Pomum escrita por Marina Andrade


Capítulo 2
Capítulo 2 - Portal




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-Um porsche 911?!

-Aham. – Morgan disse, enquanto entrava no carro e ligava o ar condicionado.

-Você tem um porsche?!

-Fico feliz em dizer que não. – Ela ligou o carro e se virou para trás enquanto dava ré.

-Não me diga que é roubado.

-Claro que não! O Conselho alugou o carro para que eu usasse enquanto estou aqui nesta dimensão.

-Já comecei a gostar do Conselho. – Comentei. Ela deu uma risadinha.

-Não conte a ninguém que eu te disse isso, mas os membros do Conselho não entendem muito dessa dimensão. Eles previram que eu fosse precisar de um carro para qualquer eventualidade, como ir até o portal de Nova York, fazer alguma investigação ou ocasional perseguição...

-Perseguição? – Perguntei imaginando quantas vezes ela tinha me seguido sem que eu soubesse.

-Bom, isso não vem ao caso. Acontece que para o Ministério, um carro equivale a um cavalo, ou carruagem. E nós em Pomum sabemos que não há nada melhor que um cavalo veloz ou uma carruagem puxada por rápidas renas.

-Renas??

-São mais fortes do que aparentam. – Ela comentou com as sobrancelhas elevadas, como se fosse um fato corriqueiro. Em meio a conversa, meu corpo foi jogado para a frente, sendo segurado pela dura correia do cinto de segurança, que eu não podia ter ficado mais feliz de ter lembrado de colocar.

-Droga de sinais! – Tínhamos parado num sinal vermelho a não mais que um centímetro da faixa de pedestres. – Em Pomum não temos semáforo. Agiliza bem as coisas. – Ela suspirou enquanto reencostava no banco. – Me desculpe, só fiz uma semana de aulas de direção.

-Ah, bom saber. – Disse me sentando ereto na cadeira, com os ombros tensos. – Quem te ensinou a dirigir?

-Meu melhor amigo. Ele faz parte o nosso grupo, vai conhecê-lo.

-Como ele aprendeu a dirigir? – Perguntei enquanto virávamos um pouco rápido demais na Brooke II’s Street.

-Tivemos um problema com um portal há alguns anos. Suspeitavam que o problema fosse algum composto químico presente na atmosfera do local, e ele foi mandado pra cá para pesquisar, já que alquimia é a especialidade dele. Passou três meses trabalhando em um laboratório daqui para criar e vender um novo combustível que substituiria o da fábrica responsável pela poluição.

-A fumaça danificou o portal?

-Sim. Dióxido de enxofre. Danificou a estrutura da camada mágica protetora que envolvia o ambiente ao redor do portal, o neutralizando para que parecesse invisível. Não deu certo, a companhia industrial não quis trocar um combustível barato por um demais custo que fosse limpo. Apesar de ter sido uma grande perda de tempo e dinheiro, James fez autoescola nesse período. Ele é louco por carros. – Ela sorriu, como se visse uma lembrança antiga, de alguém que não se vê há muito tempo.

-Quem me dera ter uma boa rena dessas. – Comentei, mexendo nos botões do som do carro.

-Hey, esse carro não chega aos pés de uma rena! É pequeno e tem o teto baixo de mais.

-Renas não têm teto. – Argumentei.

-É, mas são confortáveis, dóceis e mais rápidas que um porsche.

-Como isso é possível? Elas vêm com turbinas nos pés?!

-Não exatamente. Mas como você acha que o papai-noel entrega todos os presentes a tempo? – Ela riu e desacelerou o carro, pegando outra chave no mesmo bolso da mochila e a apontando para o portão eletrônico de um prédio simples, de quatro andares e não parecendo muito ostentoso, se comparado ao carro. Entramos no estacionamento e paramos na vaga B correspondente ao apartamento 301. A primeira vaga estava ocupada com uma picape preta, um modelo de carro chinês que Ethan se lembrou de ter visto num comercial no ano anterior.

-Vocês todos do grupo estão morando aqui durante esses seis meses? – Perguntei enquanto andávamos pelo estacionamento.

-Na verdade, só eu, William e Li. Os outros ficaram em Pomum, cuidando de outros serviços.

-Quantos são no seu grupo?

-Oito. Todos os grupos são formados por oito pessoas. Na verdade durante a seleção, os escolhidos para trabalharam para o Conselho são agrupados em duplas, de acordo com testes de afinidade e desde que sejam especializados em áreas diferentes. As duplas são então dispostas em grupos de oito, e esses são os grupos oficiais. Em pequenos trabalhos, normalmente uma dupla do grupo é mandada.

-E são todos magos?

