Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 10
Capítulo 10 - Confusão, confronto indesejável.


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO: O TEXTO EM ITÁLICO NÃO É DE MINHA AUTORIA, MATEUS 5:13 E MATEUS 5:14 SÃO VERSÍCULOS DA BÍBLIA SAGRADA.



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Capitulo X – Confusão, confronto indesejável.

Os discípulos de Jesus Cristo são o sal da terra e a luz do mundo.

“Mateus 5:13 : Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens.”

“Mateus 5:14 : Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte;”

(Versículos da Bíblia Sagrada, tirados do livro de Mateus).

Há crenças populares de que banhos de sal grosso e jogar sal sobre os ombros afastam maus espíritos e o azar. O sal era utilizado pela igreja em rituais de exorcismo. Seria o sal um instrumento de proteção no qual podemos depositar a nossa fé?

O som dos passos de Helena no corredor me desviou a atenção, é verdade que estou acostumando a escrever tarde em meu diário, mas eu particularmente nunca fui de dormir fora, as poucas vezes que o fiz foram na casa de Allan, ou na casa de um ou outro primo meu. Não que eu esteja rejeitando a hospitalidade, alias muito pelo contrario, ajuda e gentilezas são sempre em vindas, mas eu simplesmente perco o sono em novos ambientes.

Eu estava caído no chão molhado com a chuva caindo sobre meu rosto, Aiga estava latindo para Allan como se o advertisse, Lex colocou-se a frente de seu dono, entre ele e a cachorra, mas manteve-se em silencio. Allan parecia não se importar com o cão latindo para ele. Naquele momento ficou claro que estávamos com problemas mais sérios do que eu esperava, eu nunca pensei que Allan tentaria me matar, e a ideia de ter que enfrenta-lo me assustava, como eu poderia para-lo sem feri-lo? Pensando bem, como eu poderia para-lo?

– Você também e um anjo como o seu amigo com a lança? - Eu só tinha falado com ela uma vez, mas tinha certeza de que aquela voz pertencia a Dorothy – Vendo você caído no chão não da pra dizer que transmite grande confiança, não parece que vocês são semelhantes – Ela concluiu com uma risada sarcástica.

Eu me levantei passando a mão na parte de traz da cabeça que bateu no chão quando caí. Dorothy tinha um apito de alta frequência pendurado por uma corrente em seu pescoço, e uma bolsa de couro preta na altura do quadril com uma alça marrom no ombro esquerdo. Ela vestia uma camisa regata vermelha colada ao corpo com uma blusa segunda pele transparente preta por cima, munhequeiras pretas com três fivelas nos dois pulsos como na ultima vez que a vi, calça jeans e botas de couro pretas com salto curto, que chegavam pouco acima do meio das coxas, com cadarços pretos na parte de traz das botas, que subiam de pouco acima do calcanhar ate seu topo. Os cabelos longos com as pontas azuis abaixo dos joelhos estavam amarrados, como da outra vez, com varias fitas finas, juntas pouco abaixo da cintura.

– O que sabe sobre isso de anjo? – Perguntei incrédulo, de uns tempos pra cá parece que todos estão envolvidos nisso – O que você...

– Relaxa, não é o que esta pensando, isso ainda não vasou na internet! – Dorothy me respondeu com sarcasmo.

– Quem é esta? – Perguntou Allan – Outro de seus Ícaros? Acha mesmo que isto vai ajudar?

– Allan acorda! – Eu respondi exasperado – Volte a si cara, você esta...

– Ei espera! – Dorothy me interrompeu pondo a mão esquerda em meu ombro – É obvio que esta conversinha não vai adiantar, já viu alguma vez algum controle mental acabar assim? Ate parece que você nunca oi ao cinema! – Aquele tipo de humor me lembrava muito o de Allan, e esta tranquilidade irritante são traços de personalidade muito parecidos com os que me incomodam em Thais, aquele não era um momento para fazer piadas.

– Derrote-os logo! – Gritou o bêbado por trás de Allan.

