Victor e eu estávamos sentados no sofá assistindo Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembrança enquanto minha mãe colocava o salto sentado no outro sofá.

                - Está bonita Dona Bianca.

                - Obrigada Victor – Ela disse sorrindo.

                - A senhora vai sair com as suas amigas? Bem, ir pro baile?

                - Eu iria. Hoje é Vips pras as novinhas... – Eu revirei os olhos e o Victor riu -... Mas seu pai me chamou para jantar e eu, aceitei.

                Já fazia três dias que eu mostrei a foto da Marina traindo ele e logo quando viu a foto terminou o noivado e tudo que tinha com ela. Meu pai adorava trair os outros, mas não admitia ser traído. O mais “engraçado” era que, ele traiu minha mãe com a Marina, e depois traiu Marina com a minha mãe e de qualquer modo, ele ficou com a minha mãe.

                - Perai, a senhora vai sair com ele? Depois de tudo que aconteceu?

                - Julia, ele não é mais noivo...

                - Mas mesmo ele sendo, nada impediu que vocês não se agarrassem no sofá... Só estou querendo dizer que o papai não mudou, te traiu e depois traiu a Marina. Como a senhora pode confiar nele novamente?

                - Julia, não é porque estamos saindo para jantar que iremos nos casar novamente.

                - Mas mãe...

                - Mas nada!

                - Velho, ser funkeira é uma coisa, mas ser idiota é outra. A senhora é funkeira e não idiota. Cadê seus princípios e valores? Morreram?

                - Julia, quem é você para falar em princípios e valores? – Ela perguntou furiosa.

                - Porra mãe! Eu só não quero que a senhora se magoe. É difícil compreende que te ver mal é como alguém enfiar facas no meu peito? Pela primeira vez nesse mês se valorize.

                Levantei-me furiosa e fui para o meu quarto, Victor foi atrás de mim logo em seguida. Ele entrou e trancou a porta. Sentou-se na minha cama ao meu lado e me puxou para o colo dele.

                - Ju, você pegou meio pesado.

                - Pesado? – Digo em meio das lágrimas – Sabe como é vê-la sofrer? É horrível – Enxugo as lágrimas – Eu não deveria ter acabado com aquele noivado... Não sei por que eu fiz isso... Eu sou tão idiota.

                - Você não é idiota – Ele disse acariciando meu rosto – Só quis proteger os seus pais.

                - Sou sim... Eu... Eu estou tão confusa.

                - Julia, você está me metendo em algo que seus pais deveriam resolver, não você. Seus pais já são bem grandinhos, eles sabem resolver sozinhos.

                - Mas...

                Victor me beijou me fazendo engoli as palavras e me fez sorri.

                Um funk alto começa a tocar no quarto ao lado, o quarto da minha mãe. Levantei-me com mau humor e vou até o quarto da minha mãe para pedir para ela abaixar aquela musica medonha. O quatro dela estava todo bagunçado e ele estava com os olhos todo borrado e com uma tesoura na mão, cortando fotos.

                - Você está certa... Como posso? Como ele é capaz de fazer isso comigo?

                - Mãe...?

                - Cansei de fingir ser isso. Cansei de viver pro seu pai... Você estava certa...  Eu não sou funkeira, mas eu gosto das minhas novas amigas, elas me fazem me senti bem... Contudo eu não assim.

                - Então a senhora não é mais funkeira? – Murmurei com um pingo de esperança na minha voz.

                - Acho que não...

                - Então podemos fazer compras amanhã?

                -É, acho que preciso de roupas novas – Ela disse abrindo um sorriso mostrando todos os dentes.

                Ela sorrindo me assustou um pouco, parecia o Coringa. Victor entrou no quarto e levou um susto ao ver minha mãe sorrindo, tentou ignorar a imagem medonha dela e olhou para mim.

                - É melhor eu ir – Ele murmurou.

                -Fica mais um pouquinho – Digo fazendo biquinho.

                - Pode ficar, eu já estou indo dormir... Então, faremos compras amanhã?

                - Sim.

                - Está bem então.

                Victor e eu voltamos para sala e terminamos de ver o filme e ficamos até cinco da manhã vendo mais filmes. Nós adormecemos no sofá juntinho. Victor me acordou duas da tarde. Minha mãe não estava em casa e isso me preocupou, liguei para o celular dela.

                - Mãe?

                - Julia – Ela disse cantarolando.

                - Mãe onde está?

                - Eu não aguentei esperar e... Fui fazer as compras.

                - O que? Como assim? – Disse espantada imaginando o que ela poderia ter comprado, virado ou conhecido. Mas não havia nada pior que o funk, então minha preocupação sumiu.

                - Eu fiquei ansiosa... Ah, eu já estou chegando... Com certeza você irá querer usar minhas roupas.

                - Hãn... Mãe venha logo! – Disse impaciente.

                - Estou na esquina... Vou desligar, beijos.

                - Sua mãe está bem? – Victor perguntou preocupado.

                - Acho que sim...

                Ouvi o barulho do carro dela, Victor e eu corremos para fora. Ela saiu do carro com várias sacolas de roupas. Quando vi o que estava vestido coloquei a mão na boca e quis dá um tiro na minha cabeça.

                Ela estava com uma calça verde florescente, uma camisa de I Love Happy Rock, tênis rosa florescente e um óculos vermelho.

                - Meu Deus!  - Victor exclamou segurando a risada.

                - Por que você nunca me falou do Restart filha? Vocês já ouviram falar deles? Pe Lanza é muito gostoso.         

                - Victor, por favor, me dê um tiro no cérebro.

                - Qualé, vai me dizer que não gosta do Restart?

                - Cadê sua roupa de funkeira? Vamos lá vesti e vamos para um baile funk – Digo pegando na mão dela e a puxando para dentro de casa.

                - Não posso... Vou ao show do Restart hoje – Ela disse me deixando para trás.

                - Sua mãe virou o que estou pensando?

                - Acho que sim... – Digo com lágrimas nos olhos e desejando que aquilo fosse um pesadelo cruel, mas não era. - Socorro! Minha mãe virou fã do Restart.