Alma Gêmea escrita por Joy


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Já tenho alguns capítulos desta fic, então vou postando logo quando atingir 3 rewiens, isso acontecerá até o capítulo 5, depois o número de rewiens precisos subirá, até agora as únicas fics que faço isso são essa e DTK!
Essa fic vai ser longa, em torno de 40 capítulos, então pretendo fechar logo DTK daqui a algumas semanas (4 ou 5)e continuar com as outras.
Boa leitura!



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Na manhã seguinte, abri as cortinas e dei de cara com dois corpos seminus em duas espreguiçadeiras no quintal da casa vizinha. Afastei-me um pouco da janela e arrisquei mais uma olhada.

Vi claramente um torso musculoso com pequenos mamilos castanhos. A pele era morena, e tão brilhosa que parecia que alguém havia passado óleo ali, parecia sedosa. Meu olhar acompanhou uma delicada e quase transparente linha fina de pelos loiros que desciam do umbigo à cintura do jeans desbotado. Descendo mais, parou nas formas que o jeans, que parecia maior do que o tamanho que seu dono precisaria usar, moldava ao seu corpo, no rasgo que o jeans revelava em um dos joelhos e nos brancos dedos dos pés.  Seu rosto estava escondido por um livro que ele lia. Porém era possível ver tranças descendo até seu tórax, o que me fez concluir que esse era seu cabelo.

Bem devagar, meus olhos passaram para o corpo deitado ao seu lado. A pele era surpreendentemente alva, e os mamilos eram parecidos com o do outro, com exceção de um piercing que havia no seu direito, diferente do outro eu conseguia ver seu rosto, já que ele usava apenas óculos escuro, usava um grande moicano negro. Era magrelo, mas parecia ser tão delicado, quase que como um anjo...

A porta se abriu de repente e pulei para longe da janela. Ninguém gosta de ser pego nessas situações, não é?

-Tallulah!- falei baixinho com um suspiro de alivio quando a gata entrou no quarto querendo atenção.

Quando olhei de novo, o garoto de tranças mudara de posição e, de costa para mim, vestia uma camiseta. Gostei do jeito que suas tranças acompanhavam a curva de seu pescoço.

Sorri quando Tallulah começou a me roçar com as patas, miando, irritada. Depois sorri novamente, porque sorrir parecia estranho. Os meus únicos sorriso nos últimos tempos eram aqueles inexpressivos e sem alegria, isso quando eu não ria muito alto para dizer “não estou nem ai”, o que deixava meu rosto e meu coração em brasas.

Tallulah enroscou-se nas minhas pernas, esfregando a cabeça nos meus joelhos pedindo atenção. Eu estava morta de fome. Ontem, mamãe estava furiosa demais para me alimentar e eu tive que sobreviver a custa de barras de chocolate compradas em restaurantes na beira da estrada. À noite, estava cansada demais para aceitar o que tia Mariah servira, mas agora eu seria capaz de comer qualquer coisa que estivesse na geladeira.

Olhei mais uma vez pela janela antes de ir para a cozinha. A espreguiçadeira tinha só um livro  e  na que estava ao seu lado, apenas um vazio.

“Mas, Marina, você não jurou que não teria mais nada com garotos durante um ano?”, pensei. Gostar de garotos foi um fator determinante nas encrencas em que Jesse e eu nos metemos. Um garoto em particular, mas naquele momento eu não queria pensar em Michael. Eu nem conseguia olhar para a foto dele, escondida no fundo da minha bolsa.

Encontrei Mariah muito a vontade na sala de estar. Ela me disse:

-Tome seu café-da-manhã.

A cozinha era um pouquinho menos empoeirada do que o resto da casa. Havia vários armários, um fogão engordurado e uma geladeira velha. Abri a geladeira e dentro dela havia meio litro de leite e um pouco de iogurte que mais parecia lodo. Minha fome de lobo desapareceu.

Havia uma grande prateleira cheia de livros de culinária, mas todos os armários estavam vazios. Encontrei uma caixa de cereais e o leito não estava fedorento. Fui comer no quintal. A manhã estava linda e ensolarada, e não seria nada mal espiar o garoto sarado e o anjo de um ponto mais estratégico.

O quintal também refletia o desleixo de Mariah. O que se via era um emaranhado de ervas daninhas com uma porta de carro enferrujada bem no meio. Sentei-me num banco de madeira manco.

-Que bagunça, não?-disse Mariah, sentando-se ao meu lado.

“Sua vida ou o seu jardim?”- pensei, mas disse apenas:

-Klaus não é ligado à questão do verde? Os poemas dele não são todos sobre a natureza?

Mariah começou a rir bem alto. Estranhei, porque aquele riso não parecia coisa dela. Parecia vir de uma pessoa que gargalha com deboche e vulgaridade, não de minha tia, tão sensível e tranquila. Em seguida, ela respirou fundo e disse:

- Quer dizer que você pensou que Klaus fosse um destes naturebas?

