Voltando A Viver escrita por DuhPaiva


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Volteiiiiiii
Dessa vez demorei muito, não é?
Confesso que a falta de inspiração e de retorno não ajudou, mas vamos a mais um capitulo.
Boa leitura, espero que gostem e que entendam os dois lados...



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Capitulo 8:

Os momentos são valiosos segundos que queríamos prolongar no tempo ou mesmo congelar, de forma a se tornarem eternos. A verdade sentida no toque e não nas palavras irrefletidas que sem pensar pronunciamos.

Ali, naquele momento e tendo como cenário a calmaria do mar, os dois amantes se fecharam em um mundo particular, numa bolha refletida de amor e esquecimento externo. Almas perdidas no sentimento que os une, na satisfação e na força sanguínea que fazia os seus corações baterem desesperadamente. Os anos separados pareciam não se refletirem, nem serem lembrados. A força do magnetismo se sobreponha à consciência de outrora.

- Edward… - Chamou Bella de olhos fechados e testa colada à dele.

- Como eu senti falta desse beijo, do teu cheiro… Meu Deus, como eu te amo. – Murmurou Edward extasiado.

- Eu também, eu também… - Murmurava Bella abraçando-o apertado, tentando conter a vontade enorme de chorar pela felicidade que a acometia naquele momento.

- Ei… - Chamou Edward, quando percebeu o corpo de Bella tremer. Afastou-se um pouco, olhando-a nos olhos e vendo o seu olhar marejado. – Estás a tremer, que se passa?

- Eu amo-te. – Sentenciou com um sorriso.

- Eu também, meu anjo. Eu também. – Declarou, dando-lhe um beijo castro nos lábios.

Aquele momento era único e esclarecer somente pelas simples palavras que revelavam tanto dos seus sentimentos, mas o silêncio parecia ser apaziguador e bem-vindo. Sentaram-se na areia a apreciar o mar, no silêncio dos seus pensamentos e nas caricias e beijos. Bella estava entre as pernas de Edward e com a cabeça apoiada no seu peito, suspirava entre os beijos ousados ou simples que trocavam naquele final de tarde que começara a desaparecer. Talvez se tivesse passado uma hora, duas… não sabiam bem, afinal estavam presos na grandeza daquele reencontro que tudo ao redor perdera o sentido.

Contudo, o mundo continuara a rodar e as horas passaram deixando os amigos e família preocupados com o súbito desaparecimento de ambos. Lógico que os amigos percebendo a ausência dos dois em simultâneo faziam apostas e torciam para que eles estivessem juntos e se resolvessem de uma vez. Eles queriam que tudo voltasse a ser o que era e que pudessem ter um ambiente mais ameno e saudável, sem pensar no desconforto que ambos sentiam na presença do outro e poderiam sair sem qualquer problema, sem excluir nenhum.

- Emmet, eu não sei onde eles estão. Nenhum dos dois atende o telemóvel. – Disse Rose entre preocupada e esperançosa.

- Eu começo a ficar preocupado. – Decretou.

- Calma gente! Eu aposto que eles estão juntos nesse momento e nem se lembram de nós. – Disse Alice, como sempre, alegre.

- Licinha, eu sinceramente não te entendo. Ainda há pouco estava preocupada com aqueles dois e agora está com esse sorrisinho no rosto! – Disse Jasper.

- Talvez se vocês pensarem que os dois desapareceram ao mesmo tempo e na possibilidade de estarem juntos, vocês entendam. – Disse Alice observando o semblante de cada um a iluminar-se.

- Não sei não, Alice. O Edward andava tão cabisbaixo hoje, nem na reunião ele esteve a cem por cento, coisa que não é normal. – Disse Emmet pensativo.

- Talvez esteja certa, Alice. – Decretou Rose com um brilho diferente no olhar.

- Aleluia, alguém concorda comigo.

- O que a faz pensar assim, Rose? – Perguntou Jasper.

- Vou tentar explicar, resumidamente. Quando Bella foi de férias, ela simplesmente fugiu de Edward.

- Como assim? – Perguntou Alice.

