Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 34
XXXIV - Admitindo a verdade




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Os três jovens chegaram à escola pouco antes da última aula começar. Sentaram-se em um banco, calados, sem assunto. O primeiro a quebrar o silêncio, foi Marco Aurélio, ao se despedir:

_ Bom meninas, vou nessa. Em casa eu falo pra minha mãe que não houve a última aula ou qualquer coisa. Certo?

_ Hum-hum.

_ Certo.

_ Tchau. Qualquer novidade, me liguem.

Lorrayne e Yshara observaram o garoto se afastar. Lorrayne voltou-se para Yshara e disse:

_ Vocês formariam mesmo um par perfeito.

_ Sei.

_ Sério mesmo. Vocês se merecem.

_ Mas você foi quem ficou com ele.

_ Você nunca vai me perdoar? Não tem nem o que perdoar, foi por acaso. Pra mim não significou nada.

_ Me desculpa. Você é que devia me perdoar, por eu estar sendo tão infantil.

_ Não. Tudo bem. Eu tenho mesmo que entender seus motivos. Falando em romance, tenho uma novidade daquelas pra te contar. Só não contei antes porque eu não queria dizer na frente do Marco. Ele podia pensar mal de mim.

_ O que você fez?

_ Sabe, na quinta-feira que eu não vim pra escola?

_ Que tem?

_ Pois é. O Eduardo estava me dando uma força pra tocar uma música no violão, e, meu, no embalo, a gente acabou se beijando.

_ Lorrayne do céu! Você ficou com o Eduardo? Eu sabia que rolava mesmo uma química! Eu sabia!

_ Não rolava e nem rola química nem nada! Foi como o Marco. Coisa de momento.

_ Sei! Mas, ele não é seu primo?

_ Não. Ele não é meu primo. Ele me contou um pouco antes da gente se beijar. Mas mesmo que ele fosse meu primo teria acontecido. Quando é pra acontecer, acontece.

_ Que ótimo, então agora nada mais separa vocês!

_ Separa sim! Nós não queremos!

_ Oras! E por quê?

_ Porque... Porque... Porque nós temos que nos manter concentrados pra continuarmos juntos pra nos livrarmos da Layane e do Renan, e outra, nós moramos na mesma casa! Nunca ia dar certo!

_ Errr... Que desculpas mais furadas! E olha só, melhor ainda que vocês moram juntos! Tem coisa melhor que ficar pertinho da pessoa que você gosta?

_ Sabe Yshara, acho que esse Marco está afetando a sua mente...

_ Não, minha cara. Você sabe que eu tenho razão. Vai me dizer que você não gosta do Eduardo? Faça-me o favor! Vocês passaram esse tempo todo se protegendo, se salvando um ao outro, lutam pela mesma causa... Vai me dizer que você não sente nadinha de diferente por ele?

Lorrayne ia responder um retumbante NÃO, mas parou pra pensar. Não estaria realmente atraída por Eduardo? Mais agora que não estavam ligados por laços sangüíneos. Afinal, o beijo do Marco havia deixado-a perturbada, mas não tanto quanto o beijo do Eduardo. E também, quando o garoto dissera que aquele beijo não era nada, além de um grande alívio, uma pontinha de desgosto começou a surgir...

_ ... Talvez tenha sido pelo fato de eu levar uma bota... – pensou Lorrayne em voz alta.

_ Tá vendo.

_ Tá vendo o quê?

_ Você estava pensando. Isso significa que você está na dele, garota.

_ Não estou não.

_ Por que você quer esconder de mim? Sou sua amiga, lembra?

_ Porque eu realmente não gosto dele. Ele é meu amigo. E eu sou amiga dele.

_ Tudo bem. Acredito em você, afinal, você não mentiria pra mim, mentiria?

_ Você sabe que não.

_ E pra você mesma?

_ Yshara, que papo sem graça!

_ Certo, certo. Não está mais aqui quem falou!

E a pedido de Lorrayne, voltaram a falar sobre futilidades, segundo Yshara. E pouco depois, Layane as encontrou e em tom de reprovação, perguntou:

_ O que vocês duas estão fazendo fora da classe?

