POV Annabeth

Piper estava demorando. Olhei no relógio pela milésima vez, e mal haviam se passado cinco minutos. Percy passaria em casa lá pelas quatro e meia, e já havia passado das três. Queria que minha prima viesse logo, tínhamos muitas coisas para conversar. Assim que lhe disse que queria que ela viésse para minha casa, na mesma hora Piper notou que era algo sério. Desligou e eu fiquei completamente nervosa.

Piper seria a primeira pessoa para quem eu contaria sobre meus sentimentos por Percy. Mas algo dentro de mim me dizia que isso estava mais na cara do que meu nariz. Me levantei do sofá e fiquei dando voltas pela sala. Minhas unhas já não existiam mais de tanto eu roe-las. 

Parei por um minuto assim que passei perto de uma das gavetas. Uma em especial. Me lembrei do pequeno bilhete que eu havia encontrado no tapete de manhã, um pouco antes de Percy entrar em casa. Abri a gaveta com calma e procurei pelo único bilhete ainda não lido. Todos eles tinham a mesma aparência: eram um pequeno papel cor-de-rosa, dobrados apenas uma vez. Era a mesma letra, e a cada bilhete, era uma música diferente. Quanto às músicas, eram sempre perfeitas. Músicas que tinham algum significado para mim.

Meu preferido era o primeiro. O primeiro bilhete que eu recebera. Ele estava junto com uma girassol. Amo girassóis. Eles estão sempre voltados para o Sol. Sempre querendo buscar luz, mesmo que esta já esteja praticamente no fim. Gosto de pensar que isso deve se aplicar à minha vida também. Tenho que encontrar um ponto de luz mesmo em meio a escuridão. 

Finalmente, achei o bilhete. O abri e li cada palavra contida nele:

"Você tem aquele sorriso que só o paraíso pode dar. Eu rezo a Deus todos os dias para que você mantenha esse sorriso. Você é meu sonho. Não há nada que eu não faria. Darei até a minha vida por você, pois você é o meu sonho.

 E, querida, tudo que eu tenho é seu. Você nunca sentirá frio ou fome. Eu estarei lá quando você se sentir insegura. Vou te dizer que você é linda sempre, menina. Pois você é tudo que eu tenho agora.

Um dia, quando o céu estiver desabando, eu estarei ao seu lado. Nada nunca ficará entre nós, pois eu ficarei ao seu lado.

Não vou te abandonar nunca, Annabeth. Não te deixarei sozinha nem por um minuto.

Assinado: o mesmo cara apaixonado de sempre."

Eu estava sorrindo? Sim. Guardei o bilhete na gaveta e me peguei sorrindo como boba novamente. Esse meu admirador conseguia me deixar boba. 

E quem poderia ser? Quer dizer, de todos os homens que eu conhecia, não conseguia pensar em nenhum que fosse romântico o suficiente. Na verdade, poderia ser qualquer um. Pensei em como minhas opções era ilimitadas. Poderia ser Luke, tentando se reaproximar de mim. Poderia ser Grover, em uma nova tentantiva de me ganhar. Poderia ser até Connor, que eu sabia, sempre fora afim de mim. Poderia ser... Percy? É, por que não? Eu tinha que considerar todas as opções. Vai ver esse foi o melhor jeito dele me dizer o que sente. De qualquer forma, espero que esse meu admirador se identifique logo.

Pulei de susto assim que a campainha tocou, me tirando de meus pensamentos. Fechei a gaveta e corri para a porta. Ainda era cedo para Percy passar em casa, então só poderia ser Piper. Assim que a abri, vi que sim, era Piper.

Ela estava com seus cabelos soltos, o que fazia com que todos pudéssem ver a irregularidade de seu corte. Sorri para ela e ela fez o mesmo. A abracei e mordi o lábio inferior para que ele parasse de tremer. Piper me apertou mais ainda, estava claro que essa conversa renderia muito. Piper era como uma segunda irmã para mim. Mas infelizmente não nos víamos muito.

Me soltei do abraço e lhe disse:

- Entre, temos muito o que conversar.