-É mesmo, acho que me esqueci de esclarecer isso. Mago é um termo geral, digamos assim, usado nesta dimensão para indicar qualquer ser mágico. Por isso que disse “magos do Conselho”. Há vários elfos, metamorfos, vampiros e pessoas de raças diversas no Conselho. E também no meu grupo. – Ela concluiu enquanto o elevador parava no terceiro andar. – Chegamos. – Disse tirando um molho de chaves do bolso e destrancando a porta de madeira bem trabalhada da entrada.

O cômodo de entrada era uma sala de estar espaçosa, com dois sofás de camurça creme dispostos sobre uma tapeçaria de aparência indiana. Na parede, uma cômoda alta se estendia até o teto, cheia de repartições preenchidas com CDs, DVDs, jogos de videogame e aparelhos eletrônicos. A cozinha era separada da sala por uma enorme bancada de mármore branco em L, e por detrás dela reconheci o maior dos caras de preto que tinha visto mais cedo, picando cebolas em cubinhos agilmente.

-Hey, Will. – Morgan o cumprimentou.

-Sobreviveram, então? – Ele comentou se virando e limpando a mão num prato de prato. – Como foi andar de carro com a Morgan? – Demorei alguns segundos para perceber que ele estava falando comigo. Fui distraído pelo avental de vaquinhas que parecia um acessório alienígena num cara daquele tamanho.

-Ahn? Bom, foi... arriscado. – Confessei. – Mas pra quem aprendeu em uma semana, fico feliz de estar vivo. – Disse olhando Morgan de soslaio. Ela estava distraída, verificando a correspondência na mesa de centro entre os sofás.

-Por isso que não deixamos que ela ficasse com a picape. Um carro daquele tamanho é uma arma em potencial.

-Rá-rá. Muito engraçadinho. – Ela comentou largando as cartas de volta na mesa. – Então, teremos tempo de jantar? – Ela puxou um dos bancos ao redor da bancada e se sentou, puxando um banco ao seu lado indicando que eu me sentasse também.

-Espero que sim. Estou morto de fome. – William comentou voltando a picar as cebolas.

-Will é nosso chef de cozinha. – Morgan comentou se levantando e passando para o outro lado da bancada.

-E como Li não é capaz de saber quando a água está fervendo, ela é a única que me ajuda na cozinha. – William disse enquanto jogava as cebolinhas dentro de uma panela funda. O cheiro da cebola dourando no óleo encheu minhas narinas, e só então notei que estava com fome. – Se quiser ir picando os cogumelos. – Ele apontou para uma cesta de palha sobre a geladeira. Morgan tirou um avental de uma das gavetas sob a bancada e começou a picar os cogumelos.

-A que horas vamos pra Nova York? – Morgan perguntou enquanto mexia concentradamente na prateleira de especiarias acima do fogão, lendo os rótulos dos frascos e ocasionalmente, jogando temperos na panela de Will.

-Vamos pra Nova York?! – Fiquei surpreso. – Ainda hoje?! – Olhei o relógio de parede da cozinha, notando que já eram quase oito horas.

-Os portais só são abertos à noite. Tem menos gente e a visão dos satélites não é tão clara. – Morgan explicou.

-Mas infelizmente Ekra fechou o portal de Nova York esta noite. Parece que há alguma instabilidade no lado de cá da passagem. Ainda não sabem a causa, então vamos ter que pegar uma rota alternativa. – William disse, retirando uma panela fumegante do forno.

Morgan abriu algumas latas de massa de tomate e despejou na panela que estava temperando. Eu podia sentir meu estômago protestar.

-Vamos passar por um portal no mar. Perto de Nova York. – William terminou.

-Certo. – Concluí encarando os sapatos. Entrar no mar à noite me fazia pensar em tubarões, lulas e caranguejos. Senti um desconforto no estômago se espalhar, e percebi que estava com mais medo do mar do que de passar no portal.

-Onde está o Li, a propósito? – Morgan comentou, desligando o fogo da panela e molho e pegando uma enorme travessa de vidro retangular num armário sobre a bancada. – E Rose?

-Li está dormindo. Ele tem que informar ao Conselho ainda hoje sobre nossa chegada.

-Provavelmente não vai voltar a dormir tão cedo depois que atravessarmos.

-Por quê? Tem fila de espera no Conselho? – Perguntei curioso, enquanto recebia um copo de vidro com gelo de Morgan.

-Li é nosso informante. É o responsável por relatar tudo sobre as expedições do nosso grupo, e coletar todas as informações que o Conselho deseja passar pra gente. Ele tem que ir até o Conselho avisar que atravessamos com você pelo Portal assim que chegarmos lá. O único problema é quer o portal pelo qual vamos passar vai nos deixar bem longe das terras do Conselho. É uma viagem de algumas horas de dragão até lá.

Dragão? – Pensei, mas resolvi não comentar nada. Depois das renas, eu já esperava de tudo.

