Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 8
Capítulo 8 - Jaynet Becker


Notas iniciais do capítulo

Finalmente entra na história minha princesinha mimada, estou tão animada com ela, mal podia esperar *----------------*



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         Eu a fitei cautelosamente e esfreguei meus olhos algumas vezes, incrédulo. Por que, aqui entre nós, não é sempre que uma garota aparece na sua cama. Bem, pelo menos isso nunca aconteceu comigo. E ainda mais uma garota totalmente desconhecida, embora tenha a sensação de conhecê-la. Eu sei, é estranho, mas é isso o que sinto.

         Ela, no entanto, parece não me conhecer. Por um tempo nem sequer pareceu que tenha me notado parado ali com a boca aberta, — Tomara que eu não esteja babando— e só de toalha. Ela continuou com o que estava fazendo: lendo um livro — meu, devo acrescentar. — de romance que guardo na estante para emergências em literatura, e causar uma boa impressão nas garotas. Sem se falar que secretamente eu gosto de verdade dos romances e até choro quando ninguém está me observando ler. Mas é só um pouco!!!

— “… Ele a beijou com sua alma e nunca mais a deixaria, ela teve certeza. E ela foi salva de toda a escuridão. Fim.” — Ela fechou o livro e suspirou me tirando de meus devaneios. Depois disse em sua voz musical, romântica.— Quem me dera ter alguém que pudesse me salvar.

         Eu acho que eu meio que dei um passo instintivamente para frente, pois ela fechou o livro rapidamente e ergueu os olhos para me encarar tão abruptamente que cambaleei um pouco para trás. E, como se tivesse percebido minha presença só naquele momento, seus olhos se arregalaram. Seus lindos olhos azuis claros, brilhantes como diamantes.

         Ela continuou me encarando.

         Eu arfei.

         Incapaz de desviar o olhar me permiti admirá-la completamente, de cima a baixo (assim na cara de pau!): Os cabelos cor de ouro, lisos até a cintura e brilhantes como o sol. O rosto fino com traços perfeitos e lapidados, assim como as estátuas da Grécia que vi em um livro qualquer de Artes — Valia nota e eu estava a ponto de repetir. — na 8ª série. A pele branca e sedosa por todo o corpo magro e bem definido. As mãos delicadas com um esmalte vermelho convidativo. Sua boca rosada, nem muito grande nem muito pequena, um pouco aberta de choque.

         Por um incrível momento me imaginei rompendo o curto espaço entre nós, a puxando contra mim e a beijando loucamente. Na boca, no queixo, no pescoço, descendo…

         Como é que posso estar imaginando estas coisas de uma garota que eu nem conheço?!

         Eu corei de vergonha.

         Ela também. Não de vergonha, mas de raiva. Percebi segundos depois, quando ela praticamente rosnou para mim, ou mais para si mesma.

— O que você está fazendo aqui?! Merda! — Ela praguejou e começou a andar de um lado para o outro na minha frente, fitando o chão. Percebi que mesmo zangada ela andava graciosamente em cima de sua bota preta de cano alto e salto agulha. Imaginei mais coisas.Droga Christian, controle-se! — Não era para você me ver aqui, você estava no hospital! Por que… quando voltou? — Ela bagunçou os cabelos com as mãos e pareceu realmente chateada. — Droga, droga, droga!

         E a única coisa que consegui responder estupidamente foi:

— Desculpe-me.

         Ela gargalhou.

— Você está me pedindo desculpas?

— S-sim. Eu saí do hospital hoje cedo e fui logo tomar um banho. Se eu soubesse que você estava aqui teria levado uma roupa para o banheiro.

         Me olhou de cima a baixo como se só reparasse agora que eu estava de toalha e ao invés de ouvir elogios sobre o meu corpo bem definido, modéstia a parte, ouvi mais risos. Isso me deixou seriamente puto, e ao mesmo tempo fascinado.

— É que você teoricamente — Ela fez sinal de aspas no ar— nem me conhece e — Ela tomou um longo fôlego — está me pedindo desculpas, sendo que sou eu quem deveria pedir. Além disso... — Sua voz morreu, junto com o sorriso que ainda rondava seu rosto.

— Além disso? Fala.

— Além disso, era para você estar me atacando, exorcizando, chutando minha bunda para a luz, ou o que quer que você faz quando encontra um… Bem, quando encontra alguém como eu.

— O quê? Por que diabos eu chutaria sua bunda?

         O.k., o que ela disse foi estranho, mas não consegui reprimir um risinho quando me imaginei chutando a bunda dela do meu quarto.

— Você sabe o que eu quis dizer, e sabe muito bem! — Ela me fulminou com olhar, a expressão agora perigosa, as mãos tremulas.

— Não sei não.

— Sabe sim!!! Você se mudou para minha casa só para me mandar embora! — Ela gritou, totalmente linda nervosa.

— Embora para onde? — Gritei de volta reprimindo minha vontade de agarrá-la— Eu nem te conheço, nunca tinha te visto até hoje.

— Mentiroso!!!

— É verdade, eu vim para cá por que os meus pais e os dos meus amigos compraram essa casa para a gente estudar.

— E isso te dá o direito de pintar meu lindo quarto de azul e de colocar todas essas coisa de garoto nele... — Ela falou um pouco mais baixo, olhando em volta. — Meu quarto… — Sussurrou.

         Eu só a encarei, sem palavras. Ela sentou na ponta da cama e ficou olhando para baixo, derrotada. Ficou assim, em silêncio, por um longo tempo. E quando ergueu o rosto novamente estava chorando. Tinha lágrimas por toda a bochecha e a ponta do seu nariz estava ficando vermelha, assim como seus olhos.