- Na ausência de Bella, Edward andava completamente alheio e disperso. Ele fazia o seu trabalho na perfeição, mas a sua feição cansada, a ausência de brilho no olhar e a “surdina” quando o chamavam me chamou a atenção. Então, um dia precisava do seu aval para uma questão e quando entrei no escritório dele não me aguentei e chamei-o à razão. Eu confrontei-o com o seu estado, confessei que Bella tinha ido de férias para fugir dele e, consequentemente, não o ver com Jane. Lógico que ele me questionou, ficou confuso, mas depois acho que pensou no assunto.

- Acho que sei que dia foi esse. – Disse Jasper. – Na hora de sair, eu cruzei-me com ele no corredor e convidei-o para um café, ele simplesmente estava absorto em pensamentos e me respondeu que tinha que pensar, que estava confuso.

- Sim, ele estava confuso. A razão e a emoção dele estavam sem saber para que lado tender, pois passaram-se dois anos e como ele mesmo disse “Eu sabia que a minha volta, significaria voltar a vê-la, mas jamais imaginei que trabalharíamos juntos. Ela está muito diferente, mas ao mesmo tempo igual.”.

- Isso é uma verdade, aconteceu muita coisa. – Disse Alice.

- Espera! – Disse Emmet olhando para Rose, lembrando-se de algo. – O que você disse a Bella naquele dia que ela apareceu lá em casa desesperada. – Rose sorriu. – Isso, você nunca me falou.

- Ela apareceu em sua casa desesperada? – Perguntou Alice incrédula. – Afinal o que aconteceu? Andei perdendo muita coisa. – Suspirou, fazendo Rose rir.

- Edward ficou a trabalhar no escritório até mais tarde, como ele vinha fazendo nessa altura, Bella já tinha voltado a trabalhar, mas os dois ainda não se tinham cruzado. Devido ao horário e sem contarem os dois acabaram esbarrando-se na saída, lógico que aquilo desencadeou sentimentos e Edward ganhou coragem e beijou-a.

- E então? Não entendo o desespero. – Perguntou Alice.

- Alice, você não conhece a nossa amiga? Ela fugiu dele! – Contou com um suspiro.

- Bellinha, Bellinha! – Comentou Alice.

- Quando ela chegou lá em casa, eu me assustei. – Disse Emmet. – Eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa grave, detendo-me no desespero que ela estava.

- Verdade, até eu me assustei. – Riu Rose. – Somente quando ela se acalmou e me contou que ele a tinha beijado, eu respirei aliviada e acreditem, eu ri. Apesar daquele momento, eu ri e disse “Aleluia!”. Ela ficou sem entender e ainda ficou pior depois que a confrontei com a verdade.

- Que verdade? – Perguntou Jasper.

- Que ela fugiu dele, por isso tirou as férias. Ela negou no início e depois eu fui contando o estado com que ele ficou e como andava diariamente. Lógico que demorou, mas ela finalmente admitiu que fugiu por medo dela, por medo dele. Ela batalhava entre a razão e o coração, as lembranças do passado assombravam-na e, confesso, a presença de Jane ainda intensificou mais esse sentimento.

- Ela ficou bastante perturbada com Jane. Isso percebia-se a léguas. – Disse Emmet.

- Acredito que talvez depois disso, ela tenha pensado muito bem em tudo e eles possam mesmo estar juntos. Eu espero que sim, eles merecem. – Todos concordaram com as cabeças.

Enquanto isso, Bella e Edward encaminhavam-se agora para um pequeno e aconchegante restaurante que existia do outro lado da estrada. Eles trocaram até aquele momento poucas palavras, mas sabiam que precisavam conversar e definir o que aconteceria dali para a frente. Um futuro a dois com a aceitação do passado ou a desistência daquele sentimento.

O restaurante era pequeno, aconchegante, em um ambiente familiar. O ambiente era novo e bastante airoso, as paredes eram branca e totalmente lisas, somente adornadas com um ou outro quadro com a paisagem sobre o mar do outro lado da rua. A mobília era simples, numa madeira clara que dava luz ao pequeno espaço. Do outro lado do balcão sorria um jovem dos seus quinze anos que lhe indicou uma mesa e o cardápio do dia.

