontando para o chão. Faíscas brilhantes voavam em volta dela, parecidos com flocos de neve, enquanto sua zanpakutô tinha mudado de aspecto. Sua guarda mudou, e um grande laço branco colado ao seu pomo ondulava graciosamente. A espada era totalmente branca, da lâmina ao laço.

Atraídos pelo reiatsu, os dois hollows correram rugindo sobre ela. A shinigami desapareceu no último minuto, reaparecendo ao lado de Ichigo, as criaturas coladas uma a outra.

– Some no mai… – Rukia trouxe a lamina para trás com um movimento amplo do braço. Um enorme círculo luminoso apareceu sob os pés dos monstros. –… Tsukishirô.

Sode no Shirayuki cortou o ar horizontalmente. O círculo se transformou em uma gigante coluna de luz branca, que se elevou até o céu. Então a luz se transforma em gelo, aprisionando os hollows. As faíscas que estavam no ar caíram no chão na forma de pequenos fragmentos congelados.

Ichigo ficou boquiaberto. Então esse era o poder de uma vice-capitã?

– Isso, – disse Rukia virando para olhá-lo. – te dá uma idéia do que você poderá fazer treinando, se você evitar morrer à primeira ocasião se achando invencível.

A shinigami pontuou sua frase com um movimento rápido de sua espada. A parede de gelo começou a rachar, antes de explodir em mil pedaços, levando os hollows com ela.

Ichigo olhou-a, começando a perceber sua atitude.

– Rukia, eu...

– Ainda não acabou.

Ichigo ficou meio confuso, e Rukia apontou para o outro lado do parque. Ichigo arregalou os olhos.

Ele não sabia desde quando aqueles outros dois hollows estavam lá, mas eles eram tão monstruosos quanto seus antecessores. Um deles rugiu e avançou de maneira ameaçadora. Mas não eram os shinigamis que o interessava.

Eles se viraram para o novo reiatsu que apareceu.

– Você?! – Ichigo ficara surpreso sem motivos, pois já sabia que Uryû Ishida tinha poderes.

– Você pode nos ver? – Perguntou Rukia, temerosa.

Sem responder, o jovem levantou o braço direito, deixando sua pulseira à mostra. Uma cruz de prata simples, que foi posta em movimentos ao lado de sua palma aberta na horizontal. O objeto começou a brilhar, um brilho azulado, e em seguida se expande para se transformar em um arco e flecha de luz. Ele mirou cuidadosamente e disparou. A flecha cortou o ar em alta velocidade e acertou o hollow, que se mostrava agressivo. Com o rosto impassível, o jovem se contentou de arrumar seus óculos.

– Eu posso até mais que isso.

O tempo pareceu congelar. Rukia observava o garoto atentamente, examinando sua reiatsu. Ele é quase tão forte quanto eu, ela percebeu surpresa e inquieta.

De seu lado, Ichigo observava o recém-chegado com um ar de ceticismo.

– Um arco se segura com a mão esquerda, sabia?

–O quê?! – Ishida de repente, perdeu sua soberba. Ele olhava Ichigo incrédulo. – O que você disse?

– Eu disse que um arco se segura com a mão esquerda. Você ser destro ou canhoto não faz diferença. Você não sabia disso?

O arqueiro arrumou outra vez seus óculos, suas bochechas estavam vermelhas.

– Eu… aprendi sozinho. Nunca frequentei nenhum clube.

– Dá pra perceber.

– Os quincys são mestres do arco e flecha!

– É claro.

Uryû fora tomado por uma onda de orgulho. Ele ergueu seu arco novamente, mas Rukia reagiu, antecipando a ação.

– Bakudô 39: Enkôsen!

A flecha foi diretamente para o último hollow, mas um disco de luz dourada entrou no meio. O escudo quebrou por causa do choque, mas a flecha foi destruída. Ichigo arregalou os olhos, mas antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa, o hollow tinha se movimentado, pulando nas costas da garota com um ódio iminente.

– Rukia!

Ele não precisava se preocupar. No último momento a shinigami usou o shunpô, passando entre as garras da criatura, tocando sua máscara. No mesmo movimento ela apontou sua espada para trás, e o hollow mesmo se empalou na espada, com a lâmina entre os olhos. Um último rugido de agonia e ele evaporou como os outros. Quando ela aterrissou, guardou sua zanpakutô já na forma ‘asauchi’. Ichigo se precipitou em sua direção.

– Por que você fez isso, Rukia? Ele tava mirando no hollow!

– Os shinigamis, todos iguais... – a expressão facial de Ishida tinha endurecido. Ele e a Shinigami se desafiavam pelo olhar. – Como boa escrava do Seireitei, você não suporta que outra raça faça seu trabalho em seu lugar, não é mesmo?

– Calado!

Ichigo o agarrou pelo colarinho.

– Mostre mais respeito quando estiver falando com ela!

Rukia pareceu tão surpresa quanto Ishida de ver Ichigo defendê-la tão brutalmente. Ele relmente parecia com Kaien-dono. Ichigo era tão impulsivo quanto ele, mas a mesma sede de justiça o animava.

– Ishida – ela começou a falar em um tom frio. – Eu não apoio totalmente todas as ações do Seireitei. E eu só sei duas coisas sobre osquincy. Primeiro, sua raça deveria estar extinta. E quando vocês matam um hollow, vocês não purificam sua alma. Vocês fazem sua consciência desaparecer, ou seja, vocês tiram todas as suas chances de achar uma existência normal. Enquanto eu puder evitar isso, eu não vou deixar isso acontecer.