-Rose foi ao supermercado e depois ia dar uma passadinha na farmácia. Disse que não demora. – William tirava o macarrão que estava dentro da panela com um pegador, e o colocava sobre a travessa cuidadosamente. Depois de temperá-lo, levou a travessa até a mesa de jantar que só agora percebi que estava lá, já semiposta com pratos e talheres. Morgan despejou o molho cremoso numa tigela enorme, e também o colocou na mesa. Depois colocaram copos com gelo assim como o meu, guardanapos, um frasco de azeite e um pequeno pote com o que me parecia queijo ralado.

-Senti cheiro de rango. – Li disse chegando pelo corredor com a cara meio amassada, coçando os olhos com uma mão e segurando um par de óculos de hastes quase imperceptíveis na outra.

-Espaguete. – Disse Morgan sorrindo e tirando a franja de cima dos olhos. Li comemorou dando um soco no ar e se sentou ainda sonolento na mesa, colocando os óculos. Só então percebi o quanto ele me parecia jovem. Jovem demais pra ter mais de quinze anos e trabalhar para o Conselho.

-Olá! – Ele se levantou ao perceber minha presença e me deu um aperto de mão. – Não nos apresentamos direito. Sou Li Wang. – Ele completou acenando com a cabeça, numa formalidade à qual eu estava desacostumado.

-Ethan Brown. – Respondi. – Mas você provavelmente já sabe disso, não é? – Completei, me sentindo meio besta.

-É, tenho estudado sua vida por alguns meses. – Ele sorriu de canto enquanto voltava a se sentar à mesa de jantar. Me sentei na cadeira à sua frente, inevitavelmente encarando o delicioso macarrão com os olhos.

-Estamos todos com fome. – Ele disse, não sei se depois de perceber meu olhar desesperado ou não. – Cadê a Rose?

Nesse momento o suave som de chaves na maçaneta me chamou a atenção. Rose entrou no apartamento, carregando uma porção de sacolas.

-Cheguei em boa hora? – Ela comentou. – Trouxe algumas coisinhas. – Sua voz era doce, mas carregava uma maturidade incomum a uma pessoa de vinte anos. – Morgan, seu remédio para viagem. – Ela lhe estendeu uma caixinha fina.

-Ah, valeu por lembrar! – Morgan conferiu a caixinha e a deixou sobre a bancada.

-Trouxe refrigerante. – Ela tirou uma Pepsi de 3 litros e a colocou sobre a mesa.

-Oba! Já estão fazendo a edição limitada de natal. – William comentou admirando a enorme garrafa.

-E trouxe nachos e molho. – Ela mostrou um pacote de nachos tamanho família e uma lata enorme de molho de queijo cheddar. – Ela colocou as sacolas na bancada, tirando algumas latas de refrigerante e as guardando na geladeira. Depois se sentou na ponta da mesa ao meu lado. Dessa proximidade pude perceber que suas pupilas não estavam mais em fendas, como eu os tinha visto na escola. Suas pupilas eram dois círculos pretos, cercados por íris verdes tão claras que se tornavam quase imperceptíveis na luz. Ela tinha uma beleza familiar. Me lembrava da Tess, porém uma versão adulta dela. Por alguma razão, não conseguia parar de encará-la, assim como eu tinha encarado Morgan no carro, William cozinhando e Li quando saiu do quarto. Eles tinham algo de peculiar, como uma força que emanava de sua pele e que me atraia, de uma forma que eu não sabia explicar. Parei de encarar Rose quando percebi que ela estava me olhando de volta, não sei bem há quanto tempo.

-Não vai comer? – Ela perguntou simpática, puxando a travessa de macarrão e pegando a espátula para me servir. Só então percebi que todos já estavam servidos. Morgan abria a garrafa de Pepsi e servia os copos de todos, enquanto William conversava animadamente com Li.

-Ansioso pra voltar pra casa?

-Não faz ideia! Estou morrendo de saudade da minha cama. – Ele disse, colocando a mão nas costas e girando levemente a coluna. – Não se fazem mais colchões como na Idade Média por aqui. Todos são feitos de material sintético.

-Também não vejo a hora de voltar. E rever o resto do pessoal. – Morgan comentou.

-Com o resto do pessoal você quer dizer o James. – Rose comentou com um sorrisinho discreto.

-Claro que sinto saudade dele, ele mora comigo. – Morgan deu de ombros.

-Com seus pais? – Perguntei. Depois pensei melhor. Se eles já eram adultos empregados, não deveriam mais morar com os pais.

-Eu divido a casa com James. Li e William também adotaram esse esquema, e moram com Ewan, outro membro do grupo.

Eu ouvia em segundo plano enquanto minha mente absorvia a maravilhosa sensação de uma refeição quente.

