Nadeshiko despertou ainda bem cedo. Piscou algumas vezes com a claridade do sol entrando pelas frestas da cortina na janela, quando percebeu outra coisa dourada, mais perto e mais brilhante do que o sol. Se não estivesse tão sonolenta, teria gritado ao ver o rosto adormecido de Hotori Tadase tão próximo ao seu. Seus olhos foram obrigados a despertar bruscamente do estado de sonolência quando eles se arregalaram com o susto. Sentiu seu coração dar uma forte cambalhota e sua face esquentar rapidamente. Por que Tadase estava dormindo ali tão próximo à ela mesmo?!

"- Ah, sim... nós saímos em viagem juntos... e acabamos dividindo o mesmo quarto".

Ela contemplou o semblante adormecido do Rei com mais atenção. Tadase ressonava tranquilamente, com uma expressão tão calma e inocente que se alguém lhe dissesse que ele era capaz de cometer atos tão insinuantes e até indecorosos como fizera na noite passada, ela negaria prontamente, ainda que ela mesma fosse o alvo desses atos. Como a coberta estava meio embolada, muito mal indo até a cintura dos dois, ela notou que a blusa do pijama dele tinha subido um pouco, deixando boa parte do abdômen à mostra, assim como o umbigo e uma pequena parte da cueca branca. Ela corou furiosamente ao notar aquilo e, quando tentou puxar as cobertas mais para cima, de modo que escondesse aquela visão tentadora, percebeu que a saia da sua própria camisola também tinha subido durante a noite, e sentindo suas pernas desprotegidas enroscadas com as dele. Movendo-se o mais silenciosamente que pôde, e tentando ignorar a vergonha que sentia, ela puxou a saia da camisola para baixo e levou a coberta até a altura do pescoço de ambos, escondendo tudo que precisava ser escondido. Em seguida, voltou a fitar o rosto dele com atenção, notando que ele não havia se mexido nem uma única vez, mesmo depois de ela movimentar-se tanto. Moveu uma das mãos, afastando uma mecha loira que caía sob seus olhos, e deixou seus dedos deslizarem pelo rosto sereno dele, sentindo a textura macia até demais, considerando que era a pele de um garoto. Parou de mover a mão quando chegou próxima à boca do Rei. E pensar que ele havia lhe tocado tão despreocupadamente com aquela mesma boca há apenas algumas horas atrás... em um impulso, ela moveu um pouco mais a mão, tocando de leve os lábios dele com a ponta dos dedos. Eram tão suaves, tão macios, tão... quentes. E pensar que Tadase havia lhe tocado com aqueles mesmo lábios há tão pouco tempo atrás... pensar nisso os tornava, por algum motivo, um tanto convidativos também. Nadeshiko foi tomada por um desejo enorme de tocar aqueles lábios entreabertos, tão tentadores, com os seus próprios. Não haveria problema ela fazer isso, haveria? Eles eram namorados afinal... no entento, ainda que fossem namorados, parecia tremendamente errado beijar uma pessoa que estava dormindo. Sim, era errado, e ela sabia disso, mas... por que aqueles lábios tinham que ser tão tentadores afinal?! Era como se estivessem provocando ela de propósito! Enquanto ela pensava em como resolver esse pequeno dilema matinal, Tadase, ainda dormindo, mexeu a boca, e murmurou:

– Nadeshiko... chan... dai... suki.

E se foi de propósito ou não, ninguém sabia, mas ele entreabriu um pouco mais a os lábios, e abocanhou o dedo que ela ainda mantinha próximo à sua boca. Se apenas aquele sussurro adormecido do Rei já fora suficiente para fazê-la corar, agora então é que sua face estva inteiramente rubra. No entanto, graças à isso, ela também acabou voltando á si:

"- O que estou fazendo afinal?! Pretendendo beijar um garoto adormecido... no que estou pensando há essa hora da manhã?! Aliás... que horas são agora?".

