Rubro Como A Lua escrita por Shynio


Capítulo 1
Capítulo 1 - Rookguard




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The character Kyo has been created.

See you in Tibia!




– Eu, um guerreiro? Não…


Havia acabado de ser transferido para Rookguard. Estava sentado ao chão do templo, perdido em reflexões. Não tinha pressa de sair dali, afinal, parecia ser um lugar bastante tranqüilo e a brisa gélida que ali passava era agradável.


O sonho de seus pais era que tornasse-se um grande cavaleiro de elite, daqueles que decepa seus inimigos e traz suas cabeças para o rei. Hm... Mas não era bem isso que passava-se na cabeça de Kyo. Ele não queria ser um cavaleiro – muito menos da elite. Ele não queria ser nada. Somente um cidadão, como qualquer outro. Quem sabe, trabalhar numa taverna, ou num salão de jogos, ou até mesmo como carteiro. Mas... Espadas? Escudos? Sangue? Não, obrigado.


– Você tem jeito de ser novato. – Disse uma voz branda e masculina. – Em que nível você está?


O moleque levantou seu olhar e deparou-se com um rapaz com uma armadura inteira feita de couro, um escudo de madeira à mão esquerda, uma lança à direita e algumas lanças presas às costas.


– Ah? Nível? – Perguntou, confuso.

– É. Olhe seu pulso direito. – Respondeu tranquilamente o guerreiro.

– Ah, tudo bem. – Kyo conferiu seu pulso e viu ali, tatuado, verticalmente, um grande “2”. – Err... Acho que estou no nível dois.

– Então, até agora, você só matou baratas e ajudou uma mendiga? - Perguntou, incrédulo à situação.

– Cara, aquilo foi nojento, tá legal? Estou com o cheiro da gosma daqueles insetos imundos até agora.

– Hahaha, mas você não pode ficar aí sentado, colega. Você tem que atingir logo o nível oito para que possa voltar à sua terra natal. E, dessa vez, com uma vocação. Já pensou no que quer tornar-se?

– Ahn… Meus pais me querem um cavaleiro de elite, mas eu ainda não me decidi. A ideia de esquartejar coisas não me é tão agradável, sabe?

– Sei sim. Muitos novatos pensam como você. Relaxe, com o tempo e as circunstâncias, seu ponto de vista com certeza mudará. Sei que não perguntou, mas, por educação, digo-te que decidi tornar-me um paladino. É a vocação perfeita pra mim.

– Hm. Então você gosta de tiro ao alvo.

– Na verdade, eu não gosto de sentir dor. Creio eu que, com armaduras espessas e atacando à distância, não terei tantos problemas com isso. Bem, eu vou terminar de evoluir-me para poder voltar logo pra casa. Já estou cansado deste lugar e alcancei o nível cinco hoje cedo. Tentarei alcançar o nível oito amanhã. E quanto a você, aconselho que faça o mesmo.

– Tá, tá. Vai lá. Verei o que faço.

– Hm. Darei-te um voto de fé. Assim que eu alcançar o nível sete, irei aguardar que você iguale-se a mim; assim, podemos alcançar o nível oito juntos e sair daqui; e, quem sabe, sermos parceiros. O que acha?

– Err… Pode ser interessante. Enquanto evoluo, vou tentar pensar em alguma vocação que enquadra-se comigo.

– E boa sorte na escolha, pois você nunca mais poderá mudá-la. Pense bem. – virou-se o guereiro e foi em direção a uma escada que havia ao norte, que ligava a pequena cidade à área de caça.


Observou o combatente a andar. A armadura, as armas, o cheiro de sangue, de suor, o cansaço... Não era nada daquilo que Kyo queria para ele mesmo. Já tinha certeza que não seria um paladino, muito menos um cavaleiro.


O tempo de repouso havia terminado. Tinha, agora, uma promessa a cumprir. Precisava evoluir, e depressa, para alcançar seu mais novo colega, e assim manter sua palavra de voltar para casa junto de um novo possível aliado. Seria obrigado a voltar a enfrentar as criaturas do lugar e encarar tudo o que não queria, mas, pelo menos – aparentemente – seria por pouco tempo.


