Tendo Um Fim Doce...um Amargo Não Conta! escrita por Iulia


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Esse saiu gigante...! Deu 21 páginas no Word. Já sabem né, a história da chácara, da preguiça do sinal, de ficar aumentando os capítulos e tals...



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Eu me sento no braço do sofá e observo Cato e Haymitch discutirem em qual local será melhor anunciar o nosso noivado. Estando, claro, bem atenta para o caso de Cato se descontrolar. Ele defende a ideia da Passeata e Haymitch acha melhor na nossa aparição na praça. Mas os dois, e claro, eu concordamos que devemos fazer isso no Distrito 2.

 -A Passeata é sempre mais cheia de gente. –Cato contesta.

 -Mas na praça ficaria mais óbvio. Lá tem mais câmeras da Capital. Vocês têm que dar tempo para as pessoas prepararem o casamento.

 -Haymitch, a gente não pretendia que ninguém preparasse nosso casamento. Nem gostaríamos de deixar tão evidente a ponto de várias pessoas quererem comparecer nisso.- eu pelo menos não.

 -Bom, terá que haver uma cerimônia que deixará tudo evidente. De alguma forma a Capital tem que saber disso. Mas já que está tão preocupada com isso, queridinha, vocês deviam fazer uma cerimônia só de vocês.

 -É, talvez. –eu falo. –Cato, acho melhor anunciarmos na praça. Me parece mais visível. Nem vamos anunciar a data já que Snow quer que seja perto do Massacre, pra Katniss e Peeta estarem se casando também.

 Ele olha irritado para mim.

 -Cato. Vai ser melhor. Nós já conversamos sobre isso, não? –eu digo para ele. Me sinto ridícula falando como se estivesse dizendo para um bebê que quebrar lápis é errado.

 -Já.

 -Então posso dizer que vai ser na praça?

 -Pode. –ele fala contrariado.

 -Ah, Cato, vai ser melhor... Por favor.

 -Pode ser, Clove. Sério.

 Ele sabe ser indiferente com maestria. Mas não vejo como ele quer casar comigo se só eu aprendi a lidar com ele. Eu sempre desisto da minha cisma porque odeio ficar sem falar com ele.

 -Ótimo, Haymitch, está decidido. –eu falo, deixando claro para Cato que não me importo com ele. Quer dizer, fingindo deixar claro, porque eu me importo.

 Geralmente, quando estamos próximos assim de enfrentar algum Distrito, eu gosto de ficar abraçada com Cato, mas parece que estamos adiantados demais e o 12 ainda vai demorar para chegar e, é claro, eu estou tentando ignorar Cato.  Só para ver como ele vai lidar.

 Vou para outra janela e escuto as pessoas reclamando com Effie, dizendo que estamos muito adiantados e avisando que vão para suas cabines.

 Logo a sala se esvazia, ficando apenas Cato e eu.

 -Clove? –eu escuto Cato me chamando. Me viro desinteressadamente para trás, fingindo conter um bocejo.

 -Sim?

 -O que foi?

 -Nada.

 Escuto ele se levantando pesadamente do sofá e vindo em minha direção. Ele está parado exatamente atrás de mim, formando uma sombra. Vejo seu reflexo pela janela.

 -Cato... O que foi está tentando fazer? –eu me assusto.

 -Isso.

 Ele me levantou da cadeira e me jogou sobre um de seus ombros.

 -Cato! –eu grito, tentando não rir, enquanto ele me gira. –Me põe no chão.

 -Não. –ele diz simplesmente. –Para de ser marrenta, Clove.

 -O que eu fiz? –eu tento chutá-lo. Ele finalmente para.

  Ela não me responde.

 -Cato estamos em uma situação séria demais para você ficar fazendo isso. –eu falo para suas costas.  

 -Exatamente, estou tentando descontrair. – Ele me põe –ou joga, como preferir- no sofá e põe a cabeça no meu colo, me deixando presa. –Agora me fala, o que você tem?

 -Nada! Você é muito folgado hein? E se eu não quisesse você aqui?

 -Mas você quer. E você só tinha ficado com raiva. Por isso começou a ficar mais marrenta.

 -Eu só queria ver como você ia lidar comigo. Eu sei te fazer sorrir de novo, você sabe?

 -Acabei de descobrir que sei.

 -É, acabamos de descobrir que você sabe. O teste acabou.

 -Passei, então?

 -Passou.

 Nós dois rimos e vemos Katniss e Peeta aparecerem e se sentarem no outro sofá.

 -Parece que Effie exagerou na pontualidade, não? –Peeta fala.

 -Com certeza. Nós nos arrumamos cedo demais e o trem parou.  –Cato diz, rindo.

 -E onde ela está agora? –Eu pergunto.

 -Acho que chorando no quarto. Ela diz que nós a pressionamos demais. –Peeta fala, sorrindo.

 -E não deixa de ser verdade. Effie tem feito muito. – Katniss parece repreender Peeta.

 -É, tem mesmo. –Digo. Effie realmente tem tentado melhorar as coisas.

 -Você acha mesmo? Você falava dela nem faz dois dias, Clove. –Cato pergunta, sorrindo para mim.

 -Agora eu acho. E também acho que ela não vai gostar de ver seu cabelo todo bagunçado. Levanta aí, folgado.

 -Não. Deixa eu ficar aqui...

 -Fica, então.

 -E o casamento de vocês, ainda de pé? –pergunta Peeta.

 -Acho que sim. –eu respondo rindo. –E o de vocês?

 -Muito bem. Em breve já estaremos na nossa casa na Vila dos Vitoriosos. –fala Katniss, fazendo Peeta beijá-la.

 -Oh, sim... Nós igualmente. –responde Cato.

 -Clove, preciso falar com você. –Katniss fala de repente, me assustando.

  Sinto meus olhos se arregalando. Ela teve bastante tempo para falar comigo, não vejo porque só agora ela decidiu isso.

