Fujoshi Tales escrita por TakagiKami


Capítulo 2
Little Red Riding Hood


Notas iniciais do capítulo

Chapeuzinho Vermelho. Faz alusão àqueles yaois em que o seme se apaixona a primeira vista pelo uke, sem motivo aparente. E, claro, orelhas/calda de lobo~



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Little Red Riding Hood

Era uma vez, em uma pequena vila, um garoto chamado Akai.

Akai vivia com seu pai, o padeiro da vila, e sua mãe, que era costureira. Era bem conhecido por seu espírito aventureiro, suas traquinagens e sua capa vermelha.

Dita capa fora feita por sua mãe como presente de aniversário de 15 anos, mas na verdade, era um artifício para que ela pudesse localizá-lo com mais facilidade e ficar atenta a ele. No final, todos concordaram que a capa caía-lhe bem. Usando o capuz sobre a cabeça e o laço bem amarrado, Akai parecia personagem de uma pintura, com seu rosto infantil e cabelos castanhos. Além disso, a capa servia bem ao seu propósito.

-Akai!-a mãe do garoto chamou, um dia.-Não adianta se esconder, eu estou vendo você.

Não foi sem resmungar que Akai caminhou até a mãe, que o convocava da porta de casa.

-Sim, mamãe?-ele perguntou, em tom aborrecido.

-Quero que leve esses doces para sua avó.-a mulher falou, estendendo para Akai uma cesta coberta por uma toalha branca.

-Ah, mamãe...-Akai resmungou.-Papai mandou doces para ela na semana passada.

-Sua avó tem estado muito solitária desde que seu avô morreu, a coitadinha.-a mãe do garoto censurou.-Ela vai gostar de receber uma visita.

-Humph, certo, certo.-Akai falou, irritado, tomando a cesta nas mãos.

-E não vá pela floresta. O velho Touji disse que há um lobo na região.

-Mas se eu der a volta, só volto para casa no pôr-do-sol!-Akai protestou.

-Muito bem.-a mulher disse, crispando os lábios.-Se quer ser comido pelo lobo, fique a vontade.

E, irritada, entrou na casa.

-Droga.-Akai murmurou e subiu o capuz para começar a caminhada.

Não precisou pensar muito para decidir que caminho tomaria. O percurso pela floresta levava pelo menos a metade do tempo, além de que a sombra das árvores era sempre agradável.

“Lobo, até parece.”, pensou ele.

Assim, Akai seguiu pela floresta, cantarolando para si mesmo em voz baixa.

Aconteceu que realmente havia um lobo na região. Um jovem alto e forte, cujos pêlos cinzentos caíam abaixo de seus ombros, revoltos e despenteados. Um par de orelhas brotava no alto de sua cabeça e sua calda cumprida e fofa escapava por um rasgo na calça marrom. Seu nome era Okami.

O lobo espreitou Akai desde a sua entrada na floresta, atentos olhos dourados na escuridão entre as árvores. Finalmente, quando o rapaz estava a uma distância da vila onde não seria visto ou ouvido, ele atacou.

-Waaaaaa!!

Foi o grito de Akai quando o lobo saltou sobre ele, derrubando-o no chão coberto de folhas secas. Duas mãos nos ombros do garoto e os joelhos prendendo seus quadris, Okami tinha Akai completamente a sua mercê e estava pronto para dar-lhe um fim. Mas não o fez.

Porque naquele instante, o lobo se apaixonou por Akai a primeira vista.

Durante vários instantes, apenas se encararam. Akai completamente aterrorizado e perplexo e Okami em profundo estado de contemplação.

-Você...qual é seu nome?-o lobo perguntou.

Akai franziu o cenho.

-M-meu nome?-a incredulidade fora tamanha que superara o próprio medo.

-Sim, nome.-Okami confirmou.

-Ah...-Akai abriu a boca, confuso.

-Oh, droga, eu derrubei você!-o lobo falou, levantando-se, como se tivesse acabado de realizar isso.

Ele ajudou Akai a levantar-se, com muita delicadeza. Tirou as folhas secas de sua capa e entregou-lhe a cesta, que havia caído no chão, mas por sorte continuava bem fechada.

-Eu sou Okami.-o lobo disse, sorrindo e exibindo seus caninos mais cumpridos do que os de um humano.-E você?

Akai percebeu que suas opções eram somente duas. Dizer ao lobo o que ele queria e deixá-lo feliz: talvez fosse mesmo louco. Ou se recusar a falar e irritá-lo: ele provavelmente não gostaria.

-Akai.-o garoto respondeu.