Ela tentou mover a outra mão que não estava entre os lábios do Rei, mas ela estava presa à alguma coisa. Ao olhar melhor, viu que sua mão estava entrelaçada entre a do Rei, e se ela à soltasse, correria o risco de acordar Tadase, coisa que definitivamente não queria fazer agora. Ainda corada, ela girou o braço dele para o lado com a mão entrelaçada à dele, e olhou o relógio de pulso do garoto: 06:30 da manhã.

"- O que...? Ainda é cedo. Devo ter acordado à essa hora por causa da escola. Eu queria levantar de uma vez, mas... está tão bom aqui... acho que vou dormir mais um pouco".

–----------------------------------

Quando Tadase acordou, sentia-se muito feliz e extremamente satisfeito, embora não se lembrasse o porquê. Assim que abriu os olhos, viu alguma coisa longa, macia e arroxeada à sua frente, e sentiu-se confuso, pois tinha certeza de que a cortina era verde, e não roxa. Quando tocou a coisa arroxeada, porém, percebeu que aquilo não era a cortina, nem tecido nenhum. Era sedoso demais para ser um simples tecido. E tinha um familiar cheiro de cerejeiras... espere, cerejeiras? As memórias da noite anterior invadiram sua mente, todas de uma só vez, causando-lhe a sensação de dar uma violenta cambalhota em um carrinho de montanha-russa. Ele tinha saído numa viagem com seus amigos. Por influência da Guardiã mais nova, acabou dividindo o quarto com Nadeshiko. E na noite passada, haviam feito coisas que lhe causava uma tremenda vergonha em lembrar à essa hora da manhã. Tentando colocar os pensamentos em ordem, ele puxou a coberta mais para baixo com uma das mãos, e confirmou suas suspeitas. Nadeshiko realmente estava dormindo ao seu lado, e a "coisa arroxeada" que ele viu antes era o cabelo dela. Ainda que se sentisse meio embaraçado com a situação, Tadase não pôde deixar de sorrir. Como era maravilhosa a sensação de acordar ao lado da pessoa amada... essa era a primeria vez que Tadase experimentava algo assim. Ainda que eles já tivessem dividido o mesmo quarto duas vezes antes dessa, nas duas ocasiões, Nadeshiko se encontrava em um estado tão lamentável que era impossível apreciar essa sensação maravilhosa. Tadase sentiu uma felicidade enorme invadir seu peito, e espalhar-se por todo o seu ser, só em pensar que realmente estava com a pessoa que ele amara a vida toda. E pensar que a garota ao lado dele era apenas uma amiga de infância até pouco mais de um ano... depois de todos os problemas que enfrentaram para ficar juntos, ele sentia uma felicidade indescritível em poder finalmente estar junto da pessoa amada. Uma felicidade tão grande... que dava até medo de que um dia ela acabasse.

Tadase tentou levantar, sem fazer barulho para não acordá-la, mas logo percebeu que não seria possível, pois uma de suas mãos ainda estava entrelaçada entre a dela. Soltou a mão da garota com cuidado e tentou levantar de novo, mas ainda assim não conseguiu. Em seguida, percebeu que o outro braço dele estava preso, de alguma forma indo parar embaixo do corpo da garota. Tadase tentou lembrar-se de como foi parar nessa posição, quando lembrou que, na noite anterior, eles dormiram abraçados. Era isso, ele a estava abraçando e, durante a noite, Nadeshiko devia ter rolado ou se mexido, indo parar em cima do braço dele. Não daria para retirar o braço sem acordá-la, e quando Tadase resolveu fazer isso, percebeu porém que a mão dele seguia numa direção abaixo da cintura dela. Não estava encostando no corpo dela agora mas, caso ela acordasse e viesse a se mexer, com certeza iria tocar onde não devia, e seria difícil convencê-la de que foi um acidente. Tentou puxar o braço, rezando para que a Rainha não acordasse. Assim que deu o primeiro puxão, Nadeshiko se mexeu um pouco, e murmurou:

– Tada... se-kun... suki... da yo.

