Distopia escrita por StrawK


Capítulo 2
Sem Fala


Notas iniciais do capítulo

Yo! O primeiro capítulo está aí, embora seja um pouco chatinho. E não está betado.
Espero que tenham paciência e continuem acompanhando!
Me senti muito feliz com os reviews que recebi nessa nova história.
MUITÍSSIMO OBRIGADA!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/215279/chapter/2

“Você ainda continua cego se você vê curvas na estrada,

Pois há sempre um caminho reto para o seu objetivo”.*

Foi com uma fisgada de arrogância que Sakura voltou à sala, carregando a bandeja com o chá-verde.

Se avaliado atentamente, ela sabia que seu caminhar, antes ensaiado e contido, revelaria sua ansiedade, e quanto mais pensava em Sasuke tão perto, sua frustração aumentava. Então seus passos, por breves instantes, tornavam-se pesados e determinados, longe de combinar com o papel que deveria representar.

Era obrigada então, a engolir lentamente sua altivez, que detinha-se sarcasticamente em sua garganta, somente para lembrar-lhe o quanto era estúpida por ainda — céus, ainda! — deixar-se influenciar pela boçalidade da presença dele.

Apesar de seu temperamento naturalmente impulsivo, que gritava para que degolasse o visitante sem pestanejar e sem realmente precisar de qualquer motivo plausível, a garota sabia que um mínimo deslize de sua parte seria fatal; afinal, mesmo que tenha ouvido dizer que ele não era mais aquele garoto com um enorme talento para a vida shinobi e sim, mais um cãozinho obediente a serviço do Hokage, Sasuke ainda era um Uchiha — independente de ter aposentado seu sharingan* — e a última coisa que Sakura desejava era que Fujitaka*, seu pai, se ferisse durante um possível confronto.

Sasuke havia acabado de terminar mais uma sentença sem conteúdo significativo, quando Sakura, sempre evitando encará-lo, terminou de entornar a infusão fumegante nos copos de cerâmica. Ela reconhecia, com sentimento saudoso, as particularidades da entonação da voz masculina; estava mais grave e contida, apesar da inconfundível displicência permanecer ali, permeando cada sílaba.

— Sente-se conosco, Sakura — Haruno Fujitaka pediu calmamente, sendo obedecido após um segundo de hesitação.

Ela apenas lembrou-se da faca, que continuava grudada ao pulso, escondida pela manga do yukata, quando a voz de seu pai despertou-a de seus devaneios inapropriados. Tomou todo o cuidado para a lâmina permanecesse oculta e serviu o chá em seu próprio copo.

Com certeza, Uchiha Sasuke não estava acostumado a sentar-se à mesa com meros homens do campo, muito menos com as filhas esquisitas deles. Por isso, quando levantou uma sobrancelha, indagativo, ante ao pedido de seu anfitrião, ela não estranhou. Entretanto, ele nada disse ao mais velho, que rapidamente distinguiu a razão do leve desconforto.

— Não estamos na capital, Uchiha-san — o homem explicou. — Respeito as novas leis, mas não trato mulheres como objetos de decoração. Sakura-chan permanecerá aqui e também tomará conhecimento sobre o que quer que seja que tenha a dizer.

— Como queira — o jovem deu de ombros, desviando o olhar rapidamente para a garota que mantinha o rosto oculto pelos cabelos. — Ainda não foi decretada lei alguma que as impeça de terem opinião própria.

Os dedos femininos, que seguravam firmemente o copo, tencionaram ainda mais ao redor do objeto, tornando seus nós brancos, como se desejassem fazê-lo com o pescoço de alguém, e isso não passou despercebido aos dois homens. Ela deveria tomar cuidado; passara muito tempo treinando seu controle de chakra para que pudesse ocultá-lo eficientemente, se passando por uma civil normal, e não pretendia arruinar isso apenas com seus estúpidos picos de fúria.

— Embora eu deva dizer que ela seja muito mais agradável calada — Sasuke continuou, a voz com um tom remotamente humorado, que ela nunca ouvira antes. — Menos irritante.

Sakura apenas percebeu que apertava demais o copo entre seus dedos quando sentiu um pedaço da cerâmica quebrada cravar-se em sua palma, e o chá quente escorrer por sua mão, aguando o sangue que começava a minar do ferimento.  