-Prazer em conhecê-lo.-Okami falou, com um sorriso sincero.-Então...Está levando essa cesta para alguém?

-Hm, para a minha avó.-Akai informou rapidamente, recusando-se a dizer algo mais.

-Ah, sim, entendo...

Akai não esperou que o lobo continuasse e virou-se, otimista de que poderia seguir seu caminho.

-Espere!

No instante seguinte, o garoto de capa vermelha viu-se preso entre uma árvore e o corpo de Okami, que apoiava o braço no tronco e o olhava, sério.

-Sim?-Akai falou. Não estava entendendo absolutamente nada do que se passava e ainda não excluíra a possibilidade de ser comido.

-Eu sei que vai parecer absurdo porque acabamos de nos conhecer, mas...você gostaria de ser meu parceiro?

O vento soprou pelos dois e Akai permaneceu grudado no mesmo lugar, incapaz de mover nem mesmo as sobrancelhas.

“Ah...esse lobo é mesmo idiota...”

-Do que é que você está falando?-o garoto perguntou.

Okami passou um dedo pelo rosto de Akai, de forma tão delicada que, apesar das enormes garras afiadas, não o machucou.

-Você é o garoto mais adorável que eu já vi em toda a minha vida e eu quero que você seja meu.-o lobo falou, sem nenhum constrangimento.

Akai, então, fez a última coisa que lhe restava diante daquela situação estranha. Ergueu o joelho, acertou-o entre as pernas de Okami e, então, desatou a correr entre as árvores, o mais rápido que seus pés podiam levá-lo, segurando perto de si a capa vermelha para não prendê-la em algum galho.

Logo que conseguiu parar de se contorcer, Okami olhou na direção para qual Akai correra.

-Meu adorável garoto de capuz vermelho...-ele murmurou.-Não vai escapar de mim tão fácil.

Okami já vira a casa onde uma velha senhora morava sozinha e também conhecia um atalho para chegar lá bem rápido. O garoto não deixou seus pensamentos enquanto o lobo correu até lá com toda a sua velocidade lupina.

Se fosse uma presa comum, ele certamente teria deixado fugir. Afinal, não era difícil encontrar alimento, sendo um lobo rápido e forte. Porém, Okami estava positivamente apaixonado por Akai e só podia pensar em vê-lo novamente, estar com ele e tê-lo para si.

Quando Okami chegou ao chalé, não havia sinal de Akai. Ele decidiu que seria bom conversar com a avó do garoto e descobrir o que pudesse sobre ele. Pensou até em ganhar o favor da velhinha. Porém, quando a senhora de cabelos completamente brancos e rosto enrugado surgiu à porta, ele percebeu que não seria fácil.

-Quem é você e o que quer?-ela perguntou, hostil.

-Eu?-Okami repetiu, um pouco intimidado e surpreso.-Eu sou amigo de Akai, seu neto.

-Amigo de Akai?

-Isso.-o lobo confirmou.-Ele está vindo com alguns doces para a senhora, mas me pediu para vir na frente.

-Ah, ele vem aí, é?

A velha, que parecia muito míope, examinou bem Okami com os olhos semi-cerrados. Pareceu decidir que não era alguém ruim, porque se afastou para dar-lhe passagem.

-Entre, então.-disse ela.

Okami entrou, tentando parecer pequeno e bonzinho, o que era bem difícil dada sua altura e características selvagens.

-Sente-se aí.-a avó disse, indicando uma poltrona com xale de renda.-Vou pegar biscoitos.

Okami sentou, de forma bem educada e aguardou. Olhou em volta, para a casa decorada da forma mais tradicional, que cheirava fortemente a gatos e mofo. Na parede em cima da lareira, havia um quadro de um garotinho de grandes olhos castanhos brincando com carrinhos de madeira no chão. Sem dúvida, era Akai. O quadro levou um sorriso aos lábios do lobo.

Quando a avó voltou a sala, tinha um aspecto assustador e uma vassoura erguida sobre o ombro.

-Você acha que eu não reconheço um lobo quando vejo um?!-ela gritou, surpreendentemente enérgica para alguém daquela idade.-Não sei o que você quer, mas eu não...

Okami agiu por puro instinto quanto agarrou um jarro da mesinha perto do sofá e o atirou na direção da velha, que caiu desacordada no chão.

-Ah...não!

Ele correu até ela e verificou se ainda estava viva. Ela respirava, o que não podia ser mal sinal. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Okami ouviu batidas na porta:

-Vovó? Sou eu, Akai.

Ele olhou para a velha desmaiada, depois para a entrada, e teve uma súbita idéia.

