POV Percy

Bianca não parava de falar. Aquilo estava começando a me irritar. Annie estava sentada no bar, mas pelo que observei, não bebera nada. O pior de tudo? Luke estava sentado ao seu lado. Pensei que seria divertido rever alguns amigos, mas assim que encontrei Bianca, mudei de ideia. Perguntei para ela como Nico estava, ela disse que estava um tanto mal, mas que logo se recuperaria. Infelizmente, ela não deixou que a conversa morresse ali. Devo ter perdido a conta de quanto tempo fiquei sentado escutando tudo o que ela falava. Eu não iria simplesmente me levantar e sair, seria falta de edicação.

Notei que Annie, quando podia, dava algumas espiadas em mim. Aquilo inflou meu ego. Será que ela estaria de olho em mim para ver se eu não tentava agarrar Bianca? Annabeth estava linda, maravilhosamente linda. Nunca a vi tão arrumada como ela estava hoje. Seu vestido prateado reluzia as luzes que dançavam pela sala. Isso só me fazia babar ainda mais.

Então, de repente ela se levantou e cutucou Luke nas costas. Me perguntei o que ela pretendia. Mas ela então o beijou. Ele pareceu meio assustado, mas não demorou para retribuir. Senti meu sangue ferver. Naquela altura, já não escutava uma palavra sequer do que Bianca dizia. Só conseguia olhar para Annabeth e Luke e fuzilá-los com meu olhar. Ele a segurava firme na cintura, e ela segurava seu pescoço. Trinquei o maxilar e cerrei os punhos. Eu tinha que controlar, afinal estava no meio de uma festa.

– Percy? Percy, está me ouvindo? - a voz de Bianca me tirou do transe.

Olhei para ela e ela me encarava um tanto confusa. Não disse nada, apenas me levantei e me dirigi até o bar. Annabeth e Luke tinham acabado de se soltar. Mas, como Luke não é bobo, ele a segurou novamente e tentou beijá-la. Annie pareceu não gostar de sua atitude, o empurrou e veio em minha direção. Seus lábios estavam vermelhos, e já tinham perdido totalmente todo batom que ali estava quando chegamos. Seus olhos tempestuosos me encaravam com um pouco de raiva. Ela cruzara os braços na altura dos seios.

– Pode me levar pra casa? - ela disse só então olhando em meus olhos.

– Claro. - digo friamente.

Me virei e fui procurar Silena. Ela estava dançando enlouquecidamente ao lado do namorado. Notei que ambos deveriam estar bêbados. Assim que me viu, ela grudou na gola da camisa de Charles e o arrastou até mim. Não demorou muito, Annabeth já estava ao meu lado com uma expressão nem um pouco agradável.

– Percy! Oi, eu fui procurar o Charles, mas não encontrei a chave. Acho que a esqueci em Marte, da última vez que fui para a Rússia. - Silena disse se atirando nos braços do namorado. Ela não falava nada com nada, estava visivelmente bêbada.

Me senti a pior pessoa do mundo por achar aquela situação engraçada.

– Então, eu vou levar a Annie para casa. Talvez eu volte mais tarde...

– Percy, a quanto tempo, meu velho! Ainda estuda Direito? - Charles me interrompeu me abraçando. Ele largou Silena e veio me abraçar, muito másculo.

Dei uma leve risada e tirei os braços de Charles de mim.

– Foi bom rever você também. - digo e olho para Annie. Silena a havia abraçado. Ela me olhava como quem diz "Por favor, eu faço o que precisar ser feito, mas me tira daqui rápido!".

Silena murmurava coisas como: "Meu leite acabou" ou "Não aguento mais essas calças" e ela nem estava de calça. Charles então a pegou e eles voltaram a dançar.

Me virei para Annie e fiz um sinal para que nós saíssemos. Ela assentiu e fomos até meu carro. Tinha uma boa quantidade de gente se agarrando para o jardim. Pensei em me virar e fazer uma piada idiota para Annie, mas então me lembrei que estava bravo com ela. Pelo menos estava tentando parecer bravo com ela. Na verdade, eu estava, mas não consigo ficar bravo com ela por muito tempo. Ela caminhava em silêncio ao meu lado, manteve os braços cruzados o tempo todo.