Dorothy tocou seu apito e Aiga investiu contra aquele maldito, mas Allan antecipou-se a ela e a chutou nas costelas jogando a cachorra para longe. Dorothy tocou novamente seu apito e a cachorra correu de encontro a Allan, enquanto sua dona puxava uma faca com cabo e lamina curtas de dentro de sua bota direita. Porem antes que a cachorra pudesse ataca-lo, Aiga deu de frente com Lex que protegeu o seu dono. Depois de interromper o ataque, os cães latiram um para o outro como se discutissem.

Allan acertou as pernas de Dorothy com o cabo de sua lança a derrubando no chão, com um movimento de pulso, ele girou sua arma sobre a cabeça e a segurou firme descendo sua ponta ate quase tocar o pescoço da garota. Nesse momento eu corri em sua direção e saltei sobre ele fazendo-o cair para traz com o meu peso enquanto tentava agarra-lo para imobiliza-lo. Quando caímos no chão, Allan rolou e ficou sobre mim que ainda tentava segura-lo, ele me atacou com cinco cotoveladas nas costelas, depois do ultimo golpe, eu não aguentei mais segura-lo.

Dorothy correu mais uma vez para atacar o cretino que estava controlando Allan, mas ela não foi rápida o bastante. Allan a alcançou e desferiu um golpe violento em suas costas com sua lança, ao perceber sua aproximação à garota girou o corpo e conseguiu escapar do ataque mortal, a lamina da lança de Allan cortou a alça da bolsa de Dorothy quando ela girou e o movimento fez a bolsa ser atirada para longe. Cambaleante, ela conseguiu se reequilibrar depois de tocar duas ou três vezes o chão com as mãos. Quando recuperou o equilíbrio ela buscou se afastar de Allan e tocou seu apito fazendo Aiga ir para junto dela.

– Bravo! Bravo! – Gritava e aplaudia o demônio alcoolizado – Parece que eu escolhi mesmo o melhor dos fantoches!

– Infelizmente ele parece ter razão! – Falou Dorothy com um tom de seriedade.

– O que? – Eu perguntei.

– Não vai ser nada fácil passar pelo seu amigo ai – Ela explicou – e nós precisamos fazer isso para chegar naquele rapaz simpático atrás dele!

– Olha só, as crianças estão começando a encarar a dura realidade do mundo adulto – Falou o demônio – Que tal tornarmos isso mais interessante? Vocês já estiveram com a vantagem numérica a muito tempo, acho que chegou a hora de reverter isso! – Ele concluiu sorrindo.

Allan se virou novamente para nós e se pôs em posição de guarda, vimos então surgindo das esquinas, até então escondidos pelos cantos, cinco pessoas. Um deles carregava um gato preto provavelmente apanhado nas ruas, ele tirou um giz branco do bolço, se agachou fez um circulo no chão com um giro rápido, então puxou um canivete da manga e o usou para sacrificar o animal. Com o sangue de seu sacrifício, ele fez uns desenhos estranhos dentro do circulo enquanto murmurava em uma língua estranha.

– Acho que a brincadeira agora vai ficar mais interessante! – Falou o demônio sorrindo.

O rapaz dentro do circulo havia mudado totalmente de expressão, seu olhar transmitia uma natureza psicopata, quanto aos outros, um carregava duas facas, outro enrolou uma corrente em seu punho, o terceiro carregava um martelo em uma das mãos e uma chave inglesa na outra. Por fim restou uma mulher, que se posicionou ao lado daquele bêbado irritante.

– A duas coisas que precisa entender! – Falou Dorothy

– Pode falar! – Respondi.

– O seu amigo esta sendo controlado e isto é um problema, mas estas pessoas são Ícaros, eles escolheram esta condição, e não há razão para hesitarmos – Ela me explicou.

– E a outra coisa? – Perguntei.

Aquele rapaz que havia feito o circulo no chão e desenhado símbolos estranhos com o sangue do gato que sacrificou me atacou com seu canivete. Consegui segurar seu pulso, mas ele era muito forte, era difícil segura-lo.