 -Hum... Comigo? Katniss, você está bem?

 -Estou. –ela diz se levantado. - É exatamente com você que preciso falar.

 -Então tá. –tento agir naturalmente, mas ela só poderia querer falar comigo para transmitir algum aviso de Snow. Um aviso que não é bom. –dá licença, Cato.

 Ele levanta a cabeça para eu sair, e quando o faço, joga-a de volta. Peeta e Cato estão olhando estranhamente para Katniss, como eu provavelmente estou fazendo.

 Que idiotas. É lógico que é alguma notícia da “rebelião”. Não posso evitar pensar o quão uma seria boa. Vou sendo guiada por ela, e quando percebo, estou diante de uma das portas do trem. Uma daquelas que dá para uma varandinha lá fora. Mortal, se o trem voltar a andar.

 -O que vocês estão fazendo? –pergunta algum funcionário da Capital, ao nos ver de frente para a porta, minha mão estendida. –O trem parou, mas é por apenas quinze minutos. Não é seguro saírem.

 E eu sempre contei com o fato que ele fosse um Avox. Mas logo percebo que não, pela sua voz estridente. Tomara que eu nunca tenha falado nada errado perto dele, porque pessoas da Capital são excepcionalmente fofoqueiras.

 -Eu preciso tratar de um assunto com ela. Do nosso casamento. Vai ser junto, você sabia? Os meninos não podem saber. –Katniss sussurra para o homem, como uma garota que a qualquer momento, pode explodir de felicidade. – Não conte, por favor.

 Ele arregala os olhos e sorri para nós. Eu retribuo o sorriso com doçura e um toque maroto.

 -Oh, tudo bem, eu deixo. Mas cronometrem doze minutos, pro caso de nos resolvermos e vocês estarem aí fora. Não gostaríamos de perder nossas beldades Vitoriosas.

 Nós rimos e assim que ele sai, vamos para fora. A paisagem é parecida com a do Distrito 2, muitas montanhas, céu azul, sol escaldante.

 - O que foi? –eu digo fechando a porta e tropeçando com o salto. Essas fitinhas sempre parecem estar folgadas demais. –Porque não podem nos escutar de verdade?

 -Clove, você escutou Enobaria falando. Snow não se convenceu.

 -Escutei.

 -E então...?

 -Então o que? O que você quer dizer?

 -O que você vai fazer? A essa hora, Snow já vai ter  entendido que deve se vingar.

 -A única coisa que eu posso fazer é chegar no 2. Qualquer plano envolveria minha família, Katniss. E até lá eu já estaria casada com Cato, então uma fuga seria apenas se ele declarasse abertamente uma guerra contra nós.

 -Você vai se casar?- ela parece surpresa- Mesmo sem estar na Capital? Quer dizer, você nem anunciou isso.

 -Vou. Ninguém precisa saber da nossa cerimônia. Uma só nossa. A da Capital nós resolvemos. E gostaria de saber por que Snow não veio me desafiar cara a cara. Odeio recados. Preferia que nós já estivéssemos em uma guerra declarada. Mais alguma coisa?

 -Não. Acho que não.

 -Então é melhor nós irmos antes que eles percam suas “beldades Vitoriosas”. Seria uma morte trágica. Ninguém iria querer usar o trem. –digo, fazendo aspas com os dedos e abrindo a porta, tentando arrumar meu sapato.

 -Não! Clove espera. Tenho mais uma pergunta.

 -Pode falar. - digo. –essa droga de salto não tá legal. –sussurro, tentando me lembrar de pedir a Alexander para me dar outro. Estragaria a “essência da roupa” mas... ele deve ter um reserva.

 -Você vai se casar. Isso é pela Capital ou por vocês?

Se eu fosse responder essa pergunta a mim mesma, eu diria que seria por nós com um empurrão da Capital. Mas como é Katniss... nem é implicância, mas ela pode soltar isso com a Effie ou o Peeta. Eles dois têm a boca grande demais. Suficiente para sair por aí falando para todo mundo...

-É por nós. Nós decidimos nos casar. E vocês?

-Peeta queria que fosse de verdade. Mas eu acho que eu não queria. Snow precisava de convencimento, então nada melhor que um casamento para convencer do nosso amor.

 -Você não gosta do Conquistador de verdade?

 -Gosto. Às vezes acho que gosto, às vezes acho que é só encenação minha. Ele eu sei que gosta. Mas esse negócio de encenação confunde as coisas. Desde o começo, Haymitch combinou de a gente fazer esse tipo.

 -Bom, a Capital empurrou um pouco a gente. Eu até tinha planos de fazer esse tipo, mas desistimos porque pegamos os piores mentores ano passado. Nós só recebemos um patrocínio perto do fim dos Jogos.

 -Vocês parecem brigar muito.

 -E brigamos. Mas isso quase nunca dura. Teve uma vez que eu  fiquei três dias sem falar com ele. Foi na Arena, mesmo quando já tinha engatado. Mas se nós fugirmos, ele vai calar a boca. Têm planos de fugir?

 -Sim. Snow decidiu que eu devo ser a mais aterrorizada dos quatro. Ele espera que eu passe a mensagem para vocês.

 -Bom, eles está conseguindo te deixar aterrorizada. Eu não deixaria, Garota do Fogo. De uma forma ou de outra, se tudo der errado, só nos resta fugir. Concentre-se nisso.

 -Bom, obrigada, mas eu nem me sinto mais tão aterrorizada. É como você falou.

 Eu aceno com a cabeça e abro a porta. O funcionário da Capital está parado no corredor.

 -Então, resolveram os detalhes? –ele me pergunta animadamente, olhando por cima do meu ombro para ver onde Katniss está. Mas ela  foi para sua cabine.

 -Estamos tentando. –eu sorrio docemente. –São muitas coisas e queremos que tudo saia perfeito.

 -Oh, claro! Um casamento assim não se planeja do dia para a noite, não?