- Este restaurante é novo por aqui, nunca tinha reparado nele. – Disse Bella tentando quebrar o silêncio que se instalou entre eles.

- Acho que tem razão, o ambiente é bastante moderno. Acho que a vista à noite deve ser magnífica, afinal esta zona da praia é bastante iluminada à noite. – Disse observando a paisagem pela janela ao lado da mesa.

- Costuma andar por aqui? – Perguntou surpresa, fazendo-o sorrir.

- Desde que cheguei e reencontrei você, acho que faço isto diariamente depois de sair do trabalho ou até mesmo à noite quando não conseguia dormir. Na semana que esteve de férias, este virou o meu sítio favorito. Eu sei o quanto gosta do mar, da praia, do silêncio da maresia, por isso vinha e entendi a paz que você diz sentir.

- O mar traduz e “ouve” os meus pensamentos, acalmando o meu coração e a minha mente. – Disse num sorriso que não alcançou os olhos.

Edward observou-a sem conseguir pronunciar qualquer palavra, já que o jovem chegou com um bloquinho nas mãos, querendo saber o que eles jantariam.

Aquele era um momento que os dois esperaram por muito tempo, mas que nenhum dos dois sabia se queria falar ou admitir em voz alta. A forma como tudo aconteceu, o passado ainda os perturbava, apesar de tudo que aconteceu aquela tarde.

- Bella, eu não sei por onde começar e muito menos o que dizer. Talvez a simples palavra desculpa não traduza a grandeza da culpa que eu carreguei durante este tempo todo. – Disse olhando-a.

- Culpa? – Riu sem humor. – Se existe alguém que tenha que se desculpar aqui ou se sentir culpada sou eu. Acredite que todos os dias eu lembro do que aconteceu e me martirizo, acho que continuo vivendo normalmente por nossos amigos. Eu quero conversar com você, quero explicar tudo ou tentar, pelo menos. Eu quero que você conheça o que senti, o que vivi, eu quero a verdade para poder seguir. Talvez seja demasiado fazer nós dois vivermos aquelas lembranças novamente, mas para poder seguir sem culpe, sem acusações, eu preciso que você me ouça e quero-te ouvir, nós precisamos disso. – Suspirou encarando-o.

- O nosso jantar está vindo, conversaremos depois disso, pode ser?

- Sim, mas não aqui. Na sua casa ou na minha, mas aqui não. – Disse olhando o mar, lembrando o quanto os seus sentimentos ao lembrar de tudo vão aflorar e transbordar lagrimas a cada momento.

- Não se preocupe. Aqui jamais seria o lugar para um assunto desses, eu só te trouxe para podermos jantar e conversar de assuntos triviais. O depois fica lá em casa. – Disse tocando a mão dela em cima da mesa e sorrindo, sendo retribuído.

O jantar correu tranquilamente, eles conversaram e desgostaram a comida e o vinho que tinham pedido sem pressa. Aquele era um momento dos dois, o momento de aproveitarem a sensação de estarem juntos depois de tanto tempo a evitarem-se.

 Após saborearem uma musse de chocolate caseira, especialidade da casa, os dois tomaram um café e pagaram, saindo em seguida. A rua estava pouco movimentada, já que levantara um vento fresco e o mar estava agitado. Os dois amantes retiram-se a passos largos em direção aos seus respetivos carros.

- Vamos lá para casa, assim podemos conversar à vontade. – Disse olhando-a nos olhos chocolate.

- E o meu carro? – Perguntou.

- Se quiser, você me segue e estaciona lá em casa. – Sugeriu.

- Acho melhor, onde está o seu?

- Mais à frente. Eu vou com você e depois espera por mim e me segue. Pode ser?

- Sim, claro.

Os dois seguiram para casa de Edward com Bella no seu encalço. O seu apartamento não ficava muito longe dali e a hora ajudava na “perseguição” do carro dele. Quando chegaram Bella estacionou num lugar mesmo à frente da porta, enquanto Edward esperava a mesma sair para guardar o seu na garagem do prédio.