Pensei em passar no laboratório e conversar com Grover, mas assim que chequei o horário, achei melhor ir para outro lugar. Grover provavelmente estava ocupado demais com Juníper para se preocupar comigo.

Entramos no carro ao mesmo tempo. Annabeth não transmitia felicidade. Ela tinha acabado de beijar Luke e parecia mais depressiva do que normalmente. Queria animá-la, mas também queria que ela pensasse que eu estava bravo. Liguei o carro e dirigi caminho à sua casa. Pensei em ligar o rádio, mas queria evitar o constrangimento de uma música romântica começar a tocar e eu virar um pimentão. Continuamos em silêncio.

O caminho parecia não ter fim. Não sei se foi porque não trocamos uma palavra sequer ou se foi porque pegamos um congestionamento horrível. Chegar até a casa de Annabeth demorou mais do que normalmente.

Assim que chegamos, senti meu coração pular. Eu não sabia ao certo se estava na hora de contar à ela sobre o que eu sentia. Estávamos nós dois, apenas, ninguém para atrapalhar. Talvez aquele fosse o momento.

Annabeth não desceu do carro imediatamente como pensei que faria. Ela continuou sentada encarando seus pés. Queria lhe dizer tudo o que eu sempre quis, mas travei naquele momento.

– Percy, sobre o Luke... - ela começou, só então fitando meus olhos.

Sorri para Annie. Sabia que ela e Luke tiveram algo forte no passado. E que tavez esse tal sentimento, ainda não tivesse sido apagado.

– Não tem o que me... explicar, Annie. Se você gosta dele...

– Eu não gosto dele. Na verdade, não sei ao certo porque o beijei. - ela me interrompeu.

Meu coração deu mais um pulo. Ela não gostava de Luke. Tive que morder meu lábio inferior para não sorrir. Queria beijá-la ali mesmo, mas Annabeth certamente se assustaria, me daria um tapa na cara, e depois nunca mais falaria comigo. Não, eu precisava esperar mais um pouco.

– Foi coisa do momento, então. - disse à ela.

Annabeth sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. Ela ficou um tempo encarando o chão. Estava ligeiramente corada. E eu sabia que eu provavelmente também estava.

– Acho que sim. - ela disse erguendo a cabeça e olhando em meus olhos.

Seus olhos... Nunca vi nenhum como aqueles. Eram únicos. Eram tão cinzas quanto o céu em dias de tempestade. Já passara de meia-noite. O céu estava completamente escuro. O que deixava os olhos de Annabeth mais escuros também. Aqueles olhos... Foram eles que me tiraram, e ainda vão tirar, muitas noites de sono. Cada vez que eu sonhava com eles, sentia vontade de correr até poder alcançá-la. Fora por aqueles olhos que eu me apaixonei.

– Acho... Acho que é melhor eu entrar. Temos que estar cedo na casa de Zeus, certo? - Annie disse acabando com o clima.

Apenas assenti, não disse nada. Ela sorriu uma última vez e me deu um beijo na bochecha. Usei todas as minhas forças para não segurar seu rosto e lhe dar um beijo do jeito que eu sempre quis. Seus lábios eram macios, apesar dela ter acabado de beijar Luke.

Assim que se distanciou de mim, vi que ela estava ainda mais corada. Meu coração já não cabia mais dentro de meu peito. Ele gritava a todo momento "Beije-a, covarde". Tentei ignorar seus gritos, mas estava começando a sentir que não tinha mais forças para resistir.

– Annie, me desculpe. - disse para ela tirando o cinto de segurança.