A família do mimado Kyo tinha bastante dinheiro, o que fazia com que fossem cidadões VIP. Sendo assim, o rapaz tinha acesso à área VIP da ilha, onde era – obviamente – muito mais simples evoluir. Buscando – como sempre – por facilidades, foi direto para a área reservada para os cidadões de alta casta. Encontrou-se com toda sorte de insetos, lobos, trolls, ogros, esqueletos, e até um urso! Passou a tarde e a noite pelejando, torcendo para que tudo aquilo acabasse de uma vez. Porém, seu esforço havia rendido: ao aparecer do sol no horizonte, Kyo havia alcançando – finalmente – o nível sete.


Mal suportava-se em pé. Resolveu, pois, passar a manhã no templo, repousando. A caça foi, deveras, cansativa, e já tinha cumprido sua promessa. Que mal haveria em tirar um cochilo? Foi-se, então, para o templo e lá deitou no piso frio e duro, que era muito melhor do que o barro mole e sujo da área de caça. Seus olhos fechavam-se lentamente em repouso, até que, enfim dor-.


– Ei, ei! Acorde. Já é de manhã. – Só poderia ser ele.

– Mas eu acabei de pegar o nível sete... – Sentou-se Kyo, preguiçosamente, coçando os olhos.

– Então vamos logo alcançar o nível oito juntos para sair daqui. A propósito, que falta de coridaliadade minha... Me chamo Theodore. – Apresentou-se o futuro paladino.

– Eu… Uaaaaah, sou Kyo. – Disse junto de um longo bocejo, levantando-se, exausto.

– Hm. Kyo. Legal. Você parece cansado… Ah, deve ser só impressão minha. Vem! Quero levar você num lugar para provar nossa força, antes de contiunarmos nossa jornada. Um lugar que vai provar se somos realmente merecedores de voltar para casa.

– Ah, cara, eu acabei de… Que? Um lugar pra provar se somos merecedores de… Cara, você tá bem?

– Nós vamos para o inferno dos minotauros.

– Inferno dos o que? Nossa cara, sério, você tá bem? Ei, calma! Volta aqui!

Theodore estava tão animado com sua própria ideia que deixou Kyo a falar com as paredes. Seguiu rumo ao tal inferno dos minotauros. Kyo, por sua vez, foi de encontro a Theodore, que estava radiante de animação. Seguiu-o em silêncio – sabia que falar não adiantaria em nada.


Depois de uma longa caminhada, achegaram-se de uma caverna. Na entrada, apenas algumas cobras recepcionavam. Sem graça.


– Hmpf. Pode descer, tá limpo! – disse Theodore, convicto.

– Tá, tá. – respondeu Kyo, pulando para dentro da caverna.


Vários corpos de ratos mortos ao chão enfeitavam a caverna. O cheiro era quase insuportável. Pela frente, alguns trolls. Seria difícil, claro, mas nada perto do impossível. Foram, pois, para cima das criaturas. Theodore, embora estivesse animado, era bastante cauteloso. Já Kyo, era inexperiente e inconsequente. Mas tudo bem, não era uma luta realmente difícil, e até que os dois formavam uma bela dupla.


Desceram mais alguns andares da caverna até depararem-se com um pequeno labirinto repleto de lobos. Aquela alcatéia não parecia normal... Não deveriam ver luz há dias. Pareciam loucos. Loucos pra matar.


– Theo… - sussurrou Kyo, assustado.

– Shh…


Era realmente impossível não ter medo em uma situação daquelas. Aparentemente, os lobos ainda não haviam percebido a dupla, mas isso mudou. Mudou no instante em que alguém ainda mais descuidado e barulhento que Niyo entrou naquele andar da caverna, justamente do lado de Theodore.


Todos os lobos da caverna atiçaram-se naquele instante, e, desesperados, vieram famintos de sangue na direção dos três aprendizes. Essa, sim, seria uma luta verdadeiramente difícil. Vidas estavam em jogo. Lobos estavam com fome. E Kyo... Kyo estava com medo.


– Pra trás de mim! – bradou Theodore. Era tudo que Kyo queria ouvir, e obedeceu de imediato. – Qual é o seu problema, seu filho da puta? – disse ele, furioso, para o terceiro que ali havia chegado.