         Eu dei um passo adiante, com a intenção de confortá-la, de segurar seu rosto entre minhas mãos e beijá-la até que a dor que vejo em seus olhos desapareça ou me consuma no lugar dela, mas parei ao processar o que ela tinha dito anteriormente e me ouvi dizendo delicadamente:

— Esse quarto era seu? Você morava aqui?

         Ela fez que sim com a cabeça.

— Meus pais e eu morávamos aqui — Ela falou e depois analisou minha expressão com tanta dor que eu rompi o resto do espaço entre nós e sentei ao seu lado. Então continuou, a voz fraca. — Nós éramos felizes, eu era feliz. Eu tinha amigos, um gato, gostava de ouvir música, freqüentava a escola… Confesso que desse último eu não gostava — Forçou um sorriso que logo sumiu. — Mas até de estudar eu sinto falta. Eu faria tudo, daria todo o dinheiro que eu tenho, tinha, para voltar a estudar. Mas o que as pessoas invejosas dizem é verdade, o dinheiro não compra tudo.

— Então deixa eu ver se entendi: Você é uma garota rica que era popular na escola, até que seus pais resolveram levar você… Sei lá, para o Haiti para ajudar as pessoas do terremoto e lá não tem uma escola a altura para você freqüentar e restabelecer sua fama de “As patricinhas de Beverly Hills”?

         Ela ficou me observando por um tempo, pensativa. E quando eu comecei a pensar que talvez a tivesse ofendido chamando-a de patricinha, ela me encarou e, suspirando, disse como se fosse a coisa mais natural do mundo:

— Você errou. — Ela sorriu. —Eu pensei que você soubesse, mas parece que você não sabe mesmo, me desculpe por ter te atacado verbalmente. — E quando ela viu minha expressão confusa acrescentou com o tom mais natural o que eu jamais esperava ouvir dela, nem de ninguém.— Eu não tenho mais nada disso por que eu morri.

         Bom, agora está explicado todo o negócio de chutar a bunda dela para a luz e o exorcismo, como ela falou mais cedo. Eu ri.

— Eu estou morta… Literalmente morta. — Ela reafirmou, séria, como se eu não tivesse entendido que ela está…

         Eu congelei.

— MORTA?! — Arfei.

         Ela revirou os olhos.

— Nooooossa que espanto! Com se você não fosse um mediador, como se não estivesse acostumado com isso.

         Um o quê?????

— Você disse que eu sou o que?
— Mediador, definição: pessoa que tem o dom — ela fez aspas no ar — de ver as pessoas mortas que ainda não foram … hum… embora para algum lugar que deveriam ter ido e que não tenho a menor idéia de onde seja pois nunca cheguei sequer perto de ir para o céu ou inferno, sei lá, enfim. Os mediadores mediam dã, as pessoas para onde elas têm de ir, embora muito deles não aceite os ossos do oficio e fingem que não vêem nada, que não sabem de nada sobre essas pessoas que estão agonizando entre este plano e algum outro. O que certamente você também faz, finge que não sabe de nada. Covarde!

         Eu tomei um longo fôlego, tentando absorver tudo que ela falou, o que não foi pouco, sobre eu ser um mediador e tudo mais. Eu certamente NÃO vejo gente morta, pelo menos até hoje.

— Há um engano. — Eu falei, meio tonto com essa história toda. — Eu sei o que é um mediador, li todos os seis livros de “A mediadora”. Mas nunca vi ninguém assim antes, morto. E você devo acrescentar, não me parece morta.

         A imagem da criança que eu quase atropelei e que depois tentou me matar (E me beijar ecaaaa!!!!!) me veio a mente. A luz que ela tinha envolta…

— Você não reparou nada de diferente em mim? — A voz dela quebrou meu pensamento. — Sei lá, eu não sou diferente que as outras pessoas em alguma coisa? Mais transparente, verde, ou não tenho pés, igual ao “ o fantasminha”… Qualquer coisa diferente.

         Eu a fitei. Definitivamente ela tem pés e de modo algum é verde ou transparente. Para falar a verdade eu até acharia ela normal, se não fosse um insulto achar uma pessoa linda dessa normal. Tão linda como essa luz que…

— A luz!

— Não é hora de fazer piadinhas sobre aquele filme com toda aquela coisa de não vá para a luz. Isso-não-tem-graça.

— Não… — Ergui uma mão para tocar a luz que a envolvia e ela se afastou imediatamente, em uma velocidade inumana, dizendo friamente “não me toque”. Eu escondi minha tristeza por isso e fingi que essa distância dela não me abalou.

— Tem uma luz muito… brilhante te contornando e ela te deixa… — Eu me parei antes que dissesse que a luz a deixa ainda mais linda, e completei com a primeira outra coisa que me veio a mente.— Te deixa resplandecente.

         Resplandecente. Estou ficando bastante estudioso, ou não estou? Quem sabe um dia eu consiga chegar à faculdade...

— É? Resplandecente soa legal. — Ela sorriu, agora mais animada e com toda aquela tristeza esquecida. — E você já viu mais alguém com essa luz?

         Eu pensei por um tempo e a imagem da criança que me atacou retornou nítida. Os olhos me olhando com ódio, o sorriso desdenhoso e maléfico… Eu sacudi a cabeça.

— Uma outra vez. Uma criança — Foi tudo o que disse.

         Ela tinha sim uma luz, embora mais escura e não tão brilhante.Espero não ver aquela pirralha tão cedo. Eu pensei, ao mesmo tempo que a fantasma sentada ao meu lado disse toda empolgada:

— Então nós temos que achá-la!


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Notas finais do capítulo

Como o prometido os dois capítulos do dia! Reviews, broncas, xingamentos, pragas fantasmagóricas ^^
Até breve, dessa vez bem mais breve eu espero.