Se eu estava nervosa por causa dessa festa inútil? Não. Nervosa era pouco. Eu mal conseguia parar em um lugar só, ficava andando de um lado para outro. Arrumei meu cabelo umas quinhentas vezes, mas ele parecia não me agradar de forma alguma. Primeiro, o prendi fazendo um rabo alto, mas não ficou apropriado. Depois, tentei fazer uma trança, ficou pior ainda. No fim, acabei deixando ele solto e natural. Afinal, minhas opções haviam acabado.

Senti meu estômago roncar lá pelas nove. Corri para a cozinha e comi um pão com margarina. Era a única coisa mais descente para se comer em casa. O que me fez lembrar: preciso passar no Supermercado e fazer algumas compras.

Antes de voltar para meu quarto, passei na sala só para conferir se meu admirador não me deixaria na mão hoje. Ao chegar em casa mais cedo, fiquei um tanto triste por ver que ele ainda não tinha se manifestado. Para a minha alegria, lá estava ele, um pequeno papel cor-de-rosa caído no chão perto da porta. O peguei com um sorriso no rosto. Estava começando a ficar completamente ridículo. Vestidos, festas, sorrisos bobos, nem parecia mais a velha Annabeth.

Ignorei aqueles pensamentos idiotas e li meu bilhete:

"Você é insegura, não sei pra quê. Você faz virar cabeças quando passa pela porta. Não precisa de maquiagem para se cobrir. Sendo do jeito que é já é o suficiente.

Todo mundo na sala pode perceber, todo mundo menos você.

Você ilumina meu mundo como mais ninguém. O jeito que você vira o cabelo me deixa arrepiado. Mas quando você sorri para o chão, não é difícil notar, você não sabe que é linda. Se ao menos você visse o que eu posso ver, você entenderia porque te quero tão desesperadamente. Agora eu estou olhando para você e não posso acreditar, você não sabe que é linda, mas é isso que te torna linda.

Você é linda, Annabeth, não importa o que esteja vestindo.

Assinado: o mesmo cara apaixonado de sempre"

Puxa, ler algo assim infla o ego de qualquer um.

Pensei por um minuto quem poderia ter escrito aquilo. Pensei em como ele provalvelmente me observava sempre. Talvez seja escondido, talvez pudésse até mesmo ser Grover, mas ele tinha Júniper, e isso não fazia o menos sentido.

Guardei mais um de meus pequenos bilhetes e voltei para o quarto para terminar de me arrumar. Meu coração não batia regularmente, estava mais acelerado. Não sabia se era por conta do bilhete, ou por eu estar usando um vestido um tanto sensual demais para mim e indo para um festa com meus ex-colegas de escola. No fim, deduzi que seriam as duas coisa.

Ainda era cedo, Percy só chegaria as dez. Então li um pouco e só depois fui me preocupar com a maquiagem. E isso era algo complicado, porque eu não tinha tantas coisas assim. Tinha o básico: pó, base, lápis, rímel e alguns batons. "Sinto muito, vai assim mesmo" pensei. Meu vestido por si só já chamaria toda a atenção, então meu rosto deveria ficar em segundo plano. Me senti um pouco "Piper" para meu gosto. Mas, sinceramente, queria que ela estivesse aqui para me ajudar a me arrumar.

Terminei minha leve maquiagem com um batom vinho. Isso destacava meus olhos. O que Percy pensaria ao me ver daquele jeito? Naquele dia, parecia que meus pensamentos só estavam em uma pessoa: Percy Jackson. Não sabia se aquilo era uma coisa boa ou ruim. Boa porque, bem, ele é meu amigo, e é incrível, e corajoso, e companheiro, e lindo... Ruim porque aqueles pensamentos poderiam significar algo a mais. Algo que eu não gostaria de sentir. Algo chamado... amor.

Meu coração acelerou novamente. Merda, sempre que eu pensava nesse assunto, meu coração acelerava! Isso é ridículo. É complicado. É impossível. A alguns dias atrás ele era só meu amigo, apenas isso. Mas agora, meu coração sente em teimar que quer que ele seja alguma coisa a mais.

"Não!" disse para mim mesma. Percy era meu amigo, apenas isso. E não seria nada mais do que isso.

Eu estava decidida, não deixaria esse tipo de sentimento se apossar de meu ser.

Meus pensamentos foram interrompidos assim que escutei a campainha tocar. Meu estômago revirou assim que vi o horário. Provavelmente era Percy. Coloquei meus sapatos e gritei:

– Entra!

Não sai de meu quarto. Encostei a porta e deixei apenas uma fresta. Escutei a porta se abrir mas não vi ninguém entrar.

– Annie?

Escutei então sua doce voz ecoar por minha casa. Já não tinha mais tanta certeza de que queria ir com aquele vestido. Não sabia ao certo se estava com vergonha ou com medo do que poderia provocar em Percy vestida daquele jeito.

– Annie? - ele gritou novamente, só que desta vez mais alto.

"Anda, sua covarde, vai se esconder em seu quarto pra sempre?" minha consciência gritou.