Um certo silêncio seguiu suas palavras. Então Ishida fez seu arco desaparecer.

– Você é uma tenente e não sabe como nossa raça foi extinta?

– Oficialmente, a verdade sobre seu desaparecimento não é conhecida.

– Incrível – Ishida cruzou os braços e começou a falar com uma voz forte. – Os quincy eram um clã de humanos capazes de ver hollows. Para combatê-los, eles criaram arcos espirituais capazes de atingí-los. Mas como você mesmo disse, esses arcos não purificavam os hollows, apenas os destruíam. O Seireitei então entrou em conflito com eles. Fazer almas desaparecerem perturbava o equilíbrio entre o mundo humano e a Soul Society, o que era perigoso para todas as dimensões. Como os quincy não queriam ouvir, os shinigamis decidiram exterminá-los.

Rukia estava estática. Ela sempre suspeitou, mas ouvir a verdade na cara assim... era chocante.

– Tudo isso para dizer que meu clã era perigoso. Cegos pela vingança, eles foram exterminados para preservar o equilíbrio dos mundos. Mas eu não tenho nenhum problema com isso.

Ichigo e Rukia estavam atordoados. Tanta frieza em um humano de 16 anos era quase inquietante.

– Mas os shinigamis também erraram. 200 anos mais tarde, meu mestre e eu éramos os únicos representantes de nossa raça. Ele só queria trabalhar com vocês, queria ser sua segurança na Terra! Mas vocês eram orgulhosos demais, e sempre o mandavam embora! Mas isso era porque o trabalho era de vocês, não dele, não é mesmo?

Seu tom era totalmente agressivo. Ele que queria guardar sua expressão facial fria deixou seus sentimentos escapar. Toda sua frustação acumulada durante anos acabara de escapar, agora que ele finalmente tinha encontrado um shinigami.

– Vocês sabiam, pelo menos que demoraram muito a intervir?! Então quando ele lutou contra cinco hollows ao mesmo tempo, vocês chegaram duas horas depois de sua morte! Vocês o deixaram morrer!

Rukia olhou para baixo, sem se defender contra essa raiva que ela só entendia muito bem. Não foi o caso de Ichigo.

– Mas nós não temos nada a ver com isso! Nós…

– Eu não me importo! Eu não me importo em saber se vocês são responsáveis ou não! Kuchiki, você é uma vice-capitã, Kurosaki, você depende dela. Então os dois estão sob as ordens do Gotei 13, o que significa que vocês são cumplices de seus crimes!

– Mas... – Ichigo tentou intervir, mas foi interrompido por Ishida.

– E agora... Agora pedem para meu pai ser responsável por você, Kurosaki? Só porque um dos seus acabou de morrer? – Ichigo ficou meio aturdido com a acusação, mas nada comentou. – Eu só vim dizer que ainda há um Quincy com vontade de lutar nessa cidade. Eu não preciso de vocês para proteger Karakura. Não precisa de ajuda!

Com essas palavras, Ishida desapareceu com uma técnica parecida com shunpô.

Ichigo e Rukia ficaram sozinhos. O silêncio pairou um tempo antes que Rukia o quebrasse.

– Do que ele falava quando disse que seu pai era responsável por você?

– Parece que meu pai conhecia o seu. Ele também é um quincy, e agora é nosso tutor. – vendo que Rukia ficou confuso, ele precisou. – Quer dizer que ele é responsável por mim e minhas irmãs. Na verdade, ele só nos dá dinheiro, e nos vigia para que não sejamos atacados.

Ichigo se sentou em um balanço, pensativo.

– O que ele disse sobre os shinigamis... Que eles exterminaram os quincy... Seu pai me contou. É verdade?

– O Seireitei está longe de ser algo perfeito. Muitos segredos são guardados. Segredos que até mesmo os capitães não sabem.

Ichigo continuou em silêncio. No que ele se meteu? Será que agora ele estava aliado... a monstros?

– Ichigo... – Rukia tocou seu ombro de leve, e agora ele olhava em seus olhos. – Comparada com o mundo humano, a Soul Society ainda...vive no passado. Ela funciona no que vocês chamariam de modelo medieval. Eu também acho que existem coisas que deveriam mudar, mas... O que nós fazemos, é bom. Quer dizer, nós salvamos várias almas, nós sacrificamos nossas vidas para isso. E agora, você precisa de nós, não?

Ichigo não respondeu imediatamente. Ele lembrou de sua corrida de telhado em telhado, e também a seu combate contra o hollow. Ele se imaginou em um mundo virtual. Capaz de saltos espetaculares, ele usava uma espada com que destruía monstros. Ele adorou isso, como se tivesse se tornado um garoto. E a adrenalina fez bem. Durante a batalha, ele esqueceu por alguns minutos seu pai, suas irmãs e sua dor.

– Eu tenho que me tornar mais forte. – Ele disse finalmente. – Já que minhas irmãs correm o risco de ser atacadas, eu preciso ficar mais forte para protegê-las. Tenho que ficar mais forte pra proteger todo mundo.

Ele a olhou nos olhos, e mais uma vez, observou os reflexos violetas que lá dançavam. Rukia deixou um belo sorriso aparecer em seu rosto.

– Então eu te ajudarei.

Ishida Uryû:

Os vínculos que criamos

São como as pontas de uma estrela.

Cada um dessas pontas é um novo amigo, amante, inimigo...

Mas como eu queria ser o centro dessa estrela...