-William, você vai cozinhar para nós durante a viagem, não vai? – Perguntei esperançoso, bebendo grandes goles da Pepsi. Ele riu.

-Pretendo sempre que puder.

-Oh, não. – Li largou o garfo no prato num suspiro. – Estou sentindo alguma coisa. Lá na porta. – Ele disse, se levantando e dando a volta na mesa. Pegou um dos chaveiros sobre a bancada e destrancou a porta da rua, saindo pelo corredor.

-Eu disse alguma coisa? – Perguntei, sem entender.

-Não. – Morgan respondeu balançando a cabeça. Todos tinham parado de comer e esperavam atentamente o retorno de Li. – Li é um viajante do tempo. Consegue ver o que vai acontecer ou já aconteceu em determinado lugar. E de vez em quando, tem algumas visões. Ele tem que ir até o local indicado pela visão para viajar no tempo e ver o que é.

-Ele se teletransporta até o futuro?! – Perguntei empolgado.

-Não, só a mente dele viaja pelo tempo. Se você for até o corredor, ele estará lá, parado, olhando para o vazio. – Rose disse, apontando para a porta com a ponta do garfo. Alguns segundos depois, ele voltou, trancando a porta atrás de si.

-Más notícias. – Ele voltou até a mesa. – Um informante do Ministério viria aqui dentro de uns 20 minutos pra nos dizer que o portal A de nova York também vai ser fechado. E nossa terceira opção fica a 12 horas de viagem.

-Ah, não! – Morgan pôs a mão sobre a testa. – O portal original.

-Primeiro e único. – Comentou Li. – Mar Mediterrâneo, baby.

-Vamos à Europa? – Deduzi. Não pude evitar sorrir. Sempre gostei de viagens, e nunca tinha experimentado andar de avião. Nem nunca tinha ido tão longe assim de casa.

-Por que não podemos passar pelo triângulo das bermudas?! – Morgan parecia desconsolada.

Ainda bem que comprei seu remédio pra enjoo. – Rose comentou com uma risadinha.

-O informante não vai mais passar aqui? – Perguntei, lembrando que Li tinha dito “viria”.

-Não. Ele também viaja no tempo. Ele passou pelo prédio algumas horas atrás e viu que eu veria a intenção dele de nos avisar. Então manteve essa intenção por algum tempo, até que eu pudesse ver e mudou de rumo.

Tentei processar todas as informações. Ele notou minha cara de ponto de interrogação.

-Eu posso ver os acontecimentos futuros enquanto as pessoas estão com determinado pensamento, determinada intenção. Quando a intenção muda, o futuro muda. Por isso é mil vezes mais fácil ver o passado. O passado é permanente, não sofre mutações.

-Mas como você viu que o informante esteve aqui no prédio? – Perguntei enquanto saboreava um pedaço de cogumelo do molho do espaguete.

-Encontrei com ele passando pela visão que eu tive. Quando dois viajantes estão passando pelo mesmo período de tempo, é possível ver um ao outro fisicamente.

-Então, acho melhor irmos logo. – William espreguiçou na cadeira. – Temos que viajar ainda hoje. – Concluiu esfregando as mãos como se estivesse ansioso para assistir uma partida de beisebol ou luta livre. Pelo tamanho do cara provavelmente seria luta livre.

-Ok. Vou checar os documentos do Ethan. Li, é seu dia de lavar a louça.

-Ok. – Li suspirou desanimado.

-Vou separar umas coisas pra levarmos na viagem. – Rose se levantou, entrando no corredor e virando à esquerda.

-Vou ligar para o informante. Saber sobre as passagens. – William levantou e tirou um celular do bolso.

-Por que o informante não simplesmente ligou pra nos avisar sobre a mudança de portal? – Perguntei.

-Linhas telefônicas são constantemente vigiadas. Nunca falamos sobre os portais por telefone ou e-mail. Menos ainda por escrito. Tudo o que se refere aos portais deve ser transmitido oralmente, ou como acabamos de fazer. – Li explicou enquanto lavava os pratos. – William vai ligar sobre o informante para falar sobre passagens aéreas. Como não vai precisar citar os portais, dá pra ser por telefone.

Todos estavam andando agitados pela casa, dando telefonemas, arrumando malas e fechando janelas.

-É o último dia de vocês aqui na Terra? – Perguntei me sentando num dos bancos ao redor da bancada.

-De certa forma, sim. – Ele respondeu, esfregando a travessa de macarrão vigorosamente. – Eu provavelmente não vou voltar. Sou apenas o informante do grupo, então só preciso relatar tudo o que acontecer daqui pra frente. E com você em Pomum, não vejo razão para que eu volte.

Rose distribuía lanches e latas de Pepsi em duas sacolas plásticas enquanto conversávamos.

