Fujoshi Tales escrita por TakagiKami


Capítulo 1
Sleeping Beauty


Notas iniciais do capítulo

A Bela Adormecida. Fazendo alusão ao yaoi com crossdress, meu favorito, e também aos romances de "melhores amigos de infância".



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Sleeping Beauty

           

Era uma vez, em um reino distante, um rei Teru e uma rainha Kino que desejavam muito ter um filho. Entretanto, por mais sincera que fosse a vontade em seus corações, a rainha não conseguia engravidar e o rei angustiava-se com a tristeza da esposa.

            Anos se passavam e quando estavam prestes a perder as esperanças, eles foram, enfim, presenteados com um filho, que nasceu na primavera, com faces rosadas como as pétalas das flores de cerejeira. Por essa razão, a tão esperada criança recebeu o nome de Sakura.

            Foi dada uma grandiosa festa para comemorar o nascimento do príncipe herdeiro e foram convidados para a celebração todos os reis, rainhas e nobres de reinos aliados, assim como as sete fadas da corte.

            Durante a festa, a rainha Kino estava deslumbrante em seu vestido rubro, levando em seus braços o bebê que mal completara um mês, envolto em uma belíssima manta prateada.

            -Estou um pouco desapontado que seja um garoto.-o rei Reiki, governante de um reino vizinho, disse para o casal real, em certo momento.

            -Por que diz isso?-a rainha Kino perguntou, surpresa.

            -Para falar a verdade, eu esperava que nos dessem uma esposa para Ryuu.-o rei Reiki indicou seu filho, de dois anos, que observava o embrulho prateado com curiosidade.

            Os dois reis riram jovialmente, como fazem velhos amigos e poderosos monarcas quando bebem vinho juntos.

            -Isso seria muito bom.-o rei Teru comentou.-Ver nossos reinos ainda mais unidos.

            -Precisamente. -o outro concordou.

            -Isso é verdade.-a rainha Kino concordou.-Mas eu estou feliz com meu Sakura. Exatamente como ele é.

            O curioso príncipe Ryuu puxou o vestido da rainha Kino, em um pedido silencioso. Sorrindo, ela atendeu-o, ajoelhando-se e mostrando-lhe o pequeno Sakura.

            Ryuu observou o bebê atentamente e estendeu a mão para tocar seu rosto. A mãozinha de Sakura ergueu-se também, encontrando a do outro no ar e segurando-a. Ryuu assustou-se, mas depois sorriu, radiante, como se tivesse descoberto algo fantástico.

            -Eles não se casarão, mas com certeza serão grandes amigos.-o rei Teru falou, aprovativo.

            O tilintar de pequenos sinos foi ouvido pelo salão e sete feixes de luz coloridos atravessaram o ar, rodopiando, para pousar diante do rei e da rainha. Quando pararam, se transformaram em jovens aladas, com longos cabelos e vestidas com as sete cores do arco-íris.

            -Saudações, rei Teru e rainha Kino.-disse a fada Redo e todas reverenciaram.-E parabéns pelo nascimento de seu filho.

            -Sejam bem vindas, fadas da corte.-o rei Teru falou, sorrindo.

            -Onde está o bebê, onde está?-a fada Buru correu até a rainha e espiou dentro da manta prateada.-Ah, que garotinho adorável!

            -Também quero vê-lo.-a fada Yero saltitou até a criança também.-Oh, é lindo mesmo. Tem cabelos dourados, até parece uma garotinha.

            -Como pode saber, ele é apenas um bebê!-falou a fada Papuru.

            -Majestade.-a fada Gurin se dirigiu a rainha.-Gostaríamos de oferecer nossos presentes ao príncipe.

            -Oh, por favor, façam isso.-a rainha Kino sorriu.-Estou ansiosa pelos presentes que darão.

            Ela deitou Sakura em seu berço de ouro no centro do salão e todos pararam para assistir quando as sete fadas se enfileiraram diante da criança.

A primeira a se adiantar e erguer a varinha foi Redo, a fada de vestido e cabelos vermelhos.

-Eu concedo ao príncipe Sakura o dom da Coragem. Ele será determinado e audaz, nunca terá medo de lutar pelo seu reino e por aqueles que ama.

Uma aura rubra envolveu o bebê, saída da varinha. Depois, foi a vez de Buru, a fada de azul.