“Oh-oh” — nada mais inteligente conseguiu passar por sua mente.

.

_::oOo::_

.

Sasuke lembrava-se de Haruno Sakura.

Frequentaram a Academia Ninja na mesma época, e embora fossem de times diferentes, sem dúvida a garota de cabelos rosas sempre seria mais uma de suas enfadonhas apreciadoras; a diferença era que ela, ao invés de correr atrás dele e convidá-lo inúmeras vezes para um encontro, mantinha-se distante, observando-o treinar, pensando estar bem escondida entre as folhagens — assim como Hinata fazia com Naruto.

Ser constantemente observado por aquela garota lhe irritava profundamente. Afinal, longe dele, percebia que sua postura com outras pessoas era exatamente o oposto, ocasionalmente incomodando o ambiente com seus berros, ou socando algum de seus companheiros de time. Isso só o fazia pensar que apesar de obcecada, era covarde, por nunca sequer tentar falar-lhe, como as outras faziam. O primeiro adjetivo poderia ser até tolerado; o segundo, jamais.

E por essas lembranças nubladas que acometeram seus pensamentos no instante em que ouviu Haruno-san chamar a filha para preparar-lhes o chá, que ele, apenas por curiosidade, decidiu verificar o fluxo de chakra da ex-ninja, ativando seu sharingan, rápida e discretamente enquanto ela estava na cozinha.

Encontrou apenas stamina* regular, como de qualquer pessoa normal, mas o fato da filha do pobre homem agir estranhamente, o deixou desconfiado. Sakura parecia envolta em uma aura de recato, mas por ínfimos instantes, — tão rápidos que Sasuke não soube dizer se fora apenas sua imaginação — ela deixava escapar um súbito vigor. Era algo quente, como se seu sangue borbulhasse, tentando se libertar da falsa pele que lhe cobria, mas apagava-se em seguida, como se nunca houvesse existido.

Talvez a sua Vontade do Fogo, agora apagada em praticamente todos os ex-shinobis, ainda residisse nela, como uma pequena fagulha.

Por isso, quando Sakura facilmente quebrou o grosso copo de cerâmica, apenas com uma simples pressão de seus dedos, desejou que ela levantasse a cabeça e finalmente o encarasse, para que pudesse enxergar seus olhos — que ele não se lembrava como eram — e atingi-la com um genjutsu* que o ajudasse a entender melhor o que se passava.

E isso, somente porque ele odiava não ter controle absoluto sobre o ambiente em que estava. O que o fez lembrar que deveria se envolver menos e trabalhar mais; cumpriria sua missão como lhe fora ordenado e voltaria à capital de Konoha o mais rápido possível, ao invés de se importar com os arroubos de uma garota que nem sequer possuía seu chakra ativo.

Sakura murmurou desculpas em uma voz frágil e transtornada, recolhendo os pedaços de cerâmica rapidamente e se retirando para a cozinha.

— Copos... Frágeis. Isso sempre acontece. Não aguentam a temperatura do chá e acabam rachando — o pai parecia compreender perfeitamente cada ação da filha e deixava transparecer isso pelo descaso de sua expressão ao notar a pequena gota de sangue que ficara sobre a mesa.

Sasuke apenas assentiu cinicamente ante a peculiar explicação e não querendo mais perder tempo, retirou da pequena bolsa de pano que levava a tiracolo, um pequeno rolo de pergaminho com o selo do Hokage e o estendeu à Fujitaka, que o desenrolou e pôs-se a ler silenciosamente.

— Entrou em minha casa e sentou-se comigo apenas para me avisar que Conselho decidiu tomar meu distrito? — os olhos castanhos do homem desafiaram-no, contidos, depois de instantes.

— Essa área pertence à Konoha e lhe foi emprestada pelo Hokage anterior por tempo indeterminado. O Conselho necessita do local agora, e independente de sua vontade, terá que sair.

Sasuke dissera essa mesma frase para outros três homens de distritos diferentes aquela semana, entretanto, a reação daquele à sua frente, era de longe a mais calma.

— Recebi essa propriedade como um presente de Sarutobi-sama quando me aposentei do serviço shinobi devido a meu problema de saúde. Essas terras que utilizo para agricultura são minhas e esse agora é o Distrito Haruno.