-Quanto aos outros, bom... Rose só veio aqui há dois dias. Ela é responsável pela nossa passagem pelos portais, então só veio nos trazer de volta.

-Vim há três meses para levar Morgan a Pomum. – Rose completou. – Ela foi chamada para relatar a atual situação e para discutirem a data em que você seria levado. Também fui eu que trouxe os três pra cá no começo da missão. – Acrescentou.

-Ela e a Morgan provavelmente serão as únicas a voltar. – Li continuou explicando. – Para trazer você de volta, caso decida não ficar em Pomum.

Senti um arrepio frio percorrer minha espinha. Só agora a realidade pareceu vir à tona. Eu não estava saindo de férias. Estava indo decidir se ficaria para sempre em outra dimensão, longe de todos. Da Lizzie, da Tess, da minha mãe. Quando percebi que a sensação estava se espalhando e meu coração tinha acelerado, resolvi me distrair.

-E quanto às minhas coisas? – Perguntei a Li, que terminava de enxaguar os copos. – Minhas roupas, documentos... Acho que vou precisar de uma mala se for passar três semanas longe de casa. Ou mais...

-Na verdade não. – Morgan chegou com a mochila que antes estava carregando nas costas e um pesado molho de chaves na mão. – O Conselho não é lá muito fã de coisas terrestres. São muito desconfiados. Não nos permitem levar nada da Terra além da roupa do corpo, que a propósito, vai ser desintegrada quando chegarmos lá.

-Olha, eu sei que vocês são ligados à natureza e tudo mais, mas esse negócio de ficar peladão logo que eu chegar não me parece uma boa.

-Não se preocupe. Vamos providenciar uma fantasia de dançarina da ula assim que chegarmos em Havanda.

-Havanda?

-Sabe o Havaí? – William me perguntou.

-Sei.

-É a outra metade da ilha. – Completou.

-E o que tem lá?

-Espiritualistas. E bichos. – Li disse, voltando do quarto com uma mochila de alças muito frouxas, que lhe batia nos joelhos.

-E insetos bem grandes. – Morgan comentou. – Mas não se preocupe, vai conhecer a ilha. Está na lista de lugares onde você deve visitar.

-Acho que pegamos tudo. – Rose voltou do quarto com uma bolsa no ombro e um celular nas mãos.

-Certo. Vou pegar os equipamentos de proteção. – Morgan acenou para que eu a seguisse.

Entramos pelo corredor e vi que ele dava para quatro portas, três quartos e um banheiro. Entramos no quarto ao lado do banheiro. Era simples, decorado com mobília escura e diversos porta-retratos. Tinha uma cama de solteiro, uma cômoda de quatro gavetas – as quais Morgan passou a revirar, um espelho, um armário de três portas, duas prateleiras de livros, uma escrivaninha e um espelho. Dei uma olhada sobre os títulos numa das estantes. O Senhor dos Aneis, Harry Potter, As Crônicas de Arthur, Merlin, Crônicas Saxônicas, O Arqueiro...

-Então você lê bastante mitologia humana. – Concluí.

-Sim. Bernard Cornwell é o meu favorito. Um gênio.

-Leu tudo isso em seis meses?

-A maioria. Ainda não terminei as Crônicas Saxônicas. Não deu tempo de comprar todos os volumes. É uma pena, são realmente bons. – Ela retirou um livro pesado de uma das gavetas e o colocou sobre a cômoda, afastando um dos porta-retratos. Cheguei mais perto para observar a foto. Era uma foto dela com um garoto mais ou menos da nossa idade, de cabelos castanho-claros bagunçados e óculos.

-É seu namorado? – Notei que na foto ele a envolvia pelo ombro com o braço.

-Não. Este é o James. – Ela olhou para a foto rapidamente, sorriu e voltou sua atenção para o livro, cuja capa era feita de pedra polida, com símbolos que eu não conhecia talhados nela. Morgan passou os dedos levemente pelos símbolos, emitindo uma leve luz dourada sob eles. Os símbolos se acenderam com a luz, e permaneceram acesos enquanto ela folheava as páginas.

-Suponho que este não seja mitologia humana.

-Não, é um livro guardião. Cada página do livro pode guardar um único objeto que se deseja proteger. Apenas o dono do livro pode ativá-lo. Quando está inativo, as páginas ficam em branco.

-E se alguém rasgá-las, os objetos se... quebram?

-Não é possível rasgar as páginas. Nem danificá-las. O que você pode fazer é queimar o livro com chamas brancas. É a única forma de destruí-lo.

Ela passou as mãos pelas páginas, cada uma delas com uma figura, e ao redor de cada figura havia anotações feitas com uma caligrafia corrida e difícil de ler, que cercava as quatro margens de cada página. As figuras pareciam desenhos feitos à mão, e pude identificar varinhas, livros, frascos, caixas, aneis, uma panela... Panela?