O apartamento de Edward era pequeno, mas bastante aconchegante e encontrava-se arrumado, característica dele. Apesar de ser homem, ele adorava tudo no sítio, sem bagunça. Na verdade, ele era muito mais certinho do que ela nesse aspeto.

A sala era em tons de branco e preto muito simples e moderna, mas bastante aconchegante. Na sala de estar uma coluna pinta de preto com uma lareira, do lado direito um móvel preto com uma TV cinzenta de grandes dimensões e por baixo uma consola com DVD, PSP e uma box, do lado esquerdo tinha outro móvel com uma aparelhagem de som, CD’s e alguns porta-retratos. Em frente, tinham dois grandes sofás, um deles com chaise longue e algumas almofadas. Atrás encontrava-se a sala de jantar adornada com móveis modernos e simples, um quadro de uma paisagem numa parede e na outra uma enorme janela com vista para um jardim com várias árvores, bancos e jardim para as crianças, parecia ser uma vista magnífica, embora fosse noite, as luzes davam um toque de beleza ao lugar.

Enquanto Bella apreciava a beleza do lugar, Edward acendia a lareira. Ela estava perdida em pensamento quando uma foto num porta-retratos antigo, que destoava de certa forma naquele ambiente moderno, lhe prendeu a atenção. Aquela foto fora tirada há muito tempo, em um dia de verão que os dois tinham passado juntos pela primeira vez. O final de semana inesquecível no qual ela se tornou mulher, a sua mulher e tudo foi mágico. A lembrança daquele dia e o fato dele ter aquela foto ali mexeu com as suas emoções, as lágrimas que tentava segurar rolaram por sua face sem ela perceber. Ali estava a certeza que mesmo longe, ela continuava a fazer parte da vida dele, assim como ele da sua. Aquela foto tinha um significado tão grande para ela como para ele, eles tinham completado e manifestado de forma plena o amor que os unia naquele dia.

- Bella? – Perguntou ao aproximar-se com duas taças de vinho na mão.

- Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida. – Murmurou com a voz embargada pelas lágrimas.

- Da minha também. – Disse pousando as taças e abraçando-a por trás, sentindo a nostalgia daquela lembrança.

- Tudo podia ter sido tão diferente… - Disse Bella num suspiro, sendo virada de frente por Edward.

- As nossas escolhas ditaram o nosso destino, tendo sido boas ou más. Neste tempo todo, eu me culpei demasiado de ter abandonado tudo, ter ido embora, mas havia momentos em que eu quis acreditar que aquilo tinha que acontecer e se fosse para ficarmos juntos um dia aconteceria. Acho que esses momentos eram aqueles em que eu me acabava na bebida com saudades de tudo que vivemos. – Riu sem humor.

- Eu sinto tanto por tudo. – Disse encostando a testa no seu ombro. – Eu não consigo explicar o motivo que me levou áquilo, talvez por ser um sonho de criança e ter a influência da minha agente que vivia-me pressionando. O mundo de modelo é um mundo complexo e eu queria tanto aquilo que me esqueci do mundo real e do que realmente importava. Confesso que fiquei tão iludida com aquele mundo que a sede de viver aquilo tudo e me transformar em uma modelo profissional, conhecida e respeitava por todos me cegou. Eu queria atingir esse objetivo e não olhei a meios para o conseguir, mesmo sabendo que existem regras que devem ser respeitadas para que não se caia na anoxia como eu caí. Nesta carreia é preciso tempo e trabalho, carisma para conquistar o público, exercício físico controlado, uma alimentação saudável e jamais deixar de comer, ser autoconfiante, atitude, profissionalismo e preparação. Este são os principais pontos, os pontos que eu não tive. O exercício a mais, alimentação a menos e a falta de autoconfiança, por muito que eu trabalhasse faltava sempre algo. Naquela altura, eu olhava-me no espelho e via-me gorda, eu achava que quando você me dizia que eu era linda, só o fazia para me agradar, que estava comigo porque não sabia como terminar. Eu me afastei de você e não permitia que me tocasse por isso mesmo, eu tinha vergonha que me visse, já que “eu estava gorda”, lá na agência eu vivia olhando as minhas colegas e elas era mais magras e perfeitas do que eu, a minha agente me dizia que eu tinha que ser perfeita. Nas fotos que faziam minhas, eu olhava e não gostava de me ver, sempre via alguma gordura a mais e que aquilo era irresponsabilidade minha, se eu queria seguir aquilo eu tinha que emagrecer. – As lágrimas corriam livres por sua face. – Deus, quando fui para o hospital naquele dia, eu já não comia há tantas horas que eu perdi a noção. Acho que nem eram horas era dois ou três dias, mas tudo piorou quando você chegou, me deu uma bronca e depois o médico disse que eu estava gravida. – Soluçou.