– Haha, relaxa cara. Esses lobinhos não valem nada. – disse o outro que ali estava. Parecia tranqüilo demais.


Tudo estava muito escuro. Kyo, assustado e imóvel, só conseguia ouvir o barulho das lanças de Theodore e o som de lâminas a perfurarem carne. Torceu para não tratar-se das garras e dentes dos lobos.


A barulheira da dilaceração durou pouco, dando lugar para ganidos e, depois, ao silêncio. Suspirou, temendo o pior.


– Theo… Você está bem…? – perguntou Kyo, baixo.

– Só estou levemente ferido, mas estou bem.

– Graças a D-.

– Puta que pariu, colegas! ISSO SIM é uma luta! Haha! – disse o terceiro, interrompendo Kyo.

– Quem você pensa que é, seu merda? – bradou Theodore, grudando as mãos ao colarinho da armadura de correntes do rapaz em sua frente que, por sua vez, fechou o semblante e mostrou o pulso direito para Theodore. – Doze? O que você ainda está fazendo aqui?

– Eu decidi ficar em Rookguard. – disse enquanto apartou as mãos de Theodore de si com um tapa. Ele era nitidamente mais forte que os outros dois. – Nunca me dei bem com a minha família mesmo, e aqui eu sou dono de mim. Aliás, me chamo Jin.

– Hm. Pois bem, Jin; estamos indo ao inferno dos minotauros para atingir o nível oito e sair deRookguard. Nos vemos por aí.

– Não, não. Nesse caso, eu vou com vocês. Você não vai conseguir conquistar aquele lugar sozinho, ainda mais com um fracote desse te atrapalhando.

– Kyo é toda a ajuda de que preciso.

– Nobre, mas pouco sincero. Eu vou com vocês.


Não houve como negar. Theodore nada mais disse, só seguiu em frente, ao lado de Jin. Kyo seguiu-os; porém, um tanto mais afastado. Estava, obviamente, envergonhado de sua atuação na luta anterior. Tudo o que fez foi tremer e esconder-se. Seu amigo poderia ter morrido. Foi muita sorte isto não ter acontecido. A sensação de inutilidade amargurava-o profundamente. Mas o que havia de ser feito? Tinha medo de morrer. Muito medo. Ele só queria ser um cara comum. Daqueles que acorda de manhã, trabalha até a tarde e volta pra casa. Dá um beijo em sua esposa e brinca com sua filha. Daqueles que sai no fim de semana com sua mulher para passear a divertir-se. Daqueles que acorda cedo para levar o filho no colégio... Só um cara. Um cara qualquer. Infelizmente, não era nada disso que o destino havia guardado para Kyo. Gostando disto ou não, ele seria obrigado a defender a coroa como um guerreiro, e tinha que aceitar isto. Sua primeira decisão foi nunca mais deixar um companheiro sozinho. Não, isso nunca mais aconteceria. Ninguém mais iria machucar-se na frente dele. Ninguém mais.


Desceram mais um andar da caverna de depararam-se com ogros, minotauros e lobos. Esta seria, com certeza, uma batalha ainda mais difícil. Pela graça dos deuses, Kyo tomou coragem e, desta vez, lutou. Theodore impressionou-se quando viu a lâmina do sabre de Kyo perfurar o coração de um ogro que visava golpear Jin. Confiantes, pelejaram até que o último lobo perder seu ar. Kyo caiu de joelhos, exausto. Ainda não tinha descansado desde a última tarde e noite de caça. Estava a mais de vinte e quatro horas caçando, quase sem parar. Olhou seu pulso e viu que ali já marcava-se um grande 8.


– Theodore, vamos voltar… Eu não aguento mais nenhuma luta. Além de que, já alcancei o nível oito. Você também já deve ter alcançado.

– É verdade… Você não descansou. Eu, que tive uma ótima noite de sono, já estou exausto. Tento imaginar sua situação. – checou o pulso direito por um instante, e sorriu – Pois bem, eu também já alcancei o nível oito. Vamos deixar essa história de inferno dos minotauros para lá e voltar logo para casa.