-Meu presente será o dom da Inteligência. Ele aprenderá tudo com facilidade e seus lábios serão fonte de palavras, conselhos e decisões sábias.-e o príncipe foi envolto por uma aura azul.

Depois dela, adiantou-se a fada de verde, Gurin.

-Eu darei ao príncipe Sakura o dom da Destreza. Ele será ágil e habilidoso, exímio cavaleiro, espadachim e caçador.

-O dom que eu darei ao príncipe é o dom da Sensibilidade.-falou Yero, a fada de amarelo, agitando sua varinha.-Ele será um apreciados das artes, uma pessoa sensível e talentosa, e terá habilidade para cantar, pintar e tocar instrumentos.

-Eu ofereço o dom da Gentileza.-disse a fada de laranja, Oranju.-Ele será um jovem simpático, doce e prestativo, recebendo a todos com palavras gentis e atos benevolentes.

-O dom da Beleza será o meu presente.-a penúltima fada, Papuru, disse.-O príncipe será admirado pela delicadeza externa de suas faces e pela graciosidade interna de seu sorriso. Ele terá uma beleza rara e incontestável.

Por fim, a última fada, Pinku, com cachos cor-de-rosa, saltitou à frente, empunhando a varinha. Antes, porém, que ela pudesse oferecer seu presente, ouviu-se o som distante de uma harpa fúnebre e uma momentânea ausência de luz cegou à todos por alguns segundos.

Todos já antecipavam o que veriam quando a escuridão desapareceu. Uma mulher inteiramente vestida de preto, cumpridos cabelos escuros e grandes olhos vermelhos.

-Então, está mesmo acontecendo uma festa por aqui.-ela falou, dando uma volta em torno de si mesma para ver o salão.-E eu não fui convidada. Como isso foi acontecer, rei Teru, rainha Kino?

A recém-chegada, Kuromi, a fada sem cor, voltou o rosto fino para o casal e o rei Teru recuou um passo. A rainha Kino havia corrido até o berço de seu filho.

-Você nunca vai a comemorações porque não gosta de festas.-o rei explicou, tentando soar respeitoso e calmo.-Então, pensamos q...

-Pensaram?-Kuromi o interrompeu.-Não importa se eu não viesse. Não gosto de não ser convidada.

Ela lançou mais um olhar agudo ao salão e fitou o berço de ouro. Caminhou até ele com passos lentos, saboreando a imobilidade impotente das outras pessoas.

-Então esse é o pequeno príncipe...-ela disse, em tom teatral.-Mostrarei que sou generosa.  Mesmo tendo sido excluída, darei meu presente ao bebê.

-Não, por favor...-a rainha Kino murmurou.

Ignorando-a, Kuromi ergueu as mãos de unhas cumpridas sobre o berço e falou:

-O príncipe Sakura crescerá, belo, corajoso, inteligente, sensível, habilidoso e gentil, até seu aniversário de 16 anos. Nesse dia, ele espetará o dedo no fuso de uma roca. -uma sombra negra passou pelo bebê.-E morrerá.

Com essas palavras e uma risada de gelar o sangue, Kuromi desapareceu em uma nova explosão de escuridão. A rainha Kino soltou um grito e caiu de joelhos ao lado do berço de seu filho, sacudindo os ombros com o choro.

-Acalme-se, majestade.-Yero tocou as costas da rainha delicadamente.

-Meu filho...ah, meu querido filho...-a rainha murmurava.

-Ainda há um jeito.-Pinku disse, parecendo satisfeita.-Eu ainda não dei meu presente ao príncipe, majestade!

-Você é capaz de anular essa maldição, fada Pinku?-o rei Teru perguntou, esperançoso.

-B-bom...-o sorriso de Pinku fraquejou um pouco.-Kuromi é muito poderosa, meus poderes não serão suficiente... Mas eu posso fazer algo!

Ela saltitou até o berço de Sakura e tocou a face do bebê delicadamente, envolvendo-o com uma forte luz cor-de-rosa.

-Aos 16 anos, quando espetar o dedo, Sakura não morrerá. Apenas adormecerá profundamente.-Pinku anunciou, sorrindo.-E acordará de seu sono encantado ao receber beijo de amor de um rapaz apaixonado!

A luz desapareceu, deixando todos, o rei, a rainha e as fadas, espantados. Pinku sorriu para eles, esperando aprovação, mas, em vez disso, recebeu um peteleco de Papuru.

