O local estava deslumbrante.

Mesmo do outro lado da rua, eu era capaz de escutar o som suave vindo das teclas do piano. As pessoas que passavam pelo tapete vermelho e seguiam em direção das escadas vestiam trajes de gala muito caros, pelo o que meu pouco senso de moda proporcionava-me. Flashes iluminavam a noite por poucos segundos, dando uma boa visão da dupla de seguranças parados em frente ao prédio.

– Como passamos pelos seguranças? – Emmett perguntou, vestindo um elegante terno negro que estava ameaçando rasgar a qualquer instante, mas ainda assim dando uma boa noção das linhas bem definidas de seus músculos. A máscara escura emoldurava seu rosto e o sorriso divertido.

– Eu posso dar um jeito nisso. – Eu simplesmente disse.

Em seguida, levantei o vestido o suficiente para que meus saltos pudessem se movimentar sem a interferência do tecido. O vento bateu em meu rosto, causando um arrepio que percorreu por toda a minha espinha. Alguma coisa estava prestes a acontecer, e eu não sabia o quê. À medida que eu me aproximava, mais eu sentia a onda de formigamentos inacabáveis, denunciando a presença de Edward. Ou melhor: da Fera.

Ele estava lá dentro, provavelmente ao lado de sua noiva.

A indesejada referência fez meu peito doer e meu dedo pareceu perder a circulação sanguínea com a presença do anel de casamento. Ah, vontade de entrar lá só para fazer o maldito Edward engolir a aliança era o que não faltava. Mas não era sua culpa. E sim de Jasper. Só Jasper.

Sempre foi Jasper.

Enquanto atravessávamos a rua, reparei que Alice estava com as feições endurecidas, e seus olhos não se encontravam vagos como ultimamente. Ela estava linda com o vestido vermelho que descia até seu tornozelo. Ele possuía um busto apertado e liso com alças finíssimas, já da cintura para baixo não era mais liso. Todo o tecido era repicado de forma que caíssem em longas franjas que balançavam de acordo com seus passos. Seus olhos castanhos estavam praticamente cobertos pela mascará dourada. E é claro, seu andar era gracioso com o par de saltos alto vermelho.

Percebi que alguns olhares estavam voltados em minha direção, e optei por acelerar o passo. A ardência em minhas costas começou sorrateiramente, como se meu corpo todo soubesse que eu faria uso de meus poderes recentes.

Quando finalmente pus os pés no tapete vermelho, os flashes começaram. Alice e Emmett caminhavam ao meu lado. Meus passos seguiam em direção de um dos seguranças, muito alto e cabeludo. Por sorte, ele não estava usando óculos escuros como os profissionais de sua área costumavam usar. Afinal, nem precisava, era noite. E eu não tinha total certeza se funcionaria sem que meus olhos focassem diretamente nos seus.

Parei em sua frente e seus olhos azuis caíram sobre mim. Fiquei feliz por não ser questionada por Alice, e muito menos por Emmett no caminho. Eles apenas me acompanharam. Percebi que ambos pararam atrás de mim.

– Seu nome? – O segurança perguntou, com a lista em mãos.

Suspirei, sentindo todo o poder irradiando em minhas costas, contornando meu corpo, criando um campo de força capaz de me proteger de qualquer coisa. Só que não era visível, graças aos céus. Levantei minha cabeça, para que eu pudesse fazer o contato visual. E então eu joguei toda aquela onda de poder para cima dele, deixando minha mente focada somente naquilo. Ele arregalou os olhos com surpresa e suas pupilas dilataram inesperadamente.

Havia funcionado. Como sempre funcionou nos atendentes de mercado. Eu sabia que aquilo era errado, mas eu tinha que conseguir comida tanto quanto precisava estar presente no evento.

Sobrevivência, apenas. As coisas nunca funcionariam enquanto eu fosse ingênua.

Meu poder o envolvia como um enorme laço de puro domínio, ligando os sentimentos do segurança com os meus. Forcei-me a sentir tranquilidade.

Seu nome era Alberto, e ele tinha trinta e cinco anos. Morava com sua esposa, que estava grávida de cinco meses. O feto era do sexo feminino e teria o nome de Samantha. E essa era a principal razão para ele estar trabalhando ali até tão tarde. Estava extremamente preocupado com sua mulher, que estava sozinha em casa. E cansado, muito cansado.