Mais uma vez Aiga me ajudou, seguindo um comando do apito de sua dona, a cachorra mordeu o antebraço de meu adversário e o puxou com violência criando a oportunidade para que eu pudesse me afastar.

– Eles nunca esperam a conversa acabar! – Dorothy falou com expressão de indignação, e demonstrando um reflexo impar, desviou do ataque de um dos Ícaros que tentou ataca-la pela direita com suas facas. Ela se esquivou, agarrou seu braço esquerdo e o golpeou com a faca que havia puxado de sua bota em um movimento que formou um arco e o atingiu na axila. Em outro movimento ágil ela puxou sua faca fazendo jorrar o sangue de seu oponente, se aproximou de seu corpo e fincou sua faca nas costas do inimigo perfurando seu coração. Ela então derrubou o homem, torceu sua faca retalhando o órgão atingido e a recolheu com agilidade.

– Eu ia dizer para você tomar cuidado porque este homem que esta enfrentando não sentira nenhuma dor, ele não vai parar ate que um de você morra! – Ela concluiu já buscando esquivar do golpe desferido contra ela pelo homem que carregava a chave inglesa.

O rapaz desferia golpes descoordenados com o canivete, com uma expressão de ódio evidente parecia estar com um desejo incontrolável de cortar a minha carne. Em um momento ele pareceu vacilar, mas quando achei que ele havia tropeçado e iria cair, ele na verdade estava apenas abrindo caminho para o ataque de Allan com sua lança que tinha como alvo minha perna, talvez o meu joelho. Eu pulei no ultimo instante para o lado, a lamina da lança raspou no asfalto abrindo uma pequena fenda. Não encontrei meu equilíbrio quando pisei no chão e Allan aproveitou o momento para me golpear com seu ombro usando o peso do seu corpo e a velocidade do golpe para me jogar contra uma parede atrás de mim.

Aquilo tinha que acabar, antes que meu amigo tentasse vir novamente de encontro a mim para me matar, ainda antes de me levantar, com um dos joelhos ainda no chão estendi a palma da minha mão esquerda e a fechei sentindo empunhar meu arco galês. Levei minha mão direita às costas e apanhei uma flecha de minha aljava, a coloquei no arco e disparei enquanto me jogava de lado tentando atirar naquele demônio.

O rapaz que estava por traz de Allan, no entanto se jogou na frente da minha flecha que o acertou no canto direito do tórax, a flecha o transpassou e parte dela surgiu em suas costas. O sangue surgiu escorrendo pelo ferimento e manchando sua roupa, mas ele se levantou como se nada estivesse acontecendo, e continuava a me olhar com aquela expressão que era um misto de loucura e raiva.

– Eu te avisei! – Gritou Dorothy enquanto segurava o cabo do martelo empunhado pelo outro homem que lutava contra ela, tentando golpeá-lo com sua faca e evitando os ataques feitos com a chave inglesa – Quem esta dentro deste corpo não é seu verdadeiro dono, ele não sente dor, vai lutar até a falência dos órgãos se for preciso! – Ela se esforçava para manter a luta com um inimigo maior e mais pesado do que ela.

– Não! – Eu gritei quando vi o outro Ícaro que carregava uma corrente tentar pegá-la por traz, mas Aiga foi mais rápida e pulou sobre ele mordendo sua garganta. O homem tentava se livrar da cachorra a socando com a corrente enrolada no punho, mas Aiga não o soltou e logo ele perdeu a consciência. Ao fundo podiam-se ouvir os latidos de Lex que parecia tentar chamar Allan de volta a seu estado normal de consciência, pelo menos eu prefiro pensar que ele estava tentando ajudar. – Pensando bem, Lex nunca latia, acho que isso deve fazer parte do seu treinamento como cão guia, aquele era um momento raro.

Com a barriga e as costas molhadas de sangue que ainda escorria do ferimento causado por minha flecha, o Ícaro que me enfrentava investiu contra mim mais uma vez. Eu esperava que Allan também o fizesse, mas em um momento Dorothy conseguiu se livrar de seu agressor e correu na direção do demônio. Allan a perseguiu e se colocou diante dela para protegê-lo, ele tinha uma explosão em sua arrancada e uma velocidade impressionante.

