– Mamãe, irei viajar com a escola. – Foram as primeiras palavras ditas na mesa entre as duas pessoas nela.

– Para onde querida? – Nina mordiscou a pequena fatia de panqueca.

– Ahn... Bem, eu não sei. – Sophi envolveu o guardanapo entre os dedos com força, tinha que ter uma desculpa melhor para partir em busca dos cristais.

– Uau, típico da sua parte. – A mãe tentou esbanjar um sorriso na face, mas com dificuldade apenas concordou com a cabeça.

– Isso quer dizer sim? Achei que não ia deixar. – A morena agora era tomada por reações diferentes, hora espanto, hora felicidade.

– Claro que sim, você é uma moça e está na hora.

– Na hora... Sim. – Sophi olhou para o relógio e tomou um susto com a colocação dos ponteiros. – Na hora! Estou atrasa para escola mamãe.

– Espere só um segundo, quando que você vai viajar? – Nina já estava de pé e retirava os pratos e copos da mesa.

– Hoje pela noite. – Sophi deu uma pequena ajuda retirando os talheres.

– Está bem, bom dia. – Nina depositou um carinhoso beijo na testa da filha, que apurada com o tempo correu pelo vão da porta.

Sophi foi andando até a esquina aonde um grupo de pessoas se reunia lá.

– E aí pessoal. – Sophi cumprimentou os amigos que agora não se soltavam.

– Oi Sophi. – Heather foi à única a responder.

Robert estava ocupado demais agarrando a namorada e dando-lhe um beijo nos lábios, já Zac parecia muito entretido com seu tênis no qual não conseguia amarrar os cadarços. Jess, Kess e Leena não gostavam muito de parecer boazinhas.

– Eu falei com a minha mãe e ela me deixou ir numa boa. – Sophi havia se soltado dos lábios de Robert e estava no meio da rodinha.

– Que estranho, pelo jeito que eu conheço sua mãe pensei que ela ia ser mais rígida. – Heather parecia um pouco confusa.

– Dois. – Sophi balançou a cabeça positivamente.

– Garoto você já ta me irritando com isso! – Kess enviou um olhar de desaprovação para Zac. – Como alguém como ele é um guardião?

– Pelo mesmo motivo dele, ontem, ter previsto uma profecia. – Jess deu uma piscadela desdenhosa para a irmã.

– Vai ficar protegendo o bebê? – Kess deslizou os olhos por toda a extensão do corpo de Jess.

– Não to protegendo ninguém, é você que é chata pra caramba. – Jess deu um empurrão no ombro de Kess, fazendo-a recuar alguns passos.

– Não encosta em mim sua piranha! – Kess avançou contra a irmã, furiosa, com os olhos crepitando em brasa.

– Chega! – Leena se meteu no meio das duas irmãs. – Kess deixa o Zac em paz e Jess fica na sua.

– Consegui! – Zac se estava de pé com os cadarços amarrados de uma forma muito estranha e desconhecida. – O que aconteceu?

– Argh. – Kess revirou os olhos.

– Eu acho que estava atrasada, mas tudo bem... – Sophi agarrou a mão de Robert e conduziu-o pela rua, deixando o grupo para trás.

– Me esperem! – Heather seguiu o casal, também abandonando o grupo.

O dia se passou de forma rotineira, com Zac aprontando seus típicos feitos e Kess repreendendo tudo que o garoto fazia. Sophi sempre ao lado de Robert, e as novas discussões de Leena e Jess para ver se livros ou sapatos eram mais valiosos, já Heather ficava em seu canto, estudando todo o local e pensando para si própria.

A noite chegou e assim Sophi arrumava sua mochila para partir. Na mochila carregava algumas peças de roupas limpas e sapatos, Heather avisara que não ia precisar de muita coisa e que ela mesma levaria o necessário.

– Eu vou voltar em breve mamãe. – Sophi estava no hall de entrada da casa com a mão postada em cima da maçaneta que se permanecia sólida.

– Cuide-se minha filha. – Nina envolveu os braços em volta do corpo da filha, dando um abraço afetivo.

– Não se preocupe. – Sophi girou a maçaneta e abriu a porta.

– Quando você diz isso é quando eu mais me preocupo. – Nina sorriu e deu um breve aceno para a porta que se fechava.

– Esse dia chegaria, eu espero que tudo de certo minha filha. – Nina recitou para si mesma e uma lágrima deslizou pela sua face esbranquiçada.

Igualmente que pela manhã o grupo de pessoas esperava Sophi no final da ruazinha, cada um com sua mochila menos Jess que carregava uma gigante mala cor de rosa.

