Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 10
X - Abrindo o jogo




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A garota pareceu voltar à realidade e disse:

_ Agora não. Depois da aula.

Muito ansiosas, ambas saíram.

As três primeiras aulas de Lorrayne foram suas preferidas. Uma de literatura e outra de língua portuguesa com a professora Camila, e outra de Biologia com o professor Marcos. O professor até fez algumas perguntas para Lorrayne durante a aula, que a deixaram embaraçada na frente de Caroline:

_ E você, Lorrayne? Já está mais enturmada?

Nesse instante, Lorrayne era o centro das atenções. Corada, respondeu:

_ Ah... Está melhor... Obrigada, professor...

Ela ainda pôde ouvir os risos abafados de Caroline e uma perguntinha:

_ Não é melhor chamar a mamãe para fazer companhia para a criança?

Ignorando os maldosos comentários, Lorrayne continuou a assistir à aula normalmente. O sinal do intervalo tocou. Lorrayne estava desanimada. Todos saíam enquanto ela ainda arrumava o material. Alguém parou em sua mesa. Qual não foi sua surpresa ao reconhecer Marco Aurélio. Perguntou:

_ E agora? O que você quer? Veio me pedir para responder algum professor?

_ Você está sempre assim, na defensiva?

_ Seria possível de outra maneira?

_ Não entendi.

_ É incrível como pessoas que estudam em colégios particulares recebem tantos méritos, se não conseguem entender um mero comentário irônico!

_ Já entendi seu jogo. Sem problemas. Não me importo com pessoas difíceis...

_ Fico muito feliz, afinal, não queria te perder... Se toca né!

Lorrayne jogou a mochila nas costas e desceu as escadas, com o garoto em seus calcanhares. Ele falava sem parar, enquanto Lorrayne andava por todas as partes do colégio na esperança de encontrar algum amigo do garoto que o parasse para uma longa conversa.

_ ... Mas então, eu estudava a noite, e só resolvi mudar para a parte da manhã para ajudar meu pai na parte da tarde, mas eu preferia a noite...

_ Olha, Marcos...

_ Marco, sem s.

_ Certo, então, Marco sem s, seus problemas são realmente tristes, mas eu não sou a pessoa a quem você deve recorrer, certo?

_ Ah, claro! Então falemos dos seus... Olha só quem vem lá, não é sua amiga Yshara?

O garoto acenou para Yshara que se juntou aos dois. Cumprimentou Marco Aurélio, e depois Lorrayne. Disse:

_ Já vou indo...

Marco perguntou:

_ Para onde?

_ Sei lá... Andar...

Cansada daquela situação, Lorrayne falou:

_ Yshara, não precisa sair por minha causa. Eu saio. Tenho mesmo que falar com alguém. Tchau para vocês.

Marco Aurélio continuou a seguir Lorrayne, e dessa vez carregou Yshara, que insistia em não ir.

Durante o intervalo, Lorrayne não encontrou quem procurava. Layane ou Renan. Vencida pelo cansaço, parou e ficou a ouvir o papo de Marco Aurélio e Yshara. As próximas aulas, de matemática e física, foram numa boa. A de educação física era a mais dolorida. O professor passou um exercício em dupla, Marco Aurélio se ofereceu para fazer com Lorrayne, mas logo foi arrastado por Caroline, que já o conhecia há algum tempo atrás. Só sobraram Lorrayne e Yshara, que ainda perguntou se Lorrayne gostaria de fazer o exercício com ela.

Lorrayne até que achou a aula engraçada. Ela e Yshara tomaram uns tombos e deram muita risada.

O fim da aula chegou e Lorrayne sentiu aquele frio na barriga. Depois de Yshara e Marco Aurélio se despedirem dela caminhou lentamente até a saída, onde Catharina já a esperava.

Entrou no carro silenciosa. Depois de dar a partida, Catharina perguntou:

_ Quer conversar agora?

_ Não.

_ Certo. Conversamos quando eu voltar.

Catharina deixou Lorrayne em casa. A garota estava muito ansiosa. Na verdade não sabia nem o que dizer. Quando menos esperava, Catharina já estava de volta:

_ Olá querida. Deixe-me só trocar de roupa, e logo conversamos.

Lorrayne sentou-se no sofá, e seu olhar se perdeu. Catharina se trocou e voltou à sala. Sentou-se na outra extremidade do sofá, e perguntou:

_ E então? O que você tem para me dizer?

_ Não tenho nada para dizer. Somente perguntas. Que agora quero respostas.

_ Certo...

_ Não agüento mais guardar isso. Ontem aconteceu algo que não me deixa mais calada.

_ Lorrayne, o que você tem, querida?

Lorrayne levantou-se, e colocou-se na frente de Catharina, para olhar fundo nos seus olhos. Tomou fôlego e perguntou:

_ Quem é minha mãe, Catharina?

_ O quê?! – Catharina também se levantou.

Andou pela sala, colocou as mãos na cintura e perguntou:

_ De onde você tirou isso?

_ Não me venha com essa! Tirei isso, daqui de casa, dali daquela cozinha, no ano passado, quando você e Suzana pensavam que eu não estava em casa, e decidiam meu futuro!

_ Lorrayne, Suzana é só uma amiga...

