Mais tarde, naquele mesmo dia, após me despedir de Susana, à noite, eu segui para a já tradicional reunião no estábulo. De longe era possível ouvir as risadas e falas altas, o tinir das espadas em duelos amistosos, o relinchar dos cavalos, a luz das lamparinas e tochas. Quando passei pela porta entreaberta do estábulo, os soldados presentes explodiram com urros de comemoração, apenas para tirar sarro.

            - Demorou, Caspian – disse Edmundo, que polia sua espada, sem camisa, sentado em um monte de feno. Pedro estava ali perto, deitado em palha, se esbaldando em vinho.

            - Aposto como estava com a princesa. Você não desgruda mais dela, Caspian, cuidado, o rei pode não esperar ainda por um neto. – provocou Glozell e os outros soldados riram.

            - Mais respeito, soldado. – falei seriamente, em tom ameaçador. – Está falando da honra da princesa.

            - Isso não impediu você. – provocou ele. Preciso dizer que foi com ele que briguei da ultima vez?

            - Sugiro que dobre a língua se não quiser perde-la. – ameacei, brincando com minha espada. Ele levou as mãos ao alto. Continuei dando passos calmos em direção ao monte de feno onde Pedro estava tomando-lhe a garrafa. – Chega de vinho, Pedro. – encostei-me na parede.

            Edmundo se pôs de pé e vestiu a camisa.

            - Eu adoraria ficar mais, mas eu estou morrendo de sono. – falou. Glozell deu seu sorriso provocante.

            - Não precisa dar desculpas, Edmundo, pode ir se divertir, sabemos que sua empregadinha está esperando você. – provocou. Edmundo puxou a espada e derrubou o idiota no chão, deixando a lamina no pescoço dele.

            - Não ouse falar mal dela de novo, ou eu mato você. – Edmundo não estava brincando. Do pescoço de Glozell escorria um fio de sangue.

            - Ed – chamei tirando-o de cima do soldado antes que realmente o matasse. – Calma, Ed. – pedi e ele, mesmo fuzilando Glozell com fúria, embainhou a espada e saiu do lugar pisando fundo. Agarrei a camisa de Glozell e levantei-o do chão. – E você, Glozell, parece que está morrendo de saudades da sua cela, não é? Que bom, por que é para lá que você vai agora.

            Arrastei-o pela camisa até as masmorras onde o tranquei em uma das celas.

            - Glozell, quanto tempo! – exclamou um dos presos de uma cela vizinha enquanto os outros riam.

            - Da próxima vez pense centenas de vezes antes de falar qualquer coisa. – orientei antes de aparar as chaves no ar e sair dali.

            POV. Lucia.

            Edmundo bateu a porta do quarto, assustando-me. Sentei na cama num salto. Ele jogou a espada e a bainha sobre a mesa.

            - O que houve Ed? – desembrulhei as pernas e fui até ele. Edmundo apoiou as mãos sobre a mesa e eu toquei seu ombro. – Ed? O que aconteceu?

            - Aquele idiota do Glozell de novo – ele bateu na mesa.

            - O que ele fez?

            Edmundo suspirou, tirou as mãos da mesa levando-as para minha cintura, aproximando-se de mim.

            - Não vale a pena lembrar. – ele sussurrou. Afaguei seu rosto.

            - Ele falou de mim, não foi? – perguntei. Edmundo rolou os olhos. – Você devia parar de se importar com o que esse imbecil diz, Edmundo.

            - Ele me irrita! Se não fosse pelo Caspian ele ia ver de perto se eu poli direito minha espada...

            Eu ri e ele fechou os braços em volta de minha cintura.

            - Como você consegue ignorar tudo o que ele fala?

            - Eu sei que a verdade não é o que ele diz.

            - Glozell está cada vez mais louco. Sabe o que ele fez? Insinuou que Caspian estava se aproveitando da Susana com esse novo trabalho. Ele disse “que o rei pode não esperar ainda por um neto”.

            Minha boca se abriu num “O”.

            - Ele é louco. – conclui – Muito louco.

            - Não sei como Caspian o suporta.

            - Talvez ele faça o mesmo que eu. – minhas mãos pousaram em sua nuca. Edmundo sorriu de lado e me beijou. Um beijo sereno que aos poucos foi se tornando mais forte. As mãos de Edmundo ficaram mais firmes em minha cintura. A falta de ar fez-me interromper o beijo, um pouco ofegante.

            - Lucia? - afaguei seu rosto. Edmundo hesitou no silêncio. - Já tem um tempo que eu quero lhe perguntar uma coisa...

            - O quê? – olhei em seus olhos.

            Ele hesitou e finalmente falou, após um suspiro de coragem.

            - Você aceita se casar comigo?