-Sua tola!-a fada falou.-“Beijo de amor de um rapaz”? O príncipe é um garoto!

-Oh, não!-Pinku levou as mãos a boca.-Eu esqueci isso!

A rainha Kino retirou o filho do berço e o segurou nos braços.

-O que faremos, Kino?-o rei Teru perguntou.-Não podemos esperar que um rapaz ame Sakura, que também é um garoto.

-Na verdade.-Kino disse, os olhos brilhando com a determinação de uma mãe protetora.-Existe algo que podemos fazer...

No dia seguinte, o rei baniu todas as rocas das proximidades do palácio. E a rainha encomendou com o costureiro do povoado mais próximo, vestidinhos e um enxoval de bebê cor-de-rosa. 

 

Os anos passaram depressa e Sakura cresceu.

Aos sete anos, era a criança mais bela em um raio de muitas léguas, com seus cabelos lisos e dourados como raios de sol e faces delicadas, rosadas de flor de cerejeira. Aprendera a falar diversas línguas e conhecia todas as plantas dos jardins e suas propriedades particulares. Sabia tocar piano, flauta e harpa e também cavalgava muito bem. Trazia sempre um sorriso nos lábios, era simpático e doce com todos, mas sabia lutar por suas vontades, era firme e determinado.

Graças aos presentes das seis fadas, ele se tornara um ótimo partido, um príncipe que qualquer princesa gostaria de ter como esposo. Porém, era com um cumprido vestido azul, com laços e rendas, que ele atravessava o pátio do castelo até a biblioteca, no inicio do verão de seus sete anos.

-Mamãe, mamãe.-ele vinha chamado desde a entrada do grande aposento, até encontrar a rainha, lendo em sua cadeira.-Não consigo arrumar meu cabelo. Ajude-me, por favor.

Ele estendeu a escova e a fita azul para a mãe. Estava ansioso, sapateando no mesmo lugar. A rainha Kino sorriu e virou o filho de costas.

-Está tão nervosa porque o príncipe Ryuu está chegando hoje?-ela perguntou, penteado as longas mechas douradas.

-Não brinque, mamãe, por favor.-Sakura pediu, arrumando compulsivamente as rendas da manga do vestido.-Ele vai chegar a qualquer momento...

-Tudo bem, não direi mais.-a rainha riu.-Pronto.

-Como estou.-Sakura perguntou, virando-se, ansioso.

-Linda.-a rainha Kino disse, sorrindo.-A princesa mais linda que já houve.

Sakura sorriu, as faces tornando-se um pouco mais rosadas, e não percebeu o breve lampejo de culpa nos olhos da mãe.  

Desde que eram pequenos, Sakura e o príncipe Ryuu estavam acostumados a ficar longos períodos juntos. Quando Ryuu não estava no reino de Sakura, era este que o visitava em seu palácio. E assim passavam mais da metade do ano. Tornaram-se grandes amigos, mais próximos do que irmãos.

Não havia nenhum segredo entre os dois, já que o fato de Sakura não ser uma menina era desconhecido até por ele próprio.

Logo que Ryuu chegou ao palácio, Sakura juntou-se a ele, para não se separarem até a hora do banho. Correram pelos jardins, como sempre faziam, e andaram juntos no mesmo cavalo. Depois, pararam para descansar à sobra de um carvalho. Sakura sentou-se delicadamente sobre as pernas, enquanto Ryuu caiu deitado na grama.

-Meu primo Tenjou e minha prima Saki vão se casar no outono.-Ryuu contou.

-Oh, parabéns para eles.-Sakura disse, unindo as mãos e sorrindo.-Devem estar muito felizes.

-Sim...-Ryuu disse, distraído.

-No que está pensando?-o outro quis saber.

Ryuu se levantou em um movimento rápido e o encarou, sério.

-Sakura. Quando nós crescermos, você aceitar ser minha esposa?

O rosa de flor de cerejeira do rosto de Sakura tornou-se o vermelho das pétalas de rosa. Ele mordeu o lábio para conter um sorriso nervoso e respondeu:

-S-sim...

Ryuu sorriu, satisfeito, também corado.

-Então, é uma promessa. Vamos nos casar quando crescermos.