Tadase corou ao ouvir aquilo, e por um instante, esqueceu-se completamente do braço preso. Nadeshiko estava sonhando com ele! O Rei sentiu a felicidade que reinava em seu peito se duplicar, e teve uma tremenda vontade de abraçá-la, mas precisava se concentrar em retirar seu braço preso dali primeiro. Deu mais um forte puxão. Ela não tinha se mexido dessa vez, mas sua mão estava ainda mais próxima daonde não devia agora. Tadase fez o possível para se concentrar em acabar logo com aquilo antes que ela acordasse, isso sem falar que ele já estava começando a sentir cãimbras no braço preso. Deu outro puxão, dessa vez particularmente forte, e quase conseguiu retirar o braço. Teria atingido seu objetivo se ela não tivesse despertado.

Nadeshiko piscou os olhos sonolenta algumas vezes mas, assim que viu o rosto à sua frente, arregalou os olhos de espanto. Se não tivesse acabado de acordar e estivesse tão sonolenta, teria gritado, com certeza.

– Ano... ohayou, Nadeshiko-chan - Tadase cumprimentou, sorrindo sem graça, e rezando para que ela não notasse o braço embaixo dela
– Ohayou gozaimasu - ela sussurrou de volta, ainda com os olhos arregalados - Tadase-kun... por que você está aqui...? Eu ainda estou sonhando?
– Não, você não está sonhando - ele tentou conter uma risada - Ontem nós seis viajamos juntos, lembra? Nós estamos em uma pousada agora... e, graças à Yuiki-san, acabamos dividindo o mesmo quarto
– Ah, certo... a viagem... tinha esquecido - ela murmurou, ainda em estado de sonolência. Coisa que perdeu imediatamente ao notar uma coisa que preferia não ter notado - Nee Tadase-kun... por que a sua mão está aí...?
– Ahh... gomen! - Tadase desculpou-se, um tanto alarmado - É que... o-ontem nós dormimos abraçados, se lembra? Então... acho que devemos ter nos mexido durante a noite, e... por algum motivo, acabou ficando assim. E-Eu juro que tentei tirar minha mão, mas você estava deitada em cima do meu braço, então eu não consegui... gomen nee... e-então... b-bem, será que você pode se levantar pra eu puxar meu braço de volta?

Nadeshiko sentou-se mecanicamente, e Tadase finalmente puxou seu braço de volta, massageando-o para que parasse de doer. Em seguida ouviu ela dizer algo como "eu já volto" e apenas a viu de relance, andando rápido demais para alguém que acabou de acordar, e se trancar no banheiro.

– Ele me tocou... ele me tocou... ahh céus, como fui me meter numa situação dessas há essa hora da manhã?! Eu acabei de acordar, poxa! - Nadeshiko murmurava para si mesma, os olhos ainda arregalados e a face corada, começando a andar de um lado para o outro nervosamente - Não, espere, preciso me acalmar... pensando bem, não lembro de ele ter me t-tocado... verdade que a mão dele estava bem perto, mas ele não encostou em mim... a menos que tenha feito isso enquanto eu dormia... ahh céus, que vergonha!! - ela escondeu o rosto com as mãos, ocultando o rubor que se intensificava em sua face - E ele disse que... q-que dormimos abraçados... a-acho que me lembro disso, mas... isso quer dizer que ele ficou me abraçando a noite toda?! Que ele passou... todas essas horas enquanto dormíamos me abraçando... ahh acho que é a primeira vez que ele me tocou por tanto tempo! - ela envolveu o próprio corpo com os braços de modo defensivo - Por que... por que isso me assusta tanto? Por que me causa tanta vergonha... mas, ao mesmo tempo, me faz sentir tão... feliz? Uma felicidade tão grande que... sinto até medo que um dia ela acabe.

Depois de alguns minutos, que Nadeshiko usou para se acalmar e se recompor, ela se penteou, saiu do banheiro, e encontrou Tadase sentado na cama, um tanto preocupado.

– Ano... você está bem? Não está zangada comigo, está?? - ele perguntou meio receoso. Também já havia se penteado, e parecia temeroso de ter feito alguma coisa errada sem querer
– Não, não... está tudo bem - ela respondeu - Então... etto... a-acho que precisamos nos trocar, não é?
– Ah, sim... tem razão - Tadase concordou meio sem jeito - Então... vamos repetir o mesmo esquema de ontem?
– Sim, é melhor.

