Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 4
Capítulo 4




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• Usui PDV •

– Obrigada por me acompanhar - ela falou me fitando nos olhos.

– Não precisa se preocupar - respondi, sorrindo. Ela desviou o olhar pro chão, por um momento pensei ter visto suas bochechas coradas. Talvez fosse minha imaginação. Provavelmente era... Dei de ombros.

Eu me aproximei para lhe dar um beijo de despedida, mas enquanto me aproximava, mais vontade tinha de poder sentir seus lábios junto aos meus... Olhei fundo em seus olhos. Ela não estava pronta para isso. Com muito esforço, me fiz beijar sua bochecha e me afastei, virando-me, e fui embora.

– Droga - sussurrei quando virei a primeira rua. - Está ficando mais difícil me controlar. Eu vou acabar fazendo uma idiotice... – murmurei, infeliz.

Continuei andando sem olhar por onde eu ia. Não tinha a mínima vontade de voltar para aquela casa vazia.

– A excursão escolar será amanhã. Ah, droga. Me esqueci completamente disso - voltei para casa com má vontade para ajeitar minhas coisas.

• Usui - Casa •

Depois de ajeitar tudo me direcionei ao banheiro, precisava de um banho.

Eu não conseguia parar de pensar em como aquela garota mexia com a minha cabeça, no quanto eu a desejava, no quanto queria poder dizer o que eu sinto, mas não podia.

Me direcionei a cama; estava cansado. Iria dormir para sonhar com ela, como acontecia desde que a conhecera, pois eu só poderia tê-la assim - em sonhos.

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Eu cheguei cedo a escola. Quase não tinha alunos pelo pátio. Resolvi entrar, ficaria descansando na sala, ou pelo menos iria, até ver uma figura conhecida entrando também. Decidi segui-la para ver para onde ela iria.

Ela foi em direção a minha sala. Parando na porta, balançou a cabeça rapidamente e seguiu para o terraço, quase que correndo de lá.

Será que ela foi me procurar? Pensei, observando-a.

Eu corri para chegar ao terraço antes dela. Quando ela entrou, eu já estava lá sentado.

Ela tinha uma cara estranha, parecia abatida. Me levantei rapidamente e fui para o seu lado, preocupado.

– O que houve? - perguntei assim que cheguei perto.

– Nada, apenas não dormi bem - ela recuou.

Ok, ela não queria falar sobre isso. Provavelmente ainda era o que a incomodava no dia anterior...

– Está preparada para a excursão? – perguntei sorrindo, e aproveitei e mudei de assunto.

Ela sorriu. Finalmente, mas ainda parecia um sorriso vazio... O sentimento não chegou sequer perto de tocar seus olhos.

– Hã... Sim? - ela disse enquanto se sentava. - Nós vamos para onde mesmo?

– Para... É... é... Não faço a mínima ideia - sorri sem graça. - Eu estava fazendo tantos planos para a excursão que nem sequer ouvi para onde iríamos.

– Planos? De quê? – droga. Fiz uma careta. Eu e minha boca grande...

Ela soltou uma gargalhada, se apoiando no muro com as costas.

– Você... Sua cara... - ela tentou se acalmar para concluir a frase, sem sucesso. Arqueei uma sobrancelha e me virei em sua direção, sorrindo maldosamente.

– Ah é? - falei, me aproximando dela e me agachando a seu lado eu comecei a fazer cócegas nela.

Ela tentou se levantar e fugir, mas eu a peguei de novo, voltando a fazer cócegas.

Ela se desequilibrou, pendendo um pouco para trás. Eu a segurei novamente para que não caísse e a apoiei no chão, voltando com as cócegas.

Ela tentava pedir para eu parar, mas não conseguia devido a grande quantidade de risos. Ela se mexia rapidamente tentando segurar meus braços ou então afastar minhas mãos, tudo em vão. Ela se mexeu um pouco e segurou minha blusa, puxando-me para baixo.