Evitei alguns ataques do meu agressor e de uma curta distância disparei outra flecha em seu peito. A flecha atravessou seu corpo, assim como a primeira, no canto esquerdo do peito, mas não no meio onde fica o coração. Meu oponente então tossiu e demonstrou dificuldade para respirar, mas isso não o parou, eu sabia que meu ataque havia lhe perfurado o pulmão.

Mais uma vez ele veio de encontro a mim, a proximidade me era desfavorável, seria difícil envergar o arco e disparar uma flecha rápido o bastante com aquela pequena distância. Nesse momento senti Dorothy me puxar e girar com um franco de vidro na mão derramando cristais brancos e grossos formando um circulo no chão. Meu oponente recuou.

– Você esta indo bem, logo o corpo dele não vai mais resistir! – Ela comentou – O problema maior e esse seu amigo, mesmo que nós matemos os outros ainda não vai ser fácil enfrenta-lo.

Ela tinha algumas raladuras no queixo e no rosto, mas parecia bem. A mulher que estava com eles permanecia ao lado do demônio, os outros dois que estavam lutando contra ela estavam vindo em nossa direção junto com Allan.

– O que é isso que você fez? – Eu perguntei.

– Um circulo de sal. – Ela me respondeu.

– E eles não podem atravessar este circulo? – Perguntei.

– Demônios não, mas eles podem, Ícaros ainda são humanos, são meramente corrompidos. – Ela explicou – Posso te explicar isso depois? – Ela perguntou evidenciando que aquele não era um bom momento para esclarecimentos.

– Então por que estamos aqui? – Eu insisti?

– Ícaros podem entrar, mas espíritos malignos incorporados não, como o seu novo amigo ai! – Ela apontou para o meu oponente até então, que já demonstrava grande dificuldade ara respirar por causa dos ferimentos. Enverguei o meu arco e disparei um terceira flecha, ela o atingiu no abdômen pouco abaixo do coração. Este ataque o fez cair para traz e ele não conseguiu mais se levantar, seu corpo enfraquecido pelos ferimentos agonizava no chão.

– Você é iniciante nisso não é? – Ela me perguntou desolada – Estava mirando no coração? Sua mira é péssima.

– Nos salvou não foi? – Eu perguntei disparando outras duas flechas ferindo os dois Ícaros que se aproximavam de nós.

– Não me sinto muito a salvo no momento! – Ela respondeu.

Allan se pôs em posição de ataque, a expressão em seu rosto pareceu mudar. O demônio atrás dele parecia estar mais focado.

– Se Allan entrar neste circulo, aquele demônio perdera o controle sobre ele? – Perguntei.

– Ele não precisa, pode nos matar pelo lado de fora com sua lança! – Ela me respondeu, e a sinceridade de sua resposta estava longe de ser animadora.

–Allan se preparou para nos estocar com sua lança, e nos atacou ainda com mais velocidade do que nas vezes anteriores. Eu empurrei a garota para o lado e tentei desviar, mas antes que eu pudesse vaze-lo, ouvi o som da lamina da lança de Allan se chocar contra um escudo, produzindo um som estrondoso como o de um trovão quando este ocorre próximo de nós.

Aquele era um escudo triangular, com os cantos ligeiramente curvados. Vendo de trás o homem que o carregava, suas roupas, o cabelo castanho caindo sobre os ombros, o reconheci no mesmo instante. Ele carregava uma espada em sua mão direita, girou o corpo para transferir força e peso para seu braço direito, abaixou seu escudo e atacou com sua espada formando um semicírculo vertical de baixo para cima afastando a lança de Allan que deu um salto para trás. No momento do ataque, seu braço esquerdo girou ligeiramente para trás e pude ver uma cruz vermelha estampada em seu escudo. Aquele era Thomas, o anjo Baltazar, um cavaleiro templário.


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Notas finais do capítulo

Espero que as descrições das lutas estejam agradando =)