 -Não  mesmo, eu estou sentindo isso na minha pele. –Como eu queria poder estar preocupada só com isso.

 -Minha esposa achou essa edição dos Jogos a melhor.

 -Eu também! Tive a sorte de encontrar o amor da minha vida lá. – e igual risco de morrer umas quinhentas vezes.

 -Você é tão simpática!

 -Obrigada. Bom, tenho que ir ver se consigo passar mais um tempo com meu futuro noivo. Logo vou anunciar nosso noivado.

-Tive a honra de saber disso mais cedo. –ele diz, se distanciando. Logo vejo meu sorriso sumir. Eu não mereço isso...

   Vou para a sala e encontro Effie junto com Peeta e Cato.

 -Effie, as fitinhas desse sapato estão frouxas. Eu vou tropeçar nisso. –digo, me sentando e apontando para o sapato.

 -Oh não, querida! Esse é o charme do sapato. Você está linda.

 -Vou estar ainda mais linda com a cara no chão. – sussurro para mim mesma.

 -Eu ouvi isso. – Cato diz jogando a cabeça de novo no meu colo.

 -Você de novo? Não cansa de ser folgado, não? – nós dois rimos e somos timidamente acompanhados de Peeta e Effie.

 -Cadê a Katniss? – Ouço Peeta falar enquanto Cato tenta alongar a cabeça para me beijar.

 -Depois que a gente conversou, ela foi para a cabine. Não disse nada.

 Como se ela fosse dizer alguma coisa pra mim. Como se eu tivesse que saber.

 -Eu vou chamar as pessoas. Já estamos quase chegando. –Effie fala animadamente, se levantando e rebolando até o corredor.

 -Pronto, nós já estamos chegando vai arrumar seu cabelo agora. –falo para Cato, tentando empurrar a sua cabeça que ainda tenta chegar a minha e rindo.

 -Não precisa. Vai ficar ainda melhor bagunçado.

 -Então tá. –eu digo e começo a mexer no cabelo dele.

 -Então, Peeta, como é o Distrito 12? –Cato pergunta distraidamente, enquanto eu olho a paisagem pela janela.

 -É deprimente. –ele fala me fazendo olhar. – É o lugar mais deprimente de toda Panem. Está sempre cheio de carvão, é escuro e faz frio geralmente. Não é um lugar nem um pouco bonito.

 -Mas só a Capital é bonita em Panem, Conquistador. – contesto, tentando animá-lo. Só nessas horas percebo como os Jogos me amoleceram.

 -Não... O seu Distrito, o 1, o 4 são bonitos. Também são os mais ricos...

 Olhe, não é como se nós nadássemos no dinheiro. Isso só a Capital faz. Podemos dizer que não passamos fome, claro. Mas as pessoas costumam pensar que os Distritos que ele falou são cópias da Capital.

 Tenho certeza que Peeta está se segurando para não ir trás de Katniss. Eu própria gostaria de saber qual é o problema dessa garota.

 Então, ela aparece, com a roupa e a maquiagem exatamente igual à antes. Ou seja, sem lágrimas.

 -Onde estava?- pergunta Peeta, quando ela se senta ao seu lado.

 -Na cabine.

 -Fazendo...? –Peeta questiona. Deve parecer incomodo para ela ter que falar com eu e Cato os olhado como duas corujas.

 -Pensando. –ela responde.

 -Andem, em formação. Se arrumem, já! O Distrito 12 chega em dois minutos. Cato! Você vai bagunçar seu cabelo! –Effie berra escandalizada.

 -Eu te avisei. –brinco, empurrando a cabeça dele para cima e me levantando, tentando me arrumar. Acabo de esquecer que não troquei o sapato. Bom, parece que o povo do Distrito 12 terá o prazer de me ver com a cara no chão.

 As pessoas vão chegando na sala e logo a porta do trem se abre para a estação. Nós saímos e somos recebidos por uma multidão. Eles não têm dinheiro para câmeras, mas repórteres da Capital estão aqui nos fotografando incomodamente.

 Eu aceno sorrindo e conseguimos finalmente chegar ao carro que nos guiará para a praça. Não precisamos nos arrumar, uma vez que será apenas um discurso alegre e rápido. Parece que depois iremos para a casa do prefeito nos arrumar para os futuros eventos.

 O carro nos permite ver o Distrito 12. É como Peeta falou, deprimente. As ruas estão sujas de carvão permanentemente, o que dá uma ideia de sujeira e escuridão constantes. O frio supera o de qualquer Distrito que vistamos. Mas ainda assim, eles parecem felizes em estar em casa, mesmo que por pouco tempo.

 O carro para no Edifício da Justiça e nós descemos vagarosamente, parando ocasionalmente para acenar. Enquanto ando pelo corredor até o palco, segurando a mão de Cato, me viro para o lado e vejo Katniss estremecer.

 - O que foi? – eu pergunto. Se ele tiver visto algum bicho, ou coisa assim, tenho certeza que ela preferiria não falar nada ou gritar, mas eu tenho muito coragem de fazer isso.

 -Não foi nada. – ela fala, tensa.

 Me viro para Cato para ver sua reação e ele ergue as sobrancelhas e aumenta o aperto na minha mão.

 -É aqui a porta do palco. – Effie fala, parando subitamente. –Eu quero que vocês vão lá e façam tudo certo que nem combinamos no começo da Turnê. Vai ser um discurso pequeno, vocês têm mais coisas para fazer.

 Nós acenamos e passamos pela porta.

                                               ***

 As pessoas do Distrito 12 estão entusiasmadas. Mais do que o normal para um Distrito tão pequeno. Os homens levam suas filhas ou esposas nas costas, para que tenham uma visão melhor de nós. Quer dizer, de Katniss mais provavelmente.

 Eu me “alegro”, sorrio, faço piadas, distribuo beijos... Sou a pessoa mais feliz do mundo. Parece que a única pessoa que não convenço é Snow porque todo mudo parece encantado com a minha simpatia risonha. E os parentes das minhas vítimas, claro.

