M a d r e p é r o l a escrita por junniexjoy


Capítulo 2
Todo Mundo Morre


Notas iniciais do capítulo

espero mesmo que gostem de lê-la tanto quanto eu gosto de escreve-la. queria muito que conhecessem um pouco mais de Alina, então explorei um pouco mais dela nele. Nesse capítulo vão existir alguns POV'S (Point Of Views = Pontos de vista).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216910/chapter/2

O ruivo foi arrastado até o palco em segundos, seu rosto estava nos telões de seu Distrito e em instantes, de toda Panem. Effie plantou uma cara feia em seu rosto e resistiu ao impulso de perguntá-lo a cor de sua tinta de cabelo. Perguntaria a ele mais tarde, não queria que o ruivo do Distrito 12 fosse desmascarado.

Ela deu um último sorriso forçado, dividida entre a simpatia e os bons modos e disse até que sua voz ecoasse no coração dos tributos: “Distrito 12, que a sorte sempre esteja a seu favor”.  E se retirou do palco enquanto Alina e Rony eram tirados de seu estado de choque.

“Onde estava Haymitch?!”, ela perguntou ao prefeito – o pai de uma aluna de sua classe, ele acredita que o nome dela seja Madge –.

Ele apurou a garganta, com os olhos esbugalhados e revelou em voz baixa: “Desmaiou antes que eu pudesse evitar”.  Aposto que bêbado demais para sequer se dar conta da própria existência, pensou Rony; e pelo canto do olho viu Alina concordar mentalmente. E ambos sabiam que era verdade.

Effie fez uma cara de reprovação e nojo enquanto via o vomito que se espalhava no chão próximo a eles. “Eu tentei trazê-lo”, respondeu o prefeito a pergunta nunca feita pela mulher da Capital. E então virou-se para os meninos atrás dela e murmurou com a voz mais doce que podia colocar em si mesma: “Vão e despeçam-se de suas famílias e amigos. Vocês têm cinco minutos”, disse antes de mexer as pernas finas e caminha para a fora do ambiente. Deixando o prefeito, Rony, Alina e os pacificadores em paz – e ao mesmo tempo, em conflito –.

Rony trocou olhares com o tributo assim que o prefeito também os deixou sozinhos, sem mais palavras. De alguma forma, Lina seria sozinha se não fosse por Molly e Arthur. Tão sozinha quanto Harry, talvez. Com esse pensamento, tomou a menina nos braços num abraço forte. Ele sabia que aquele abraço a deixaria quente da mesma forma que o deixa quente. Ela tinha cheiro de casa. E imaginou quantos dias passaria daquele jeito; apenas envolto no cheiro de casa, literalmente agarrado a sua última lembrança.

Naquele momento, uma promessa foi feita. Uma promessa que talvez fosse absurdamente trágica para alguns, e aliviada para outros. McGravor irá voltar para o Distrito 12 sã e salva, inteira, se assim ele prefere. Levar Casa para casa. E vê-la colocar uma guirlanda de flores em seu túmulo ao lado de Gina, afagando os cabelos dela. A visão não lhe era agradável, mas o dava uma paz interior. Porque, de jeito nenhum, gostaria de cravar uma faca no peito de Alina. Não. Alina não. Ela era muito pequena e pura para isso.

Os pacificadores os separaram com um súbito bater de palmas, e arrastaram ambos para seus devidos cantos, esperando que assim seria melhor que duas tragédias juntas.

POV ALINA

Mais uma vez, a casa estava vazia. Não que ela esperasse que nela tivesse vida humana, ou ao menos saudável, até mesmo um resquício de esperança onde pudesse agarrar-se. Mas ela sentiu o coração pesado. Os pacificadores arrastaram-na para o último e único quarto da casa, nos fundos. Eles pararam-na frente à porta. O girar daquela maçaneta só lhe foi tão doloroso uma única vez.

Flashes do ambiente vazio passam por sua cabeça. As paredes manchadas, a janela de madeira podre, um quarto vazio. Um grito, um choro. Seria mais assustador se não soubesse que ambos pertenciam a ela.

Limpou sua garganta e empurrou a porta.

Ao contrário do que aconteceu naquela noite, tinha alguém lá dentro. Mal sabia ela se preferia que mais uma vez, isso lhe fosse negado... Mas sabia que estava mentindo para si mesma.

Então deu um pequeno sorriso murcho para o pequeno ser enrugado que se estendia no chão sujo. Em baixo dele, um lençol que um dia fora branco, e agora não passa de trapos. Continuava sendo melhor que nada.

“Oi, vovô”, ela sussurrou com a boca seca e correu para seus braços fracos.