Sakura também sorriu e os dois cruzaram os dedos mínimos. Então, inconscientemente, as mãos ligadas somente pelos dedinhos se espalmaram e uniram-se, entrelaçadas.

-Somos noivos agora, não somos?-Ryuu perguntou.

O outro garoto confirmou com a cabeça.

-Então...acho que podemos dar...um beijo.-o outro disse, sério.-É o que meus primos sempre fazem.

Sakura confirmou com a cabeça novamente, apreensivo.

Como se fossem um, os dois garotos fecharam os olhos e se aproximaram o suficiente para tocar os lábios. Afastaram-se rapidamente, como se tivessem sido pegos fazendo algo proibido. Se olharam, vermelhos e levemente assustados, os corações batendo na garganta.

Ryuu foi o primeiro que sorriu, um pouco atrapalhado. Tranqüilizado, Sakura fez o mesmo, sem fôlego com a velocidade das batidas de seu coração.

Assim eles prometeram que se casariam, ignorantes do fato de serem ambos garotos e também ignorantes aos planos que já tinham sido feitos, muito antes, por seus pais.

 

E assim, Sakura e Ryuu cresceram cada vez mais próximos e indiscutivelmente apaixonados. Não suspeitavam de algo estranho entre eles. Sakura acreditava ser menina, apesar da falta dos seios, que chegariam com a idade, segundo sua mãe. E Ryuu também não duvidava, dado que o outro era realmente delicado como uma garota.

Nove anos depois do inocente noivado sob o carvalho, chegou a primavera do aniversário de dezesseis anos de Sakura. O rei e a rainha não estavam preocupados, pois não havia rocas de fiar em qualquer lugar próximo ao palácio. Estavam mais ocupados discutindo com o rei Reiki como comunicariam a Ryuu e Sakura que eles não podiam realmente se casar. O rei do reino vizinho aceitara que Ryuu se envolvesse naquela estranha trama porque era a vida do filho de um velho amigo que estava em jogo, mas ele não pretendia permitir que algo mais acontecesse. Seria um ultraje, na opinião dele.

Alheios à tudo mais, o rei Teru e a rainha Kino esqueceram-se que a fada sem cor, Kuromi, era uma criatura vingativa e ardilosa, que jamais esqueceria uma maldição lançada em alguém. Se não havia rocas no palácio, ela mesma proveria uma.

Sakura ouviu o som distante da roca de fiar e o procurou, atraído pelo desconhecido. Ao entrar na sala, encontrou uma mulher de longos cabelos negros, sentada ao pé do grande instrumento de madeira.

-Quem é a senhora?-ele perguntou, curioso.

-Sou uma costureira, minha filha.-a mulher respondeu.

-Ah.-fez Sakura.-E o que está fazendo?

-Ora, não vê que estou fiando?

-Fiando?

-Sim, fiando. Fiando tecido para fazer um vestido.

-Então é assim que se fazem os vestidos.-Sakura ficou espantado, pois nunca havia visto semelhante instrumento antes.

-Quer tentar fiar?

Sakura hesitou, desconfiado do mistério que cercava a mulher e sua roca de fiar. Porém, a curiosidade foi mais forte e o garoto aproximou-se.

-Você precisa segurar aqui.-a mulher explicou.-E então passar a linha aqui, cuidado para não machucar o dedo.

Mal ela pronunciara aquelas palavras e o dedo de Sakura foi espetado pela agulha. Imediatamente, o príncipe perdeu os sentidos e caiu desacordado no chão.

Sakura foi encontrado, tempo depois, pelas fadas da corte, que o removeram para o quarto mais alto da torre mais alta. Ao serem informados, o rei e a rainha entraram em desespero.

-Fomos descuidados!-falou Teru, furioso.-Devíamos tê-lo mantido sob nossos olhos o dia inteiro!

-Agora é tarde, majestade.-disse Buru, lamentosa.

-Rei Reiki, por favor, envie uma mensagem ao seu filho.-a rainha Kino pediu.-Diga a ele que venha para cá, depressa.

O rei Reiki parecia inseguro.

-Então, Ryuu realmente terá que...?

-Por favor!-a rainha tornou a repetir, a beira das lágrimas.

-Muito bem.-Reiki pigarreou.-Escreverei uma carta imediatamente.