  Observo Katniss receber beijos principalmente de uma garotinha loira, que está nas costas de um garoto moreno, muito parecido com ela, e de uma mulher também loira.

 Quando recebemos mais rosas e mais placas, nós terminamos nossa hora lá com um grande urro da multidão. Não imaginava que era tão boa atriz assim. Peço Cato para me ajudar com os meus presentes e entramos de volta na sala.

 -Era sua família? –eu pergunto para ela, me sentando no sofá. Os meninos foram para outra sala, fazer não sei o que, considerando o fato de quem em breve já vamos para a casa do prefeito.

 -Quem? –ela me pergunta ajeitando o cabelo no espelho. Eu sei, estou sendo intrometida, mas não temos mais nada para falar e eu fiquei curiosa.

 -Aquela garotinha loira, a mulher loira e o garoto moreno.

 Ela cora consideravelmente. É esse garoto que está impedindo ela de dizer que gosta de Conquistador.

 -É. Minha irmã e minha mãe. –o pai dela deve ser moreno ou então ela é adotada. –E... meu primo.

 -Você está apaixonada pelo seu primo?-eu pergunto olhando confusa para ela.

 -Eu não estou apaixonada!

 -Então ele é seu amigo? Aqui não têm câmeras, Katniss.

 -É. Gale. Ele é meu amigo desde que meu pai morreu. Mas não estou apaixonada por ele.

 Bom, alguma coisa com ele tá te empacando... Uma ameaça ele não te fez, isso é um fato. Então agora posso dizer que o pai dela era  moreno.

 -Vamos. Para a casa do prefeito nos arrumar para a Passeata, queridas. –Effie fala, enfiando a cabeça pela porta.

 Eu me levanto do sofá, checo minha aparência no espelho e vou para a porta. Cato já está no corredor. Ele sorri para mim e pega minha mão. Somos guiados novamente até o carro e seguimos pelas ruas escuras até a tal casa do prefeito. Imagino que as pessoas devem estar muito felizes porque quando alguém do seu Distrito ganha os Jogos, as pessoas recebem alimentos no Dia da Parcela. É só uma forma da Capital de tentar no iludir com a ideia de que é boa para a gente.

 A casa do prefeito não é grande coisa. Assemelha-se bastante às casas da Vila dos Vitoriosos, com a diferença que têm um terceiro andar. Alguns Pacificadores abrem a porta para nós e somos recebidos pelo prefeito e sua família.

 Nem temos tempo de falar direito com a família porque Effie diz que temos que nos apressar. A garota, Madge, filha única do prefeito Undersee e de sua esposa também loira, abraça Katniss, mas eu me contento em lhe dar “Oi” simpaticamente. Enquanto subimos cansativamente as escadas, dou um cutucão em Cato.

 -Cuidado com o que vai fazer. Você é meu noivo agora para todos os efeitos. –sussurro, porque a garota é bonitinha.

 -Calma aí, baixinha. Não vou fazer nada não, futura noiva. –ele diz rindo e me abraçando. Mas eu não posso rir agora, se não, perco a autoridade.

 -Ótimo. – digo olhando fixamente para ele, que sorri. – ótimo, você pensar assim.

 Descobri que tenho um problema com loiras. Elas me geram o dobro de raiva que seria comum.  Mesmo a garota sendo bem simpática, eu sempre imagino Cato me trocando por uma delas com mais facilidade que me trocaria por outra garota. Tem essa Madge, tem as garotas da Estação, teve Glimmer. Admito que a pior  foi e sempre será Glimmer.

 Os meninos vão se arrumar em outro quarto para a Passeata e nós ficamos em um quarto do lado do deles. Tenho mais um dia daqueles tristes, onde me depilam, me lavam, me depilam de novo, me lavam de novo. Como o povo da Capital consegue fazer isso todo dia? Eu fico toda dolorida.

 Vemos uma breve briga entre Alexander, Cinna e Effie, porque ela queria que nós fossemos para a Passeata de vestido, mesmo com toda essa neve lá fora. Mas logo eles se resolveram, pediram desculpas e se abraçaram. Eu acabei saindo com uma calça de couro preta, vários acessórios de inverno e uma bota com um salto estranho. Mas Effie acabou se contentado.

 -É, parece que não vamos passar frio. –Cato fala, quando eu já saí do quarto, me abraçando.

 Eu sorrio.

 -É. Não vamos de forma nenhuma.

 Essa roupa pesa quase o mesmo tanto do peso Catherine nas minhas costas. Se fosse só a roupa, mas não. Effie tinha que sugerir todas essas luvas e gorros. Em casa eu nunca precisei usar roupas assim. No inverno lá também neva, mas nem tanto quanto aqui. Não tenho dúvidas de que prefiro não precisar voltar nunca mais para o Distrito 12.

 A Passeata transcorre normalmente com as crianças magras e morenas felizes, comentando as coisas “maravilhosas” e “extraordinárias” que a Capital mandou. Um luxo que eles nunca tiveram, e que para mim, é algo rotineiro.

 Quando, congelados, podemos voltar para a casa do prefeito, eu me dedico a passar o dia inteiro no quarto. Ouço que Cato está me procurando, mas ele pode me achar depois. Mesmo porque eu quero um tempo sozinha e não tenho nada para fazer lá fora.

 Qualquer plano vai envolver toda a minha família e a minha capacidade de persuasão. É claro, meu pai e meus irmãos aceitariam, mas a minha mãe eu terei que pestanejar. Harry, com certeza acharia o máximo essa ideia, ao contrário de mim. E até mesmo o avô deles. Eu tentaria fazê-lo vir conosco, mesmo Cato não fazendo questão. Eu não mereceria ter mais uma pessoa morta me assombrando. E também por que na primeira vez que alguém perguntasse por nós, ele iria nos entregar. Uma grande falta de sorte ter um avô assim.