Eles se viraram de costas um para o outro, pegaram a primeira muda de roupas que encontraram, e começaram a despir os pijamas para trocá-los por roupas normais. Um tanto temerosa, e tentando ignorar a enorme onda de vergonha que lhe invadia, Nadeshiko desamarrou a camisola e a deixou deslizar por seu corpo até ir parar no chão, toda de uma só vez. Sentiu seu rosto afoguar-se e suas pernas tremerem, mas precisava terminar com aquilo o mais rápido possível. Vestiu o sutiã, e pegou uma roupa diferente da de ontem, pois não queria mais arranjar problemas desnecessários por causa de roupas complicadas: Vestiu uma saia verde clara com babados e uma blusa branca, com mangas curtas e bufantes, que não tinha nenhum botão dessa vez.
Tadase também tentava se trocar o mais depressa possível. Tentando por tudo no mundo ignorar o fato de que havia uma garota seminua bem atrás dele e se controlando para não olhar, ele rapidamente tirou o pijama, se atrapalhando um pouco com os botões da camisa, e vestiu uma calça jeans escura, e uma camisa amarela sem estampas, com um colete branco por cima. Assim que terminou de se vestir, ouviu Nadeshiko anunciar:

– J-Já terminei
– Eu também - ele respondeu, virando-se para ela e vendo a garota se virar ao mesmo tempo - Waaaah... você fica muito mais bonita com uma roupa assim - ele comentou, se aproximando dela, um tanto admirado
– O que?! B-Bem, isso é óbvio... eu estava usando uma roupa de dormir antes afinal! - ela virou o rosto sem graça, surpresa com o elogio
– Bem, sim, mas você também estava bonita com a roupa de antes - Tadase falou, e ela o encarou surpresa
– Como raios alguém pode ficar bonito usando roupa de dormir??
– É porque você é bonita de qualquer jeito, não importa o que você esteja vestindo - o Rei respondeu, tocando o rosto corado da Rainha com a ponta dos dedos. Em seguida reparou em uma fina corrente dourada ao redor do pescoço dela, adentrando o decote da blusa. Ele desceu a mão até o pescoço dela e puxou a corrente, revelando um lindo pingente dourado na ponta - Você... está usando o medalhão que te dei
– O que? - ela reparou melhor na corrente dourada entre os dedos dele - Ah, mas é claro. Eu uso ele sempre... todos os dias - ela corou ainda mais ao dizer isso, principalmente ao notar o sorriso que se espalhava pelo rosto do Rei, e acrescentou - M-Mas não precisa ficar admirado com isso, não é? Afinal, você também... está usando o seu - ela apontou para a corrente dourada ao redor do pescoço do Rei, com um pingente na ponta idêntico ao dela
– Bem, como não tenho o costume de usar medalhões, nem colares e essas coisas, achei que seria melhor não tirar nunca, para não correr o risco de esquecê-lo em casa ou coisa assim - Tadase riu sem graça, coçando a cabeça - Nee Nadeshiko-chan... eu realmente te amo muito, muito mesmo... sabe disso, não sabe?

Ele voltou a acariciar o rosto dela delicadamente e, antes que ela respondesse, Tadase a beijou. Nadeshiko foi pega de surpresa, e corou furiosamente, mas logo o abraçou, retribuindo o beijo, que era bem mais suave e carinhoso do que ela pensou que seria. Poucos instantes depois, Tadase a soltou.

– Eu sei... sei muito bem disso - ela respondeu, ainda de olhos fechados, quando ele afastou seus lábios dos dela - Assim como você também sabe... que eu te amo mais do que tudo no mundo, Tadase-kun.