– Estou no meu quarto. - grito fechando ainda mais a porta.

Não demorou muito, até que vi um belo moço de camisa social azul-clara, calça jeans escura, e sapatênis. Percy estava lindo. Coloquei apenas um dos olhos na fresta da porta. Ele me viu e começou a rir da minha situação.

– O que está fazendo ai? Temos uma festa para ir. - ele disse cruzando os braços.

– Promete que não rir? - disse a ele mordendo o lábio inferior.

Percy me olhou sem entender muito bem o que estava acontecendo.

– Rir? Annie, sabe que não faço isso a não ser que... - ele começou a falar, mas parou assim que me viu sair do quarto.

Percy corou na mesma hora. Seus lábios se abriram por diversas vezes. Ele provavelmente queria me dizer algo, mas não conseguiu. Fiquei sem graça com aquela situação. Seus olhos me olhavam de cima àbaixo, não deixando escapar nenhum detalhe. Eu agora tinha um sorriso forçado nos lábios. Não sabia se sua reação fora positiva ou negativa. Percy pareceu entrar em uma espécie de transe. Não tirou os olhos de mim nem por um minuto sequer.

– Você está linda. - ele disse, só então olhando em meus olhos.

Foi inevitável não me fixar em seus olhos também. Aqueles olhos verdes que estavam me fazendo perder o sono nos últimos dias... Um sorriso bobo se abriu em meu rosto. Encarei meus pés por um minuto, pensando que assim, acabaria com aquele clima chato. Mas me enganei. Percy não havia se mexido, continuava me encarando.

– Acho... acho melhor nós irmos. - digo tentando acordá-lo.

Percy chacoalhou a cabeça e assentiu. Ele parecia nervoso, do mesmo modo que estava de noite, quando dormiu aqui comigo.

Fomos até o Camaro preto de Percy e notei que ele estava bem mais lindo do que normalmente. As velhas cascas de bala que antes ficavam no porta-luvas já não estavam mais lá. O carro parecia ter acabado de sair de um lava-rápido. Fiquei feliz por isso. Talvez Percy finalmente tivera criado vergonha na cara e iria tentar manter seu carro limpo.

O caminho até a casa de Silena foi silenciosamente constrangedor. As vezes, eu olhava para Percy. E na maioria das vezes, pegava ele me olhando. Não podia culpá-lo. Em tantos anos de amizade, ele nunca me vira tão arrumada como eu estava hoje. Estava surpreso, só isso.

Ao chegar na casa, notei que Silena provavelmente não mudara muito desde o colégio. Era uma enorma casa branca, não chegava a ser uma mansão, mas era enorme. Havim várias faixas e balões cor-de-rosa enfeitando cada canto da casa. Além de que, as flores que ficavam no jardim estavam todas cheias de laços. Cor-de-rosa, claro. Logo a avistei dando boas vindas para as pessoas que vinham chegando. Ela continuava a mesma. Tinha cabelos castanhos muito compridos, seus olhos azuis se destacavam por conta disto. Usava um vestido branco cheio de tulle com uma faixa rosa no meio.

Avistei também um moço moreno e bem forte ao seu lado. Me recordei dele assim que vi seu rosto. Charles Beckendorf. Ele havia estuda Mecânica Robótica. Fiquei sabendo que está trabalhando para uma famosa empresa de fabricação de carros. Eles pareciam felizes. Estavam sorrindo para todos. Fiquei feliz por eles. Apesar de Silena nunca ter sido minha amiga. Ela namorou Percy no último ano, mas o largou porque havia se apaixonado por seu melhor amigo nerd. Esse amigo? Charles, claro.

Descemos do carro e fiquei envergonhada ao ver o modo como as pessoas me olhavam. Avistei vários rostos conhecidos. Todos eles bem mais velhos. De longe, vi que Travis e Connor estavam e observando e cochichando ao mesmo tempo. Fui para mais perto de Percy. Ele estranhou um pouco, mas assim que viu Travis e Connor, me entendeu.

Caminhamos pelo jardim até que chegamos até Silena e Charles. Assim que viu Percy, ela correu até ele e lhe deu um abraço. Senti que ela não havia me reconhecido.

– Percy, que saudades! Que bom que veio - assim que Silena se soltou do abraço, ela se virou para mim - Pelo visto está bem acompanhado. Não vai nem me apresentar sua nova namorada?

Meu rosto esquentou assim que Silena disse isso. Encarei o chão pensando que talvez assim ela não percebesse o quanto eu estava corada. Nem sequer olhei para Percy. Ele estaria do mesmo jeito que eu.

– Não, Silena... Está é a Annie, lembra dela, não lembra? - Percy disse. Só então voltei a olhar para ela.

Silena me estudou por um minuto e então cobriu a boca com as mãos. Ela parecia realmente surpresa. E não era de se esperar mesmo. No ginásio, eu nunca ia festas. E se ia, nunca ia tão arrumada. O máximo que consegui fazer foi dar um sorriso agradável e acenar com a mão.

