Insurreição escrita por DiegoNL


Capítulo 4
Sombras Rastejantes




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Já fazia algum tempo que Flitwick, Neville e Slughorn tinham partido para a mansão dos Nogwell, e um grupo relativamente grande de alunos estava posicionado na orla da Floresta Proibida. A frente deles, com uma altura anormalmente grande e a barba negra se fundindo ao comprido e crespo cabelo de mesma cor, estava Rubeus Hagrid. Receoso, ele olhava para aqueles quase trinta alunos que o observavam atentamente. As ordens deixadas por Filius tinham sido bastante claras: acompanhado dos monitores e monitores-chefes, deveria iniciar a busca a James Potter, que provavelmente estava perdido na floresta.

Contudo, de alguma forma a notícia do desaparecimento de James se espalhara pelo castelo a uma velocidade alarmante, e em pouco tempo os corredores estavam infestados de alunos de todas as casas, que trajavam vestes de bruxo (ou mesmo pijamas) e com murmúrios espalhavam o acontecido. Quando vazou a informação de que Hagrid estava convocando os monitores para iniciar a busca, a quantidade de voluntários que implorou para acompanhar a expedição comoveu o coração do meio-gigante. Argus Filch replicou ao ver aquilo, porém Hagrid disse que assumiria toda a responsabilidade. Agora se arrependia de ter permitido aquilo, mas era tarde. Dezenas de pares de olhos o fitavam, ansiosos.

– Ao menos não permiti que os mais novos viessem... – Pensou aliviado.

Deu as costas para os bruxos, voltando-se para a Floresta Proibida. O vento uivava, agitando as copas sombrias das árvores e causando o arrepio de alguns alunos. Em algum ponto daquela imensa massa negra, estava a pessoa que procuravam.

– Vamos. – Chamou Hagrid, em tom decidido, cruzando por entre duas árvores tortas e sendo seguido pelo restante da expedição.

ooo ooo ooo

Perto da porta do castelo, de trás de uma moita, dois pequenos vultos observavam o grupo ser engolido pela escuridão. Rose suspirou, aliviada.

– É mesmo uma sorte que o castelo está uma confusão, senão nunca conseguiríamos sair sem Filch nos ver.

Fitou Albus, que estava parado ao seu lado e branco de medo. Mais que isso, suava frio, e encarava-a boquiaberto.

– Você tá falando sério...? Nós vamos segui-los?

A amiga ergueu as sobrancelhas, exasperada.

– É claro que vamos... Afinal, é o seu irmão que está lá. Prefere mesmo ficar sentado esperando?

– Claro que não...!

– Então vem! – Chamou Rose, fazendo menção de sair de trás do arbusto.

No instante seguinte, sentiu a mão de Al puxá-la de volta pelo braço, tão forte que a fez se desequilibrar e cair atrás da moita.

– O que foi...?! – Sussurrou irritada.

O garoto não respondeu com palavras, simplesmente indicou com a cabeça algum ponto ao lado. Olhando na direção indicada ela viu que Filch estava parado no alto da escadaria que conduzia à porta do castelo, e observava a floresta com os olhos cinzentos semi-cerrados. Ambos prenderam a respiração: se o zelador desse um simples passo a frente e olhasse para baixo, veria os dois ali, encolhidos atrás do pequeno arbusto. Al choramingou baixinho. Se ao menos tivessem a capa de invisibilidade...

Filch avançou um passo, e eles procuraram se encolher ainda mais atrás das folhas. Sentiam os corações disparando no peito, enquanto viam o velho a poucos metros deles. Já podiam enxergar cada ruga, cada detalhe da pele macilenta. E também ouviram cada palavra que o senhor murmurou naquele momento.

– Que morram todos vocês.

Dizendo isso, deu as costas e se afastou arrastando os pés. Al e Rose permaneceram ali, encolhidos e imóveis, até ouvirem o barulho das portas do castelo batendo. No instante seguinte, desabaram no chão sentindo cãibras por todo o corpo e admirando a própria sorte. Ofegantes, levantaram-se e sorriram. Passado o perigo, agora achavam engraçada a situação que tinham vivenciado, mas não tiveram muito tempo pra pensar nisso. Já fazia alguns minutos que a expedição adentrara a floresta, e eles tinham que se apressar. Rose correu a frente, seguida por Al, e juntos pararam diante da orla sombria.