- Eu me lembro perfeitamente desse dia, como se fosse hoje. Aquela semana eu estava com muito trabalho e mal conseguia te ver, quando me ligaram avisando que estava no hospital, eu saí desaustinado e fiquei pior quando me disseram que estava ali porque estava muito fraca, abaixo do peso e que não comia há dias. Confesso que fiquei possesso com você e quando olhei para você naquela cama, a raiva e o sentimento de impotência falaram mais alto, por isso te disse aquilo tudo. Eu sabia que estava exagerando, mas a minha raiva era tão grande. – Suspirou, olhando o teto da sala. – No entanto, eu esqueci toda a raiva, preocupação, quando o médico revelou que estava gravida! Aquele foi um momento mágico para mim, um filho… eu teria um filho com a mulher que eu amava, a minha emoção foi repleta naquele momento com tão poucas palavras, mas no segundo a seguir… - Edward não conseguiu prosseguir, o choro se intensificou.

- Eu enlouqueci e berrei que era mentira, que aquilo só podia ser brincadeira. Eu fiquei tão nervosa e alterada que me sedaram. – Murmurou sem forças.

- Sim. Eu fui retirado do quarto pelos enfermeiros, eu estava perdido. Os nossos amigos tinham chegado naquele momento e me arrastaram dali, eu não conseguia falar, eu me sentia preso no mundo, tudo passava por mim sem realmente eu entender. – Levantou-se e encostou-se à janela. – Quando consegui reunir a minha sanidade, eu fui conversar com o médico e ele me disse que você estava com anorexia nervosa e que o bebé corria rico, eu chorei. Ele me explicou tudo e que era necessário você recuperar peso corporal e voltar a ter hábitos alimentares normais, para isso tinha que estar mais com os amigos e família, reduzir a atividade física, ser orientada na alimentação e acompanhamento psicológico profissional. O apoio das pessoas era fundamental e sempre com o foco de haver recaídas durante este processo, o que no seu caso deviam ser evitadas já que estava gravida.

- O problema é que nunca aceitei esse apoio, eu nunca aceitei o fato de estar doente. – Disse abatida. – Passado o choque da notícia de estar gravida, eu queria aquele filho, ele era nosso e eu te amava. Só que para mim, eu não tava doente e podia continuar a trabalhar no meu sonho, as coisas complicaram-se quando comecei a ganhar peso.

- Sim! Naquela altura você enlouqueceu e nós tivemos discussões infernais, não só comigo, mas com os nossos amigos também. Todos nós tentamos a custo que você nos ouvisse e naquele final de tarde, quando você foi no ginásio sem comer e eu apareci lá à sua procura… - Ouve uns segundos de silêncio, recordando. – Deus, eu enlouqueci quando te vi naquela passadeira a correr e com o rosto tão pálido, cego de raiva eu corri até lá, mas as palavras nem chegaram a sair da minha boca já que você desmaiou naquele momento. Eu tentei acordar-te, juro que tentei, mas quando vi a sua calça com sangue, eu berrei por ajuda, eu juro que tentei de tudo. – Soluçou sendo abraçado por ela bem apertado, os dois choravam.

