Acordei em um belo dia com os olhos brilhando.

─ Ah, como eu amo acordar tarde! ─ Joguei os braços para o alto, e não me importei com o fato de tê-los batido na cabeceira da cama. Era fim de semana, afinal. Não tem nada mais revigorante do que acordar às 2 da tarde em um sábado. Fiquei deitado por um tempo, sem me preocupar em levantar logo. Dias como esse eram ótimos, ainda mais eu sabendo que a época de trabalhos e provas estava chegando, para logo depois as férias do meio do ano(ou, se preferir, férias de verão) virem. Um "dia X", do qual não sabíamos ainda qual era, seria o grande dia de entrega de todos os trabalhos e apresentações, mais uma prova. Este dia também teria uma aula extra para que tudo coubesse. "Francamente, por quê não distribuem os dias de entrega?".

Ia ser uma semana cheia, mas eu não estava realmente preocupado com isso. Eu já tinha alguns trabalhos prontos, e para as provas, como eu já dissera antes, eu não precisava estudar muito para tirar uma nota boa. 

Olhei pela janela, com a visão ainda meio embaçada. Estava nevando. "Neve? Mas estamos quase no verão... Que estranho.". Mas era bom, porque eu gostava de frio. Me levantei, e só então percebi que o Fênix estava debaixo das cobertas.

─ Desde quando você está aqui?! ─ Perguntei, assustado, e em troca recebi um latido de felicidade. Fiz uma expressão de desgosto, e me apressei em pegar uma blusa grossa. Desci as escadas, e não encontrei meu pai. Em cima da mesa se encontrava um bilhete.

"Filho, hoje eu terei que ir trabalhar, já que por causa da neve muitos não puderam ir. Eu volto mais ou menos no horário usual. Tem comida congelada no freezer, você já sabe. Até mais.

OBS: Ah, se puder, vá até o mercado para mim e compre mais pó de café e mais sal." 

Amassei o papel, depois de ler, e joguei no lixo. Eu não estava realmente com muita fome, tendo em vista que eu acabara de acordar. Olhei para fora, e vi a fina camada de neve que cobria o solo ir ficando cada vez mais espessa, e algumas crianças saíam de suas casas para brincar. Eu quis dar uma olhada melhor lá fora, então coloquei minhas luvas, vesti um tênis e saí. Estava realmente frio, mas não chegou a fazer muita diferença, com a roupa que eu estava usando. Pequenos "pingos" gelados caíam sobre minha cabeça, que estava descoberta. "Melhor eu colocar uma touca". Rapidamente entrei em casa e o fiz, e então voltei a sair. 

"Acho melhor eu ir no mercado agora, antes que ele feche por causa de alguma nevasca." Pensei e ajeitei meu casaco, começando a andar. O local não ficava muito longe da minha residência, então em menos de 15 minutos eu já me encontrava lá.

Era engraçado como de 1 em cada 5 vezes que eu saía de casa, a pé, eu acabava encontrando Sarah no meu caminho. E, eu querendo ou não, essa era uma delas. Tentei andar vagarosamente para longe dela, mas era tarde demais.

─ David? ─ Ela dizia, ao longe, tentando me identificar. 

Bufei ─ Oi.

─ Ah, que bom te ver por aqui! ─ Já abria um sorriso. 

─ É, tanto faz. ─ Olhei em alguma outra direção, com as mãos nos bolsos. Sarah se aproximou de mim.

─ Está frio hoje, uh? ─ Ela comentava, pegando algum objeto em uma prateleira.

─ Sim. ─ Fui até o outro lado do corredor, quando avistei o pó de café que meu pai pedira para comprar. ─ E vai piorar.

─ Como sabe? 

─ Meteorologia, como mais poderia saber? ─ Falei, como se fosse óbvio. ─ Em que corredor fica o sal?

─ Ali. ─ Ela apontou para o dito cujo. Murmurei um "Valeu" e peguei o que precisava. 

─ To saindo. ─ Avisei, me dirigindo até o caixa.

─ Ah, eu também já terminei aqui. ─ A garota me seguiu.

"Será possível que eu tenho que aturar ela onde quer que eu vá?".

Paguei minhas compras e fui em direção à ir embora, mas Sarah me chamou.

─ Ah, David. Antes que eu me esqueça. ─ Começou.

─ Hm? 

─ O trabalho de química, quer fazer comigo? ─ Ela perguntou, me olhando enquanto entregava o dinheiro para a atendente do caixa.

─ É obrigatoriamente em dupla? ─ Perguntei.

─ Não... É desde individual até grupos de 4 pessoas. ─ Me informou, quase cabisbaixa.

─ Então não. Já imagino que saiba. ─ Falei, olhando para o lado oposto.

─ É, mas... ─ Ela coçou a nuca─ Eu não me dou muito bem em química. ─ A este ponto da conversa já estávamos do lado de fora, caminhando para lugar nenhum, antes que percebêssemos.

─ Então o trabalho todo ficaria para mim e... ─ Comecei a falar, mas ela me interrompeu.

─ Não! ─ Ela parou de andar. ─ Claro que eu vou fazer toda a minha parte! É só que...

─ Você espera que eu te ajude, é isso? ─ Tentei entender.

─ Mais ou menos. ─ Ela confirmou.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, e eu dei um suspiro pesado, olhando para os lados.

─ Tanto faz. ─ Falei, por fim, me dando por vencido.

─ Yes! ─ Ela comemorou. ─ Muito obrigada!

─ Mas é só dessa vez! ─ Fui logo avisando.

─ Tudo bem. ─ Ela sorriu de olhos fechados, fazendo uma expressão simpática e feliz. ─ Bem, eu vou indo. Até mais! ─ Ela se despediu, seguindo um caminho que me estranhou.

─ Ei! ─ Gritei, à certa distância. ─ Você não mora na Louis Portinsson?

─ Sim, por quê? ─ Ela perguntou.

─ Porque é pra lá. ─ Apontei para uma outra rua, diferente da que ela seguia.

─ Ah! ─ Ela coçou a nuca, envergonhada. ─ É verdade, obrigada! ─ Ela começou a andar e tropeçou no chão fofo e gelado de neve. Se levantou rapidamente e limpou a roupa. ─ Eu estou bem! ─ Balancei a cabeça, em reprovação. "Essa garota é a pessoa mais desastrada que eu já vi".

Voltei para casa, e, quando abri a porta, estranhei o Fênix não ter vindo correndo até mim, como sempre fazia. O vi encolhido na cama, com frio, sem querer sair de lá. 

Joguei meu casaco no sofá e aumentei a temperatura no termostato, logo após fechar todas as janelas. Relaxei no sofá e liguei a televisão. Acabei dormindo, depois de um tempo, mas antes pude perceber alguma coisa peluda e fofa se aconchegando em meus pés. Como estava dormindo-acordado, apenas ignorei. Sonhei com peixes e vacas voadores. Foi legal.