Atormentada, Lorrayne caminhava de um lado para outro. Continuava a tirar suas conclusões:
_ Ele não gosta de mim. Eu continuo a ser sua priminha. Pouco me importa! Nem sempre fui correspondida! Mas ele, eu amo. Eu sei que amo. É muito forte. E o que eu vou fazer agora? Como vou me comportar? Talvez eu consiga chegar nele e dizer: "Olha só, eu amo você!" E ele talvez fosse simpático: "Sabe o que é? Você é como uma irmã..."...
As conclusões da garota atravessaram a noite. Lorrayne só se calou quando foi vencida pelo cansaço e acabou dormindo no chão, apoiada na poltrona. E acordou poucas horas depois assustada com Martha chamando:
_ Está na hora! Vai se atrasar se não levantar logo.
Lorrayne levantou-se num salto e correu a se aprontar. Sua única alegria era ir pra escola. Pegou seu material, abriu a porta e pensou “Parece que o destino está tirando com a minha cara!”. Eduardo estava de saída, e cumprimentou:
_ Bom dia.
Desconcertada, Lorrayne deixou seu material cair. “Saco! Isso tinha que acontecer agora?” Permaneceu parada como estava. Eduardo perguntou:
_ Você não está esperando que eu pegue, está?
_ Não.
_ E então?
_ Estou a fim de observar meus livros sob outro ângulo.
_ Estou vendo que hoje você não está muito feliz.
_ E não estou mesmo. Será que você se importa de ir pra escola?
_ Por quê? Estou incomodando?
_ Está. Tchau.
_ E se eu não for?
_ Eu também não vou.
_ Então, além de você não estar muito feliz hoje, me escolheu para ser seu alvo. Certo. Tô indo.
Aliviada, Lorrayne juntou seu material e jogou dentro da mochila. Desceu para o café. Martha reclamou:
_ Está atrasada.
_ Eu sei.
Layane perguntou:
_ Parece que você não teve uma boa noite de sono novamente. O que aconteceu?
_ Me esquece.
_ Lorrayne! Sua irmã só está querendo te ajudar! Vai implicar com ela também?
_ Tive alguns pesadelos, irmãzinha querida do fundo do meu coração.
_ Pare imediatamente com essa petulância! – Exigiu Martha.
_ Quer saber? Tô sem fome. Vou esperar lá na sala.
Lorrayne deixou a mesa e esperou todos terminarem a refeição. Na escola cumprimentou seus amigos vagamente. As primeiras aulas, de língua e literatura, Lorrayne assistiu confortada, e também não teve problemas na de biologia, até o professor sugerir:
_ Bom, já como estamos falando disso, nossas colegas Lorrayne e Yshara podiam trazer o trabalho que fizeram juntas há pouco tempo sobre tóxicos, não é mesmo garotas?
Lorrayne e Yshara se entreolharam. Lorrayne estava perdida entre as várias respostas que podia dar, mas Yshara se adiantou:
_ Professor, nós adoraríamos, se não fosse o fato desse trabalho estar viajando por várias cidades...
_ Sério? É uma pena. Cairia bem como uma luva... Mas sem problemas! Nos avisem quando ele voltar para cá!
_ Avisaremos.
Lorrayne suspirou aliviada. Durante o intervalo, puxou Yshara para o banheiro, onde poderiam conversar sem receio:
_ Yshara, minha amiga! Mais uma vez, você tinha razão!
_ Sobre o quê?
_ Estou mesmo gostando do Eduardo. Muito. Eu amo aquele cara de verdade!
_ Eu sabia que você ia acabar assumindo.
_ Mas eu não estava escondendo. Eu só não queria que acontecesse e acabei acreditando que não acontecia... Mas acontece. E estou perdida. O que eu faço agora?
_ Você devia abrir o jogo com ele. Mesmo que ele não queira, vocês têm que decidir o que fazer, como se comportarem um com outro...
_ Não! Jamais! Não vou deixar ele se vangloriando por isso! Não mesmo!