 Vai ver foi por isso que Cato se voluntariou. À propósito, eu nunca lhe perguntei o porque disso. Fico imaginando o dia em que verei Snow cara a cara, ele me ameaçando. Eu falo que não estou nem aí, mas pode ser que ao vê-lo com aqueles olhos de cobra e aquele cheiro de sangue, eu recue.

 Minha mente passa por Uranius e eu me lembro de Caesar falando que meu irmão tem admiradoras na Capital. Todos patéticos e nojentos. Imagino como aqueles Vitoriosos mais bonitos ainda conseguem sorrir depois de tudo que passaram. Finnick Odair, Gloss e Cashmere... Todos com feições belíssimas e um “amor” enorme pela Capital.

Minha equipe chega e começa a cansativamente a me arrumar. Não consigo escapar do vestido dessa vez, e esse tem umas pedrarias multicolorias no tecido. As sapatilhas de salto, me atrevo a dizer, chegam a ser confortáveis.

 Depois de pronta, resolvo sair do quarto e vou até a janela do corredor, olhar para o 12, já que não faz sentido eu sair daqui e ficar rondando sem conhecer nada na casa.

 -Ei, Clove. –Cato fala, se juntando a mim na janela. –Onde estava, baixinha? Não podem ter demorado tanto tempo pra te arrumar.

 -Eu estava no quarto. –digo sorrindo.

 -Fazendo? Cuidado com o que vai fazer hein? –ele repete a minha frase, rindo.

 Lhe dou um leve empurrão, rindo.

 -Eu estava sozinha, idiota. Eu tava pensando...

 -Em qual assunto?

 Faço uma negativa com a cabeça, tentando lhe avisar que existem câmeras aqui.

 -Ah no nosso casamento! - ele fala entendendo e me beijando. – Será perfeito.

 -Será...

 -Oh achei vocês! – Aurélia fala. – Vocês têm que descer para o jantar, queridos.

 -Quantas horas são agora? –eu pergunto para ela, que já ia descendo as escadas, para, provavelmente organizar a nossa procissão. Pelo que sei, todos do Distrito estarão presentes.

-Oito.

 -Quanto tempo temos que ficar aqui? –eu pergunto com meus olhos arregalados. Nunca, em minha vida, eu diria que agora são oito horas da noite. Esse pelo visto, é o que meu pai chamaria de dia perdido.

-Como sempre, até uma da manhã. –ela diz, descendo as escadas de forma barulhenta pelos seus enormes saltos.

 Cato e eu nos encaramos por um tempo, até que nós nos beijamos. Ficamos assim por um tempo, até que decidimos que não queríamos mais ninguém subindo para nos chamar e fomos até a escada que daria para a sala de frente para o jardim onde está sendo realizada a festa.

 As pessoas, em sua maioria morenas do Distrito 12 se encontrão sentados nas mesinhas dispostas pelo jardim do prefeito em suas melhores roupas. Eu poderia dizer que não me importo, mas ver todas essas crianças carentes animadas e saber que elas vão crescer e ter seus nomes selecionados na Colheita me embrulha o estômago.

 Nós sorrimos e logo somos conduzidos a uma mesa reservada especialmente para nós e a nossa enorme equipe. Ainda que amigos juntem as mesas, a nossa continua sendo a maior. As pessoas loiras se juntam com os loiros, e os morenos, com os morenos.  Me pergunto se esse é algum tipo de determinação social.

 -Enobaria, chega. O Justin não toma nem mais uma gota disso. – diz Layran, no meio da festa, ao ver Enobaria oferecer mais uma taça de conhaque à Justin, que já está meio cambaleante. Eu me viro para Cato e o vejo sorrir. Tento disfarçar, mas a situação é engraçada demais para isso. Nós já nos levantamos e nos sentamos várias vezes, sempre falando com pessoas e sorrindo. Katniss e Peeta estão por aí, sendo saudados pelas pessoas.

 -Oi, Cato.

Nos viramos para ver quem é. E olha só, duas garotas um pouco mais novas que eu estão aqui, na ponta da mesa, me ignorando completamente. Nenhuma das duas tem cara de quem passa fome. Elas têm o tipo físico de Glimmer, mas graças à Deus, está coberto por vestidos compridos feito à mão.

 -Hum... Oi. –ele fala, olhando de mim para elas.

 Uma delas passa o olho em mim e eu sorrio, mas deixando bem claro que não gosto delas.

 -A gente queria saber se você não gostaria de dançar com uma amiga nossa. –Então existe outra garota. Como se já não bastasse essas falando desse jeito de quem está apaixonado.  Tento parecer indiferente, bebericando um pouco da bebida, que segundo Effie, é sem álcool.

 Imagino que Cato não está a vontade com essa situação, porque olha de mim para elas, e eu me digno a apenas erguer as sobrancelhas e sorrir.

 -Bom, pode ir. –eu digo, fazendo as garotas se virarem uma para a outra e sorrir, como minhas irmãs fazem de vez em quando. Patético, considerando que ele nem vai dançar com nenhuma delas. Espero que toque a música mais agitada que eles sejam capazes de produzir. –Mas antes quem é a sortuda que vai dançar com meu namorado? –eu pergunto para as garotas, colocando a dose certa de veneno. Não para assustar, para alertar.

 Uma delas aponta para uma garota loira sentada de costas em uma mesa com seus familiares. Nem existe outro jeito de descrever as garotas loiras daqui. Elas têm quase o mesmo rosto.

  -Hum... ela sabe que vocês vieram aqui? –Cato diz já de pé, mas hesitante.

 -Sabe. – a maior fala rápida demais para ser verdade. – Com certeza sabe.

 Ele olha para mim e eu sacudo a cabeça em uma negativa quase imperceptível.

 -Então tudo bem. –eu falo, tentado controlar minha raiva.