Nadeshiko não resistiu ao impulso que a incomodava desde manhã cedo, e tornou a beijá-lo. Agora foi a vez de Tadase corar, de olhos arregalados e surpreso com a repentina ação da garota, mas também logo retribuiu o beijo, abraçando-a e tomando o controle da situação. Deixou suas mãos deslizarem pelo corpo dela, até abraçá-la pela cintura, enquanto sentia aqueles lábios tão macios e um tanto provocantes pressionados contra os seus, e aprofundou o beijo. Nadeshiko entreabiu um pouco mais a boca, dando passagem para a língua dele, e permitindo que Tadase aprofundasse o beijo. Sentiu a língua do Rei percorrer toda sua cavidade bucal, como se quisesse tocar em todos os cantos do interior de sua boca de uma só vez, suas línguas lutando por espaço. Soltou um gemido rouco com a garganta enquanto sentia ele intensificar cada vez mais o beijo, e quando estava começando a sentir tonturas devido á falta de oxigênio em seu corpo, Tadase a soltou.

– Por que você... inventa de fazer essas coisas... logo de manhã cedo, hein?! - Nadeshiko perguntou ofegante, limpando um filete de saliva que escorria pelo canto da boca, o rosto irremediavelmente corado
– Ora, mas você... também me beijou depois... não foi? - Tadase respondeu, também um tanto ofegante, com um sorrisinho estranho que não combinava com ele
– M-Mas aquilo foi... err... f-foi você quem começou! - ela virou o rosto envergonhada
– Hai, hai, gomen nee - ele riu da reação da Rainha
– Hunf... bem, então... vamos descer pra tomar café? - ela perguntou, tentando mudar de assunto
– Pode ir primeiro. Acho que vou tomar um banho antes de descer. Além do mais, se nos virem descendo ao mesmo tempo... você sabe, a Yuiki-san pode falar coisas constrangedoras, então... é melhor não descermos juntos
– Ah, bem lembrado... bom, então eu vou na frente.

Nadeshiko desceu primeiro e foi até o refeitório, onde encontrou Amu sozinha, já tomando o café da manhã.

– Bom dia, Amu-chan - ela cumprimentou, sentando de frente para a amiga e servindo-se do que estivesse mais perto
– Bom dia, Nadeshiko... dormiu bem? Ou melhor, você dormiu? - Amu perguntou, tentando inutilmente conter um sorriso sugestivo
– Como assim, é claro que eu dormi - Nadeshiko respondeu, fingindo não entender a pergunta maldosa da amiga
– Ah, sério? Você diviu o quarto com o Tadase-kun afinal. Vocês não fizeram nada... que te impedisse de dormir?? - Amu insistiu, alargando seu sorriso
– Amu-chan, o que raios você está me perguntando a essa hora da manhã?! - Nadeshiko bufou irritada, sentindo que não vinha coisa boa por aí
– Estou perguntando algo que estou curiosíssima pra saber! - Amu exclamou, sem mais conseguir conter sua empolgação - Você passou a noite toda com o Tadase-kun, então alguma coisa deve ter acontecido! Então trate de me contar tudo! O que vocês fizeram? O que aconteceu? Até onde vocês foram?
– O que?! Eu não vou responder nada disso, é embaraçoso!