Amor. Preocupação. Força. O amontoado de sentimentos causou uma avalanche em meu consciente, deixando as coisas um tanto embaraçadas. Recusei-me a deixar tudo aquilo bagunçar com a minha cabeça, e os neutralizei, substituindo aquilo para tudo o que eu quisesse sentir, que somente eu tivesse controle.

Controle. Segurança. Compreensão. Era tudo o que ele precisava sentir naquele exato momento.

– Meu nome é Isabella. Os dois ao meu lado se chamam Alice e Emmett. – Minha voz saiu suave.

Ele nem se deu ao trabalho de perguntar nossos sobrenomes. Somente baixou o olhar para a lista, e praticamente materializei a imagem em sua mente de nossos nomes na folha refinada branca. Começando por Isabella Swan, e logo depois vinham Alice Cullen e Emmett Cullen. Nossos nomes estavam impecáveis.

Minha cabeça começou a doer e o elo que conectava minhas emoções com a do segurança ameaçou se romper. Tentei me manter o mais forte possível.

Ele ergueu a cabeça, com um sorriso bobo no rosto.

– Podem entrar.

– Obrigada. – Me apressei em responder, sorrindo rapidamente.

Puxei todo aquele poder de volta para mim, enquanto meu corpo vibrava de puro êxtase. Ah, o sentimento era ótimo. Sem perder tempo, passei por ele e subi as escadas. Alice e Emmett seguiam ao meu lado.

Subi as escadas, enquanto os murmúrios das conversas paralelas irritavam meus ouvidos. As notas do piano logo foram substituídas por uma musica baixa, encaixando-se perfeitamente com o ambiente. As pessoas passavam por mim, sorridentes.

– Ah, eu amo Muse! – Alice provavelmente se referiu ao nome da banda da música que estava tocando. – Neutron Star Collision é perfeita.

Aquelas foram as últimas palavras que ouvi ao me deparar com o local.

Um enorme lustre estava pendurado no centro do teto, iluminando os convidados e suas roupas caras. Todo o ambiente tinha um ar moderno, composto por várias mesas redondas com decoração em preto e branco. Estava um tanto frio lá dentro. Uma enorme estátua de gelo estava posicionada no canto superior, representando a imagem de um anjo com as assas abertas e as mãos estendidas. Era... Magnífica. Champanhes e taças balançavam em cima das bandejas prateadas, e os garçons pareciam satisfeitos com o seu trabalho.

– As mulheres só estão usando roupas longas. Qual é a graça de ter um corpão e não mostrar nada? – Emmett murmurou, incrédulo. – Minha abstinência está me matando.

Ignorei o riso leve que estava entalado em minha garganta, lançando-lhe um ar de reprovação. Emmett retribui com um sorriso safado.

Uma garota que aparentava ter 1,40 cm de altura parou em minha frente do nada. Ela vestia um terninho, e seus cabelos louros estavam presos no alto da cabeça.

– Meu nome é Dayse. – Se apresentou, aparentando ser muito simpática. - Você é Isabella Cullen, certo?- Ela perguntou.

– Na verdade, apenas Isabella Swan. – Indaguei.

Ela soltou uma risada baixa.

– Ele bem que me disse que você diria isso. Enfim, mandaram entregar isso aqui para você. – Dayse estendeu as mãos.

Meus olhos caíram sobre suas mãos e reparei nas suas unhas pintadas com um esmalte chamativo de cor roxa. Os dedos envolviam um pequeno papel, bastante formal.

Desconfiada, peguei o pequeno papel de sua mão e o deixei em uma altura que meus olhos pudessem ver.

Escrito com uma caligrafia já conhecida, estavam as seguintes palavras:

Minha festa. Meus jogos. Encontre-me e encontrará sua irmã.

Seja rápida. Ela não vai aguentar por muito tempo.

Com amor, J.

Amassei o maldito papel e então o joguei no chão.

– Que tal conversarmos, Dayse?- Passei as mãos ao redor dos braços da garota, sorrindo assustadoramente.

Dessa vez, eu iria me encarregar para que Jasper não ficasse um passo a frente.