Alguns dias se passaram, até que o último dia de aula enfim chegou, encerrando junto com ele as tão temidas provas bimestrais. Enfim os estudantes puderam respirar aliviados depois de os professores devolverem suas provas e boletins (alguns nem tão aliviados assim) e começar a fazer planos para as férias de verão que se aproximavam, inclusive os Guardiões. Yaya insistiu na idéia de fazerem uma viagem juntos para a praia, e acabou convencendo os amigos a irem, logo que os últimos deveres como Guardiões estivessem terminados e eles estivessem oficialmente de férias.

– Então, esses são os últimos documentos que faltavam - Tadase anunciou ao final da última reunião daquele bimestre - Vou entregar esses relatórios para o Tsukasa-san para ele dar a vistoria final, e depois disso estamos oficialmente de férias
– Até que enfim!!! - Yaya gritou, jogando os braços para o alto, sem fazer cerimônia nenhuma - Nossa, pensei que você não diria isso nunca, como você gosta de trabalhar, Tadase!!
– Não é que ele goste de trabalhar, você que é preguiçosa demais, Yaya-chan - observou Nadeshiko
– Sei, sei... você é outra que gosta de trabalhar, ô dona Rainha das tarefas chatas! Pare de defender seu namorado e deixe a Yaya em paz, que coisa! - retrucou a Às, fazendo a Rainha corar levemente
– Vamos, vamos, vocês duas... estamos praticamente de férias, então não vamos brigar agora, meninas - interveio Nagihiko
– isso mesmo! E, se vamos mesmo pra praia, então eu preciso ir logo pra casa pra arrumar minhas coisas! - apoiou Amu - Então, podemos deixar o resto com você, Tadase-kun?
– Claro, podem ir na frente - o loiro afirmou
– Ai, que beleza! Tá vendo, ter um Rei responsável e certinho tem lá suas vantagens, Yaya! - Kukai exclamou, sorrindo de orelha à orelha - Bom, então, se Vossa Majestade permite, eu também vou na frente
– Yaya vai com você! - a ruiva exclamou, levantando-se num salto
– Sei... imagino bem "pra quê" você quer ir com ele, Yaya-chan... - Nagihiko debochou, com um sorrisinho maldoso
– Pelo mesmo motivo pelo qual você quer ir junto com a Amu-chi, eu suponho! - Yaya rebateu, deixando o Valete sem argumentos
– Vamos, vamos, chega de discussão - pediu Tadase, rindo sem graça - Se vão na frente, vão logo, se não, vou arranjar mais coisas pra vocês fazerem
– É ruim, hein?! Fui! - Kukai exclamou, correndo até a saída, e sendo seguido pelos demais
– Como podem ser tão preguiçosos? E pensar que esses quatro chegaram à Guardiões... - Nadeshiko comentou, observando os amigos desaparecerem pela saída do Royal Garden, com uma gota na cabeça
– Você não vai também, Nadeshiko-chan? - Tadase perguntou
– Não, vou esperar você terminar
– Então, pode me esperar em frente ao armário de sapatos se quiser, eu só vou entregar esses relatórios para o Tsukasa-san e também já vou embora
– Está bem.

Eles saíram juntos do Royal Garden, e dali se separaram, Tadase indo até a sala do Diretor, e Nadeshiko em direção ao armário de sapatos. Esperou lá por alguns minutos, até que, quando viu que já havia se passado quase meia hora e Tadase não voltava, ela ficou preocupara e resolveu ir até a sala do Diretor para conferir se ele ainda estava lá. Caminhou por vários corredores desertos por alguns minutos, visto que a sala de Tsukasa era um lugar realmente difícil de se encontrar e, enquanto perguntava-se se não seria melhor tentar procurar pelo Planetário (já que Tsukasa passava a maior parte do tempo lá) ou voltar ao armário de sapatos onde tinha combinado anteriormente de se encontrar com Tadase, Nadeshiko finalmente ouviu a voz dele próxima dali. Seguindo o som da voz, ela andou sorrateiramente por um corredor deserto, até que o encontrou. E ele estava falando com ninguém mais, ninguém menos do que Yamabuki Saaya.