 Eu, apenas para provocar, me levanto e beijo Cato com todas as minhas forças, para que todas as engraçadinhas daqui vejam que ele tem noiva. Todas.

 Quando me separo vejo as meninas olhando com cara de ódio para mim, e quando ele está para sair, eu sussurro um “cuidado com o que vai fazer, futuro noivo”

 Me sento de novo na mesa e tento participar da conversa com o resto da equipe, mas nem sequer peguei o começo da conversa e logo vejo Effie se descontrolando com a “falta de classe de Haymitch”

 -Oi, Clove.

 Levo um susto ao me virar e ver o “primo” de Katniss sentado ao meu lado. Cabelos escuros, olhos cinzentos, pele morena. Exatamente a mesma descrição de Katniss e de quase todo mundo moreno daqui.

 -Hum... Oi – eu sorrio. –O primo da Katniss não é?

 -É, sou eu. Gale, prazer. – ele parece bem ressentido com esse “primo”

 -Prazer, Gale. – aperto sua mão. – Está procurando Katniss?

 -Ah não. Ela deve estar com o Peeta.

 -É ... pode ser.

 -Escuta, Clove, posso te pedir uma coisa? –ele fala, olhando nos meus olhos e me assustando. Por favor, eu não vou ser torturada de novo não é?

 -Pode... Depende. –eu falo, hesitante.

 Ele ri.

 -Não é nada sério, não. É que a minha irmã Posy quer falar com você, mas é muito tímida. Eu poderia chamar ela aqui?

 -Oh não. Eu mesma vou até onde ela está. –digo sorrindo. Eu sempre tive um fraco com gente menor do que eu. Talvez porque eu sempre fui  a mais baixinha em tudo... Ou talvez porque eu apenas goste de crianças...

 -Melhor ainda. –ele fala.

 Eu aviso à Effie aonde vou e ela sorri imediatamente, repetindo “um gesto maravilhoso, querida!”. Ao seguir Gale, vejo Cato dançando com a tal garota. Ele parece bem entediado e a garota não para de falar. Mas é melhor, porque assim, ela não faz outras coisas. As duas que falaram com ele estão a alguns passos de distância, sussurrado entre si aquelas coisas que chamo de “Assuntos de Effie” ou “Ladainha de Glimmer”. A propósito, elas devem ter adorado a Glimmer nos Jogos. Nauseante.

 Nós chegamos a uma mesa perto das luzes, que está ocupada por algumas mulheres e três crianças. Dois meninos e uma menina. Ao me ver, todos a mesa se calam e eu me pergunto se sou tão amedrontadora assim.

 -Hum... Clove, essa é Hazelle, minha mãe. –Gale me apresenta uma mulher muito parecida com ele.

 -Prazer. –estendo a minha mão e ela se levanta para apertá-la.

 -Todo meu, querida. –ela me puxa para um abraço que retribuo. As crianças me observam com olhares surpresos.

 -Essas são as amigas da minha mãe. – Gale aponta para as mulheres sentadas enquanto fala o nome de cada uma delas. Elas me abraçam e se sentam de novo. – E esses são meus irmãos, Vick, Rory e Posy.

 -Oi! –eu falo tentando conter meu pescoço de se virar na direção de Cato.

 Eles olham para mim e logo vejo um sorriso crescer no rosto deles.

 -Oi, Clove. - um deles, Rory, o maior fala.

 Eles me oferecem uma cadeira e eu me sento.

 -Então, eu soube que alguém queria falar comigo. Isso é verdade? –digo despretensiosamente.

 -É verdade. É a Posy. –Vick fala.

 -Hum... Oi, Clove...

 Eu sorrio me lembrado da Catherine fazendo exatamente como a garotinha aqui fez.

 -Oi, Posy.

 -Então... Você vai casar com o Cato?

 Essa é uma pergunta que eu de certo não imaginaria. Ela é nova demais. Mas agora percebo o quão nós podemos influenciar. Basta apenas que um de nós dê ordens, conselhos e todos os seguirão.  Uma coisa um tanto triste ver que essas crianças daqui ainda podem sorrir. Com tanta dificuldade sobre elas, tanta coisa... como uma parede prensadora. Se você não morre de fome, você pega tésseras e morre nos Jogos Vorazes. Se não é de uma parede é de outra. Todos eles aqui são condenados. Ninguém aqui se voluntariaria por eles. Apenas uma morte certa.

 -Hum... –tento sorrir. –Que pergunta interessante, Posy. A gente vai, sim. Em breve. Nós vamos anunciar e vamos nos casar.

 -Na Capital?

 -Eu não sei.

 -Ela vai se casar junto com a Katniss e o Peeta. –Gale fala rancoroso.

 -Não é garantido isso. Talvez não nos casemos juntos.

 -Um talvez muito provável, não, Clove? – ele me desafia, erguendo as sobrancelhas.

 -Nem tanto assim. –eu falo, minha voz já endurecendo. Odeio quando estou tentando ajudar uma pessoa e ela fica fazendo isso.

  Passo um tempo, como sempre faço em “discussões”, encarando Gale. Por fim, dirijo-lhe um sorriso afetado.

 -Bom, eu vou tratar de chamar meu namorado de volta. – digo me levantando e plantando um beijo na bochecha de cada pessoa na mesa, menos Gale. –Foi um prazer conhecer todos vocês. Acho que ainda te vejo de novo, Gale. E não se preocupem, um dia me caso.

 Vou andando até o último lugar que tinha visto Cato. Só que ele não está. Respiro fundo e tento manter a minha calma. Em breve eu vou achar ele aqui perto, sem estar fazendo nada de errado. Isso é do que eu tento me convencer.

 Por fim meu olho bate na mesa que a garota estava sentada com seus pais. Ele está lá, a única pessoa de pé enquanto ela apresenta ele aos seus pais. Como se eles já não o conhecessem. Mas ainda, não posso evitar pensar que de certo seria assim com a gente se não tivéssemos ido para os Jogos.