– Eu preciso de ar... - ela disse em meio os risos. - Por favor... – completou, arquejando.

Eu parei de fazê-la rir, dando-me conta de como tínhamos ficado, ela também percebeu.

Eu estava por cima, os braços um de cada lado do seu corpo, suas pernas estavam presas às minhas, sua blusa e saia estavam fora de lugar, revelando um pouco de suas pernas e sua barriga lisa.

Eu olhei rapidamente para ela, o rosto vermelho devido a grande quantidade de risos e pela posição em que nos encontrávamos. As mãos ainda presas em meu uniforme não pareciam querer soltá-lo. Era demais, não tinha mais como me controlar.

Afastei uma de minhas mãos do lado do seu corpo e passei carinhosamente em sua bochecha, em uma leve carícia.

Eu me abaixei lentamente, sentindo suas mãos apertarem mais minha blusa.

– Se você não quiser, por favor, me impeça - sussurrei já perto de seus lábios.

No momento em que eu iria encostar em seus lábios, ela desviou o rosto, e eu acabei beijando sua bochecha.

Sorri com os lábios ainda em sua bochecha. Acho que ela vai brigar comigo agora...

– Por favor, Usui... Não faça isso novamente – sua voz estava mais baixa do que eu jamais iria esperar. Me afastei e olhei seu rosto. Ele estava um tanto rubro, e contraído. Ela não estava feliz com o meu ato, óbvio que não... Mas, à cima de tudo, ela estava com a face coberta de tristeza.

• Misaki PDV

Eu não sabia o que fazer. Eu queria aquele beijo, mais do que tudo eu queria tê-lo comigo, mas, era certo continuar? Era certo deixar as coisas como estavam? Mesmo que a resposta fosse negativa, eu não conseguia detê-lo.

Soltei um suspiro... Não! Eu não posso. Não vou me arriscar a passar por tudo que eu já passei de novo.

– Se não quiser, por favor, me impeça - ele sussurrou, os lábios quase tocando os meus, e se abaixou.

Por um segundo eu pensei que ele fosse me beijar, mas quando seu lábio estava próximo dos meus, eu virei o rosto, fazendo-o encontrar a carne de minha bochecha...

– Por favor, Usui... Não faça isso novamente.

Lembrei novamente de minha vida e da necessidade de mudar sempre... De tudo que eu já deixei para trás – oportunidades, lembranças... Pessoas... Mordi o lábio com força para segurar a vontade de chorar.

– Não faça... – murmurei, a voz entrecortada.

Eu o empurrei levemente e me sentei, ajeitando a saia e a blusa, logo em seguida me levantei e fui em direção à porta do terraço. Seus olhos, pela primeira vez, demonstravam um sentimento: dor. Nada mais que isso. Tudo que pude fazer foi virar para ele e dizer:

– Precisamos arrumar nossas coisas para a excursão. Nós iremos sair daqui a pouco. Se não estivermos prontos vão nos deixar para trás.

E saí de lá o mais rápido que consegui sem correr.

– Eu sou uma maldita covarde – ri sem humor algum... – Uma maldita covarde...

• Usui PDV •

Ela saiu sem nem sequer olhar para trás.

Me levantei e observei por cima do muro. Como eu sou idiota.

Daria um tempo para ela chegar a sua sala e ir para algum outro lugar. Acho que ela não queria ficar perto de mim depois disso.

Suspirei.

Eu sempre tinha de fazer isso? Já era a segunda vez que eu tentava beijá-la contra a sua vontade.

Lembrei de seus olhos... Imagino pelo quê ela já passou na vida.

Desci vagarosamente a escada do terraço e fui para a minha sala. As coisas que eu levaria para a excursão já estavam lá, era só pegá-las e ir para a frente da escola.

Pensei em esperar pela Ayuzawa, mas preferi dar um pouco mais de tempo a ela.

Saí do prédio da escola e fui em direção ao portão. Maioria dos alunos já estava lá, faltavam apenas alguns garotos da minha sala, apesar de eu não me importar nem um pouco com eles - meus olhos viam apenas um rosto em meio de todos aqueles.