Ela arqueou a sobrancelha e entrou. Sentei-me no sofá e Piper se sentou ao meu lado. Não estava muito confortável assim, então passei a perna direita por baixo de meu corpo, me sentando em cima da mesma. Ficando então de lado, e em frente à Piper. Mordi novamente meu lábio inferior, pensando no que falaria para ela.

- Piper... Não sei bem como falar, sabe... É só que... Eu precisava conversar com alguém. E eu automaticamente pensei em você. Preciso de uma amiga no momento. - digo sentindo as lágrimas começarem a se acumular.

Piper sorriu tentando me confortar. Ela se sentou no mesmo modo que eu me sentei, ficando assim de frente para mim.

- Pode falar Annie. Me conta o que está acontecendo com você. - ela disse segurando minha mãe.

Apreciei seu gesto. Isso fazia com que eu me sentisse segura. Sorri forçadamente e continuei:

- Aconteceu.. tudo! Naquele dia, em que almoçamos da casa de minha mãe, eu não sabia ao certo, mas agora tenho certeza. Eu nunca fui uma garotinha frágil, você sabe disso. Nunca me apaixonei com facilidade, mas... Simplesmente aconteceu. Não sei nem explicar o que é isso o que estou sentindo. Eu só não consigo mais olhar para Percy do mesmo modo que eu olhava antes. Alguma coisa mudou. E eu sinto que sei o que é. Sinto que o problema está em mim. Eu mudei. Minha visão sobre ele mudou. Ele é meu melhor amigo, na verdade meu único amigo. Acho que... que...

Não consegui terminar de falar. Minha voz falhou e eu encarei meu pé, que estava começando a sentir formigar. Piper apertou um pouco minha mão, e eu a encarei. Ela exibia um belo sorriso no rosto. Acho que já sabia desde o começo o que eu sentia. Acho que ela, provalvemente, sabia o que eu sentia por Percy antes mesmo de eu saber o que se passava.

- Annie... Você e o Percy, eu sentia desde muito antes daquele nosso almoço que vocês se gostavam. Não apenas como amigos, era mais do que isso. Seus olhos brilhavam toda vez que ele te fazia rir, ou que tirava sarro de você por algum motivo. E Percy então, ele nunca escondeu de ninguém o quanto de ama. As vezes penso que ele seria capaz de levar um tiro por você, Annie. - Piper disse sorrindo.

Sorri involuntariamente também, mas não gostei da ideia de Percy levar um tiro por mim. Percy sempre se preocupou comigo, sempre. Encarei o chão, completamente sem graça. Não queria que Piper reparasse no quanto eu estava vermelha. E eu sentia que estava muito vermelha.

- Acha mesmo que ele sente o mesmo? - pergunto levantando o rosto.

Ela da risada e aperta uma de minhas bochechas.

- Se eu acho? É claro que eu acho. Na verdade, tenho certeza. Por que não conversa com ele? Diga o que você está sentindo, e ele pode se sentir encorajado para fazer o mesmo. - Piper disse.

Meu sorriso se desfez nesse momento. Mordi o lábio inferior com força. Eu estava com esse péssimo hábito a um tempo. Sim, eu queria falar com Percy. Mas tinha medo. Tinha medo dele falar que me amava, mas como uma irmã mais nova. As vezes, em determinadas situações, as aparências enganam. Eu realmente pensava que Percy poderia ter algum sentimento por mim, mas sabia que isso também poderia ser algo de minha cabeça. 

As lágrimas vieram com tudo assim que pensei que, talvez, Percy pudesse estar interessado em outra. Rachel, por exemplo. Ela é muito mais bonita, e está sempre saindo. Garanto que ela e Percy se divertiriam muito juntos. 

Na verdade, poderia ser outra. Alguma outra moça que ele conheceu em algum lugar aleatório. Fechei os olhos com força, deixando assim, algumas lágrimas escorrerem. Eu não podia falar com ele, pelo menos não por enquanto.