 Seria algo mais saudável de nos conhecêssemos em uma festa e eu o apresentasse para minha família como pessoas normais fazem, e não fazendo “estratégias” nos Jogos. Meus olhos ameaçam marejar, mas eu vou tomar uma atitude e bem rápido, para me forçar a não chorar.

 Caminho com passos firmes até a mesa e me posto do seu lado.

 -Oi, amor. –ele fala me beijando.

 -Oi! Não vai me apresentar seus novos amigos? –digo sorrindo. A garota que estava dançando com ele revira os olhos e as outras pessoas na mesa sorriem para mim.

 -Exatamente isso que eu iria fazer. –ele fala. –Essa daqui é Melanye. –ele aponta para a garota que dançava.

 -Melanye. Clove, prazer. –Eu percebo que esse final de frase saiu um pouco rancoroso, mas ninguém percebe.

 -Igualmente. –ela fala, dirigindo sua voz fina e irritante para mim.

 Eu sorrio falsamente para ela e Cato continua me apresentando o resto das pessoas da família e algumas amigas.

 -Por que não se sentam um pouco? – o pai dela pergunta para nós.

 -Oh, não, obrigada. –eu falo rapidamente. –Temos que fazer mais algumas coisas.

 -É, eu ia levar ela pra dançar.

 Olho para ele confusamente.

 -É, eu ia. –ele fala me assegurando.

 -Bom, então é isso. Foi um prazer conhecer vocês. –eu falo sorrindo.

 -É, até. –Cato fala, acenando para todos e criando uma carranca no rosto de Melanye. Nome de gente do Distrito 1. Gente atirada, que nem a Glimmer.

  A pista de dança está bem cheia. As pessoas não devem ter muito que fazer aqui se não têm uma loja ou não são das minas, a não ser se verem morrendo e fome, então uma festa como essa é uma chance de matar a fome se divertir.

 Nós começamos a dançar lentamente até que eu decido começar a falar porque dançar calado é no mínimo entediante.

 -Então, como foi a dança com a Melanye?

 Ele me separa rapidamente para ver minha expressão, rindo.

 -Foi entediante. Com você é melhor. –ele sussurra no meu ouvido.

 -Hum. Tá bom. –digo me afastando um pouco dele.

 -Sério. E você o que ficou fazendo enquanto eu era assediado? –ele pergunta ainda rindo.

 -Estava sendo assediada por três crianças. Os primos de Katniss. – brinco.

 -Eram irmãos daquele grande?

 -Eram. Eu estava lá com eles.

 -Fazendo...?

 -Respondendo se eu ia me casar com você. – É sempre bom deixar claro com Cato que você não estava fazendo nada demais com outro garoto. Principalmente um garoto tão visivelmente desejado quanto Gale. As garotas dão risadinhas quando ele passa.

 -Quem perguntou isso?

 -A garotinha menor. Posy.

 -E que você respondeu, baixinha?

 -Respondi que íamos. Por quê? Eu deveria ter dito outra coisa, senhor? Você quer desistir? – endureço a minha face.

 -Não. Falou certo, baixinha.

 -Legal, então.

 O resto da música continua e nós não temos mais nada para falar, então ficamos em silêncio até acabar. Depois, nós voltamos para a mesa, mas para a minha surpresa, Katniss e Peeta estão de volta, junto com a garotinha loira que ficava mandando beijos para ela. Ela meche no cabelo do Conquistador, falando coisas que os fazem rir.

 Nos sentamos e sorrimos para a garota.

 -Cato, Clove essa é minha irmã, Primrose. –Katniss fala apontando para a garota, enquanto Cato passa um braço ao redor do encosto da minha cadeira.

 -Oi. Podem me chamar de Prim. – ela fala timidamente, soltando do cabelo de Peeta.

 -Oi, Prim. – eu falo sorrindo. A garotinha é muito adorável.

 -Oi. –Cato fala. –Você não se parece muito com a sua irmã.

 Eu olho para ele com a minha pior expressão. Mas ninguém entre nós parece desconfortável, uma vez que o resto da equipe está conversando entre si ou dançado. A garotinha solta uma risada e então as coisas desandam. Sinto meus olhos se arregalando e vejo-me recuando, embora todos acompanhem sua risada.

 Ela... ela é Rue. Tudo nela, sua pequenez, o sorriso, o corpo, seu jeito de rir, curvando seus ombros para frente... Não, ela não é Rue, ela é Prim. Primrose Everdeen. Nada mais que isso. Nenhuma morta me assombrando. Ninguém a quem eu devo. Apenas Prim.

 Tardiamente, planto um sorriso no meu rosto e vejo Rue, quer dizer, Prim, explicando que o pai dela era moreno por isso Katniss nasceu assim. Tenho oportunidade de perguntá-los sobre essa coisa de loiros e morenos, mas decido deixar passar. Poderia ser considerado um gesto indelicado. Não que eu não seja indelicada, de qualquer forma.

 Ela puxa a cadeira que estava sobrando da mesa ao lado e começa a nos contar coisas da sua vida, como a hora que acorda, como gosta que sua trança seja feita, a sua estatura em relação à Katniss. Imagino se fosse ela que fosse para os Jogos, em vez de Katniss. Morta na Cornucópia. Imagino Catherine agora nos Jogos, sem ter iniciado direito seu treinamento, contando apenas com seu dom natural, sem aperfeiçoamentos. Igualmente morta na Cornucópia. Lily talvez não. Ela tem um ano na dianteira de treinamento. Ela pode mais. Bryan nem se fala... Ele pode muito mais. Venceria se me escutasse e aprendesse a usar a cabeça. Mas mesmo sem isso, teria muitas mais chances do que eu tinha ano passado. Isso prova que as chances nunca estão a meu favor não é? Por que aqui estou eu, jantando no Distrito 12 como uma dos quatro vencedores da 74º Jogos Vorazes. Destaque para uma dos quatro. Mas se as chances nunca estão, nem se conta a sorte. Parece que de tanto todo mundo me desejar isso, não pegou.