Os professores fizeram uma pequena chamada para ver quem estava presente e anunciou que os outros garotos que não estavam presentes não poderiam ir por motivos familiares - eles eram irmãos.

Olhei para o professor, boquiaberto... Eu iria morrer e não ia descobrir que eles eram irmãos.

Depois disso entramos nos ônibus, que eram separados por salas, no total de 3.

O sala 2-1 ficou no terceiro ônibus, a 2-2, que era a sala em que eu estudava, ficou no primeiro, e a 2-3 ficou no segundo.

Nós iríamos para Sendai, andar por cidades que não tinham nada o dia todo. Dali a algum tempo estaríamos lá, até esse momento chegar, eu iria dormir um pouco.

Até hoje cedo eu estava um tanto quanto chateado por Ayuzawa não poder ficar no mesmo ônibus que eu, mas agora acho que agradeço um pouco... Ela precisa do espaço dela, e eu ando fazendo muita besteira ultimamente. Acho que no fundo é melhor assim.

~~~~~~~x~~~~~~~

Depois de algumas horas dentro do ônibus nós chegamos ao hotel onde ficaríamos hospedados pelos próximos 3 dias e 4 noites.

Os professores fizeram novamente a chamada e o reconhecimento dos alunos e nos direcionaram aos nossos quartos. Garotas separadas de garotos como de costume.

Todos se direcionaram para os seus quartos menos eu. Queria ficar um pouco sozinho, então me distanciei rapidamente do grupo de alunos e dos professores, indo em direção a um pequeno campo ali perto.

• Misaki PDV •

Depois que acabaram com toda a chamada eu fugi do hotel o mais depressa que eu podia.

Algumas horas dentro de um ônibus depois de um garoto quase me beijar – de novo - e fugir... Eu mereço algum descanso.

Perto dali tinha uma área com várias árvores. Daria pra ir pra lá e ficar no meio delas, ninguém me veria. A melhor parte são as sombras...

Me aproximei o mais furtivamente que eu consegui e me sentei. Precisava pensar em como as coisas estavam indo ultimamente...

– Eu não quero ficar no hotel... - suspirei. - De todo modo, até notarem que eu não estou lá, ainda vai demorar. Eu tenho algum tempo para ficar aqui. – sorri, me recostando à árvore.

– Falando sozinha? – tive um pequeno sobressalto. Olhei em volta, procurando o dono da voz.

Me virei, olhando para o lado, vendo quem já estava ali.

– O que você está fazendo aqui? - perguntei me ajeitando.

– Também não quero ficar no hotel.

– Entendo... – desviei o olhar, pousando-o em uma nuvem no céu. Por que eu nunca consigo ficar sozinha? Suspirei.

– Hmm... Você também é aluno novo? Te vi poucas vezes na escola - perguntei.

– Eu não gosto muito das aulas, então eu geralmente acabo fugindo por tédio - riu sem graça.

– Entendo.

– Você sabe o que disseram para mim quando entrei na sala a primeira vez? - ele perguntou repentinamente.

Apenas balancei a cabeça em negativa. Era muita sorte minha achar uma pessoa com vontade de conversar quando eu queria ficar sozinha.

– Me disseram para manter distância de você - ele sorriu quando olhei para seu rosto.

Fitei-o por alguns instantes e comecei a rir.

– Você não está ligando muito para isso, não é? – ele deu de ombros.

– Não. Sabe por quê?

Novamente apenas balancei a cabeça, negando.

– Disseram que você é estranha - riu, descansando suas costas em uma árvore. - Eu também sou. Geralmente me excluo de todos na escola, mas você é uma pessoa interessante – ah, sou é?

Olhei para cima, para as folhas das árvores a minha volta.

Ótimo, eu sempre atraio gente esquisita... E sempre em momentos que não quero falar com ninguém.

– Desculpe, eu não me apresentei antes, não é? - ele falou coçando a cabeça, sem jeito. - Meu nome é Shintani Hinata - sorriu.

Hinata...? Eu conheço isso de algum lugar... Eu acho...

Vendo sua alegria em apenas se apresentar, não consegui não sorrir junto.

– Meu nome é Ayuzawa Misaki - falei depois de algum tempo de silêncio.

Acho que a convivência com Usui me fez poder conversar com um garoto um pouco mais normalmente. O quanto aquele idiota ainda vai mudar minha vida e a mim mesma?

Me apoiei novamente à árvore, já estava ficando frio.

– Você deveria voltar ao hotel - disse. - Vão sentir sua falta mais rápido do que a minha.

– Vamos comigo para o hotel Misaki-chan - disse enquanto se levantava.

– Misaki... chan...? - falei.

– Desculpe, é apenas um mau costume que eu tenho. Se não quiser eu tento te chamar pelo sobrenome, sei que algumas pessoas não gostam.

– Não... Tudo bem, eu acho - falei. - Você pode voltar para o hotel sozinho, Hinata, eu vou ficar aqui por mais algum tempo.

– OK. Até mais – disse indo embora.

– Quem era aquele garoto? – quase dei outro pulo. Qual é o problema do pessoal dessa escola? Todos adoram dar susto nos outros?!

– Shintani Hinata... – respondi, fitando o rosto de Usui. Ele está bravo? – Não posso te dizer nada mais do que isso, já que acabei de conhecê-lo.

Ele fechou os olhos e apertou as têmporas. Ele está bravo.

– Por que está bravo?

Ele abriu os olhos e me encarou, surpreso. Acho que ele não esperou que fosse tão óbvio assim...

– Eu não estou bravo.

É claro que não está...

Ele se levantou e, segurando meu braço, me puxou, levantando-me também. Segurou meus ombros e desceu o rosto para me olhar nos olhos, o rosto um pouco perto demais do meu.

– Eu não gostei daquele garoto – disse por fim.

– H... Hã?! – ele está com ciúmes? Segurei o riso. Ora... Quem diria que ele é uma pessoa ciumenta.

– Os professores estão nos procurando... – e sorriu. O sorriso não foi algo natural, e parecia mais um pedido.

Segurei suas mãos e as afastei. Eu não posso ficar perto dele por muito tempo... É arriscar demais o meu autocontrole.

– É melhor voltarmos então, ou vamos ficar em uma situação um tanto complicada.

Escutei-o murmurar algo, como um pensamento que escapou, mas não consegui entender uma palavra do que ele havia dito, exceto meu nome.