Assim que ela abriu a boca para responder eu a beijei. Segurei seu delicado rosto com as duas mãos e toquei seus lábios com os meus. A princípio pensei que ela iria recuar, mas assim que ela segurou minha nuca e permitiu que minha língua passasse, me senti o homem mais feliz em toda face da Terra. Uma de minhas mãos desceram até sua cintura enquanto a outra ainda acariciava seu rosto. Estávamos em uma situação um tanto desconfortável. Sentei-me o mais perto dela que podia. E vi que ela fazia o mesmo.

Seus lábios tinham um bom gosto de morango. Me controlei para não pensar que foram os mesmo lábios que Luke acabara de beijar. Poderia ficar ali o tempo que fosse preciso, mas então me lembrei que precisava respirar. Lhe dei um último selinho e distanciei-me de seu rosto.

Annabeth estava tão vermelha quanto um gringo que vai passar as férias no Rio de Janeiro. Sua respiração estava alterada, e a minha também. Fiquei preparado para o tapa que poderia vir a qualquer momento. Mas ao invés disse, Annie apenas disse:

– Nos vemos amanhã. - e saiu do carro.

Fiquei a observando entrar em sua casa. As vezes, ela olhava para ver se eu ainda estava ali. Assim que Annie entrou em casa, gargalhei de felicidade.

Eu a havia beijado! Sim, eu finalmente havia reunido coragem o suficiênte e a havia beijado! E ela retribuíra, isso foi o melhor! Apoiei minha nuca nas duas mãos e fiquei encarando o teto do carro com um enorme sorriso no rosto.

POV Annabeth

Agora era oficial, eu estava realmente maluca. Ao entrar em casa, a primeira coisa que fiz foi jogar meus sapatos, a segunda foi me perguntar onde eu estava com a cabeça para beijar... Percy! Eu havia beijado Percy! Quer dizer, tecnicamente ele me beijou, mas eu correspondi! E tenho que admitir que foi... incrível. Assim que seus lábios tocaram os meus, senti que já não comandava mais nada com relação a meu corpo.

Seus lábios eram macios. Seu hálito de menta só fez com que o beijo fosse ainda melhor. Encostei-me na parede na sala e senti minhas pernas enfraquecerem com aquela lembrança. Ainda podia sentir seus lábios me tocando. Suspirei diversar vezes. Com meus dedos, toquei com delicadesa meus lábios. Mal podia acreditar que, alguns minutos atrás, os lábios de Percy estavam nos meus. Sorri como uma idiota ao pensar assim.

Eu tinha acabado de beijar meu melhor amigo. Na verdade, Percy era meu único amgo. E eu tinha acabado de beijá-lo, como nossa relação ficaria a partir de hoje? Meu coração pareceu levar um choque elétrico, não se acalmou nem quando entrei em minha casa. Ele parecia gritar algo. Algo que, de uns dias para cá, eu me recusava a ouvir. Algo que me pareceu tão óbvio assim que o beijei.

Meu coração era teimoso, insistia em uma coisa apenas. Eu não tinha certeza, mas hoje, assim que senti seus lábios, pude perceber que, o que meu coração vinha me dizendo, poderia não ser uma loucura tão grande assim. Coloquei minha mão direita em cima de meu coração. Ele estava muito rápido.

Seria mesmo verdade? Queria poder dizer que não, que fora apenas uma "atração boba". Mas sentia que era muito mais do que isso. Estava apaixonada, era inevitável negar. Pensei em como queria Percy ao meu lado, e em como isso soaria errado. Não sabia ao certo se aquilo que estava sentindo seria mesmo amor, então deixei que o tempo me desse a resposta.

Ainda estava sentada no chão da sala com um sorriso nos lábios. Pensei em ir deitar, mas sabia que não conseguiria dormir. Decidi então continuar ali, pensando. Minha cabeça tinha começado a doer, mas não me importei. Meus pensamentos tinham nome e sobrenome: Perseu Jackson.

Eu estaria mesmo... apaixonada? Naquele momento, percebi que estava insegura com relação a esse sentimento. Resolvi então me levantar e tentar domir, afinal temos um namorado desconhecido para encontrar.