Quando a porta do chalé foi aberta, Akai teve uma grande surpresa ao reconhecer Okami vestindo a camisola cor-de-rosa de sua avó e uma grande touca de banho florida.

-Ah, Akai!-ele disse, esforçando-se para manter a voz fina.-Que surpresa boa!

-Olá...vovó...-Akai falou, perplexo.

-O que tem aí, são doces?-o lobo falou, espiando a cesta que o garoto carregava.-Mas não fique do lado de fora, entre, entre.

Akai hesitou antes de entrar na casa, mas temeu que, se corresse, o lobo poderia saltar sobre ele novamente. Assim, ele entrou, obediente.

-Hm, vovó...-ele falou, falsamente inocente.-A senhora está mais alta.

Nervoso, Okami bateu a porta com força.

-Ah, é, quem diria que eu cresceria depois de velha?-ele disse, rindo.

-Hm, claro...-Akai, falou, revirando os olhos.-E sua voz está mais grossa, também.

-Ah, é...estou doente, sabe?-Okami forçou uma tosse.-Fiquei rouca.

Akai se perguntou se o lobo não entenderia que ele já descobrira a farsa, afinal, uma criatura de fama tão cruel não podia ser tão densa. Mas ele não podia deixar de achar que aquela ingenuidade era, de alguma forma, divertida.

-Mas foi muita gentileza sua me trazer esses doces, Akai.-Okami falou, sorrindo.-Você é mesmo um ótimo neto.

“Como se minha avó fosse dizer algo assim”, Akai pensou, quase achando graça, e falou:

-Vovó, sente-se um pouco, eu vou fazer um chá.

-Não, não precisa...

-Tudo bem, eu insisto.-o garoto disse.-Pode se sentar, volto num instante.

Seu plano era adicionar generosas doses do calmante da avó no chá de Okami e colocá-lo para dormir. Quando isso acontecesse, Akai chamaria o caçador que vivia na região e se livraria daquele problema.

Pensando nisso, o garoto foi até a cozinha e apanhou o aparelho de chá de porcelana, sentindo-se um pouco culpado.

“Ele é mesmo um idiota, não é?”, ele pensou. “Mas apesar de tudo, é até bem bonito...”

A idéia lhe causou tamanho espanto que, em um movimento rápido de exasperação consigo mesmo, Akai agitou uma xícara de porcelana contra a borda da mesa, fazendo com que o objeto de despedaçasse em sua mão. Um longo corte vermelho se abriu em sua palma.

-O que aconteceu, Akai?!-Okami surgira, tão apressado que deixara a touca cair no percurso, à porta da cozinha.-Você se machucou?

Akai tentou esconder a mão machucada, mas o lobo foi mais rápido e tomou-a entre as suas, preocupado. Do corte transversal, escorria um filete de sangue. Provavelmente por puro instinto, Okami levou a mão de Akai até a boca e passou a língua pelo machucado.

-Ah!-o garoto exclamou, embaraçado e irritado ao mesmo tempo.-O que está fazendo?!

Okami o olhou, como se tivesse acabado de perceber que o que fizera fora incomum.

-Limpando?

-D-devia usar água para isso!-Akai falou, nervoso.-Não tem uma caixinha de primeiros socorros na sala?

-É? Ah, sim, é claro.

Ainda segurando a mão de Akai, Okami o puxou até a sala. Levou algum tempo para que o lobo encontrasse a caixinha com cruz de madeira vermelha. Entretanto, ele pareceu entender rapidamente que devia passar aquela pomada de ervas sobre o corte e, com muito cuidado, enfaixou a mão do garoto.

Akai observou aquilo com um sentimento estranho. Okami parecia tão preocupado com ele e era tão atencioso...

“Talvez...”

-Pronto, aí está.-Okami sorriu, satisfeito.

-Obrigado, Okami.

O lobo parou, perplexo, ao perceber que o garoto o chamara pelo nome, o que queria dizer que fora descoberto. Novamente, Akai achou sua reação divertida e até bonitinha. Okami pareceu prestes a dizer algo, porém, foi impedido pelo grande estrondo produzido pela porta de entrada quando esta foi escancarada.

-Afaste-se do garoto, sua fera maligna!

Parado a porta, com uma espingarda apontada para a cabeça de Okami, estava um homem corpulento com bigodes de leão-marinho, que Akai reconheceu como sendo o caçador.

O lobo virou-se, completamente surpreso.

-Tsc, você de novo?!-ele disse.-Como me encontrou aqui?

-Segui seus rastros.-o caçador informou, parecendo orgulhoso de si mesmo.-Agora você não me escapa!

