Um mês depois

Frank POV

Terminei de limpar o ultimo copo já eram 19hrs, e o bar ainda não estava cheiro, o que era raro de acontecer. Suspirei e me debrucei sobre o balcão, encarando as pareces rústicas do bar.

Depois de todos os acontecimentos desagradáveis, eu havia resolvido procurar um emprego para ajudar minha mãe nas contas, decidindo não ser mais um fardo pra ela carregar. Obviamente, isso gerou muitas discussões e brigas, mas por fim ela permitiu que eu procurasse um emprego.

Ironicamente, o único lugar que permitiu que um menino de dezesseis anos sem experiência trabalhasse e que tinha um horário que eu achei bom era no bar de um amigo do Jared, o “Jimmy’s Bar”.

- Hey bonitão. – James voltou do estoque com uma garrafa de uísque e pegou um copo que eu havia acabado de limpar, se debruçando no balcão também. James Sullivan era muito simpático, sempre com um grande sorriso no rosto, tornando aquele lugar um pouco mais agradável. – O movimento ‘tá pouco hoje hein. O que é estranho, porque é sexta feira, e eu tenho vários clientes fiéis. – Falou enquanto servia um pouco de uísque no copo.

- Assim você vai à falência. É pra vender, não pra tomar. – Ri da cara de deboche que ele fez para mim. – Então, também não entendo. Era pra eu estar servindo bebidas como um doido agora, e ouvindo cantadas de bêbados que me confundem com uma menina. – Fiz careta.

- Se fosse você uma menina, você seria linda. – James falou bebericando o uísque, e riu quando eu o olhei sério. – Encare como um elogio. – Deu de ombros. – Quer um gole?

- Eu já disse que eu não bebo, Jimmy. – Revirei os olhos. – Eu acho que você ‘tá querendo me embebedar, igual àqueles ratos de academia que vem aqui. – Ri. – Eu tô fazendo sucesso. – Fiz posse, empinando o nariz.

- Nem me fale, eu tenho um amigo que vive falando do “menininho novinho” que eu contratei. Pedófilo. – Riu alto. - Toma cuidado Frankie.

- Qual deles que fala? – Virei para ele.

- Eu não vou contar. – Riu. – Vai se arrumar com o Gerard, caso não dê certo, eu te apresento um homem de verdade. – Falou e gargalhou em seguida. – Eu sempre soube que você era gay, desde que pisou aqui. Todo delicado, emo, e amigo do Jared.

- Você também é amigo do Jared. – Olhei para ele, que me encarou sério. – E eu não sou emo!

- Sobre o que as meninas estão conversando? – Leto entrou no bar, já sentando em umas das cadeiras do balcão em seguida.

- Sobre o Frank e sua homossexualidade. – James disse, rindo.

- Um dos meus assuntos favoritos. – Jared disse e riu. – Mas eu vim para falar de outra coisa, uma coisa chamada: festa. – Sorriu malicioso.

- Eu não vou à festa, desiste. – Desencostei do balcão, indo para trás.

- Frank, por favor! Eu e o Ray estamos te convidando para essa festa há uma semana! Cara, você tem que se divertir um pouco. E outra, você não vai trabalhar amanhã, porque amanhã é seu aniversário, então você pode se divertir muito hoje, e amanhã curtir o seu aniversario do jeito que você disse que curtiria: em casa, sozinho. – Revirou os olhos.

 - Jared, eu não... – Quando eu ia continuar, James me interrompeu.

- Frank, eu acho que você devia ir, vai fazer bem pra você. Ultimamente você só estuda de manhã, fica em casa durante a tarde, e vem trabalhar de noite. Você tem dezesseis anos cara, vai se divertir com seus amigos. – Sorriu.

- Mas o Gee vai estar lá... – Suspirei, olhando com carinha de cachorro sem dono para os dois. – E ele vai estar com a Lyn. E eles vão se abraçar, se beijar, se comer, e eu vou ficar lá, tomando Coca-Cola, chorando, contando minhas mágoas para o cachorro... – Fiz beicinho.

- Você vai sim. – Jared disse. – Eu vou ficar aqui, esperando você terminar o seu expediente, tomando um uísque, e depois você vai à festa nem que eu tenha que sequestrar você.

- Sabe se a minha mãe deixa? – Empinei o nariz e pude ouvir o James resmungando algo como “bebezinho”.

- Sim, eu já avisei que você ia.  Eu até trouxe algumas peças de roupa pra você se arrumar. – Sorriu largo. – Eu sou um ótimo amigo, não sou? – Eu apenas o olhei sério, enquanto James concordava.