— Não é isso o que os documentos em nossos arquivos dizem.

— Mostre-os.

— Haruno-san sabe que não é permitido a civis ter acesso aos documentos da Vila. Além disso... — Sasuke levantou-se com calma e deu três passos em direção à saída. — Vim apenas cumprir ordens e tentei fazê-lo de forma cortês. Se não está satisfeito, vá reclamar ao Hokage ou procure ajuda daqueles rebeldes da ANBU.

.

_::oOo::_

.

Assim que entrou na cozinha, Sakura jogou a faca e os restos de cerâmica de qualquer jeito sobre a pia e encostou-se à porta para acompanhar a conversa que seguia na sala, sem se importar com o corte em sua mão.

Não fora sua intenção quebrar o copo e precisar se retirar, mas graças a esse pequeno deslize provocado por seu não-tão-perfeito autocontrole, agora poderia ouvir as palavras de Sasuke com calma, sem se preocupar em pular no pescoço dele a qualquer momento. E isso, no sentido bélico, totalmente assassino, e não romântico.

Colocar tudo a perder agora não era uma opção, ainda mais quando passara os últimos anos sendo treinada por Tsunade para ser forte o suficiente e fazer algo a respeito da odiável realidade que Konoha se encontrava, mesmo sendo alertada o tempo todo por seu pai, que sozinha, nada poderia fazer.

O Senhor Feudal do País do Fogo pouco poderia interferir nos assuntos de Konoha e seus distritos, por fazer parte das antigas Vilas Ocultas, que possuíam uma política independente, e não havia para quem reclamar ou ao lado de quem pudesse lutar. A maioria dos shinobis mudaram-se para outras vilas, os que resistiram foram exilados ou mortos pelos cruéis Uchihas, enquanto os que ficaram, não tendo forças para reverter as novas e absurdas leis,  e visando proteger seus familiares das constantes ameaças, apenas se conformaram em obedecê-las.

Sabia que pouca ou nenhuma chance haveria do Conselho voltar atrás e não retirá-los de seu pequeno distrito no interior que servia a população de Konoha com seus produtos de origem agrícola. Entretanto, quando ouviu seu pai perguntar a Sasuke “o que diabos ele queria dizer com rebeldes da ANBU”, teve a impressão de seu coração ter parado por um segundo, em expectativa.

— Oh, vejo que seu distrito não anda informado sobre os rumores da capital — Sasuke explanava em tom debochado enquanto calçava as sandálias. — ANBU é grupo rebelde shinobi que está confrontando o Hokage e o Conselho. Apesar de parecerem ameaçadores e ninguém conhecer a identidade de seus membros, acredito que não apresentem uma ameaça real. Afinal, nada que seja falso consegue se manter por muito tempo.

Ao escutar a sentença que provavelmente era uma das mais longas que ouvira Sasuke dizer, seu objetivo rapidamente tomou forma, a fazendo ter uma ideia que se alojou em seu cérebro com uma obstinação que nem a deixou prestar a atenção quando ele deixou sua casa.

Definitivamente, ela seria uma integrante da ANBU. 

.

.

CONTINUA



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Trecho/tradução da música Wind, do Akeboshi. Primeiro encerramento de Naruto Clássico. Choro sempre. Me julquem.
.
Sharingan: Doujutsu (técnica ocular) do Clã Uchiha que prevê movimentos e copia habilidades; nessa história, o uso de kekkei genkai (linhagem sanguínea avançada) também foi proibido, mas isso veremos depois, com mais detalhes. XD
.
Fujitaka: O nome que escolhi para o pai da Sakura é o mesmo do pai da Sakura Kinomoto, de Cardcaptor Sakura. ;D
Stamina: Energia física, usada para tarefas normais, ao contrário do chakra, que é energia espiritual.
.
Genjutsu: Técnica de Ilusão. Precisa atacar pelo menos um dos cinco sentidos para surtir efeito, sendo os mais poderosos os que atuam pela visão, onde se deve olhar para os olhos do inimigo.
.
E não, não acho que sejam retardadas para que eu tenha que explicar o que é um sharingan.
Fiz essas notas porque eu quis. -q
.
Digam o que acharam deixando reviews. Sejam sinceras >_
Besitows,
StrawK!