-Isto é... – Perguntei, apontando para a página do livro onde estava desenhado o que parecia ser uma panela de barro.

-Um caldeirão. Tenho vários. Mas só trouxe este para emergências. – Ela respondeu, enquanto continuava a passar as páginas. – Aqui. Ela passou a mão sobre a página, e os escritos se ascenderam. Pude identificar algumas palavras, e notei que havia símbolos entre elas. Estes se acenderam primeiro, as palavras vieram em seguida. A imagem brilhou por último, e saiu do papel, aumentando de tamanho e se materializando na mão de Morgan. Só então percebi que era um colar de metal de aparência pesada, com uma pedra negra como pingente. – Tome. – Ela me entregou o colar. – É um amuleto de proteção. A corrente é feita de bronze, o único material impuro que existe.

-Impuro? – Perguntei enquanto colocava o colar por dentro da camiseta.

-O bronze é o único material incapaz de reter magia. Funciona como um “isolante mágico”. A corrente vai impedir que qualquer rastreador ou viajante do tempo te identifique ou possa bisbilhotar no seu futuro. O pingente é uma ônix, pedra de proteção. É muito usada como amuleto de proteção contra magia negra.

-Deixa eu ver se entendi. – Disse, pegando a pedra do colar e a indicando a Morgan. – Isso aqui é pra me proteger das ameaças do seu mundo? E não do meu?

-Já que vai estar lá, um colete à prova de balas não vai ser muito útil para sua proteção. Pomum não é lá um mar de rosas. – Ela disse, passando a mão sobre os símbolos do livro, que se apagaram aos poucos. – O amuleto vai te proteger de qualquer pessoa ou criatura que possa te atacar. – Ela se dirigiu até a porta.

-Que tipo de criatura? – Perguntei receoso.

-Ah, você sabe. Víboras, trolls, orcs, coelhinhos endemoniados...

-O quê?! – Perguntei enquanto voltávamos à sala. Morgan pegou a mochila e guardou o livro dentro dela.

-Então gente, tudo pronto? – William esfregou as mãos uma na outra, empolgado para ir embora.

-Finalmente sim. – Ela disse sorrindo animada. – Hora de ir embora.

21:10 hrs.

Já estávamos a dez minutos na rodovia 95-B, rumo à Nova York. Li tinha se deitado no banco de trás do Porsche, com as pernas sobre o capô do porta-malas e a cabeça num travesseiro que trouxe do apartamento. Caiu no sono quase que instantaneamente. Morgan dirigia calmamente pela rodovia, seguindo a picape preta de William. Rose tinha ido com ele.

-Se somos cinco, por que não vamos todos num carro só? – Perguntei.

-O Conselho alugou os carros em Nova York. Vamos deixá-los no aeroporto para ficar mais fácil de serem devolvidos à concessionária depois. – Ela respondeu, bebericando uma lata de Pepsi que estava no porta copos. – Tome. – Ela me estendeu um pacote que Rose tinha passado a ela quando nos separamos. – Rose sempre monta um kit de viagem. – Ela sorriu.

Abri o pacote e vi algumas latas de Pepsi e um pote de plástico com os nachos que ela tinha comprado mais cedo. Havia uma lata de molho pra nachos também, debaixo do pote.

-Posso comer no carro? – Perguntei, temendo engordurar uma beldade daquelas.

-Desde que não voe molho pra nachos ao passarmos no quebra-molas, pode. – Ela respondeu. – Será que o Li está bem lá atrás? – Ela ajeitou o retrovisor para ver. Espiei o banco de trás.

-Depende da sua definição de bem. – Respondi. – Ele provavelmente vai acordar com dor da coluna, torcicolo e... está babando no tapete do carro.

-Antes no tapete que no travesseiro do William. – Ela comentou. Agradeci mentalmente por William ter ido na frente, guiando o caminho. Assim Morgan não podia andar a 120 por hora, como fez para me levar ao apartamento. Abri o pote de nachos e comecei a comer, sem tirar a lata de molho da sacola, por garantia.

-Quando chegarmos a Roma, como vamos ao portal?

-Chegando lá vamos de carro até o litoral. O Conselho vai deixar um carro alugado em nosso nome nos esperando no aeroporto. Chegando ao mar, não se preocupe. Um barco estará nos esperando para passarmos pelo portal.

-Como tem tanta certeza?

-Era o que estava nos planos para passarmos pelo portal de Nova York. Exceto pela parte do carro. Quando o portal muda o Conselho ajusta o plano de passagem. – Ela ajeitou o retrovisor para que pudesse ver a rodovia atrás de nós. – Ainda bem que vamos chegar pela manhã. – comentou – o portal do Mediterrâneo dá para o Oceano das Tormentas. E acredite, à noite ele é bem movimentado.