“Oi, criança”, respondeu murmurante. Por um momento ele tentou levantar-se, mas Alina não permitiu. Ela nunca permitia, e ele sempre aceitava essas condições. Fahrel perdera ambas as pernas num acidente das minas, além de perder o filho. Ele passou as mãos velhas nos espessos cabelos sedosos da neta e estreitou os olhos para focalizar a figura branca que estava em pé em sua porta. “Pacificadores...”, sussurrou assimilando. Arregalou os olhos e perdeu a voz por um segundo, a pequena menina encolheu-se ao seu lado e deixou escapar um gemido ou dois, ao notar a expressão do avô. “Está tudo bem, criança...”, ele repetiu com a voz fraca, “todo mundo morre”.

“Vamos!”, o pacificador mais alto exclamou quando viu que não era mais hora. Alina separou-se do avô e olhou em seus olhos oscilantes.

“Eu não sei se volto...”, começou ela, depois que ambos os impacientes manifestaram-se. “Mas eu cuido de você, ok?”. Eles já estavam arrastando-a, ela pensou que fosse desabar ali mesmo em lágrimas. As primeiras e últimas lágrimas que o avô veria escorrendo de seu rosto. Mas então uma resposta seca de tão desesperadamente atordoada lhe deu esperanças de ficar estável por um segundo. Ela avistou Rony ao longe, os olhos, de fato, vermelhos da despedida, mas ainda muito perturbada para prestar atenção ou sequer perguntá-lo se estava com condições de continuar. Não que importasse para a Capital ou para Effie Trinket, eles não a conheciam ainda, mas realmente a resposta do velhinho estirado no chão de seu úmido e pequeno quarto a chamou para mais e mais fundo na própria mente.

Ele lhe disse: “Ok”. Isso era tudo.

POV RON

“Venham, temos meia hora para chegar à estação”, murmurou Effie impacientemente. “Onde está Haymitch?!”, pergunta mais para si mesma do que para alguém a sua volta.

“Estou aqui, se me permite esse privilégio”, respondeu um homem cambaleante que vinha na direção deles. Effie fez um pequeno “oh” expressando surpresa e repulsa ao mesmo tempo. O homem fedia a conhaque barato, uísque velho e parece que os banhos que tem tomado não têm sido num chuveiro. O aroma dele misturou-se a leve essência de baunilha que emanava da mulher alaranjada ao seu lado. Eram incontáveis as formas em que eram diferentes.

“Olhe a forma com que fala!”, exclama ela. “Não estamos no bar em que você vive”. Rony imediatamente balançou a cabeça em concordância com suas memórias. Lembra-se de ter visto Haymitch uma única ou dupla vez no Prego, além das vezes que subira no palco. Certamente, o Prego não é o tipo de bar que Trinket está se referindo... Mas para um homem cujo fedor se cheira a mais de dez metros de distancia, está de bom tamanho.

Haymitch dá um baixo ganido e enfim olha para as pessoas que estão aos seus pés. Examinou duas vezes o ruivo e suas feições antes de falar: “Você deve ser o garoto Weasley”, Rony engoliu em seco e assentiu com a cabeça. “Seus irmãos tem obrigado a Grasy Sae me dar comida...”, pensou alto, mais com ele próprio e depois acrescentou: “Espero que não seja como seus irmãos, eles são um pé no saco”.

Rony realmente não queria ser grosso, mas respondeu com a voz mais seca que não pode conter. “Eu não me preocupo com sua bebedeira, só ajude a Alina ficar viva na Arena, e então estamos bem”. O ruivo viu pelo canto do olho a forma com que a amiga corou levemente e deixou os longos cabelos castanhos cobrirem-lhe o rosto ao abaixar a cabeça. Haymitch virou-se para ela subitamente e então encarou Rony mais uma vez.

“Então sua jogada é fazê-la ficar viva?”, perguntou ele sem preocupar-se com a aspereza de sua voz. O outro não precisou responder, apenas estreitou os olhos. “Boa sorte!”, desejou enfim. O sarcasmo cruel que saíra de suas palavras deixara Rony com as orelhas vermelhas mais uma vez. Haymitch deu uma risadinha gutural ao perceber isso e então se virou para frente, sem ao menos olhar de esguelha a menina indefesa que nada lhe disse. Na verdade, ele não queria olhar. Porque ele sabia que ela seria a menina que assombraria seus pesadelos se ambos os homens falhassem. Não ter uma visão detalhada de seu rosto poderia ser desastroso mais tarde, mesmo que nada lhe acontecesse.

Mal sabia o quanto estava certo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

reviews? (:



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "M a d r e p é r o l a" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.