_ Ele não vai se vangloriar. Ele vai entender.
_ E vai achar que estarei aos pés dele pra atender seus desejos.
_ Ele não vai pensar isso!
_ Tem outro problema.
_ Nunca vi uma pessoa gostar tanto de problemas!
_ Eu não posso ir morar com a minha mãe.
_ O que você está dizendo? Depois de tudo que você fez, você tem mais é que ir morar com a Catharina! Você está ficando louca?
_ Não posso deixar o Eduardo sozinho.
_ Leva ele junto!
_ Impossível! Já está difícil minha mãe tirar só eu! Como ele vai tirar o Eduardo? Por que a deixariam tirar o Eduardo da Martha que já cuida dele há dez anos? O que ela vai alegar? Quem vai acreditar? Quem vai provar?
_ Lorrayne, se a Catharina vai te tirar de lá, acredito que ela também dê um jeito de tirar o Eduardo, afinal ela me pareceu uma pessoa muito boa, e que se preocupa com o próximo.
_ Acho que ela preferiria o Renan. Ele é que é o verdadeiro sobrinho dela...
_ A Catharina pensa com o coração. Confia nela.
_ Eu confio. Falando em amor... Yshara, eu acho que já estava na hora de você começar a investir no Marco, antes de perder pra Caroline.
_ Não tenho chance contra ela. Melhor deixar isso de lado.
_ Você tem um amor próprio de dar inveja...
_ É a mais pura verdade. Deixa que ele escolha.
_ Acontece que a Caroline tem uma vantagem: o Marco sabe que ela está afim.
_ Nesse momento, só tenho uma preocupação: me dar bem na escola. Sabia que eu pedi pra minha mãe me colocar novamente na minha antiga escola? É. E eu tenho que sair daqui mostrando que a escola pública me deu muito mais do que eles esperavam!
_ Fico feliz por você. Mas acho que você também devia ter outras preocupações.
_ Discordo.
_ Mas devia.
Yshara continuou a discordar da amiga, até terem novamente de voltar para as aulas.
Ao fim da aula, Lorrayne foi para o carro acompanhada de Layane e Renan. Martha estava muito quieta. Não atendeu aos pedidos de Layane. Ficou para o almoço. Mas não disse uma palavra. Layane cansou-se e também se aquietou. Ao terminar sua refeição, Martha disse:
_ Tenho uma notícia. – voltou-se para Renan e Eduardo – É a respeito de vocês dois, mas acho que todos aqui devem saber. Somos uma família.
Apreensivos, os dois garotos apuraram a atenção:
_ Bom, tem alguém que está na cidade, e que acho que vocês gostariam de saber. É a Diana.
Layane arregalou os olhos. Renan continuou estático. Eduardo perguntou:
_ E ela? Gostaria de saber da gente?
_ Creio que sim. Ela me telefonou para avisar que estava aqui.
_ E o que mais ela falou? – perguntou Renan.
_ Nada. Eu perguntei como ela estava e o que queria. Ela disse que estava bem e desligou.
_ Então ela não quer ver a gente. – concluiu Renan decepcionado.
_ Pode ser que ela ligue novamente. Talvez ela estivesse com pressa...
_ Não. Ela passou esse tempo todo sem nos ver. Ela com certeza está melhor assim. – dizendo isso, Renan deixou a mesa.
Eduardo seguiu o exemplo do irmão. Lorrayne continuou sua refeição. Assim que terminou, foi até o quarto de Renan e bateu.
_ Quem é?
_ A Lorrayne.
O garoto abriu a porta e disse:
_ Eu não preciso que você me console.
_ Não vim te consolar. Jamais faria isso.
_ Ótimo.
Renan tentou fechar a porta, mas Lorrayne o impediu e entrou no quarto. Disse:
_ Só queria que você refletisse em uma coisa. Eu também morei toda minha vida com minha tia. E quando decidi vir morar com a minha mãe, minha vida desmoronou. Eu achava que o certo era eu morar com a minha mãe biológica, mas me enganei. Eu não sabia que o que contava era o amor, o carinho. Então, se eu fosse você, pensaria bem nos sentimentos que você tem por cada uma, pra depois decidir por quem você deve sofrer.