_ O mesmo que você, maninha. Bom, Yshara, vou te poupar da presença da minha irmã, já vou indo. Até amanhã.

_ Até...

Lorrayne acompanhou a irmã até o carro da mãe. Entrou e ficou quieta, pensativa. Parecia que as coisas começariam a melhorar... Confiava em Catharina, e ela com certeza a livraria daquela fria...

_ Heim, Lorrayne? – perguntava Martha não muito feliz.

_ Hã? O que foi? – perguntou Lorrayne voltando de seus devaneios.

_ O que você fazia fora da aula?

_ Nada... Layane também estava fora da aula...

_ Sua irmã estava fazendo prova! E você? Também estava fazendo prova?

_ Coincidentemente sim.

_ Lorrayne, eu disse que se você saísse da linha...

_ A professora dispensou mais cedo.

_ Então aprenda a responder sua mãe direito! Você está me saindo uma pessoa muito mal educada. Foi com a Catharina que você aprendeu isso?

_ Não. Minha mãe só me ensinou o que há de bom para se aprender. Isso eu aprendi com minha nova família.

_ Mas o que você está dizendo?

_ Que é só esse tipo de coisa que vocês me passam. Ódio, rancor, impaciência...

_ Não sei mais o que fazer com você, menina!

_ Me manda embora. Pra qualquer lugar. Um convento, um orfanato. Até pra rua. Eu não me importo, sério.

_ Lorrayne... Não vou mais discutir isso com você. Você é muito malcriada para que possamos ter uma conversa civilizada.

_ Quando você encheu minha cabeça e me tirou da casa da Catharina, eu era um amor, você gostava muito de mim...

_ Eu gosto de você, amo muito. Mas você já não é mais a mesma pessoa.

Layane lamentou quando Renan entrou no carro, interrompendo a discussão. Martha mais uma vez não ficou para o almoço. E durante a refeição, Layane não perdeu a oportunidade de expor sua opinião:

_ Você sabe muito bem que a mãe não almoçou em casa por sua causa, Lorrayne.

_ É? Pouco me importa.

_ Devia se importar. Ela é minha mãe e eu a quero aqui. Ela está se afastando de mim por sua culpa.

_ Problema seu.

_ E seu também! Você devia ter um pouco mais de consideração! Afinal, ela te tirou daquela vida de miséria que você tinha com a Catharina!

_ Eu não achava uma vida de miséria, mas se você acha... Pelo menos, eu não precisava drogar ela pra que ela gostasse de mim e acreditasse na minha palavra.

Enfurecida, Layane levantou-se e atirou o guardanapo sobre a mesa. Lorrayne levantou o olhar para a irmã e perguntou:

_ Vai me bater? Ou me matar?

Layane ia investir pra cima da irmã, quando Eduardo perguntou:

_ Layane, você não tem um curso de espanhol, não?

_ Lorrayne, não preciso fazer isso. Você vai se arrepender sem eu precisar baixar meu nível.

_ Imagino. Tchau, Layane, você vai se atrasar.

Irritada, Layane deixou a mesa. Lorrayne aproveitou a ausência da irmã, e perguntou a Renan:

_ E você, Renan? Vai ficar pra sempre servindo ela?

_ Não estou servindo ninguém.

_ Quando te conheci, pensei que fosse gente fina...

_ Eu pensei o mesmo de você... Bom, eu também vou me atrasar. Tchau pra quem fica.

Renan também deixou a mesa. E Lorrayne seguiu seu exemplo. Foi para seu quarto. Pegou seu livro de história e o folheou, por não ter o que fazer.

Depois do jantar, Lorrayne voltou a refugiar-se em seu quarto. Eduardo bateu na porta. Lorrayne abriu-a. Ainda encarando o garoto, cumprimentou:

_ Oi.

_ Oi.

_ O que você quer?

_ Qual o problema com você?

_ Não, qual é o problema com você!

_ Não estou com problema algum, já você...

_ O que eu tenho?

_ Você está sem graça comigo.

_ Não estou sem graça.

_ Parece.

_ Aparências enganam.

_ Beleza. Então eu vou para o meu quarto, e continuar a pensar que você está sem graça comigo.