– Não acredito... aquela garota de novo!
– Acalme-se Nadeshiko, não vá fazer nenhuma besteira outra vez! - sua Chara alertou - Eles só estão conversando, fique calma!
– Eu sei, eu sei, mas... por que o Tadase-kun insiste em falar com ela afinal?! - Nadeshiko sussurrou irritada, escondida atrás de uma parede, fechando os punhos numa tentativa de controlar sua irritação
– Ele já não explicou que, como é o Rei dos Guardiões, precisa falar com todos os alunos? Isso infelizmente inclui ela - lembrou-lhe Temari - E é sério que você vai ficar aí espiando?! Não vai lá falar com eles não??
– Agora não... quero saber do que eles estão falando primeiro.

As duas se calaram e tornaram a prestar atenção na conversa de Tadase, que parecia tão aborrecido com isso quanto a Rainha por sinal.

– Eu já falei que sinto muito, mas não posso te ajudar
– Mas por que não, Tadase-sama?! Tenho certeza de que você tem poder e autoridade mais que suficientes pra fazer uma coisinha simples como essa! - a garota insistiu
– Olha aqui, não importa se eu sou um Guardião, simplesmente não posso mudar sua nota só porque você foi reprovada em metade das matérias! - ele exclamou um tanto impaciente - Eu realmente preciso ir agora, já estou mais do que atrasado, então se me der licença...
– Não!! - ela se colocou na frente dele, abrindo os dois braços, e bloqueando seu caminho - Não vou deixar você ir até concordar em me ajudar!
– Já falei que não posso fazer isso, que coisa! Agora me deixe passar!
– E eu já falei que você não irá a lugar nenhum até me ajudar! - Saaya segurou um dos braços dele com as duas mãos, impedindo-o de prosseguir, e puxando o garoto para mais perto dela - Por favor, me ajude, Tadase-sama... pelos velhos tempos...
– Que velhos tempos o que garota, enlouqueceu, foi?! - ele gritou, tentando inutilmente se desvencilhar dela - Me solte logo, que coisa! Eu preciso ir embora!
– Não ouviu o que ele disse? Ele não está gostando do que você está fazendo... então por que você não solta ele de uma vez... HEIN SUA VADIA MISERÁVEL??!!!!

Nadeshiko finalmente saiu de seu esconderijo, perdendo a pouca paciência que lhe restava e entrando no Chara Change. Ela apontou sua Naginata ameaçadoramente para a cara de Saaya, ainda agarrada ao braço de Tadase.

– M-M-Mas que negócio é esse que você está segurando Nadeshiko-san?! N-Nã-Não pode trazer essas coisas pontiagudas pra escola!!! - Saaya gaguejou nervosamente, completamente apavorada diante a ameaça de morte que a garota lhe fazia
– POUCO ME IMPORTA AS REGRAS DA ESCOLA, SUA VACA LEITEIRA!!! NUNCA TE ENSINARAM QUE NÃO SE DEVE AGARRAR O NAMORADO DOS OUTROS NÃO, É, SUA CRETINA?! POIS EU VOU TE ENSINAR ISSO É AGORA!!! LARGA DO MEU NAMORADO SUA DESGRAÇADA!!!!

Nadeshiko berrou alto, como se estivesse soltando um grito de guerra, e avançou com tudo, a Naginata apontada para a garota horrorizada à sua frente. Tadase pensou em como evitar o final trágico que certamente aconteceria, mas não havia a menor possibilidade de ele conseguir conter o Chara Change da Rainha. Saaya soltou um grito de pavor e, finalmente soltando o braço do Rei, fez a volta e escondeu-se atrás dele, bem à tempo de escapar de uma morte trágica. No entanto, a tragédia aconteceu assim mesmo: Como Saaya desviou-se rápido demais, Nadeshiko não teve tempo de desviar ou interromper seu ataque, de modo que, a lâmina da Naginata foi com tudo na direção em que Saaya estava segundos atrás, acertando não a garota, mas o braço do Rei no qual ela estava pendurada até agora à pouco.

