Em certo ponto da caminhada,  Tammy saiu da trilha e entrou na mata. Tulip e eu a seguíamos com cuidado.  Tammy tomava mais precaução para não ser percebida, ela se escondeu atrás de um arbusto. Parecia que também observava uma pessoa.

Eu levantei a minha cabeça e consegui avistar Fox, o rapaz do distrito 3. Perto dele havia alguns animais abatidos. Vi algumas armadilhas bem interessantes. Elas usavam fios elétricos e outros dispositivos do tipo, se era necessário eletricidade para ativa-as eu, não sei. Mas elas pareciam bem eficientes. A quantidade de presas a volta de Fox mostrava isso.

Fox trabalhava concentrado em alguma coisa, era  algo pequeno e eu não consegui ver o que era da distância em que eu estava. Ele estava bem distraído e vi Tammy se mexer.  Ela se arrastou com todo cuidado na direção dele.

Pegou um animal e voltava ao seu esconderijo.  Eu acredito que ela conseguiria sair sem ser percebida, mas houve um barulho na árvore acima de Fox. Algum pássaro ou esquilo devia estar passando no momento. Aquilo tirou a concentração dele e ele a viu. Se levantou e foi na direção da garota. Ele segurava um pedaço de madeira, provavelmente vindo de um galho.  Pensei comigo, ele não sabia o perigo que corria.

Tammy se levantou e os dois falaram alguma coisa, mas eu não consegui ouvir. Vi ele se preparando para atacar Tammy. Mas essa foi mais rápida. Tirou sua agulha e o atacou. Aquilo surpreendeu Tuly mas não a mim.

Fox estava caído no chão, parecia o fim dos acontecimentos. Em breve, ele morreria.  Tammy andou em direção aos animais que Fox abatera e houve uma explosão. Foi algo realmente impressionante.  Um braço e uma perna foram arrancados, e o corpo de Tammy foi jogado longe. Então escutei um tiro de canhão. Tammy havia morrido.

Eu e Tulip corremos em direção a Fox.  Quase não havia vida nele. Em sua mão vi um pequeno objeto redondo, era uma espécie de detonador. Então, ele que havia desencadeado aquela explosão.

Os olhos de Fox se fecharam. Ouvi outro tiro de canhão. Ele também morrera. Aquilo foi horrível.  Fox todo  ensangüentado como Jurgen e Tammy com o corpo despedaçado e espalhado pelo lugar. Parecia que tinha havido uma guerra no local. E de certa forma, houve. Tudo por causa de comida. Por causa dos jogos. Duas vidas perdida. Dois jovens brilhantes haviam morrido.

Depois de descobrir o que havia acontecido, Tulip se afastou da área. Eu não podia culpá-la. Aquilo realmente era bem pesado. Eu sabia que podia aproveitar alguma coisa. Vi uma mochila. Devia ser de Fox. Resolvi pegá-la. Olhei dentro,  tinha fios, material explosivo,  um detonador igual ao que tinha em sua mão, um canivete, dentre outras coisas. Aquilo poderia ser útil e eu resolvi pegar.  

Os animais que ele havia caçado foram  quase todos despedaçados, daria para aproveitar alguma coisa, mas  eu preferi não me aproximar de lá, tinha medo de que ainda houvesse algo para explodir.  

Um  aerodeslizador chegou e recolhia os corpos. Peguei a mão de Tulip e saímos correndo. Com a explosão e a nave,  não demoraria muito para alguém aparecer por lá. E era mais provável que fosse um dos carreiristas. E eu realmente não queria tombar com nenhum dos meus ex-aliados.

Corremos bastante, quando já estávamos longe do lugar da explosão, paramos  e comemos um pouco.  Já estava escurecendo e resolvemos procurar uma árvore para dormir.  Subimos em uma e nos preparamos. Tulip colocou a sua cabeça em meu peito. E eu a cobri.

As imagens de Fox e logo depois a de Tammy apareceram no céu.   As mortes dos dois foram chocantes, Tulip estava calada e distraída. Acho que ela não esperava se deparar com aquilo. Eu fiquei um pouco triste por ambos.  Tinha certa simpatia pelos dois. Antes de ver Tammy atacar Jurgen, eu tinha até um instinto de proteção por ela. Mas depois, aquilo foi substituído por medo e um pouco de admiração.

Havia somente 7 pessoas na arena e realmente tudo encaminhava para o fim.  Normalmente eles faziam um especial sobre os tributos quando restavam 8. Como Tammy e Fox morreram praticamente juntos. Eu pensei como isso seria feito. Falariam sobre um tributo morto ou fariam apenas dos 7 restantes? A segunda opção me pareceu mais lógica.  Em minha cabeça fui lembrando de  quem  ainda estava vivo. Eu, Tulip, Juno, Alexander, Star, Cruiser... Faltava mais alguém, quem era? Fui revisando as mortes... até que me lembrei... Era Hercules do distrito 6. Além de mim e Tulip e os carreiristas, só havia ele na arena. Aquilo me deu muito medo.  Se Hercules morresse, só restaríamos nós e os carreiristas, e eu sabia que os Gamemakers fariam de tudo para a gente se encontrar. E o jogo acabar.

Depois de algum tempo, resolvi falar com Tuly. Contei sobre a morte de Jurgen.  E por isso o meu cuidado com Tammy. Como eu imaginava, Tulip não sabia do que ela era capaz, e realmente tinha se assustado quando ela atacou Fox.  Conversamos um pouco sobre jogos, o círculo estava se fechando e o fim se aproximando.  Trocamos alguns beijos. Mas estávamos apreensivos, ambos com medo.

Acordei durante a madrugada por causa de um pesadelo. Via a morte de Fox e Tammy e depois eu e Tuly éramos atacados pelos carreiristas, até Juno tentava nos matar!  Mas aquilo não era real, Tuly estava  em meus braços e isso me acalmou. Eu e ela estávamos bem. E vivos, pelo menos por enquanto.

Quando acordei novamente, o sol já estava alto. Eu havia dormido demais. Tulip  já estava  acordada, mas ainda permanecia em meus braços e me olhava. Ela sorriu e me disse:

- Bom dia, dorminhoco.

- Bom dia... – eu sorri de volta – faz muito tempo que você acordou?

- Quase uma hora, eu acho. Você estava dormindo tão ... gostoso.  Estava tão aconchegante, preferi te deixar dormir e continuar aqui.  – ela sorriu novamente. Seu sorriso era tão bonito e me trazia uma sensação de calma, de lar.

Eu a beijei, nós descemos da árvore, comemos um pouco, trocamos outros beijos e fomos  para a nossa rotina.  Eu fui caçar e ela colher frutas e raízes.  

Eu havia acabado de acertar um bicho com minha lança quando escutei barulhos, vozes e gritos.  Um medo me percorreu. Era Tuly, só podia ser ela.  Os gritos vinham na direção em que ela estava.

Em desespero e desarmado eu saí correndo naquela direção. Quando cheguei, vi Alexander com a minha antiga lança, ele a girava como um bastão (era assim que ele usava a lança) e atacava minha Tuly.