- Não posso Piper. Tenho medo, sabe. Tenho medo de dizer o que estou sentindo e Percy dizer que tem outra. Isso só iria confirmar o que eu ando pensando esses dias, que não passa de imaginação minha. - digo só então me acabando em lágrimas.

Estava doendo. Meu peito estava doendo. Querer alguém que você não pode ter é o pior dos venenos. Te mantem de pé, para então ir te matando aos poucos. Ele te faz ficar bem por fora, sorrindo, mas por dentro, te destrói por completo. Eu estava me sentindo assim. Completamente destruída por dentro.

- Annabeth - Piper disse - Quanto a isso, não acho que há muita coisa para ser feita. Mas, caso Percy te dissesse que ama outra, o que você faria? 

Parei e pensei em sua pergunta. Eu queria Percy comigo, isso era claro, mas tinha algo que eu queria antes de tudo. Queria vê-lo bem, vê-lo feliz. Não suportaria a ideia de viver ao lado dele, sendo que sua alegria só estaria completa ao lado de outra pessoa. Antes de amá-lo como... Bem, como estou amando agora, eu o amo como amigo. E como todo bom amigo, só quero vê-lo sorrir.

Era isso o que ele sempre repetia para mim. Em meus poucos momentos depressivos, Percy estava lá. Ele dizia que queria me ver sorrindo novamente. E que doía para ele me ver tão mal. 

Eu sabia que seria difícil deixá-lo e vê-lo partir com outra pessoa. Mas, se isso fosse o que ele realmente quisesse, então eu o faria. Faria não apenas por Percy, mas por mim também. Se ele estiver feliz, eu certamente também estaria feliz. Depois, com o tempo, me esqueceria dele. Era só uma questão de tempo.

- Eu... o deixaria ir. Porque antes de tudo, quero a felicidade dele. Eu... Eu... Eu amo ele, Piper. Ainda mais do que eu pensava. E amo tanto, que o deixaria ir se fosse isso mesmo o que ele quisesse. - eu disse com as milhares lágrimas já em meu rosto.

Limpei algumas delas com a mão, mas meu rosto já estava completamente molhado. Piper então soltou minha mão e me abraçou. Ela era calma, e muito madura. Apesar de ser dois anos mais nova do que eu, parecíamos ter a mesmo idade. Ela afagava meu cabelo enquanto eu despejava minhas lágrimas. 

- Você ama ele, Annie. Quer dizer, você realmente ama ele - ela disse ainda abraçada comigo - Dizem que só sabemos que estamos apaixonados de verdade quando a felicidade do outro passa a se tornar mais importante do que a nossa própria felicidade. Mas não desista do que você quer. Se declare para ele. Diga o que você está sentindo. Acho que nossa vida é muito curta para passármos com medo de tentar. Arrisque, Annie. Porque senão, você passará o resto da sua vida pensando no que poderia ter acontecido se você não tivesse ficado com medo de contar a verdade para Percy. É melhor você se arrepender de algo que você fez, do que ficar com medo de tentar.

Piper era mesmo incrível. Foi por isso que eu a chamei. Eu sabia que ela poderia me ajudar. Continuamos abraçadas. Cada palavra que ela me disse, fez com que eu pensasse. Seria mesmo tão mal assim contar para Percy que eu estava apaixonada? Eu queria me declarar, queria mesmo, mas naquele momento, meu medo era maior. Dizer para seu melhor amigo que você acabou, acidentalmente, se apaixonado por ele, não é uma tarefa fácil.

Mas como Piper disse, eu tinha que tentar. Não poderia passar a vida toda com medo. Meu coração acelerou assim que pensei em qual seria a reação daquele Cabeça de Alga. Provavelmente ficaria surpreso, e assustado. Eu conheço Percy. 

Então tomei minha decisão: sim, eu iria me declarar. Mas quando o momento certo chegasse. Talvez depois que encontrármos o ex-namorado de Thalia e concluirmos que fora ele quem a matou. Seria um bom momento. Toda a pressão já teria passado, e poderíamos ficar mais a vontade. 

O que me restava fazer era apenas esperar. E tentar encotrar o tal Louis.