Lorrayne afastou-se da porta, dando passagem para o garoto. Sentou-se na cama, e fez sinal para que o garoto sentasse em uma das poltronas. Disse:

_ Hoje não assisti a nenhuma aula. Fui ver minha mãe.

_ Você foi até a casa da Catharina? – perguntou Eduardo surpreso.

_ Fui. Com a Yshara e com o Marco.

_ E então? O que conseguiu?

_ Ela me disse que ia fazer o possível pra que eu volte a morar com ela. As coisas também estão mais complicadas porque a Martha acusou minha mãe de perseguição e coisa e tal... Mas eu confio na Catharina. Ela vai conseguir.

_ Boa sorte.

_ Vou mesmo precisar.

E a quietude quebrou o diálogo. Após alguns momentos, Eduardo reclamou:

_ Você vai continuar assim por muito tempo?

_ Assim como?

_ Assim. Como está.

_ Como estou?

_ Não sei. Mas não está normal. Em seu estado normal você estaria falando qualquer coisa sem sentido só para fazer barulho.

_ Só estou sem assunto. Você também não está falando muito.

_ Nunca falei muito. Eu sempre ouvi muito, lembra? Você falava e eu ouvia. Você falava e eu respondia. Essa era a nossa conversa.

_ Está me dizendo que eu te oprimia durante nossos papos?

_ Não. Só estou dizendo que você falava mais que eu, e agora estou falando mais que você.

_ As coisas mudam.

_ E eu não me adapto muito bem a novas situações.

_ Mas acaba se adaptando.

_ Nem sempre.

_ ?

_ Até hoje não me adaptei a essa casa.

_ Normal. Eu também não.

_ Certo então.

Mais alguns instantes se passaram em silêncio. Eduardo levantou-se e disse:

_ Boa noite.

_ Boa noite.

Saiu do quarto da garota. Lorrayne fechou a porta e pegou seu diário:

Diário:

Você já está a par das barbaridades que andam acontecendo comigo. Mas uma coisa boa aconteceu nesse meio: hoje consegui ver a minha mãe Catharina! Ela me prometeu que me tiraria daqui o mais rápido possível. E eu acredito nela! Mal vejo a hora de sair daqui! Eu sei que fui eu quem escolheu essa vida. Mas eu deixei a minha ambição falar mais alto. Tá certo que eu estava magoada com minha mãe Catharina, mas eu só vim pra cá, pois fiquei feliz em ter coisas que todos sempre sonham ter... Eu imaginei que Layane fosse aquela pessoa boa que conheci, mas me enganei, e isso fez minha da minha vida um horror.

Mas sei que logo vou sair daqui. Que logo vou estar com a minha verdadeira mãe.

A garota parou de escrever. Não estava sentindo tanta alegria, tanta emoção como vinha sentindo antes. Uma insatisfação crescia em seu peito, e começava a transformar-se em tristeza.

Lorrayne voltaria a morar com Catharina. Deixaria aquela casa. Deixaria Martha. Deixaria Layane. Deixaria Renan. Mas também deixaria Eduardo.

“Não, não significa que eu tenha grandes sentimentos pelo garoto! Acontece que é muito triste abandonar qualquer ser vivo nessa casa!”

Tirei uma conclusão agora: se eu for embora, o Eduardo vai estar sozinho na mão da Layane, e ela não vai perdoar. Vou me sentir culpada. Porque a Layane vai descontar nele todo ódio de mim!

Teve um dia aí que a gente se beijou, mas foi mera casualidade, e nós dois entendemos isso. Então isso me abriu os olhos. Isso aconteceu porque nós estamos muito ligados, e eu detestaria pensar só em mim, e esquecer toda a ajuda que ele já me deu.

Na verdade isso está acontecendo comigo porque eu o amo. Eu o amo como nunca amei ninguém.

Lorrayne fechou o diário com agressividade. Jogou a caneta para longe.

_ Droga! É a mais pura verdade! O que eu posso fazer? Eu sei! Eu sempre soube, mas estava escondendo! Por quê? Porque eu não queria que acontecesse! Eu não quero que aconteça! Mas aconteceu! E agora? E agora?! O que eu vou fazer? Eu não posso sair daqui sem ele! Mas que droga!

Continua


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