_ É só isso?
_ Eu também queria saber se a Layane tem algum outro plano pra me matar. Zoeira minha. Tchau.
Lorrayne deixou o quarto. E surpreendeu-se ao dar de cara com Layane saindo de seu quarto. Indagou:
_ Layane? O que estava fazendo no meu quarto?
_ Procurando você. Acontece que eu tinha pegado seus sais de banho emprestado, mas já coloquei no lugar.
_ Mesmo que isso fosse verdade, você podia ter pedido antes.
_ Ora Lorrayne! Isso é que é a fraternidade! Ah, os sais são deliciosos! Aproveite!
Layane deixou a irmã. Lorrayne ficou segurando a maçaneta do quarto, pensativa. “O que Layane está aprontando agora?” Perguntou-se. Entrou. Observou os arredores do quarto. Tudo parecia normal. Revistou a cama, os móveis. Estava tudo em ordem.
Talvez o problema fossem os sais. Correu até o banheiro. Olhou no armário, no espelho, estava tudo certo, mas ainda não havia encontrado os sais. Olhou em volta e o encontrou.
_ Que saco! Além de a Layane pegar sem pedir coloca em lugar errado!
Lorrayne caminhou até a janela e se debruçou sobre a banheira, mas não alcançou. Pisou com força dentro da banheira e escorregou. Bateu com a cabeça na beirada da banheira e caiu desacordada.
Poucos minutos depois, Layane entrava no banheiro. Contemplou a irmã desmaiada dentro da banheira. Um filete de sangue corria de uma de suas sobrancelhas. Layane olhou mais de perto. Lorrayne respirava, ainda estava viva. A garota vestiu uma de borracha e sussurrou para a irmã:
_ É Lorrayne! Parece que não saiu como eu imaginava, mas tudo bem. Ainda tenho recursos...
Layane abriu a torneira da banheira. Pensou consigo mesma:
_ Isso tem que parecer um acidente.
Pegou o vidro de xampu que havia guardado no armário, destampou-o, e jogou dentro da banheira.
_ Foi bom conviver com você, Lorrayne. Bom, na verdade, não foi tão bom assim, mas você entende, não é mesmo? Tenho que ir, para que você descanse eternamente. Adeusinho!
Animada, Layane deixou o quarto. Encontrou Renan no corredor que perguntou:
_ A Lorrayne está no quarto dela?
_ Ela não quer ver ninguém.
_ Eu queria falar com ela.
_ Ei! Que isso? Desde quando você tem assunto com essa aí?
_ Será que você vai me proibir de falar com ela?
_ Não. Ela mesma vai. Ela não quer ver ninguém. Me expulsou do quarto.
_ Era de se esperar.
_ Qual é a sua, heim? Só porque sua mãe não quer você? Não tenho culpa!
_ Você está sendo baixa.
_ E você está sendo um vira casaca.
Renan ignorou o comentário e continuou. Layane saltou na sua frente e disse:
_ Se você for, vai se ver comigo!
_ Ver o quê? – Renan desviou-se e continuou.
Bateu na porta. Nada. Layane cruzou os braços e disse:
_ Viu? Eu falei.
_ Lorrayne? Você está aí? O que você fez, Layane?
_ Nada. Você sabe que a Lorrayne é mesmo muito anti-social!
Layane segurou a maçaneta antes que Renan pudesse abri-la. Disse:
_ Se você entrar aí, vai sair com o rabo entre as pernas, e vai se arrepender amargamente!
_ Você fez alguma coisa, não fez?
_ E se fiz? Qual o problema? Você nunca ligou!
_ As coisas mudam!
Renan afastou Layane da porta e entrou. Olhou pelo quarto e tudo parecia em ordem. Layane postou-se na frente da porta do banheiro e disse:
_ Você não vai querer entrar, vai?
Continua