Tadase soltou um berro de dor, colocando a mão direita no braço esquerdo, que agora começava a jorrar sangue para fora de seu corpo. A lâmina não o perfurara por completo, apenas pegou de raspão, não chegando a atravessar seu braço, mas ainda assim, foi o suficiente para causar um corte bastante profundo. Sangue escarlate, mais escuro do que seus olhos, começava a escorrer do corpo dele, manchando todo o seu braço e a mão de vermelho, e começando a pingar no chão. Nadeshiko compreendeu lentamente o que tinha acontecido e, quando se deu conta de que ela era a culpada pelo ferimento do garoto, o Chara Change se desfez.

– Ahh! Não acredito nisso!! Você matou ele!! Você matou o Tadase-sama, sua louca psicótica!! Eu vou chamar a polícia pra te prender, ouviu bem, sua assassina de garotos bonitos?! Ou melhor, vou contar pro Diretor o que você fez, eu juro que vou!! - Saaya gritou ao ver o que tinha acontecido, apontando um dedo acusador na cara da Rainha, e saindo correndo dali logo em seguida, à procura da sala do Diretor. Tadase começou a sentir tonturas com a falta de sangue em seu corpo e, sentindo seus joelhos cederem, desabou no chão
– Tadase... kun - Nadeshiko murmurou, ainda observando o garoto diante dela, sem piscar uma única vez - Eu... eu fiz... eu realmente... machuquei você... eu...! - ela olhou as palmas das próprias mãos, que também estavam manchadas de vermelho, sujas com o sangue de Tadase que respingou nela
– Nadeshiko... chan... - ele murmurou fracamente - Não se... p-preocupe, não foi... argh... i-isso não é... n-não é sua... - o garoto não conseguiu terminar a frase, desabando no chão em seguida, completamente inconsciente
– Ei, ela está ali!
– Naddy, está tudo bem??
– Nós te ouvimos gritar, e... ahh!!

Os demais Guardiões surgiram do mesmo corredor pelo qual ela estava espiando minutos atrás, deparando-se com a cena. Assim que viram Tadase desacordado no chão e sangrando, se aproximaram para terem certeza de que o que viam era real.

– Ahhh! O Tadase está sangrando!! Yaya não gosta de ver sangue... kyaaa o Tadase vai morreeeeeer!! - a Às choramingou, balançando-se no mesmo lugar, aflita
– Não diga isso Yaya, ninguém vai morrer não!! - Kukai à repreendeu
– Naddy... c-como isso aconteceu?! - seu irmão perguntou
– Eu... eu fiz isso... eu... fiz isso com ele... - ela sussurrou fracamente, ainda encarando Tadase sem piscar. Seus olhos lentamente se enchiam de água
– Você o que?!
– O Chara Change - falou Temari - Ela mirou naquela garota, a Yamabuki Saaya, mas ela conseguiu desviar, e a Nadeshiko acabou errando o alvo, e então... deu nisso
– Entendi... cara, não acredito que isso está acontecendo! - Nagihiko deu um tapa na própria cabeça - Vamos, Naddy, não fique assim, não é culpa sua... eu acho... b-bom, é melhor chamarmos uma ambulância primeiro, e rápido!
– Pode deixar que eu faço isso - Amu prontificou-se, pegando o celular e discando um número
– Eu o matei... eu o amei, Nagi... matei a pessoa que mais amo... por que... como fui fazer isso?! - a Rainha exclamou em meio ao desespero, as lágrimas rolando livremente pelo seu rosto agora
– Acalme-se, ele não está morto, Naddy, só está desmaiado! - Nagihiko exclamou de volta, abraçando a irmã, numa tentativa de acalmá-la - Não é? - ele perguntou meio inseguro para Kukai, que tomava o pulso do garoto inconsciente
– Isso mesmo, ele tem pulsação, está só desmaiado. Deve ter perdido a consciência por causa da perda de sangue, mas ele vai ficar bom, tenho certeza! - Kukai exclamou, tentando animar a amiga
– Já chamei uma ambulância - anunciou Amu - Não se preocupe Nadeshiko, você estava no Chara Change afinal, tenho certeza de que o Tadase-kun vai te perdoar depois que acordar!
– Talvez... mas eu não posso me perdoar pelo que fiz.

