─ Acorda, preguiçoso. ─ Despertei, sem muita vontade, e me deparei com aqueles dois olhos grandes e castanhos me encarando. ─ Já são 7 horas.

─ Droga... Não vou levantar. ─ Peguei um travesseiro e escondi minha cabeça entre ele e minha cama, manhoso.

─ Vai sim. ─ A mesma pegou meu travesseiro, junto com minhas cobertas, e os atirou no chão.

─ Ei! ─ Sentei-me, emburrado.

─ Não vai ficar de mal-humor logo de manhã, né? ─ A garota apoiou as mãos no colchão e me surpreendeu com um beijo curto, seguido de um sorriso tímido.

─ Agora eu acordei. ─ Brinquei, ficando de pé e me espreguiçando. ─ Hoje é terça, né?

─ É.─ Respondeu, alegre.

─ Hm... ─ Fiquei pensativo, enquanto me preparava para mais um dia. Sarah fazia o mesmo. "Não quero passar por isso de novo, mas pelo menos vai ser a última vez.".

Acabei saindo cedo demais, não de propósito. Me encontrei com o Sr. Criança(cada dia eu iria inventar um novo nome para irritá-lo), demos um breve cumprimento, enquanto ele e Sarah ficavam conversando logo atrás de mim. O colégio não era longe, não se passavam de 20 minutos de caminhada. Eu estava de bom humor, apesar de não parecer para a maioria das pessoas.

─ Ei, Garoto problema, você não pode colocar um sorriso no rosto pelo menos uma vez? Chega a irritar, sabe. ─ O cara falou, porém não o encarei de volta.

─ Eu posso sorrir se eu quiser. ─ Respondi em voz baixa, não esperando realmente que ele entendesse.

─ Então pelo menos mostre um pouco de felicidade, pô! O dia está bonito, e você tem duas companhias bem legais ao seu lado! Hahahaha ─ "Parece que ele tem uma audição boa..."

─ Pra quê? Fazer coisas em vão é estupidez. ─ Peguei meu celular dentro do bolso e coloquei os fones. Apesar de a música estar tocando, pude ouvir os dois conversando logo atrás.

─ Ele é sempre assim? ─ Robs falou, sussurrando no ouvido de Sarah.

─ David não é bom para se comunicar com os outros, mas é uma pessoa legal depois de se tornar mais íntimo dele. É alguém bem interessante. ─ Sarah respondeu, mas sem sussurrar, como se quisesse que eu o ouvisse. Em resposta, levantei a mão e depois fiz um sinal com o polegar. Ela riu.

Continuamos o caminho mais ou menos assim, até finalmente(infelizmente) chegar. Se teve uma coisa que eu percebi, mesmo depois de passado um tempo, é que faltavam várias pessoas. Lembram-se de que eu disse que conhecia cada rosto dali(ok, eu não conhecia o Robs, mas isso é um detalhe)? Eram nesses momentos que esse meu "conhecimento facial" agia.

─ Faltaram umas 25 pessoas, só nas turmas do 1º ano... ─ Murmurei. Provavelmente era algum tipo de festa sem noção dos alunos do ensino médio e nono ano. Mas isso não me importava muito. Quanto ao Robs... Não podia dizer o mesmo.

─ Preciso investigar isso mais tarde. Faltar por causa de algo tão trivial é inadmissível! ─ Ele coçava o queixo, mais falando consigo mesmo do que com qualquer outro. Ele fazia isso de vez em quando.

─ Ah, isso faz parte. Se fosse num dia de prova teria problema, mas hoje não tem nada de especial, então... ─ Sarah foi argumentar, mas foi interrompida.

─ NADA DISSO! ─ O mesmo gritou, fazendo qualquer um parar na hora. Quase que podiam-se ver faíscas saindo de seus olhos. ─ Todo dia tem algo de especial! A escola é um lugar mágico!

─ Pra você... ─ Suspirei. Como ele podia ser tão energético?

─ T-Talvez você esteja levando tudo muito a sério... Não tem problema um só dia, né? ─ Sarah continuava tentando amenizar a situação, mas o jovem saiu correndo para fazer uma patrulha pela escola com toda sua determinação. "Eu queria ter esse ânimo na hora de fazer uma prova..."

Não sei dizer se isso foi bom ou ruim, mas o dia aparentemente havia passado mais rápido. Além de Sarah que, eu querendo ou não, acabava vendo toda hora, não vi mais ninguém conhecido o resto do dia(na parte da escola, claro). Na aula de geografia, penúltima, e que eu tinha com Sarah, aconteceram algumas confusões que se diferenciaram dos dias anteriores.

Pra começar, o professor tinha faltado. Mandaram um substituto, mas por algum motivo o mesmo foi bombardeado com bolinhas de papel da "galera do fundão"! Ele saiu gritando algo como "Alunos inúteis! O diretor vai ficar sabendo disso!" e até alguém vir brigar conosco ficamos sem ter aula. Obviamente eu adorei isso.

A maior parte do tempo fiquei conversando com a garota do meu lado, que por acaso também era minha namorada(ainda era estranho para mim dizer isso), sobre coisas fúteis.

Meu celular tocou, enquanto eu ia para casa. O vibrar em meu bolso me deu um leve susto.

─ Vá indo na frente. ─ Falei, me dirigindo à Sarah, enquanto atendia a ligação.

Eu já podia imaginar quem era, e não poderia estar menos certo. Sempre com aquele mesmo assunto, nunca dando o braço à torcer. Vocês sabem de quem eu falo, não?

─ Você vai estar lá, certo? Apenas compareça. ─ Finalizei a conversa, após um pouco tempo, e desliguei o celular. Corri para alcançar a garota que estava bem mais em minha frente, mas consegui chegar.

─ Quem era? ─ Ela me perguntou, curiosa.

─ Vai descobrir mais tarde... ─ Encarei o vento, eu não queria falar muito sobre isso, só iria piorar. Afinal, ela iria ver tudo em não muito tempo.

E assim foi. Fui para o meu trabalho à 1 hora, e voltei às 6, como sempre. Não querendo menosprezá-la, mas aquela loja normalmente quase não tinha clientes, então eu não precisava trabalhar muito.

Ao chegar em casa, fiquei deitado em minha cama, esperando eles chegarem, repassando as cenas que eu planejava ocorrer em seguida em minha cabeça, várias vezes. Eu estava nervoso. Esperar estava me matando.

Então, finalmente, ouvi o barulho de um carro parando em frente à minha casa. Respirei fundo, e desci as escadas. Abri a porta instantes antes de uma mulher de cabelos negros e compridos tocar a campainha.

─ Então vocês vieram mesmo... ─ Suspirei, sem encará-la nos olhos.