Okami fez menção de saltar sobre o caçador. Akai, por sua vez, registrou a arma, cujo tiro seria certeiro àquela distância, e as muitas facas presas ao cinto do caçador. Em uma fração de segundo, decidiu-se e pôs-se a frente do lobo, com os braços abertos em cruz.

-Não toque nele!-o garoto falou, encarando o caçador.

O homem pareceu surpreso com a atitude e, confuso, baixou a arma.

-O que está fazendo, garoto? Saia de perto desse animal, ele é perigoso!

-Okami não é perigoso.-Akai falou o que talvez fosse uma mentira, mas pelo menos à ele, era certeza que o lobo não faria mal algum.-Ele...ele é meu lobo.

Corou um pouco ao dizer aquela frase, mas aparentemente causara o efeito certo no caçador, que ficou ainda mais confuso.

-Seu lobo?

-Sim, esse animal que você está querendo matar é meu lobo de estimação.-Akai confirmou.

-Ah, sendo assim, mil perdões, meu jovem.-o caçador tirou o chapéu, parecendo sinceramente envergonhado.-Eu não sabia disso.

Akai quase riu da própria mentira.

-Tudo bem, mas que isso não se repita.-Akai disse, sério.

-Certamente.-o caçador colocou o chapéu novamente.-Mas tenha em mente, rapaz, que lobos são criaturas selvagens. Ele pode tentar comer você quando menos esperar.

-Okami não vai tentar me comer.-Akai afirmou.

-Tudo bem.-o homem deu os ombros.-Com sua licença.

Quando ele deixou a casa e seus passos se distanciaram, Akai teve coragem de virar-se para encarar Okami. O rosto do lobo expressava puro choque.

-Você... me defendeu?

-Bom...-Akai começou, um pouco envergonhado depois de tudo.

-Meu adorável garoto de capa vermelha!-foi o que Okami disse quando envolveu Akai em um abraço sufocante.

-Arh me solte, seu lobo estranho!-o garoto murmurou, sem fôlego.

Okami não o soltou completamente, mas o fez o suficiente para que pudessem se encarar.

-Você sabia desde o início que eu não era a sua avó?-ele perguntou.

-É claro!-Akai confirmou, exasperado.

-Mas você não me expulsou.-Okami concluiu, sorrindo.-E também não deixou que o caçador me matasse.

O garoto corou um pouco e desviou o olhar.

-É... Vamos dizer que eu concluí que você não pode ser tão ruim...

Okami pareceu ter ouvido sair da boca dele o melhor cumprimento de todos, porque sua calda surgiu sob a camisola cor-de-rosa e começou a balançar.

-Então quer dizer que você aceita ser meu?-ele disse, os olhos brilhando.-Para sempre?

-N-não seja tão exagerado!-Akai corou ainda mais.

As orelhas de Okami baixaram.

-Mas até que eu gosto de você.-o garoto admitiu, sem encará-lo.-Então, talvez, bem devagar...

-Ótimo!-Okami exclamou, a calda novamente balançando, frenética.-Isso já é o suficiente, isso já é uma felicidade imensa!

Ele tornou a apertar Akai contra o peito e, daquela vez, o garoto não se importou.

-Lentamente, nós vamos gostar mais ainda um do outro.-Okami disse.-E então, eu serei seu para sempre. Por isso, por favor, seja meu.

Akai ouviu o próprio coração bater muito rápido.

-Certo.-ele disse, feliz por Okami não poder ver seu rosto rubro.

Quando se separaram, Okami olhou para a janela, parecendo pensativo.

-Aquele caçador não era má pessoa no final.-ele falou.-É uma pena ter que mentir para ele.

-Eu não menti.-Akai ergueu as sobrancelhas.-Você não é perigoso.

-Não essa parte.

-Então, o quê?

O lobo olhou para Akai, com um brilho predatório nos olhos.

-Não é verdade que eu não quero comer você.

Akai enrubesceu.

-Okami!

Com o tempo, Akai e Okami se apaixonaram profunda e verdadeiramente pelo outro e passaram a viver no xale da avó do garoto, quando esta se mudou para o vilarejo, dizendo estar farta de lobos. Era difícil evitar algumas perguntas embaraçosas de passantes casuais, mas os dois viveram felizes para sempre.

 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Estranho, né? xD eu sei. mas foi a intenção. Particularmente, eu acho uma graça esses yaois em que o seme cai de joelhos pelo uke, logo no primeiro momento. Tão tosco, mas tão fofo.
Novamente, perdoem os nomes. Mas antes Okami do que Lobo Mal, né?

Enfim, espero que tenham gostado desse capítulo também~ Não esqueçam de mandar reviews!~
Até a próxima!