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Poucos minutos depois, a ambulância chegou, levando o garoto para o hospital mais próximo. Os demais Guardiões o acompanharam, junto com Tsukasa. Depois de alguns minutos examinando-o, o médico que cuidou de Tadase anunciou que o garoto havia perdido a consciência devido à perda de sangue, já que demoraram para estancar o ferimento, mas que o corte não havia sido tão profundo, não atingindo nenhum ponto vital. No entanto, ele teria que ficar algumas semanas no hospital, tanto para recuperar o sangue que perdeu, quanto para os médicos acompanharem de perto a cicatrização do corte em seu braço. Tsukasa perguntou se ele podia receber visitas, mas o médico permitiu a entrada de apenas uma pessoa, e bem depressa, pois o garoto havia tomado um remédio para dormir, já que precisava de repouso. Depois de alguns minutos discutindo, Nadeshiko acabou entrando primeiro. Ela havia tomado uma decisão depois do que fez, e precisaria colocar isso em prática logo, antes que perdesse a coragem e voltasse atrás.

– Nade... shiko-chan - Tadase murmurou fracamente ao avistá-la
– Não se esforce muito, você perdeu muito sangue - ela falou, fechando a porta atrás de si quando entrou no quarto - Como... como está seu ferimento? Dói muito?
– Agora nem tanto, eles me deram uma anestesia... e acho que me deram... alguma coisa pra dormir também... estou ficando com sono de repente - ele respondeu, forçando-se à ficar de olhos abertos
– Entendo. Sei que vai soar ridículo eu dizer isso agora, mas... eu sinto muito pelo que fiz com você... realmente não tenho como me desculpar, lamento de verdade - ela curvou a cabeça em uma longa reverência, jogando seus cabelos para a frente ao fazer isso
– Não precisa fazer tudo isso, eu.. waahhhh - ele deixou escapar um bocejo - E-Eu sei que você estava no Chara Change... não foi culpa sua Nadeshiko-chan, não se preocupe. Na verdade, parece... com aquela vez em que eu estava no Chara Change e fiz besteira também... acho que agora estamos quites né? - ele falou, sorrindo fracamente, meio sem graça
– Você é gentil, Tadase-kun... gentil até demais, à ponto de colocar sua própria segurança em risco - a Rainha respondeu, erguendo-se novamente - Mesmo que você diga isso, eu... não posso me perdoar pelo que eu fiz. Diferente de você, eu coloquei sua vida em risco, poderia ter te matado, você entende isso? Não importa como aconteceu, o fato é que eu poderia ter tirado a vida da pessoa que mais amo... destruindo assim a minha própria vida, e a sua junto
– Nadeshiko-chan... j-já disse que não foi cula su...
– E é por isso - ela o interrompeu, falando de cabeça baixa, de modo que a franja lhe cobrisse os olhos, embora fossem visíveis as lágrimas escorrendo por sua face - Que não me parece certo eu continuar ao seu lado depois do que aconteceu. Mesmo que seus pais não saibam disso, já que eles não sabem sobre a existência de Shugo Charas, nem do Chara Change, o Tsukasa-san sabe, os outros Guardiões sabem, você sabe e eu sei que fui eu que te machuquei. Eu terei que viver com esse peso na minha consciência pelo resto da minha vida... mas não posso continuar vivendo ao seu lado, eu perdi esse direito quando te feri. E é por isso que estou indo embora da sua vida... em breve irei embora do Japão também. Por favor, não me procure novamente, essa é a minha escolha. Obrigada por me proporcionar os momentos mais felizes da minha vida... guardarei essas lembranças comigo para sempre. Mas, infelizmente, o nosso namoro termina aqui. Adeus, Hotori Tadase-kun... espero que se recupere logo e, mais uma vez, eu sinto muito por tudo.

Nadeshiko aproximou-se da porta lentamente, e saiu sem dizer mais nada. Tadase tentou chamá-la de volta, tentou até se levantar da cama para impedir sua amda de partir desse jeito, mas a fraqueza, a falta de sangue, e o remédio para dormir dentro de seu corpo foram mais fortes, mantendo o garoto deitado ali, rumando, não para um sono tranquilo como ele imaginava, mas muito provavelmente para algum terrível pesadelo, do qual ele não acordaria nem tão cedo.

*** Próximo Capítulo: Fugindo do Destino ***