_ Ela é minha mãe? Ela é a Martha, minha verdadeira mãe, não é?

Catharina começou a soluçar. Lamentou:

_ Por que ela fez isso? Por quê? Ela me prometeu que não faria nada!

_ Ela não fez nada! Então ela é minha mãe, não é? É ela? Responde!!!

_ Lorrayne, eu te amo mais que a uma filha!

Lágrimas também começaram a correr pelo rosto de Lorrayne.

_ Por que você fez isso, Catharina? Porque me tirou da minha mãe? Por quê? Ela sabe que sou filha dela? Por que não me conta a verdade?

_ Lorrayne... Não te tirei da Martha... Não tirei...

_ E como eu vim parar com você?

Catharina enxugou o rosto. Sentou-se no sofá, e começou:

_ Martha e eu somos irmãs. Sempre fomos muito unidas. Até que um dia, Martha arranjou um namorado, chamado Davi. Só que Davi e eu nos apaixonamos. Ele terminou o noivado com ela, deixando-a grávida. Quando os bebês nasceram, eram gêmeos. Duas lindas garotinhas. Davi foi até o hospital, queria dar todo apoio para Martha, que recusou tudo. Ela não queria nem me ver mais. Mudou-se para longe com as duas filhas, sem deixar notícias. Depois de algumas semana, ela telefonou para Davi, dizendo que passava necessidades. Davi a fez aceitar ajuda para criar as filhas que também eram dele. Mas não era só isso que Martha queria. Ela era muito jovem. Tinha apenas dezessete anos. Ela disse que não conseguiria criar as duas. Entregou uma a Davi. Que a registrou em nosso nome. Ele ainda a ajudou a refazer sua vida fora do país. Davi e eu criamos aquela linda garotinha, que Martha mesmo havia dado o nome de Lorrayne. Mas ele também vivia viajando para o Canadá para ajudar Martha e ver sua outra garotinha, Layane. Em uma dessas viagens, sofreu um acidente e nos deixou. Martha tinha muitos recursos deixados por Davi e conseguiu viver muito bem fora do país. Voltou há pouco tempo, decidida a fazer com que suas garotinhas vivessem juntas. Ela me disse que não queria tirar você de mim. Só queria que você a perdoasse e a amasse também. Assim, desde então, sua mãe biológica tem pago escola e muitas outras coisas para você...

Lorrayne só sentia raiva. Chorava de tanto ódio que sentia naquele momento. Tanto por ter sido rejeitada pela mãe, como por ter sido enganada a vida inteira. Enxugou o rosto, e serenamente perguntou:

_ E por que você a chama de Suzana?

_ Porque sabíamos que você conheceriam sua irmã, e conversariam sobre suas semelhanças.

_ E vocês achavam que estudando com a minha irmã, eu nunca descobriria a verdade?

_ Era o que Martha esperava. Que vocês se aproximassem aos pouquinhos... Mas ela sempre foi desesperada, e acabou fazendo à maneira dela: rápido demais...

Lorrayne largou-se no sofá, pensando no que seria sua vida dali para frente. Catharina sem se mover, perguntou:

_ Por isso essa sua transformação? Por isso se tornou tão amarga?

_ E o que você esperava? Que eu fosse toda sorrisos depois de descobrir que minha mãe é uma estranha?

Catharina virou-se e tentou segurar a mão de Lorrayne, que se desviou:

_ Filha, por que você não me disse antes qual era o problema? Teria sido mais fácil!

_ Ah, teria? Se eu soubesse... Só uma dúvida, seria mais fácil como? Você me diria “Ora, não se preocupe com isso, ano que vem você conhecerá sua mamãe e sua irmãzinha!”?

_ Lorrayne, não fique assim comigo, eu fiz o melhor que pude...

A garota precisava pensar. Na realidade, Catharina não tinha culpa. Só estava ajudando a irmã. Mas sua raiva era tanta quer não importava quem era culpado ou inocente. Ficou calada, fitando o infinito. Depois de um longo tempo, Catharina perguntou baixinho:

_ O que vai fazer? Falar com Martha?

_ Não. Afinal, ela não falou comigo.

_ E o que vai fazer?

_ Nada. Tudo vai continuar como sempre esteve. A única coisa que mudou, é que você agora sabe do que sei.

Lorrayne levantou-se e trancou-se em seu quarto.

No sábado acordou pouco depois de sua mãe e depois do almoço, pegou a bicicleta e saiu. Foi até a pracinha onde costumava andar com seus amigos. Parou e sentou-se em um banco. Lembrou-se do seu primeiro beijo em um garoto. Fora ali mesmo naquela praça. O garoto era Júnior. Depois daquele beijo, muita coisa aconteceu, mas voltaram a namorar. Fazia muito tempo que não o via. Se o visse, o que aconteceria? Reatariam? Talvez o garoto já estivesse namorando de novo. Talvez com a Amanda, que sempre foi apaixonada por ele. E Adriane? Será que já havia ficado com Edinho? Será que a Eliana já havia feito as pazes com a Maria, ou será que já haviam brigado novamente?

Eram tantas perguntas que Lorrayne gostaria de fazer. Ouviu uma vozinha estridente gritando:

_ Lorrayne! Lorrayne! Quanto tempo!

Continua


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