-Por rotas comerciais? – Sugeri, limpando a boca com um guardanapo que achei na sacola.

-Não, por criaturas marinhas. Os oceanos de Pomum possuem criaturas marinhas de tamanho plus.

-Tipo a baleia azul?

-Mais ou menos. – Ela meneou a cabeça. – Sabe o kraken, de Piratas do Caribe?

-Sei. – Respondi apreensivo.

-É uma espécie de Lula muito comum nesse Oceano.

-Não tinha nenhum portal mais pacato pra passarmos? – Perguntei. – Talvez algum que dê para uma ilha de canibais, por exemplo. – Ela riu.

-Não. Mas não se preocupe, é completamente seguro pela manhã. A maioria das grandes criaturas marinhas não gosta de claridade, então não vão nos incomodar subindo até a superfície durante a manhã.

-Bom saber. – Suspirei. Terminei de comer e guardei a sacola no porta-trecos perto da maçaneta. Me estiquei na cadeira e apreciei a paisagem. Apesar do céu escuro da noite, ainda era possível ver alguns pequenos ranchos que se estendiam ao longo da rodovia, e ocasionalmente, algum motel de aparência barata e nome ridículo.

23:30 hrs.           

O avião tinha acabado de decolar. Eu estava sentado entre Morgan e William, e nas cadeiras do lado direito estavam Rose e Li. Morgan parecia apreensiva, e já tinha tomado dois comprimidos para enjoo. William assistia Os Incríveis numa das pequenas televisões do avião, escutando o áudio com os fones de ouvido da cadeira. Li mal tinha acordado para andar do carro até o aeroporto e já estava dormindo de novo. Rose olhava pela janela do avião, parecendo meio aérea.

-Quer um? – Morgan me estendeu a caixa de comprimidos.

-Ahn... por enquanto não. Nunca andei de avião, então não sei se vou ficar enjoado. – Respondi.

-Qualquer meio de transporte enjoa a Morgan. – William tinha largado os fones de ouvido. – Exceto renas e cavalos.

-Renas e cavalos sacodem menos que carros e aviões. – Ela se defendeu.

-Hey, gente, olhem isso. – William indicou Li com a cabeça. Ele estava com a cabeça jogada para o lado, babando no piso do avião. – Será que devemos fazer alguma coisa?

-Ah... melhor não. – Comentei. – Se cutucá-lo ele começa a roncar. Tentei no carro. – Will riu e colocou a mão sobre a testa.

Continuamos conversando durante boa parte da viagem. Os dois não podiam estar mais empolgados com a volta para Pomum. Me contaram sobre algumas vilas, sobre o resto do pessoal do grupo e sobre os membros do Conselho, um por um. Aproximadamente às uma da manhã, caímos no sono.

02 de dezembro, 12:50 hrs, Cidade do Vaticano.

Estávamos os cinco dentro de um Fox amarelo nada discreto. Como a mudança de portal tinha sido repentina, o Conselho não encontrou muitas opções de carro para aluguel. William dirigia, com Li ao seu lado, finalmente acordado, falando animadamente sobre o pouco que faltava para atravessarmos. Rose também estava sorrindo, pela primeira vez, e Morgan tentava amarrar os cabelos sem me dar cotoveladas. Olhei pela janela para a cidade. Era tudo tão surreal. A praça de São Pedro, o Coliseu, o Castelo de Santo Ângelo... Era coisa demais para uma cidade tão pequena. Ou melhor dizendo, para um país tão pequeno. A essa hora do dia o sol estava a pino e as ruas movimentadas, assim como os restaurantes italianos. Meu estômago roncou tão alto que pensei que Morgan tivesse ouvido. O pequeno café da manhã servido no voo já tinha sido incinerado há muito tempo.

-Nossa, estou faminto. – William comentou, colocando a mão sobre a barriga. – Mal posso esperar para chegar em casa. Acho que vou ao Cabeça de Javali esta noite. Preciso comer comida de verdade.

-Tô dentro. – Li se alongou no banco do passageiro e tentou ajeitar os cabelos olhando pelo retrovisor.

-Finalmente! – Morgan agitou os braços para o alto à medida que o teto do carro permitia, comemorando.

-É tão bom ver o mar. – Rose comentou, com um olhar solene para a praia. William parou o carro na calçada. Estávamos parando no porto, perto de alguns pequenos barcos. Meu coração acelerou. Estávamos perto.

Descemos do carro cada um com sua respectiva mochila e Rose com sua pequena bolsa. Li corria na frente com William, agitado demais para andar. Andamos até um barco branco com o nome Vector pintado em letras azuis na popa. Um homem de barba e cabelos grisalhos nos esperava na proa.