 

Ao saber que Sakura estava em perigo, Ryuu disparou até o reino vizinho como um relâmpago em uma tempestade. Cobriu a viagem de vários dias na metade do tempo e tanto ele quanto seu cavalo estavam cansados ao ponto da exaustão quando chegaram ao palácio.

-Onde está Sakura?-ele perguntou, ofegante.

-Lá em cima.-a rainha Kino informou, ansiosa.

-O que aconteceu com ela?-o príncipe quis saber.

-Ela está adormecida, em um sono encantado. A fada Kuromi a encantou.-a rainha disse.-Apenas o beijo de um rapaz que a ame pode despertá-la.

Ryuu fez um sinal afirmativo com a cabeça e rumou, determinado, para a torre. Subiu rapidamente as escadarias, o coração aos saltos. Em sua mente, o pensamento de que finalmente provaria seu amor por Sakura.

Ao chegar ao quarto circular, no alto da torre, ele viu o príncipe deitado em uma cama de dossel e lençóis brancos. Seus cabelos loiros emolduravam seu corpo e seus braços descansavam delicadamente sobre seu peito. O belo rosto estava pálido, mas os lábios pareciam róseos como nunca, esperando pelo beijo que lhe traria o despertar.

Ryuu se aproximou da cama, com passos firmes, mas parou ao ouvir uma voz:

-Beijará? Príncipe Ryuu?

A fada sem cor surgiu das sombras, observando-o com os braços cruzados.

-Kuromi!-Ryuu sacou a espada.-Você fez isso com ela!

-Sim, isso é verdade.-disse a fada, sem dar importância.-Mas, vamos, responda-me. Você dará o beijo?

-É claro que sim!-Ryuu falou, com uma decisão agressiva.

-Mesmo se depois de saber que Sakura é um garoto?

Houve uma pausa de vários segundos significativos. O príncipe Ryuu olhou incrédulo na direção do amigo de infância, para lugares para os quais normalmente não olharia, por respeito. Era verdade que Sakura não tinha o corpo de uma menina de dezesseis anos.

-Isso não é...-o príncipe falou.

-É verdade.-Kuromi disse, parecendo saborear o atordoamento do rapaz como um vinho de excelente qualidade.-Se não acredita, toque-o.

-Eu jamais faria isso!-Ryuu protestou.-Isso seria...

-Prefere ficar na incerteza?

O príncipe tornou a olhar para Sakura. Seus olhos correram pelos lábios delicados, os cílios cumpridos, o cabelo, as feições e todos os outros aspectos indiscutivelmente femininos do rapaz. Pareceria claro, para qualquer um, que se tratava de uma moça. Porém...

Ryuu estendeu o braço, hesitante, como quem se prepara para tocar a chama de uma vela acesa. Seus dedos fizeram contato com o peito de Sakura, coberto pelo vestido cuja gola subia até o pescoço. Não havia nada ali. Apreensivo e sentindo o olhar cruel de Kuromi em sua nuca, ele deslizou a mão pela cintura do rapaz, que apesar de um pouco estreita, jamais seria a cintura de uma garota.

Porque Sakura não era uma garota.

Ryuu recolheu rapidamente o braço, não se atrevendo a continuar.

-O que fará agora, príncipe Ryuu?-Kuromi disse, parecendo divertir-se.

            Ryuu não ficou no quarto tempo suficiente para ouvir a risada da fada. No instante seguinte, havia disparado para fora, descendo as escadas o mais rápido que seus pés podiam levá-lo. Ao pé da torre, pessoas o esperavam.

            -Príncipe Ryuu?-a rainha Kino falou, ansiosa.

            -Sakura é um garoto.-Ryuu disse, em uma mistura de interrogação agressiva e afirmação indignada.-Sakura é um garoto?!

            Todos pararam e a culpa surgiu em cada rosto.

            -Ryuu...-o Rei Reiki começou.

            -Por que?-o príncipe perguntou.-Isso não faz sentido!

            -Escute, por favor.-o rei Teru disse, torturado.-Quando nosso filho nasceu, Kuromi lançou nele uma maldição que lhe traria a morte aos 16 anos. A única forma de salvá-lo seria...o beijo de um rapaz que o amasse. O que podíamos fazer?

            Ryuu mordeu o lábio. Não sentiu simpatia alguma pelo casal.

            -Me enganaram para que eu me apaixonasse por Sakura?-ele deduziu.

