Kokoro No Shiki escrita por Konohana


Capítulo 7
Capítulo 7 - Futatsu no Tamashi




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O dia havia sido ótimo em vários sentidos. Depois de presenciarem o treino de kenjutsu de Nagihiko, eles começaram a se divertir de verdade. Eles jogaram videogame, alguns jogos de cartas, Nagi e Kukai competiram um pouco mais na queda-de-braço – onde o valete acabou perdendo de 2x1. No final do dia, Seiji permitiu que eles ligassem a uma pizzaria local, pedindo seis pizzas para comerem no jantar.

Nagihiko sabia que isso era apenas por aquele ser um momento especial, já que Seiji sempre havia sido rigoroso com a alimentação de Nagihiko.

Assim que a pizza chegou Kukai desafiou Nagihiko para outra disputa: quem comia mais. Dessa vez, pensando em todo o trabalho que teria para se livrar do peso extra mais tarde, Nagihiko deixou que o de cabelos castanhos ganhasse com mais facilidade. Apesar de estar como garoto no momento, Nagihiko sempre estava consciente de sua parte menina e esta parte não poderia engordar muito.

No final, Kukai acabou com uma forte dor de barriga, precisando que Baya lhe servisse um chá para má indigestão. Quando já era tarde, todos foram dormir. Seiji havia ordenado que Baya preparasse vários futons na sala, para que todos dormissem no lugar mais confortável.

Já deveria ser por volta das três da manhã, quando todos já estavam dormindo, que Tadase acordou de um sono inquieto. Ele simplesmente não conseguia dormir. Seu cérebro tentava, de todas as formas, assimilar o que havia acontecido durante todo o dia. Havia conhecido parte de um lado muito diferente da pessoa que dizia amar. Um lado que era o completo oposto da gentil Nadeshiko, rainha dos Guardiões, que conhecia.

Inquieto, levantou-se segurando o caderno que havia levado consigo durante todo o dia, andou pelos corredores, até que chegou a um jardim realmente bonito. Era todo o estilo tradicional japonês, com arvores e flores espalhadas de forma bela pelo jardim. Não conseguiu conter um sorriso ao ver aquele lugar. Foi então que percebeu que não era o único que estava ali.

Sentado sobre o assoalho de madeira do corredor, observando o jardim iluminado pela lua de forma um pouco perdida, estava Nagihiko. O garoto de longos cabelos usava um calção cinza, um pouco curto, deixando amostra às longas pernas, que como Nadeshiko jamais exibia. Cobrindo o tórax uma camisa branca de manga curta.

Por um breve momento, Tadase jurou que havia visto a face de Nadeshiko e de Nagihiko se tornarem uma única face.

Nagihiko percebeu a presença do rei e se virou, dando um sorriso gentil ao garoto.

- Não consegue dormir, Hotori-kun? – indagou, sua voz um pouco mais suave do que havia usado durante todo o dia, mas mesmo assim forte e masculina. Era como se realmente Nadeshiko e Nagihiko houvessem se fundindo em um único ser.

Tadase ficou atordoado com aquilo por um momento, até que se lembrou de que precisava responder. De forma um pouco atrapalhada, pegou o caderno e escreveu rapidamente, para então se aproximar e erguê-lo.

“Sim. Você também não consegue?”

- É, eu não consigo – admitiu, sorrindo e voltando seu olhar para o jardim. – Já faz muito tempo, desde que eu pude assumir minha forma masculina. Tanto tempo, que nem mesmo as minhas antigas roupas serviriam em mim.

Tadase se surpreendeu com aquilo, mas não fez qualquer comentário. Sentou-se ao lado do garoto em silêncio, começando a escrever algo em seu caderno, chamando a atenção do maior. Decorrido alguns segundos, Tadase ergueu o caderno.

“Sua família é toda como você?”

- Sim… bem, pelo menos o meu lado ‘materno’ – falou, dando uma risada e olhando mais uma vez para o jardim. – Hotori-kun… sei que não deveria pressioná-lo, mas eu gostaria de saber se você vai poder amar a mim e a Nadeshiko. Você deve ter o mesmo amor e desejo por ambos os meus lados, não pode amar um como amigo e outro como algo mais. Precisa desejar os dois. Você pode fazer isso, Hotori-kun? – indagou, olhando fixamente os olhos carmesins.

Tadase ficou hipnotizado pelos olhos castanhos dourados pelo o que pareceu ser longos minutos, até que se voltou para o caderno que tinha em mãos, começando a escrever. Demorou apenas alguns segundos, para que ele mostrasse o caderno mais uma vez.

“Isso é muito importante para a sua família e para você, não é mesmo?”

- Sim, é muito importante – respondeu Nagihiko, desviando um pouco o olhar. – Por séculos, minha família é assim… diferente das demais. Para nós, o amor é diferente. Desejamos sempre alguém que aceite nossas duas metades, sem amar uma metade mais do que a outra. Normalmente, quando alguém se declara para nós, devemos repudiá-lo imediatamente. Mas… às vezes, aparece alguém como você, Hotori-kun, que não dá como recusar. Então, nós o testamos, revelando a essa pessoa nosso outro lado. Se essa pessoa for capaz de aceitar… capaz de amar os dois lados iguais… então toda a família da à permissão e a benção. – Falou, enquanto um sorriso um pouco triste surgia em seus lábios. – Okaasama também precisou fazer isso, quando otousama se declarou. Às vezes ela fala que havia sido engraçado, pois ele não parava de tropeçar nas palavras… e quando ele conheceu seu outro lado… ela diz que foi difícil, mas no final, otousama afirmou que amava seus dois lados…

Nagihiko parou de falar, quando escutou o som de gravite contra papel. Quando se virou, viu que Tadase lhe mostrava o caderno, com a mensagem que havia escrita nele.