-Otto! – Li o cumprimentou com um abraço. Subimos todos no barco apressados.

-Ethan, este é Otto Van Gared, capitão do Vector, um dos navios a serviço do Conselho. – Morgan o apresentou.

Navio? – Pensei, percebendo que o barco não era tão grande assim.

-Bem vindo a bordo. – Ele apertou firmemente a minha mão. – Então, qual foi a justificativa do Conselho para me fazer atravessar o Atlântico de última hora? – Ele disse, soltando as amarras do barco, que começou a navegar.

-Algum problema em ambos os portais de Nova York ontem. – Rose respondeu. – Só não sabemos qual.

-Bom, seja o que for vamos indo. A viagem de Nova York até aqui acabou comigo. – Otto disse. Imaginei como ele tinha atravessado o oceano Atlântico de barquinho em doze horas. Mas como tudo o que tinha acontecido até ali não fazia muito sentido, preferi não perguntar.

Navegamos rumo a alto mar por cerca de quinze minutos, e notei que o barco navegava sozinho e rápido demais. Otto estava sentado numa mesa dentro da cabine do barco, conversando conosco, sem fazer movimento algum. Imaginei se seria o portal que estava atraindo o barco. Depois de algum tempo, paramos. Senti um vento frio percorrer minha espinha. Lembrei da conversa que tinha tido com Morgan na noite anterior, sobre o kraken e coisas do tipo. Sentia o ar quente em minha garganta, minha respiração pesada.

-Chegamos. – Otto disse com um sorriso. – Se segurem. – Ele comentou. Notei que todos estavam com as mochilas nas costas, William tinha até amarrado a sua ao peito.

-Segure aqui. – Li apontou para o mastro no centro do barco, que carregava uma pequena bandeira no topo. – Com as duas mãos. – Completou. Me agarrei ao mastro com toda a força que tinha. Um brisa fria começou a bater, aumentando de intensidade rápido demais. Eu não sabia exatamente de que direção o vento soprava, já que parecia vir de todos os lados. Tentei abrir os olhos em meio a forte rajada de vento e olhei para o horizonte. Quando o vento estava forte a ponto de zunir nos meus ouvidos, eu vi. Em uma fração de segundo, um círculo de luz verde, a quilômetros no horizonte, se ascendeu, e o barco virou, de uma só vez. Fechei os olhos automaticamente, mas ainda pude ver de relance o mar profundo e escuro, me puxando para baixo. Me agarrei no mastro com as pernas também, temendo escorregar. Depois de alguns segundos que me pareceram horas, o barco virou novamente, e notei que era possível respirar. A gravidade me puxou e eu caí no chão, inevitavelmente. Estava ensopado, e a água que escorria dos meus cabelos me fazia fechar os olhos. Levantei e sacudi a cabeça, jogando água pra todos os lados. Vi que estava no oceano, e que a pequena embarcação tinha se transformado em um navio todo de madeira, com mastros altos, convés, e proa talhada.

-Aêêêê! – Morgan rodopiava com William, como se estivessem dançando quadrilha.

Estávamos todos molhados, pingando água, exaustos e famintos. Olhei para Rose, e me assustei ao vê-la colocar uma mecha ensopada de cabelo atrás de orelhas pontudas. Quando ela se levantou, pude notar que estava mais baixa do que eu me lembrava, e com o corpo levemente mais esguio. Morgan era a mesma, exceto pelos cabelos, que estavam muito mais longos, o rabo de cavalo lhe batendo na cintura. William parecia três vezes mais forte e mais alto. Bárbaro, pensei.

Li estava idêntico, exceto pelos olhos, cujas íris tinham um tom de azul tão escuro e límpido que chegava a parecer desumano. Otto também estava diferente. Suas orelhas pareciam levemente menores e mais angulosas, quase quadradas. As laterais do seu rosto traziam alguns traços brancos, como tatuagens, porém sutis demais para terem sido feitos à tinta. Eram como uma moldura, um contorno de traços curvos que me lembravam de alguma forma o mar. Imaginei que ele fosse um metamorfo. Ele me passava a impressão de criatura marinha, apesar de não ter nadadeiras, guelras e nem cheiro de bacalhau. Olhei para o horizonte, e vi uma espécie de peixe espada pulando para fora d’água, como um golfinho, e mergulhando graciosamente de volta ao mar. de onde estávamos, não era possível ver qualquer sinal de terra, mas mesmo em meio a imensidão de água eu podia perceber algo de diferente. O ar era diferente. Mal podia esperar para chegar à terra firme. Eu podia sentir um desejo ardente de conhecer esse lugar.

-Bem vindo ao lar. – Morgan colocou a mão em meu ombro, olhando para o horizonte.


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