– Ahá!! Se é embaraçoso, então é porque alguma coisa aconteceu! - Amu apontou um dedo para a amiga com um sorriso triunfante nos lábios, como se Nadeshiko tivesse feito uma grande revelação - Anda, me conta Nadeshikooo!! Somos melhores amigas, não somos?! Melhores amgias precisam dividir esses momentos, é importante pra fortalecer nossa amizade!!
– Não entendo como uma coisa dessas poderia fortalecer a amizade de alguém - a Rainha comentou com uma gota na cabeça
– Não importa, apenas me conte o que aconteceu! Por favooor!! - Amu pediu com os olhinhos brilhando e uma carinha de cãozinho abandonado - Ou será que o que aconteceu foi algo tão vergonhoso e indecente que você não pode contar pras outras pessoas, hein...?
– C-Claro que não, Amu-chan, que absurdo! - Nadeshiko exclamou, vermelha até as orelhas
– Então o que foi que vocês fizeram afinal???
– Não foi nada de mais... nós só... err... q-quero dizer... e-ele ficou me tocando, e... me b-beijando... e depois eu... f-fiz a mesma coisa com ele... d-daí nós... nós... aahhh não me faça falar mais nada!! - ela gritou de vergonha, cobrindo o rosto com as mãos, vermelha até a raiz dos cabelos
– Kyaaaaaa não acredito!!! - Amu gritou junto, só que de empolgação - Sabia que alguma coisa tinha acontecido, sabia!! Me conta mais, por favoooor!!
– Não, já disse que não vou falar mais nada! - Nadeshiko exclamou, entre zangada e envergonhada - E por que você está me fazendo esse tipo de perguntas afinal?! Você também passou a noite com um garoto, e eu não perguntei nada sobre você!
– Ah, sim - Amu ficou séria de repente - Imaginei que você pudesse querer saber, então estava aqui me preparando mentalmente pra te contar. Então, o que você quer saber?
– Não quero saber de nada!!
– Ué como assim?! - a Coringa indagou confusa - Pensei que você estaria louca de curiosidade, e pronta pra fazer um interrogatório também... não está nem um pouco curiosa??
– Curiosa eu estou, mas... acontece que o garoto com quem você passou a noite é meu irmão, então... é estranho, e embaraçoso, eu não quero saber o que vocês fizeram
– Ah, é verdade... o Nagi é seu irmão - Amu falou como se tivesse se esquecido desse fato - Ahh droga, e eu estava aqui pensando se valeria ou não a pena te contar o que aconteceu comigo pra em troca ouvir o que aconteceu com você... que desvantagem essa, viu
– Concordo, é uma tremenda desvantagem. Aliás, onde é que ele está, hein??
– Ainda estava dormindo quando eu saí do quarto - Amu respondeu - Ahh tem certeza de essa é a sua decisão final, Nadeshiko??
– Certeza absoluta. Não quero te contar nada do que aconteceu comigo, e muito menos ouvir o que meu irmão fez ou deixou de fazer com você - a Rainha esclareceu, fazendo Amu soltar uma exclamação de desapontamento - Mas, por outro lado... ainda podemos interrogar a Yaya-chan, certo? Ela passou a noite com o Souma-kun afinal
– Ahhh bem lembrado! E nenhum dos dois desceu até agora... a coisa deve ter sido boa hahahahaha!! - Amu voltou a se empolgar.