            Suas palavras pareciam ter machucado os ouvidos da rainha, que naquele instante se desfez em lágrimas. Ryuu não tinha mais nada a dizer e saiu pelo corredor, distanciado-se da torre.

            Confuso e irritado, ele parou diante de uma janela que se abria para o leste do reino e contemplou a cenário. Dali, ele podia ver o carvalho sob o qual ele e Sakura tinham, há nove anos, prometido que se casariam e trocado seu primeiro e inocente beijo.

            Diante de seus olhos, a fada da corte cor-de-rosa, Pinku surgiu batendo as asas do lado de fora da janela. Sua expressão era de preocupação.

            -Vossa Alteza não vai despertar o príncipe Sakura?-ela perguntou.

            -Ele é um garoto.-o rapaz respondeu.-Como espera que eu o beije?

            Pinku comprimiu os lábios, como se prendesse o choro, e então disse:

            -Mas Vossa Alteza ama, não ama? Vossa Alteza ama Sakura?

            Ryuu não respondeu imediatamente.

            Era verdade que estava apaixonado por Sakura antes de descobrir que ele era um garoto. Agora que sabia a verdade, como isso afetaria seus sentimentos?

            Ele tornou a olhar para o carvalho. Aquele Sakura que sorriu timidamente e murmurou um “sim” hesitante diante de seu inconseqüente pedido de casamento era real. Sakura continuava sendo a mesma pessoa. Ele não mudara e, logo, os sentimentos de Ryuu por ele também não mudariam.

            Com os nervos mais calmos e emoções estabilizadas, ele podia pensar e ouvir-se com clareza. Seu coração ainda desejava que Sakura despertasse e sorrisse novamente. Ele ainda desejava aquela presença, mais do que qualquer coisa, da mesma forma de antes. Absolutamente nada mudara.

            -Amo.-Ryuu declarou.-Sendo Sakura uma princesa ou um príncipe. É a pessoa que eu amo, de qualquer jeito.

            Com essa nova resolução em seu coração, Ryuu correu novamente para a torre onde Sakura dormia. Ao pé da torre, encontrou a rainha Kino ainda chorando nos braços do marido.

            -Não se preocupe, “mamãe”.-Ryuu tranqüilizou-a, tocando-lhe o ombro, e subiu as escadas, o mais rápido que pôde.

            O quarto estava novamente vazio, a fada Kuromi havia desaparecido. Ryuu sentou-se ao lado de Sakura na cama e tocou suas mãos cruzadas. Nunca o jovem lhe parecera tão belo.

            -Acorde, meu amado Sakura...

            Ele inclinou-se e uniu seus lábios aos do príncipe adormecido, em um beijo suave e carinhoso, tão terno quanto aquele de nove anos atrás. Afastou-se e esperou. Poucos segundos depois, as pálpebras fechadas revelaram lindas íris castanhas.

            -Ryuu?-Sakura falou, confuso, sentando-se na cama.-O que aconteceu?

            O rapaz não respondeu imediatamente. Apenas observou o garoto que amava, com uma expressão quase contemplativa no rosto. Ele pensou que jamais haveria alguém, homem ou mulher, mais adorável do que Sakura.

            -Case-se comigo.-ele falou, em lugar de explicação.

            -O quê?-Sakura exclamou, duas vezes mais confuso e embaraçado.

            Ryuu sorriu e juntou sua testa a do outro, tocando seus cabelos.

            -Cumpra sua promessa e case-se comigo.-ele repetiu.-O mais rápido possível.

            Apesar de confuso, Sakura abriu um sorriso, que era inconfundivelmente uma resposta afirmativa.

            -Só haverá um problema.-Ryuu falou, pensativo.

            -Que problema?-Sakura perguntou.

            -Nossos reinos ficarão sem herdeiros.

            Sakura piscou, perplexo. Muitas coisas teriam que ser explicadas ao inocente príncipe.

Depois de receber a benção de seus pais, Sakura e Ryuu se casaram e foram viver juntos em um castelo somente deles, situado entre seus reinos de origem. E eles viveram felizes para sempre.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Um pouco boba, mas acho que não ficou ruim. PERDOEM os nomes das fadas, por favor. Eu não tinha mais o que inventar >—>

Se você chegou até aqui, pode muito bem mandar uma review, né? Eu ficaria muito feliz~~

Até o próximo capítulo~