~~~~~~~x~~~~~~~

Quando chegamos ao hotel, os professores nos deram uma boa bronca, dizendo que não podíamos sair sem avisar, pois era perigoso. Blá, blá, blá, blá...

Olhei para Usui e o vi suprimir um bocejo, revirando os olhos.

Inventei para os professores que, na verdade, nunca havíamos saído do hotel, que apenas não tínhamos ficado em nossos quartos.

– Que seja, apenas não façam novamente!

– Reúnam-se no hall do hotel daqui uma hora para sairmos para nossa atividade. Todos devem estar com os seus grupos – disse o outro professor responsável. – E não sumam novamente!

Quando chegou a hora, me limitei a ir atrás das garotas.

Cara, esse povo só se interessa por lojas?! Qual é a graça de ficar olhando uma coisa que você não-vai-comprar?

– Ayuzawa-chan? – ouvi alguém me chamar, apontando para um pingente. – Veja, os traços parece que formam as iniciais de seu nome. Por que você não o compra?

– Eu não tenho interesse. Mas obrigada – sorri.

Eu quero sair daqui!

Escutei o sino da porta da loja fazer barulho e olhei para trás. Todas as garotas estavam olhando para as vitrines, distraídas. É a oportunidade perfeita para eu sair daqui. Adeus, garotas.

Saí da loja e... Eu estou aonde mesmo? Devia ter prestado atenção nas placas. Bem, qualquer lugar é melhor do que perto daquelas garotas que só pensam em homens com dinheiro e roupas fúteis.