E por coincidência (ou não) Yaya e Kukai entraram no refeitório nesse exato momento e se juntaram à elas.

– Bom dia, meninas! Nossa, como estou faminto, parece que não como há dias! - Kukai exclamou, servindo-se de tudo que podia alcançar
– Bom dia! Também estou faminta, então espero que tenham guardado bastante comida pra Yaya, hein?! - a Às imitou o gesto do ruivo, e começou a encher seu prato com todo o tipo de comida à sua frente
– Bom dia - Nadeshiko cumprimentou sorrindo - Mas que estranho... os dois acordarem assim tão famintos de repente
– É, esse deve ser realmente um bom dia... já que a noite parece sido melhor ainda - Amu sorriu também, de um jeito maldoso - O que foi que vocês fizeram ontem pra acordarem assim tão famintos, hein?

Kukai cuspiu a comida que acabara de enfiar na boca e teve um sério acesso de tosse. Depois de alguns minutos, nos quais Yaya lhe deu um copo d'agua e bateu nas costas dele com mais força do que o necessário, Kukai finalmente conseguiu falar:

– M-Mas o que vocês estão insinuando, suas loucas?! Nós só dormimos, e nada mais, ora bolas!
– Ehh... será mesmo? - Amu falou duvidosa
– Tem certeza de que não fizeram mais nada além de dormir? - a Rainha completou, desconfiada
– D-D-Do que é que vocês estão falando afinal?! - Kukai gritou, cuspindo comida na cara de todos ao seu redor, o rosto inteiramente rubro - Me admira logo você fazendo esse tipo de insinuações, Nadeshiko! A Hinamori ainda vai, o Nagi já estragou ela por completo mesmo... mas você, dizendo essas coisas?!
– Olhe aqui, não estamos falando de mim, e sim de você e da Yaya-chan - Nadeshiko desconversou
– Isso mesmo! O que foi que você fez com nossa nem tão inocente assim Às, hein?? - completou Amu
– N-Nós não fizemos nada, suas loucas metidas à investigadoras!! - Kukai negou, falando o mais seriamente que seu estado de constrangimento lhe permitia - Nós somos só amigos... p-por que iríamos...?
– Não adianta, Kukai - Yaya o interrompeu - Elas sabem, não adianta negar
– Quê...?! - a face dele atingiu um tom de vermelho intenso, ainda mais escuro do que seus cabelos ruivos - O que... c-co-como... q-quando...
– Há algumas semanas atrás, nós vimos vocês se beijando. Depois interrogamos a Yaya-chan, e ela nos contou tudo - Nadeshiko explicou
– Não se preocupem, não contamos nada pra ninguém, nós duas somos as únicas que sabemos - Amu acrescentou, tentando tranquilizá-lo - Mas agora eu quero que vocês me digam o que foi que aconteceu ontem, vamos!
– O que foi que aconteceu ontem, hein?

Os quatro pararam de falar e viraram a cabeça na direção das escadas. Nagihiko também já tinha acordado e vinha andando na direção deles. Quase que imediatamente, eles também avistaram Tadase, vindo da direção contrária. E de repente Nadeshiko teve um mal pressentimento:

"- Ahh droga, é verdade. Estava preocupada que a Yaya-chan pudesse fazer um interrogatório e dizer coisas constrangedoras, mas... acho que lidar com o Nagi pode ser muito pior".

Por um momento, Nagihiko parou de andar e encarou Tadase com uma cara de quem iria pulverizá-lo a qualquer momento. Ninguém podia culpá-lo, afinal, Tadase havia passado a noite com a única irmã dele, era até compreensível que estivesse no mínimo zangado, mas ainda assim, era uma situação preocupante. Os demais se calaram, observando a cena, e sentindo a tensão que se apoderou do local. Nagihiko cerrou os punhos e começou a respirar fundo, aparentemente tentando e controlar para não fazer uma besteira. Tadase sustentou o olhar dele, com o semblante sério. Seria um problema se o Valete arrumasse briga ali, e o Rei tentava pensar em um jeito de evitar isso. Porém, antes que o fizesse, Nadeshiko falou:

– Bom dia, Nagi. Venha, sente aqui pra tomar café com a gente
– Sim... bom dia - ele manteve os olhos no Rei por mais alguns instantes, mas logo dirigiu-se à mesa e se sentou - Você dormiu bem, Naddy? Ou melhor... v-você dormiu, né??
– Do que está falando, é claro que eu dormi - a Rainha respondeu, fingindo não entender a pergunta de duplo-sentindo do irmão
– Humm... certo
– E-Ei Nagi, prove esse chá de camomila, está delicioso, você tem que provar! - Amu exclamou o mais calmamente que pôde, estendendo um copo de chá para o garoto, que o pegou e bebeu sem dizer nada. Na verdade o chá era horrível, mas se servisse para acalmá-lo, estava de bom tamanho
– Bom dia pessoal - Tadase cumprimentou, finalmente se sentando com os outros
– Bom dia, Majestade! - Yaya exclamou alegre - Nee Tadase, a Yaya está louca pra saber o que você e a Nad...
– Agora não Yaya-chan, depois falamos sobre isso - a Rainha sussurrou no ouvido dela, tampando a boca da Às antes que ela soltasse a pergunta inconveniente
– Hai, hai, como quiser, minha Rainha! - a Às exclamou brincalhona - Bom, então... quem está afim de escutar uma idéia excelente que a Yaya teve, hein?
– Ihh não sei não, hein, Yaya... geralmente suas idéias só nos colocam em confusão! - Amu comentou um tanto temerosa
– Ahh não se preocupe, não tem confusão nenhuma, Amu-chi! - Yaya garantiu, sem convencer ninguém
– Bem, então... que idéia é essa? - Kukai perguntou curioso
– Huhuhu... é muito simples, meu querido Conselheiro! - Yaya exclamou misteriosa - É uma idéia... para um jogo!

*** Próximo Capítulo: Do Que Você Tem Medo? ***