- Tá, eu vou com vocês. – Revirei os olhos, sorrindo enquanto Jared festejava, e Sullivan servia mais um pouco de uísque para os dois.

~~~*~~~

- Nossa, que casa enorme. – Falei encarando a mansão branca da pessoa que estava dando aquela festa.

- A Kitty é rica cara, e os pais dela vivem viajando. Essa é a primeira festa que você vem dela? – Me encarou sério.

- Sim, eu não gosto de festas, Jared. – O fitei fulminante. – Eu estou aqui por pura e livre pressão.

- Pensa pelo lado bom... – Olhou para o nada, pensativo. – Não tem nenhum lado bom pra você aqui.

- Muito obrigado por deixar isso bem claro, Jared. Vamos... – Caminhei em direção à entrada da casa.

- Você pode achar um cara legal pra ficar... – Deu de ombros.

- O único cara legal que eu posso achar é você. – O encarei.

- ‘Tamô aí, bonitão. – Piscou, adentrando a casa e me fazendo rir. – Eu tô querendo comer alguém mesmo. – Riu.

- Hey! – Protestei. – Que feio Jared. Você não vai me comer, vamos fazer amor. – Gargalhei.

- O quê você andou cheirando lá no Jimmy? – Ele riu, procurando por alguém.

- Nada, credo. Olha lá o Ray com o Mikey e uma menina. – Apontei.

Jared me puxou pela mão e andamos em direção ao trio, que conversava sobre algo e gargalhava. Chegando lá, Ray vibrou porque eu havia vindo à festa, e me abraçou alegremente. Me apresentaram a tal menina, que se chama Krista, e pelo o que Mikey cochichou no meu ouvido, era a menina pela qual Ray estava a fim.

Ficamos algum tempo naquela rodinha, conversando sobre coisas aleatórias e rindo de cada besteira que Mikey falava sobre as roupas das meninas, coisas tipo: “isso não é uma saia, é um cinto”, “nossa, aquilo é um vestido ou ela tá enrolada na toalha de banho?”, “aquela ali tá embala a vácuo naquela calça! Ô lá em casa!”, e coisas do tipo.

Quando nós estávamos quase uma hora parados ali, enquanto a casa enchia cada vez mais, eu senti alguém colocando a mão no meu ombro, escorregando para as minhas costas, até a cintura. Olhei para o lado, dando de cara com um Gerard sorridente e uma Lyn mais sorridente ainda ao seu lado.

- Oi Frankie. – Ele disse perto do meu ouvido, já que a musica estava muito alto.

- Oi Gee... – Minha voz saiu falha por causa de toda aquela proximidade estranha.

- Oi lindo! – Lyn me abraçou, tirando Gerard do meu lado.

- Oi gata. – Ri, depositando um beijo na bochecha dela.

- Ca-ram... – Alguém pigarreou. Virei para trás, dando de cara com a Jamia num vestido preto uns dois números menores que o manequim dela. – Olá queridos.

- Oi Jamia. – Todos responderam com desânimo. Logo Lyn me soltou, revirando os olhos.

- Frank, vamos dançar? – Ela me abraçou, enrolando seus braços no meu pescoço. – Por favor... – Olhei para todos, encontrando caras de desgosto voltadas para Jamia. Decidi aceitar só para tirar ela dali.

E então nós fomos dançar.

~~~*~~~

- Consegui fugir da Jamia! Aleluia! – Me debrucei sobre o bar da casa, escorando a cabeça ali.

- Eu neeeeeem entendi porque você foi dançar com ela! É o homem que guia a mulher, você guiou, ô machão? Você conseguiu guiar aquele peso todo? – Jared estava sentado ao meu lado, com as bochechas vermelhas enquanto fazia piadas sem graça alguma e tomava uma dose de uísque.

- Você vai entrar em coma alcoólico, cara. – Falei, pedindo um refrigerante para o barman, que riu de leve. Provavelmente da minha cara.

- Eu quero fazer uma coisa, mas eu preciso estar bem bêbado. – Me olhou malicioso.

- O que você vai fazer? – Beberiquei a Sprite que havia acabado de chegar.

- O que você devia estar fazendo: agarrar uma pessoa que eu estou tarando há meses.

- Cara, vocês não entendem que eu simplesmente não tenho como ficar com o Gerard? – Revirei os olhos.

- Você tem sim! – Falou alto, alterado. – Caralho Frank, você nunca foi realmente feliz cara! Você tá sempre sofrendo! Olha o lado lógico do Jared. – Apontou para ele mesmo. – Ô garçom, me dá uma dose de vodca com energético! Frank olha só, você ‘tá deixando o Gee com a Lyn porque não quer vê-la sofrer, mas ela vai sofrer do mesmo jeito.

- Por quê? – O olhei assustado.

- Porque o Gerard não gosta dela, ele gosta de você. – Cutucou meu peito diversas vezes. – Então, como você é amigo da Lyn e vice-versa, ela também não quer te ver triste, certo? Então, você tem que ficar com o Gerard, porque assim vocês dois ficam feliz, e se ela ficar com o Gerard, apenas ela vai ficar feliz. E ainda vai ser corna, escreve o que eu tô dizendo. – Virou para o balcão, pegando o copinho que o garçom tinha acabado de trazer.

- Odeio o sentido idiota que isso faz. – Olhei sério para ele. – Mas o que você quer que eu faça?

- Toma o que tá nesse copinho e faz o que eu vou fazer. – Deu de ombros.

- Eu não vou ficar bêbado pra falar com o Gee! – Olhei indignado para ele.