– OI. - eu disse.

Ela não pensou duas vezes e me deu uma abraço. Me assustei na hora, não estava preparada para um abraço surpresa. E Silena quase nunca falava comigo, por isso eu nunca imaginaria que isso fosse acontecer.

– Deus, Annabeth! Como você está linda! Quer dizer, você sempre foi linda, mas aquelas roupas que você usava... vamos encarar. Não te favoreciam em nada. Não consigo nem acreditar que você, e a Annabeth que era da minha sala são a mesma pessoa! Charles, venha ver quem chegou! Charles! - ela disse indo atrás de Charles.

Silena sempre foi de falar muito. As vezes, ela falava tanto que mal dava a oportunidade de os outros falarem. Olhei para Percy e vi que ele segurava a risada. Lhe dei um soco no braço e nós então entramos. Para minha não sorte, a primeira pessoa que avisto assim que entro, é Luke. Ele ficou surpreso ao me ver, quase cuspiu a bebida que estava bebendo. Me estudou de todos os ângulos. Me olhava de cima àbaixo com um sorriso malicioso no rosto. Revirei os olhos e fui me sentar perto do bar, já que Percy queria terminar de comprimentar a turma.

Assim que me sentei, sinto alguém agarrando minha cintura e me agarrando por trás. Olhei para trás no mesmo minuto. Era Luke, como sempre. Ele caminhou e sentou-se ao meu lado.

– Permita-me dizer que está linda, Annabeth. Nunca vi nada como você. - ele disse pedindo qualquer coisa para o bartender.

Revirei os olhos e procurei Percy por toda a sala. Avistei ele conversando com Bianca Di Angelo, irmã de Nico. Ela era afim dele, isso não era segredo para ninguém. Só me perguntei porque ele nunca havia se envolvido com ela. Aquilo não era muito recente. Uns dois anos, talvez três. Bianca era boa pessoa, e era muito bonita, mas talvez não combinasse com Percy.

Resolvi deixá-los pra lá e me virei para o outro lado. Infelizmente, Luke ainda estava ali.

– O Jackson, Annabeth, sério? - ele me perguntou bebendo algo azul, o qual não me recordo o nome.

Não entendi o que ele quis dizer.

– O que quer dizer? - perguntei tentando me manter fria.

– Não tirou os olhos dele desde que se sentou aqui. Toda vez que tenta se focar em outra coisa, acaba dando uma espiada pela sala para ver onde ele está.

Revirei os olhos mais uma vez. Luke era um idiota. Só queria confundir minha cabeça. Mas e se eu estivesse mesmo sentindo... algo a a mais por Percy? Eu realmente não conseguia tirar os olhos dele. Aquilo estava me matado por dentro. Estava cada dia mais difícil controlar isso aqui dentro de mim. Mas eu não podia deixar um sentimento tomar conta de mim novamente. A última vez que me permiti amar alguém, sai machucada.

– Luke, você está enlouquecendo. Percy e eu somos amigos. Não tem nada a mais do que isso. - digo com uma expressão séria.

Luke parou por um minuto e voltou a beber seja lá o que estava bebendo. Pensei em pedir alguma coisa também, mas como não bebo com frequência, provavelmente daqui a alguns goles eu já estaria mais agindo por mim. Então continuei apenas sentada, observando as pessoas na sala da casa de Silena. Estava tudo lindo, e muito enfeitado.

Sem querer, meus olhos pousaram novamente em Percy. Ele ainda estava conversando com Bianca. Senti uma fúria ficar presa em meu peito. Eles conversavam e sorriam. Por que raios ele teria que conversar com ela assim? Na frente de todos. E principalmente, na minha frente. O que os olhos não veem o coração não sente, não é esse o ditado? Mas se ele podia, por que eu também não tentava?

Percy estava conversando animadamente com Bianca, então olhei em volta e tentei encotrar alguém descente. Travis e Connor dançaravam com duas garotas cada um. Will Solace estava em um canto com uma garota de cabelos castanhos. Lee Fletcher estava como Dj, e tinha milhares de garotas a seus pés. Só me restou um. Infelizmente era minha última opção. Me levantei no banquinho e fui até Luke. Cutuquei suas costas e, assim que ele se virou, lhe disse:

– Não leve isso para o lado pessoal, ok?

Ele me olhou confuso, mas não lhe dei tempo de pensar. Segurei seu percoço e o beijei. Ele, como não é bobo nem nada, retribuiu na mesma hora. O que Percy pensaria ao me ver aquil, com Luke? Provavelmente expludiria de raiva.

Mas então era isso, eu estava beijando Luke apenas para deixar Percy com ciúmes? Sim. E tudo isso começou porque eu estava com ciúmes.

Ciúmes, pensei. Normalmente este sentimento vem acompanhado de um outro que não me agradaria muito. Mas, infelizmente, senti que não tinha mais saída. Eu estava beijando um cara e pensando em outro. Só então me dei conta que poderia mesmo estar apaixonado pelo rapaz que sempre esteve ao meu lado.