Comecei a andar pela cidade. Nunca estive por essa parte de Sendai, então é melhor eu tomar cuidado para não me perder.

Eu andava o mais rápido que podia, olhando de relance para as construções e para onde ia, decorando parcialmente o caminho que eu fazia. Suspirei. Porque eu vim mesmo a essa cidade novamente? Não tem nada aqui.

Senti alguém segurando meu ombro e quase tive um enfarte. Olhei para trás e vejo um Usui sorridente. Sério? Como eu sempre o encontro nos lugares menos prováveis...?

– Está perdida, Ayuzawa?

– Eu me perdi do meu grupo – fiz aspas com os dedos. – Não tenho paciência para ficar olhando lojas um dia inteiro. Alguns minutos já é tortura suficiente – sorri.

Ele riu, divertido.

– Somos dois. Quer vir comigo? Explorar e conhecer a cidade.

Fiz uma careta. Eu conheço a cidade.

Olhei para o céu que escurecia cada vez mais. Escutei um trovão em algum lugar. Me encolhi ao escutar o som, tremendo. Ah não...

Olhei para trás, procurando Usui. Eu o encarei e ele sorriu. Espero que ele não tenha notado.

• Usui PDV •

Estiquei o braço para puxar Ayuzawa para perto de mim. Quando escutou o som do trovão, ela se encolheu, e seu corpo começou a tremer.

Quando estava bem perto de alcançá-la, ela olhou para trás... Seus olhos estavam arregalados. Se eu encostar nela agora, ela vai saber que eu percebi. Enfiei as mãos nos bolsos, fechando-as em punho e sorri.

– Hey, Ayuzawa, eu acho melhor voltarmos para o hotel. Vai começar a chover e eu não quero arriscar que você fique doente.

Me aproximei e passei o braço por seus ombros, juntando nossos corpos, e comecei a andar. Novamente seu corpo tremeu. Ela colocou a mão em meu braço, pronto para tirá-lo de seus ombros, quando outro trovão soou ao longe. Ela apertou meu pulso e fechou os olhos com força.

– Você sabe como chegar ao hotel? – perguntei sem graça. Meu senso de direção não é dos melhores, ainda mais quando eu não presto atenção para onde eu estou indo.

Ela me dirigiu um sorriso fraco.

– Para a nossa sorte, eu sei como chegar ao hotel.

Como você é frágil, Ayuzawa... Me inclinei e depositei um beijo no topo de sua cabeça.

Ela me olhou desconfiada, mas não disse nada. Parecia cansada demais para isso.

Ela me guiou até o hotel com perfeição, sem nem sequer olhar para onde ia. Parecia conhecer esse lugar como quem conhece sua casa. Entrava e saía de ruas sem nem mesmo olhar antes e, eu tenho quase certeza, mas ela pegou alguns atalhos.

Chegamos ao hotel e entramos depressa, para ninguém nos ver. Ela subiu as escadas correndo e entrou em seu quarto, batendo a porta atrás de si. Suspirei e fui até a porta do quarto das garotas, dando duas leves batidas e entrando logo depois.

Ela estava sentada na cama, com o cobertor enrolado em seu corpo e olhando para baixo.

– Ayuzawa? – perguntei ao vê-la. – Você está bem?

Outro trovão soou, dessa vez acompanhado de um relâmpago e o tamborilar da chuva na janela. As luzes se apagaram por alguns momentos, mas logo se acenderam. Andei até a cama e sentei ao lado da garota que ainda fitava o nada com um olhar distante.

– Ayuzawa? – toquei seu braço com suavidade. Ela me encarou, parecendo voltar a si. – Está bem?

– Sim, sim, claro – respondeu. – Por que a preocupação?

– Você parece distante... – assustada, completei mentalmente. – Não gosta de chuva?

– Na verdade, é o contrário – sorriu. Um sorriso de verdade, sincero e lindo. – Só que chuva me traz recordações de coisas que eu preferia esquecer.