O vento pareceu soprar mais forte e uivar mais alto, advertindo-os que não ousassem entrar naquele lugar proibido. Engolindo em seco, os dois se encararam e assentiram brevemente. Dando um passo a frente, entraram na Floresta Proibida e começaram a avançar. No momento em imergiram na massa de árvores, sentiram uma leve queda na temperatura que lhes causou arrepios. Perto da borda a floresta não era tão densa, então a luz da lua conseguia iluminar o caminho o suficiente para que vissem os troncos secos e desviassem deles ao avançar. Após caminharem por poucos minutos, pararam e olharam para frente: não havia sinal de Hagrid e dos outros. Encararam-se nervosos.

– Será que estamos indo na direção certa...? – Perguntou Al, hesitante.

Rose observou o chão. As folhas mortas não permitiam que fossem deixadas pegadas na terra, de modo que ela não fazia ideia do que responder. Com a boca seca, colocou a mão dentro das vestes de bruxo.

– É melhor pegarmos nossas varinhas...

Al imitou o gesto, sacando a dele também, e voltaram a avançar.

Por algum tempo caminharam a passos largos, porém não viram sinal do grupo de busca. Na floresta imperava um silêncio mortal, tudo estava tão quieto que os dois dariam muita coisa para ouvir o simples pio de uma coruja ou o ruído de outro animal qualquer. O vento tinha parado de soprar, a escuridão aumentara, e eles ouviam somente seus passos e a própria respiração. Passados vários minutos eles perceberam que não adiantava continuar avançando assim, às cegas, e começaram a voltar. Justamente para evitar se perderem, só tinham andado em linha reta, sugestão dada pela própria Rose.

A dupla caminhou apressadamente, querendo sair logo daquele lugar. Através de sussurros, discutiram sobre como entrariam novamente no castelo, até decidirem que esperariam na cabana de Hagrid até a expedição voltar. Al e Rose avançaram, sentindo-se claustrofóbicos em meio àquelas centenas de árvores e galhos retorcidos, que por vezes exibiam grandes e assustadoras teias de aranha. Além de tudo ainda precisavam enfrentar aquela escuridão, que reduzia muito o campo de visão deles. E só aumentava. Algo estava errado.

Confusos, eles pararam de avançar e se encararam. No começo acharam que era mera impressão causada pela ansiedade, mas agora percebiam que não. Ao invés da mata se abrir por estarem se aproximando da orla, parecia ficar cada vez mais fechada. Cada vez eles enxergavam menos.

– Tem certeza que é por aqui...? – Sussurrou Al, apavorado.

– Claro que tenho! Nós não fizemos curvas! – Respondeu Rose, incomodada, pois também estava ficando com medo.

Eles voltaram a caminhar por mais algum tempo, até que a escuridão era tamanha que precisaram acender as luzes das varinhas para poderem continuar. Al estava extremamente perturbado e não fazia o menor esforço para esconder isso: ao esmagar um galho durante a caminhada, sobressaltou-se e quase saltou em cima de Rose.

– Se controla! – Reclamou exasperada, encarando o amigo.

Por um segundo eles ficaram em silêncio, mas foi o bastante para ouvirem aquilo: um farfalhar em um arbusto próximo a eles. Assustados, olharam para lá e apontaram as varinhas naquela direção, no instante seguinte tendo seu terror multiplicado em inúmeras vezes. Temendo a luz que subitamente iluminou o lugar em que estava, um vulto escuro rastejou a uma velocidade assustadora para dentro de um arbusto. O ser, fosse o que fosse, escondeu-se tão rápido que a dupla não teve tempo de vê-lo detalhadamente. As únicas coisas que perceberam é que tinha o tamanho de uma criança pequena, era quadrúpede e coberto por pêlos castanho-escuros.

Os dois recuaram um passo, com muito medo. A moita estava completamente imóvel e não se ouvia um único ruído naquela parte da floresta, exceto pelo vento que soprava em algum ponto acima da cúpula de árvores em que estavam. Parados e atentos ao menor ruído, Al e Rose ficaram olhando para as folhas escuras, muito tensos. Em suas mãos as varinhas tremiam levemente, e não tinham coragem de avançar ou voltar. Subitamente ouviram o pio baixinho de uma ave, e se sobressaltaram. Despertada de seu devaneio, Rose deu as costas ao arbusto.

– Vamos... – Chamou, e Al seguiu-a.