– Ah, então as mariquinhas cansaram? Own, coitadinhas. Vão pra porra da casa fazer as unhas então, bando de arregões.

– Como é? – disse Theodore, enraivecido. Odiava ser ofendido, muito menos desafiado.

– Deixa ele pra lá, Theo. Vamos embora. – disse Kyo, segurando o antebraço direito de Theodore.

– Não, Kyo. Eu vou mostrar pra esse palhaço quem é a mariquinha aqui.


Decidido, Theodore tomou a frente, aproximando-se da escada que levava ao último nível da caverna... O inferno. Theodore estava receoso, não conseguia descer. Buscava pensar num plano. Seus pensamentos foram interrompidos pelas risadas de Jin, que jogava-se no buraco. Assustados, Kyo e Theodore pularam logo atrás, mas manteram-se perto das escadas, apavorados. Pouco podia-se ver Só viam a silhueta de Jin, abusado, indo para o meio do salão.


– Então, chifrudinhos. Onde estão vocês, mariquinhas? Vim aqui chutar alguns traseiros.

– Hm… Chutar alguns traseiros… Como você é irreverente, moleque. Eu não gostei do seu jeito.


Uma pequena esfera de fogo surgiu de repentino. Era suficiente para iluminar todo o lugar. O fogo estava sob a palma da mão de um minotauro que vestia um manto púrpuro, e que não parecia tão amigável.


– S-Sheng? – disse Jin, apavorado, dando as costas para o minotauro e tentando correr para as escadas. Mal havia percebido que fora emboscado por lobos, que grudaram os dentes em suas pernas, fazendo-o cair. Theodore, assustado, subiu as escadas mais do que depressa. Kyo apavorava-se com a cena horrenda que presenciava e permaneceu estático por alguns segundos, mas logo subiu a escada atrás de Theodore.


– Anda, Kyo! Vamos embora daqui! – disse Theodore, apressado

– Não, Theo! Eu não posso deixar ele pra trás! – disse Kyo, lançando uma corda ao buraco – Jin, segura!


Olhando para o buraco, viu a mão ensangüentada de Jin a segurar a corda com desespero. Em seguida, a voz do minotauro mago bradou em meio aos grunhidos de dor de Jin.


– Exori flam! – disse o minotauro, lançando a esfera de fogo às costas de Jin, fazendo-o berrar de dor. – Hahaha. Isto ensinar-te-á uma lição, humano medíocre. Exori mort! – disse o minotauro, e essência de pura magia negra foi de encontro às costas de Jin, adentrando a pele deste.


Muito mais que depressa, Kyo terminou de puxar Jin para cima. A cena era horrível. A perna e o braço do lado direito do corpo de Jin haviam sido arrancados pelos lobos e todo seu corpo tinha profundos cortes. O sangue banhava o chão e o colo de Kyo, que era onde Jin estava.


– Acalme-se, vai ficar tudo bem! – ao que Kyo falava, Jin cospiu uma grande quantidade de sangue em direção do rosto do rapaz.


– Não, não vai ficar tudo bem… - disse Theodore, enquanto Jin agonizava.

– Como não, Theodore? Precisamos levar ele para o templo com urgência!

– Vire-o de costas.

– Ãh?

– Vire-o de costas.


Sem entender muita coisa, Kyo fez o que Theodore pedia, e foi aí que viu tudo o que não queria ver. As costas de Jin, além de queimadas, estavam totalmente necrosadas. Tudo ali estava morto. Jin, por fim, estava morto.



... E então, Kyo? E a sua promessa, hm? Alguém se machucou. Alguém morreu.


Fez-se um longo silêncio até que, por fim, Kyo levantou-se, banhado de sangue, e foi em direção às escadas para voltar à cidadela de Rookguard. Retornou o caminho inteiro com Theodore ao seu lado, em silêncio. Kyo matava friamente cada Troll remanescente no caminho da cidade. Chegando lá, foram direto ao templo. Tudo que Kyo queria, agora, era dormir. Só dormir. Mais nada. Era tudo o que precisava para digerir toda aquela informação. Tentar conformar-se com o que aconteceu. Deitou-se, então, no piso do templo e deixou-se apagar.



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