Katniss continua dormindo profundamente e eu continuo a observá-la... Ela parece tão em paz, tão relaxada, como se tivesse esquecido do lugar onde estávamos.

O tempo começa a esquentar a medida que a tarde vai caindo; estou observando a floresta quando sinto um pequeno aperto no meio das minhas pernas.

Nossa! Agora não! Bela hora para ficar com vontade de fazer xixi; deve ser por causa da água e do caldo que tomei ontem... O que eu vou fazer agora? Acordar Katniss para que ela me ajude a sair da caverna?

Decido deixá-la descansar. Começo a me levantar, e a dor insuportável volta; acabo caindo no chão.

Talvez seja melhor eu me arrastar...

Tento me arrastar, mas isso parece fazer com que minha perna doa mais ainda, por isso, mais uma vez, tento me levantar... A dor volta, mas a ignoro e finalmente consigo sair da caverna e me aliviar; logo depois eu volto para junto de Katniss.

Não quero que Katniss acorde e veja que eu a deixei sozinha.

Assim que retorno, Katniss logo acorda.

-Peeta, o que pensa que está fazendo?!

-Como? – pergunto.

-Por que você não me acordou? – ela quis saber.

-Você fica linda quando dorme... – me explico.

-Sei... Como você está? – ela pergunta.

-Estou bem. – menti. A verdade é que estou morrendo de dor – por causa da minha perna – e frio, e estou com uma tontura horrível!

-Você tomou água? – ela questiona.

-Sim. – menti de novo.

Katniss me olha com desconfiança, então pega as garrafas d’água e olha dentro delas.

-Você mentiu! – ela acusa.

-Não! É claro que não!

-Então por que as garrafas ainda estão cheias? – ela quis saber.

-Eu não tomei toda a água, só isso! – me explico.

-Sei...

Observo Katniss pegar mais alguns comprimidos para febre no kit de primeiros socorros e os estender para mim; eu os pego e sou obrigado a tomar duas garrafas de água junto com os comprimidos.

O som de trompetes nos sobressalta: É Caesar Flickerman anunciando uma dádiva que esperava pelos tributos restantes na Cornucópia, e pela cara de Katniss, dá para ver que ela está disposta a ir até lá para consegui-lo.

-Não vou deixar que você vá sozinha até a Cornucópia. – digo com calma.

-E quem disse que eu vou? – ela pergunta.

-O que?

-Eu não vou. – ela diz.

Mentirosa.

-Katniss... Falar mentira é feio! – eu ameaço com um sorriso.

Raiva toma conta do seu rosto.

-Tudo bem... Eu vou! – ela grita.

-E eu vou junto. – digo ainda calmo.

-Não, você não vai... – ela começa.

-E por que não? – eu a interrompo.

-Porque você está ferido! – ela me lembra.

-Dane-se. –digo.

-Más... E se essa dádiva for o remédio de que precisamos para cuidar da sua perna? - ela pergunta.

-Você não vai lá por minha causa e ponto final! – ameaço.

-Tudo bem... – ela diz enquanto se levanta e vai em direção a saída da caverna.

-Aonde você vai? – pergunto.

-Vou fazer uma sopa para você. Já que não posso ir até a dádiva vou fazer de tudo para mantê-lo forte. – ela se explica.

-Não perca seu tempo comigo. Já estou quase morto mesmo. – digo, irritado.

-Dane-se. – ela diz.

Nossa! Como ela é cabeça dura!

Ela sai e eu fico sozinho. Não demora muito e ela já está de volta com o pote de sopa. Ela me olha com uma cara de preocupação.

-Você está bem? – ela me pergunta.

-Sim.

-Você quer alguma coisa. – pergunta.

-Hã... Conta uma história. – digo.

-Tudo bem, então.

Katniss conta uma história sobre sua irmã mais nova; depois faz com que eu tome a sopa que havia feito e, novamente, tome mais remédios para febre.

Por que será... Estou me sentindo ótimo!

Katniss sai novamente e desta vez, volta com mais amoras.

-Abra a boca. – ela diz enquanto estende uma colher cheia da fruta para que eu coma. Obedeço.

-Nossa... São deliciosas! – digo.

-É, são mesmo.

-O sabor é semelhante a o de outra coisa... – digo pensativo.

-É mesmo? – ela indaga.

-Parece xarope... Xarope! – digo assustado.

Não acredito! Como ela pôde fazer isso?!

Katniss empurra sua mão contra minha boca e meu nariz e não tenho outra escolha a não ser engolir o liquido. Sinto minha consciência me escapando aos poucos... Tudo começa a escurecer diante de meus olhos... Não sinto mais nada.

A última coisa que me lembro de ter visto é a tristeza nos olhos de Katniss enquanto caio no sono...