- Eu perdi tudo naquele dia. – Ela disse soluçando. – Eu não perdi só o nosso filho, eu perdi você e a minha vida. Me perdoa, por favor, me perdoa…

Os dois permaneceram abraçados durante muito tempo, acalentando o choro um do outro e aquele sentimento opressor que os consumia há tanto tempo. O silêncio se fazia presente naquele momento onde as lembranças se tornavam tão grandes e significantes que as palavras perdiam o valor.

- Eu estava com você, apesar de tudo, eu estava lá. – Murmurou ainda abraçado a ela.

- Estava, mas a magoa que você carregava aqui – Pousou a mão no seu peito. – e no seu olhar, me faziam perceber que apesar de estar ali, a verdade é que tudo tinha sido quebrado. Eu errei e voltei a errar quando voltei aquela agência e tentei continuar e abstrair-me daquela dor. Naquele momento, eu ditei a minha sentença.

- Eu nunca entendi porque você voltou para lá, porque depois de tudo o que aconteceu você voltou, depois de ter ouvido o médico, ainda assim você voltou. – A olhou confuso.

- Não tenho uma explicação, eu não sei… talvez eu quisesse esquecer, eu não sei. Acho que eu só aceitei tudo quando você brigou comigo e, pela primeira vez, eu fiz algo consciente.

- Terminar comigo…

- Sim, Edward. Apesar de te amar, eu sabia que não conseguiríamos seguir em frente. Eu já tinha perdido, você também. A magoa que nos atingia naquele momento não nos permitia viver por muito que eu até me recuperasse, eu vi o teu olhar.

- Eu me senti um nada naquele dia, quando você me disse “Acabou, Edward. Eu não aguento mais, eu não te amo mais, saí da minha vida, me deixa em paz. Por favor, eu imploro, me deixa em paz”. Eu me lembro até hoje, por isso eu fui embora. Talvez você tenha razão, naquele momento nenhum dos dois conseguia seguir em frente, mas eu deixei tudo sem uma explicação, eu larguei tudo e me culpei por o ter feito. Nossos amigos me ligaram constantemente, minha família também, eu não atendia. Eu tive três meses isolado do mundo, três meses revivendo a culpa, o remorso e o medo do futuro com o sentimento que me consumia e só no dia em que tive coragem de ligar ao meu pai e ele pegou o primeiro avião e foi ter comigo, me abraçou apertado, eu me senti novamente. Ele me deu notícias suas, me disse que estava sendo acompanhada e que lutava dia após dia para superar a anorexia. Ajudada pelos psicólogos e nutricionistas, apesar do seu olhar ser sem vida, você estava tentando.

- Quando você saiu lá de casa batendo a porta, eu fiquei durante três dias em estado catatónico. A única coisa que eu fazia era dormir e chorar, até que no terceiro dia a Rose foi lá a casa e me fez acordar. A princípio eu briguei com ela, mas ela persistiu e acho que somente quando ela me deu um estalo é que eu acordei para a realidade. Apesar do choque do estalo, eu me vi sozinha e na realidade, me agarrei a ela como um bebé e chorei, chorei muito. Ela ficou o tempo todo comigo e depois me levou ao médico, ia comigo até ao psicólogo e ao nutricionista. Quando comecei a ganhar alguma confiança, ela me deixou ir sozinha, abandonei de vez a agência e comecei a trabalhar na empresa. Durante um ano tomei antidepressivos, mas aos poucos fui largando. Os nossos amigos sempre me acompanhavam, levavam-me com eles para todos os lugares e quando eu me recusava eram poucas as vezes que eles aceitavam e me deixavam em casa.

- Eu sei. – Ditou. – Apesar de tudo, eu ia sabendo da sua vida. – Olhou-a nos olhos e sorriu, sendo retribuído por um sorriso singelo.

- Eu te amo. – Disse encostando sua testa na dele e olhando-o profundamente.  


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Preciso de incentivo, preciso que me digam como está o capitulo se estão gostando ou não.
Até ao proximo.
Bianca__Natasha mais uma vez obrigada, você é minha eterna leitora e amiga de sempre. Obrigada pela força, espero que goste mais uma vez ;)



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