Horrorizada, observei aquela gargalhada transforma-se num rio de lágrimas, enquanto ela buscava refúgio em mim. Eu não sabia lidar com aquela situação, e então lhe dei uns tapinhas nas costas como se ela fosse um grande bebê grotesco.

Depois de um silêncio constrangedor, ela disse:

-Klaus me deixou.

Fiquei de novo sem ter o que dizer. Isso não era para estar acontecendo. O natural era que Mariah me apoiasse e orientasse. Eu não estava preparada para lidar com os problemas dela. A única coisa que vinha ocupando minha mente era tentar descobrir onde moravam e quais eram os nomes do garoto sarado e o anjo.

-Faz três semanas que ele me deixou. Disse que precisava de espaço criativo, que minha poesia era superada e sem graça e que se sentia um vegetal cada vez que eu me aproximava.

Fiz uma força enorme para não perguntar: “Cenoura ou abobrinha?”, mesmo sabendo que o momento não era piada. Seria muito difícil para Mariah perceber o lado engraçado da coisa, afinal ela fora insultada pelo homem que amava. Demonstrei solidariedade com um sussurro simpático.

Mariah assuou o nariz em um lenço que mais parecia um trapo e disse:

-Ele levou a tevê, o computador e quase todo nosso dinheiro. O telefone foi cortado, e estou ficando louca só de imaginar onde ele possa estar.

Tentei demonstrar solidariedade com mais alguns sussurros, embora tivesse de admitir que parte de mim se sentia muito bem ao perceber que eu não era a única pessoa da família a ser rejeitada.

Continuamos sentadas em silêncio. Tentei não fazer muito barulho ao mastigar meus cereais. De vez em quando, olhava para o jardim da casa ao lado. Concluí que não era o momento  de perguntar quem morava ali.

Mariah assuou o nariz novamente:

-Não tivemos filhos porque ele disse que um seria o fim da sua criatividade. Eu amaria ter tido filhos, acho que seria uma ótima mãe.

Esmaguei os cereais que tinha na boca. O que eu deveria dizer? Em toda minha mísera vida de 16 anos nunca vira um adulto naquela situação. Meu cérebro deu voltas e voltas até que resolvi abri a boca para dizer:

-Ele tem outra?

Meu pai nos abandonou para ficar com sua assistente pessoal e depois acabou casando com uma bibliotecária chamada Foxy. Foi difícil, mas nós superamos. Mariah sorriu para mim:

-Não. Com toda certeza não! Ele vai voltar, ele nunca perde o festival de Loistche, onde sempre faz o maior sucesso.

-Que festival?- perguntei.

-Você nunca ouviu falar do festival? Sobre o que minha irmã conversa com você? É simplesmente um dos festivais alternativos mais famosos da região. Acontece em agosto, nos jardins do solar Loistche. É maravilhoso! Você precisa ir.

Disse qualquer coisa sem o menor entusiasmo. Eu não pretendia ficar tanto tempo ali. Esperava voltar para Magdeburg dali a algumas semanas. Mariah levantou-se e esmurrou o ar:

-Estamos precisando de um pouco de ação!- disse em gritos- E para quando? AGORA!

Passamos o resto da manhã podando ervas daninhas. Depois de mais ou menos uma hora, perguntei “por acaso” quem eram as pessoas que viviam na casa ao lado.

- Tenho sorte com vizinhos. Este condomínio foi construído para operários, e por isso as casas são pequenas e geminadas. Seu Antony mora naquele ali, mas só usa o chalé nos fins de semana. Rose Inesthrope mora no outro lado, mas viajou para a África e alugou para alguns estudantes passarem o verão: Georg e Gustav. Eles são muito legais. A única coisa que levam a sério é sua música. Eles têm uma banda.

Fiquei imaginando se o anjo seria o Gustav, e o sarado o Georg, ou talvez ao contrário. Queria me enturmar com eles durante o pouco tempo que ficaria ali naquele estranho verão.

Lá pelo meio dia, o sol estava muito forte. Paramos de trabalhar.

-Tem algo mais que eu possa fazer?- perguntei. Mariah passou a mão pelos cabelos e disse:

- Você poderia abrir a loja para mim. O dinheiro para o troco está escondido numa lata de balas sob o balcão, e todos os livros têm o preço marcado. Apareço por lá mais tarde. Sábado é o meu dia mais corrido- me passou um grande molho de chaves e explicou qual abria o quê.

Mamãe nunca me mandava fazer compras sem uma lista e instruções rigorosas para devolver cada centavo do troco. Mariah estava mesmo me pedindo para tomar conta da loja?

Senti o peso das chaves em minha mão e não disse nada. Ao menos estava sendo levada a sério.


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