Continuaram a caminhar pela floresta, completamente perdidos e sem noção de qual direção tomar. Passados alguns minutos, chegaram a um lugar que aparentava ser o coração da Floresta Proibida: se não fossem pequenos, teriam tido uma imensa dificuldade para avançar por entre os galhos caídos e troncos que bloqueavam o caminho. Em vários pontos eles precisaram mudar de rota porque a passagem era inacessível, e o ar parado começava a sufocá-los. Al choramingava, seguindo a amiga com passos apressados e temendo nunca conseguir voltar para a escola. Rose sentia uma vontade imensa de chorar, estava cansada e sentia sua pele arranhada em diversos pontos, mas nada disse. Após mais de meia hora caminhando, decidiram parar para descansar. Ofegantes, escoraram-se ao tronco de uma árvore particularmente grande e puseram-se a discutir sobre o que fazer.

– Acha que vão nos procurar logo? – Perguntou Al, receoso.

Rose enrugou o cenho, com os olhos fixos na escuridão à frente.

– Na pior das hipóteses, talvez só deem por falta da gente amanhã de manhã...

O outro apertou a varinha mais forte, nervoso.

– E vamos ter que ficar nesse lugar até amanhecer? Não é perigoso demais?

A garota não respondeu. No fundo, também estava temendo muito tudo aquilo. Ao ver que a amiga nada disse, Al começou a ficar ainda mais nervoso.

– Será que...? – Começou, mas de repente parou.

Os dois se levantaram nervosos. Embora estivesse escuro, nenhum deles deixou de perceber que, muito próximo a onde estavam, houve um brusco movimento acompanhado de um farfalhar de folhas. A dupla apontou as varinhas naquela direção, porém mais uma vez o vulto fugiu com uma grande velocidade. Tudo o que puderam ver foi uma longa e fina cauda marrom. Em poucos segundos o silêncio caiu sobre eles, que engoliram em seco.

– A-Acho que é melhor não ficarmos parados... – Sugeriu Al, sussurrando.

Sem encará-lo, Rose assentiu e começou a recuar de costas, sem tirar os olhos do arbusto à frente. Nesse instante, ouviram novamente um pio de ave. Desta vez notaram que o som não vinha dos galhos das árvores, tampouco vinha de muito longe. A origem do ruído era a moita que eles observavam. Lado a lado, os dois se encararam um pouco surpresos. Então a origem daquele barulho era o animal peludo que os estava seguindo? Mal pensaram isso e escutaram algo que fez um arrepio percorrer seus corpos: um pouco longe dali, outra criatura soltou um daqueles pios agudos, em resposta à primeira. Passado um segundo, vindo de outra direção, o mesmo ruído alcançou-os.

– Vamos...! – Sussurrou Rose, nervosa, e ambos começaram a correr para longe dali.

Gradativamente a quantidade de ruídos agudos aumentou e ficou com um tom diferente. Embora os primeiros fossem semelhantes a piados de aves, lentamente evoluíram e tomaram a forma de guinchos rascantes que em pouco tempo resultaram em uma barulheira infernal que vinha de todas as direções. Dominados pelo terror e ansiedade causados por aqueles barulhos assustadores, Al e Rose corriam desesperados e tropeçavam inúmeras vezes. Por entre as árvores, eles já podiam ver sombras rastejantes acompanhando-os com enorme facilidade, porém cada vez que apontavam as varinhas para elas, ocultavam-se na escuridão. Isso só aumentou o medo da dupla, afinal, não sabiam que aparência tinha o inimigo.

A perseguição desenfreada continuou por quase um minuto, com os dois jovens bruxos caindo inúmeras vezes e sentindo-se zonzos por causa daquela algazarra. Os guinchos invadiam seus ouvidos e sua mente sem hesitar, causando-lhes dor de cabeça e tonturas. Não mais seguravam o choro e mostravam-se visivelmente desesperados, pois sabiam que não aguentariam aquela barulheira por muito tempo mais. No mínimo acabariam desmaiando, e temiam o que lhes aguardava quando isso acontecesse. Ciente dos temores da dupla, os seres que guinchavam alucinadamente não faziam a menor menção de parar. Avançavam por entre as árvores, correndo em alta velocidade, as fortes patas mal tocando o chão de terra. Seus olhos amarelos estavam fixos nas duas presas logo à frente.

Al, exausto e tonto, corria cada vez mais devagar e estava prestes a desistir. Rose passava exatamente pela mesma situação que ele, porém tentava a todo custo pensar em como poderia reagir. Sabia que devia haver algum feitiço que poderia tentar para repelir a ameaça, porém aquela algazarra não a deixava pensar direito. Estava cada vez mais tonta... Foi perdendo as forças... Até que Al a puxou pelo braço. Recobrando levemente a consciência, encarou o amigo. Embora chorasse desesperado e estivesse tão mal quanto ela, o garoto fazia um esforço louvável para tentar puxá-la pelo braço. Abriu a boca e disse algo, que ela não conseguiu ouvir por causa dos guinchos, porém imaginou o que devia ser. Sorrindo, esforçou-se para continuar correndo com ele, embora cambaleante.