“Seus pais contrataram uma barriga de aluguel?”

Nagihiko tentou, ele realmente tentou, não rir daquela pergunta tão fofa, mas havia sido impossível se conter. Gargalhou o mais abertamente que conseguiu, até mesmo temendo acordar os outros hóspedes, mas não conseguia se conter. Era algo realmente engraçado. Se Tadase soubesse…

- Iie… - falou, secando as lágrimas, depois de conseguir diminuir as risadas. – Sou um filho cem por cento legitimo de Fujisaki Yamato e Fujisaki Momo. Não houve nenhuma terceira pessoa entre eles.

Os olhos de Tadase se arregalaram ao escutar aquilo, sem conseguir conter a própria curiosidade, o loiro voltou a escrever o mais rapidamente que pode no caderno, para então erguê-lo novamente.

“Então como você pode ter nascido? Momo-sama é um homem, não é? Então como?”

Nagihiko sorriu ao ler as perguntas afobadas do loiro. Aquele ele o maior segredo de sua família. Infelizmente, não podia contar para Tadase… o loiro ainda não tinha o direito de saber sobre aquilo.

- Gome ne, Hotori-kun… mas eu não posso responder essa sua pergunta – falou, fazendo com que o loiro fizesse uma expressão de irritação que era realmente fofa em sua opinião. – Esse é o maior segredo da minha família, e apenas Nadeshiko pode contá-lo. E você só poderá saber, se for capaz de aceitar nós dois. Você é capaz, Hotori-kun?

O loiro abaixou o olhar ao escutar a pergunta. Suas mãos apertando com força o caderno que segurava. Ele havia percebido que aquilo não era algo simples. Era algo complexo e importante demais para ser levado de forma leviana. Aceitar, ou repudiar aquilo eram coisas completamente diferentes, do que realmente seria em uma ocasião diferente.

Em sua mente, se passavam as imagens e lembranças que tinha de Nadeshiko. A menina gentil. A rainha educada e protetora. A dançarina bela e sofisticada. A dama perfeita, mas que tinha um ‘suposto eu’ um pouco violento, mas que aos seus olhos era realmente divertido e só fazia com que ela brilhasse ainda mais. Então as poucas lembranças que havia conseguido de Nagihiko apareceram. O menino energético. Esportista competitivo. Habilidoso com a espada e olhar malandro. O samurai forte e honroso, mas que tinha como ‘suposto eu’ malandro e cheio de energia. Aos seus olhos, Nagihiko parecia ser um menino tão incrível e sedutor, que nem mesmo conseguia pensar corretamente, quando se via diante dos olhos castanhos dourados cheio de malicia e sedução.

Nagihiko já estava quase gritando com a demora que o loiro tinha em lhe responder. Mas não podia apressá-lo por mais que desejasse. Por fim, o viu começar a escrever e prendeu a respiração. Quando o loiro terminou de escrever e ergueu o caderno, Nagihiko sentiu como se seu mundo inteiro tremesse. Uma onda de felicidade se instalou em seu peito e sem pensar duas vezes, puxou o menor para seus braços, tomando-o em beijo quase que desesperado.

Tadase foi pego de surpresa, mas não se afastou, fechou os olhos e deixou que o maior lhe beijasse. Seus lábios se tocando com carinho e um pouco de desespero. A língua de Nagihiko pressionando seus lábios para que eles se separassem, aprofundando ainda mais o beijo. Permitindo que ambos sentissem o sabor um do outro. O ar era importante, mas Nagihiko não queria parar. Beijou e chupou os lábios do menor, aproveitando ao máximo aquele contato.

- Fujisaki-kun… - murmurou o loiro, depois que teve seus lábios libertados da boca do maior, surpreendendo o garoto de cabelos compridos.

- Hotori-kun… você conseguiu falar – murmurou, um pouco atordoado, fazendo que o próprio loiro se desse conta disso.

- Eto… acho que… sim… - murmurou, um pouco corado, mas sorrindo gentilmente para o outro. – Er… Fujisaki-kun… eto… por que você me beijou?

Nagihiko precisou se conter para não rir. Tadase sabia ser muito fofo quando queria e até mesmo quando não queria.

- Te beijou porque te amo e porque não sou tão bonzinho quanto a Nadeshiko – falou, puxando o loiro para mais perto, se inclinando e mordendo a orelha do menor, fazendo com que ele soltasse um pequeno gemido surpreso.

Tadase baixou o olhar, mas sorriu se aconchegando um pouco mais nos braços protetores que lhe envolviam. Era sensação gostosa aquela, como se estivesse completos, depois de anos vivendo incompletos. O calor que cada um passava para o outro era maravilhoso. As sensações eram únicas e certamente ficariam ali para sempre, se não houvessem escutado um grito bem próximo ao lugar onde estavam.

Os dois se viraram para ver, encontrando um chocado Kukai, que encarava os dois como se eles fossem dois alienígenas. Nagihiko soltou um suspiro cansado. Sentia que lá viria uma tempestade de perguntas. Bem… pelo menos estava com Tadase agora… e isso era uma certeza.


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