 -Prim, querida, já está na hora de irmos para casa. – diz uma mulher loira aparecendo na ponta da mesa. A mãe de Katniss. Ela tem olhos azuis no mesmo tom de Prim e até seus cabelos são iguais.

 -Essa é minha mãe. –Katniss fala despreocupadamente. De certo mais uma que tem problemas com familiares. Será que deles, só eu tenho, ou tinha, uma vidinha perfeitinha?

 -Prazer, senhora Everdeen. –Cato fala, me cutucando para fazer o mesmo.

 -Prazer. –eu falo, ainda me lembrando de Catherine e Rue.

 -Todo meu, Cato, Clove. Vamos, Prim.

 -Mas mãe, eu nunca mais vou ver eles. –Prim reclama. –E a Katniss e o Peeta vão demorar pra voltar.

 -Não vai não, Prim, depois de amanhã ela volta. –a mãe dela contesta.

 Ela olha para Katniss, esperando uma confirmação.

 -É, eu volto. Depois de amanhã. –ela fala.

 Ela então começa a abraçar todos nós.

 -Tchau. –ela diz tristemente.

 -Tchau, Prim. – Nós dizemos.

 Nos despedimos de sua mãe e as vemos sair de mãos dadas. Mesmo a festa ainda estando excessivamente cheia.

 Continuo conversando com Cato, de mãos dadas com ele, e ocasionalmente, com Peeta e Katniss até a hora que vemos Effie perguntar a um embriagado Justin que horas eram. Como ele não soube responder, por não conseguir enxergar e estar despejando cantadas em Enobaria, sua mãe puxou o pulso dele e olhou para Effie. Finalmente, são quase uma hora da manhã.

 -Vão se despedir. –Effie fala nos empurrando.  

 Nós somos conduzidos até o local onde os músicos estavam e tomamos o microfone. O primeiro a falar é Peeta, ressaltando seu amor e sua saudade de casa. Katniss depois, travada como sempre. Cato fala algumas poucas palavras combinadas e então o microfone chega a mim.

 -Bom, eu gostaria de dizer que foi um prazer enorme conhecer e estar com todos vocês. Fico admirada com a sua união e a forma hospitaleira que nos receberam em seu lar. –digo com meus olhos passando por todos e sorrindo, como sempre.

 Segue uma rodada de aplausos e então somos guiados de volta ao carro que nos levará ao trem.

 De noite o Distrito 12 parece ainda mais deprimente e sombrio, mesmo ainda escutando os barulhos da festa que deixamos para trás e a sua luz.

 Chegamos na Estação e nos deparamos com algumas pessoas que correram para nos dar um último adeus. Não reconheço o rosto de nenhuma delas, apenas o de Gale, e sua família. Nem vi a hora em que eles saíram da festa. Acenamos para todos eles, que gritam nossos nomes, mesmo cercado de Pacificadores e entramos de volta no luxuoso trem.

 Por hoje temos dois bêbados. Haymitch está cambaleante como sempre, já nos acostumamos. Mas Justin está sendo amparado por sua mãe e Cinna, sem parar de cantar músicas que eu nunca ouvi. Ele despeja cantadas para todas, principalmente para Enobaria que ri descontroladamente, exibindo suas presas douradas, o que é bem assustador.

 -Clove... –ouço uma voz arrastada me chamar enquanto ando para a minha cabine. –O vestido ficou legal hein... E Katniss você podia ter me apresentado sua amiga loirinha. Mas se não der... O vestido ficou bem em você também. –Justin fala, erguendo apenas sua cabeça do sofá no qual foi jogado.

 Acabo rindo, mesmo Cato me encarando. Mas por fim ele acaba rindo também.

 Vou para a minha cabine e troco de roupa. Deito de volta na cama e minha mente acaba parando em Rue, Prim e Catherine de novo. Todas elas estão fadadas a um trágico destino. Rue... ela já foi. Ela era condenada, de qualquer forma. Catherine porque teve o azar de ter uma irmã Vitoriosa e Prim, que sofre praticamente pela mesma coisa. Todas destruídas pela Capital, a infeliz Capital, mas, mesmo tenho feito tudo isso com elas, nunca conseguiu com que parassem de sorrir.

 Me lembro de Rue rindo uma vez no Treinamento, quando a garota do 7 arremessou um machado que cortou o boneco no qual outro tributo estava praticando, um bem longe, provavelmente por influência de sua tresloucada mentora, Johanna Mason. Ela venceu usando um machado. Me lembro de Prim rindo hoje na festa, sem saber está com uma arma vinda da Capital na sua cabeça. E lembro-me de Catherine rindo descontroladamente ao ver a carta de Uranius. Mas esse talvez não seja um bom exemplo, uma vez que quando eu comentar o assunto Uranius com ela, seu sorriso se apagará. Ninguém tem mais motivo para rir disso, agora. Mas de uma forma ou de outra, ela está sempre rindo.

 Após um tempo, talvez longo, eu sinto que conseguirei dormir. Não estou disposta sair de novo para o Conquistador entrar. Se eles precisarem tanto disso, que ela vá até ele hoje. Pelo menos hoje deixemos o Cato sofrer um pouco com esse grude.

 Acordo no meio da madrugada, mas não pelo que seria normal, sim porque quero mudar a posição do meu travesseiro. Ergo minha cabeça para procurar o Conquistador, mesmo sabendo que ele não viria se eu estivesse aqui, e de fato, não o acho. Parece que eles quietaram. Fecho meus olhos novamente e só acordo pela manhã, sabendo que chegarei em casa.


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Notas finais do capítulo

Ajudem aí, povão, a me fazer feliz! Deixem Reviews e façam tudo o que há de bom! Amo vocês, chuchus! Ah, agora recebi notícia que vou ganhar Bios. Alguém aí já leu? Beijões.