- Ou você bebe e sai agora ou você simplesmente sai, mas corre, porque a Jamia tá vindo. – Jared falou calmo, tomando o resto do uísque. Olhei para trás, vendo que o meu encosto estava se aproximando. Olhei para a vodca, tomei meu refrigerante, e sai correndo.

Me infiltrei no meio das pessoas, passando pelo Ray e a Krista, que conversavam e riam juntos, Mikey e Joan, a segunda tentando fugir do Way, e Lyn, que conversava animadamente com Kitty e Steve.

Corri para a rua, querendo um pouco de ar fresco. Caminhei pelo quintal da casa, à procura de um lugar para sentar e respirar um pouco. Achei um balanço na lateral da casa, que estaria vazio se não fosse por uma pessoa que se balançava devagar e fumava um cigarro.

- Está à espera da sua dama, Sr. Way? – Sentei no balanço ao lado de Gee, que me olhou e sorriu, parando de se balançar.

- A tal dama, na qual você se referiu, me largou para conversar com os amigos, aí eu já tinha me perdido de vocês e resolvi vir fumar um cigarro. – Deu de ombros. – E você, a sua dama te largou também? – Resolveu voltar a se balançar, arrastando os pés na areia.

- Que nada, eu fugi dela. – Ri. – Eu disse que ia tomar um refrigerante, ai encontrei o Jared no bar e fiquei conversando com ele. Então quando o bêbado do Leto me disse que ela estava caminhando em direção onde estávamos, eu apenas corri pela minha vida. – Comecei a me balançar também, sentindo a brisa gelada batendo contra o meu corpo.

Ficamos algum tempo em silêncio, apenas indo e vindo no balanço. Eu encarava os meus pés, extremamente nervoso, enquanto Gerard observava as estrelas e terminava o cigarro. Suspirei, levantando rápido e me escorando no muro da casa, cruzando os braços e olhando fixo para Gerard, que devolvia o gesto.

- O que foi? – Me olhou desconfiado.

- Eu não posso ficar muito perto de você. – Mordi meu lábio inferior, encarando o chão.

- Por quê? – Seu tom de voz era de confusão.

- Eu vim aqui pra conversar com você sobre... Nós, mas eu não tenho coragem. E eu não posso ficar perto de você. Eu vou acabar fazendo besteira. – Enterrei as mãos no bolso, pronto para sair dali rápido.

- Espera! – Gerard se levantou e me segurou pelo braço quando eu resolvi dar alguns passos. – Sobre o que você queria falar, Frankie? – Me encostou de leve no murro de novo.

- Gee... – Respirei fundo e o encarei, colando meu olhar no dele. – Eu realmente estou gostando de você. – Senti minhas bochechas queimarem, e abaixei o rosto na hora. – Minhas pernas simplesmente tremem quando você está por perto, enquanto minhas mãos suam e meu estômago revira. E toda vez que eu vejo você passar o braço pelos ombros da Lyn, é como se o chão abrisse sob meus pés. Eu não sei explicar e não sei como aconteceu, mas eu estou completamente apaixonado por você. E odeio o quão clichê isso tudo soa, mas é verdade. – Olhei nos orbes verdes dele. – Eu nunca me senti assim antes Gee, por ninguém. – Suspirei, jogando a cabeça para trás.

- Oh Frank... – Ele mordeu o lábio inferior, apoiando a mão no muro, ficando perto demais de mim. – Mas e a Lyn? – Perguntou baixo, encarando o chão em seguida.

- Foda-se a Lyn! – Fechei os olhos, bufando. – Bom, era isso que eu tinha pra falar, com licença... – Eu tentei sair, mas Gerard me puxou de novo, mas dessa vez parou na minha frente, me impedindo de sair dali. - Eu pensei que você ia dizer “eu também gosto de você, Frank”, porque era o que parecia, mas pelo jeito você só me eng... – Gerard me cortou, colando nossos lábios com um pouco de violência. Entreabri a boca, dando passagem para que começássemos um beijo rápido e intenso.

Pousei minha mão sobre sua nuca, sentindo os pequenos pelos que havia ali se eriçarem, e o puxando mais para perto. Gerard colocou a mão na minha cintura, me apertando contra seu corpo. Separamos os lábios apenas quando, infelizmente, o ar se tornou necessário. Encostei minha testa na dele, enquanto Gerard ainda me segurava pela cintura.

- Eu estou sonhando com isso há mais de um mês. – Sorri.

- Eu também, desde antes de dormir com você aquele dia. E me arrependi amargamente de não ter te beijado aquela noite. – Me deu um selinho.

- Acho melhor a gente sair daqui, tem duas meninas nos esperando lá dentro. – Mordi o lábio inferior, segurando o riso.

- Coitadas... – Gerard riu. – Vamos?

- Vamos. – Roubei um selinho dele e o empurrei de leve, pelos ombros, saindo do espaço entre seu corpo e o muro.

- Hey... – Ele me segurou pela mão, me fazendo parar. – Feliz aniversário, já passou da meia-noite, é halloween. – Sorriu largo, se aproximando e selando os nossos lábios novamente.

A única coisa que eu vou conseguir pensar pelo resto da noite é que esse foi o melhor aniversario que eu já tive.