Continuaram avançando com dificuldade, e no momento em que dobraram na primeira curva se sobressaltaram. Um vulto gigantesco projetou-se em direção a eles, que recuaram assustados e caíram de costas no chão. As varinhas voaram de suas mãos e eles fecharam os olhos, derrotados.

Acabou... – Pensaram.

Se estivesse um pouco mais claro poderiam ver que aquele vulto era ninguém menos que Firenze, o centauro, coisa que só perceberam ao ver que os ruídos pararam e ouvirem a voz da criatura mágica.

– Acordem...

Surpresos, os dois estudantes abriram os olhos e se surpreenderam ao ver o centauro, que estava muito próximo a eles. Em sua face grande se destacavam um par de olhos azuis e o cabelo louro-prateado. Al e Rose, impressionados, observaram atentamente Firenze: embora já tivessem ouvido falar sobre os centauros, nunca tinham visto um pessoalmente. Correram os olhos pelas patas poderosas que pisoteavam o chão e o pelo baio que encobria seu corpo. Só então perceberam que ele segurava um grande arco e tinha uma aljava de flechas presa à cintura. Firenze voltou a falar, interrompendo seus pensamentos.

– Vocês dois estão bem...? – Perguntou, fitando-os atentamente com aqueles olhos profundos.

Passado o estupor de surpresa, eles assentiram brevemente. Pegaram as varinhas que estavam no chão e se levantaram, imediatamente apontando-as para o caminho que tinham passado. Ao invés das sombras velozes que os seguiam há poucos segundos, agora viam apenas uma criatura. Era quadrúpede, de tamanho mediano e com pelo castanho-escuro. Tinha orelhas pontudas, um focinho alongado, uma cauda comprida e barriga branca. Sua boca estava entreaberta, expondo as fileiras de frágeis dentes afiados. Não aparentava ser forte, tampouco perigosa. E estava morta. A flecha de Firenze atravessara seu peito, pregando-a no chão e causando uma morte instantânea. Parecendo ler o que se passava na mente deles, o centauro pôs-se a explicar.

Foxxlie... Não se deixem enganar pela aparência gentil delas. Embora não sejam fortes nem tenham garras afiadas, podem causar ilusões que fazem sua vítima ficar desacordada. Quando está fora de ação, a devoram. São muito perigosas para os humanos.

A dupla, ainda sem palavras, engoliu em seco ao imaginar que destino os aguardava até poucos instantes atrás. Firenze continuou falando.

– A Floresta não é segura para filhotes de bruxos, ainda mais nesta região e no meio da noite...

Algo ocorreu a Rose, que se surpreendeu.

– Como sabia que estávamos aqui?

O centauro demorou um pouco para responder, usando sua voz lenta e calma.

– Ao voltar para o castelo, Hagrid percebeu o sumiço de vocês dois e imediatamente convocou meu povo para ajudar nas buscas, afinal, já tínhamos encontrado James Potter.

Al ficou radiante.

– Então meu irmão foi encontrado?!

O centauro assentiu, e os dois se abraçaram empolgados.

Firenze deu as costas.

– Agora vamos, vou levá-los de volta ao castelo.

ooo ooo ooo

McGonagall estava sentada à escrivaninha do escritório de Harry, lendo as informações de uma pilha de papéis, com o cenho enrugado lhe conferindo uma expressão severa. Tinha solicitado aos demais membros do Ministério da Magia que a deixassem sozinha, e todos obedeceram sem questionar. Embora fosse madrugada, aqueles poucos seguranças sabiam que o Ministro confiava completamente em McGonagall. Ansiosa, ela agora corria os olhos pelas folhas, em busca de uma informação que confirmasse as suspeitas que tinha. Já fazia vinte minutos que Harry a informara sobre o sequestro de James, porém, algo não se encaixava... Como as defesas de Hogwarts tinham sido furadas? Isso seria impossível, a não ser que...

Achei...!

Ela prendeu a respiração. Sua boca ficou levemente entreaberta ao confirmar seu palpite. Erguendo a cabeça, olhou para os lados, receosa. Precisava correr, talvez ainda tivesse tempo de livrar Harry do destino que o aguardava. Tendo isso em mente, abandonou o Ministério da Magia às pressas e aparatou para a mansão dos Nogwell.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e deixem reviews. =}
Att,
Diego N.L.



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