– Somente o necessário, né? – Sophi analisou a mala que Jess portava.

– Tudo que está aqui é o meu necessário. – Jess ergueu o nariz e soltou um muxoxo baixinho.

– Heather, que hotel vamos ficar? – Sophi procurou a dona dos cabelos ruivos, mas sem sucesso. – Heather?

– Ela teve que ficar por um tempo, é que Zac se prendeu no quarto. – Robert explicou enquanto Kess soltava uma exclamação de desapontamento.

– Hotel? Não vamos ficar em nenhum hotel Sophi. – Leena parecia compreensiva e receosa com a notícia. – Vamos acampar.

– Acampar? – Sophi estava perplexa, mas não foi a única, pois Jess também estava se manifestando.

– Kess você não me falou nada sobre acampar! – Jess falava rapidamente enquanto na mala procurava algo.

– Se eu falasse você não ia concordar. – As bochechas de Kess estavam começando a corar.

– Achei! – Jess ergueu nas mãos um tubo de repelente um tanto exagerado, passando grandes quantidades nos braços e no rosto.

O tempo se passou e Heather apareceu seguida de Zac. O grupo seguiu Zac e Heather por um longo tempo até uma colina em que resolveram armar as barracas e acender uma pequena fogueira para esquentá-los.

Todos se sentaram em volta da fogueira e um clima tenso e assustador se alastrou pelo local.

– Eu quero saber suas histórias. – Robert apontou para as gêmeas e seguidamente para Leena.

– Hm... Eu e Jess somos filhas de um grande milionário, nossa mãe morreu quando ainda éramos apenas bebês. Morávamos em uma cidade muito longe daqui em uma grande mansão, nosso pai sempre nos deu tudo o que desejamos, principalmente para Jess. – Kess mandou um olhar negativo para a irmã que nesse momento envolvia mais um cachecol no pescoço, já eram quatro. – De uma forma ou de outra ele sempre procurava manter-nos mais seguras possíveis, só que um dia seu plano falhou. Um ladrão criminoso invadiu a nossa casa para roubar as nossas coisas, só que papai valorizava muito seus objetos que tinha conquistado com seu trabalho e reagiu, foi uma coisa boba, o homem então o matou. Jess e eu fomos ver o que acontecia e encontramos nosso mordomo ajoelhado diante do corpo do nosso pai e o ladrão observando a cena com prazer, aquilo foi demais para nós e então, fomos envolvidas por uma raiva muito e grande e o nosso corpo foi tomado por uma energia muito forte, começamos a lutar com o homem, um combate corporal muito agitado e só paramos quando o homem teve o mesmo fim que o nosso pai. – Uma lágrima brotou nos olhos de Kess, pela primeira vez a garota chorou em público. – Queríamos esquecer tudo isso, nosso pai e o ladrão e então partimos, e foi quando encontramos Leena na rua.

– Minha vez, eu acho. – Leena esfregava as mãos umas nas outras freneticamente para aquecê-las. – Eu morava em um orfanato na mesma cidade das meninas e odiava aquele lugar, eu odiava a comida, a cama, as pessoas de lá, tudo era tão rigoroso e tão horrível, a única coisa que prestava lá era a biblioteca que assim era o lugar que eu mais frequentava. Nenhum livro sobre historinhas ou algo assim, apenas livros sobre guerras, armas e estratégia de batalha e outras coisas, foi assim que eu criei uma ferramenta e fugi daquele lugar imundo. Sem lugar para morar e sem comida para comer eu fiquei morando por uma noite em baixo da ponte, mas as noites no orfanato eram piores. No dia seguinte eu vi duas meninas andando perto do lugar aonde eu dormi e fui até elas, elas contaram a história delas e eu a minha e assim nos tornamos amigas, elas tinham dinheiro e assim tínhamos aonde comer, um dia conhecemos Heather e ela nos explicou o que verdadeiramente éramos e assim partimos juntas, nós três, em aventuras e aqui estamos nós.

– Nossa, me desculpem se critiquei vocês, suas histórias são comoventes. – Sophi esbanjou um sorriso meigo no rosto.

– Merecem meu respeito. – Robert concordou.

Divididos em barracas; Jess, Kess e Leena, Robert e Sophi e Zac e Heather. Passaram uma noite tranquila e silenciosa, apenas o ronco de Zac cortava o silêncio por inteiro, fora isso a noite foi normal e os garotos e garotas dormiram normalmente, mas mal saberiam o que iam enfrentar no dia seguinte.