Sorri.

– Posso? – e abri os braços, virando em sua direção.

Ela deu de ombros, colocando o cobertor ao meu redor também e se aconchegando em meus braços.

Quando o silêncio já estava ficando estranho, resolvi falar novamente, e acabar com minha dúvida:

– Posso te perguntar uma coisa?

Novamente ela deu de ombros.

– Como você conhecia todos aqueles atalhos?

Seu corpo enrijeceu. Após alguns segundos ela soltou a respiração que havia prendido.

– Eu... Vi... As placas... – sorriu, aliviada.

Bem, ela não quer contar.

A abracei mais forte, apoiando o queixo em seu ombro. O cheiro que ela exalava me deixava com uma vontade louca de beijá-la. Sem perceber, depositei um beijo em seu pescoço, e outro e mais outro, até chegar em seu ombro, só me dando conta do que fazia quando a senti se arrepiar, então eu travei.

Apoiei minhas costas na parede, sem me soltar do abraço.

– Desculpe-me, Ayuzawa... – murmurei. – Eu não tive a intenção.

– Seu idiota – sussurrou, o rosto corado. – Não peça desculpa por tudo o que fizer.

– Então a Ayuzawa gosta que beije seu pescoço? – sorri travesso. Passei os lábios pela pele macia novamente, dessa vez com intenção de provocar. Quando estava perto da curvatura do ombro, retornei ao pescoço, dessa vez passando a língua por um breve momento.

Senti todo seu corpo tremer e se arrepiar. Ela se virou e deu um tapa em meu braço, ainda mais vermelha que antes.

Gargalhei, apoiando-me à parede novamente.

– Idiota – resmungou. – É melhor você ir. Já que começou a chover, os outros alunos devem estar voltando para o hotel agora. Se nos virem aqui certamente vão falar besteira para os professores.

– Tudo bem.

Afastei-me dela, desenrolei o cobertor de meus ombros e me levantei. Dei um beijo em sua bochecha e fui para a porta, apenas acenando um tchau.

• Misaki PDV •

Deitei na cama depois de Usui sair. Apoiei os braços atrás da cabeça e fiquei observando os pingos da chuva que escorriam pela janela embaçada.

Segurei o pingente do colar que estava em meu pescoço há anos, fechando os olhos e relembrando um dia parecido com esse.

– Odeio chuva – murmurei. – Sempre acontece alguma coisa nesses dias.

Virei para o lado. É melhor dormir antes que eu comece a pensar em coisas desnecessárias.

As garotas entraram no quarto, reclamando e esperneando por causa da chuva. Quando me viram deitada, resmungaram alguma coisa. Todas foram pegar suas coisas para poder tomar banho, exceto uma, que veio conversar comigo.

Outra garota se aproximou e sussurrou algo no ouvido da garota, que se sentou na beira de minha cama.

– Misaki, você está bem? – arqueei uma sobrancelha. Misaki? Sentei-me na cama e a encarei. Qual é mesmo o nome dessa garota?

– Sakura, certo? – ela afirmou com a cabeça. – Estou bem, obrigada por perguntar.

Ela sorriu, animada. Acho que porque, pela primeira vez, eu a respondi. Cocei a cabeça, sem graça. Ela não parecia com as outras garotas. Ela sempre tenta conversar comigo. E sua amiga, apesar de reservada, também parecia se preocupar um pouco.

– Você parece um pouco abatida – comentou sua amiga.

– Não é nada, é sério. É apenas dor de cabeça. Vai passar em breve.

A amiga de Sakura, Shizuko, a puxou pela mão, dizendo:

– Vamos, Sakura-san. Ela está com dor de cabeça. É melhor a deixarmos descansar – sorriu para mim e se afastou, rebocando sua amiga para fora do quarto, não sem antes pegar as roupas e toalhas de ambas.

Deitei novamente e sorri. Parece que encontrei algumas garotas interessantes.


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